Ricardo Lacerda
O governo federal se defronta com um dilema
de difícil solução. Como realizar o ajuste das contas públicas quando a recessão
faz despencar a arrecadação, inclusive em ritmo mais acelerado do que o da queda
do nível de atividade econômica.
O dilema consiste em que o esforço de
contenção de despesas primárias (excluído o pagamento de juros) se defronta com
uma queda ainda mais acentuada da arrecadação. Com o crescimento exponencial das
despesas com pagamento de juros, a situação fiscal somente piora, apesar da
contenção realizada nas despesas operacionais do governo.
A evolução dos resultados desde o início de
2015, quando a crise começou a se agravar, parece sugerir que a situação fiscal
do governo não deve apresentar melhoria sem que o nível de atividade econômica
se estabilize e depois volte a crescer. As chamadas reformas estruturais
somente gerariam efeitos no médio e longo prazos.
Resultado
primário
As despesas primárias do governo central no
primeiro semestre de 2016 cresceram meros 0,3% em termos reais (já descontado o
IPCA), enquanto as receitas se retraíram 6,1%, sempre em comparação ao mesmo
período de 2015. Com isso, o déficit
primário do governo central, em valores de junho de 2016, saltou de R$ 1,52
bilhão no primeiro semestre de 2015 para R$ 32,69 bilhões no primeiro semestre
de 2016 (ver Tabela).
Tabela: Resultado do Governo Central:
acumulado entre janeiro e junho. (Em R$ milhões de junho de 2016)
Fonte: Extraído do relatório Resultado do
Governo Central. Tesouro Nacional. Junho de 2016.
O dilema fica ainda mais patenteado quando
excluímos as contas previdenciárias, cujas despesas apresentam maior rigidez
para baixo no longo prazo do que aquelas despesas custeadas com as receitas
tributárias. Nesse novo calculo é possível constatar que o esforço de contenção
do governo central no primeiro semestre do ano foi de fato expressivo, com
recuo de 2,8%, destacando que as despesas com pessoal e encargos caíram 2,9% em
termos reais. Todavia, frente a tal contenção de despesas, a arrecadação direta
da Receita Federal se retraiu muito mais, notáveis 7,7%.
Quatro
anos sem crescimento
Uma perspectiva de prazo mais longa propicia
melhor entendimento de como desaceleração seguida pela retração do nível de
atividade vem impactando a arrecadação tributária federal.
Na série acumulada em doze meses, a preços de
junho de 2016, a arrecadação tributária federal não apresenta crescimento
sustentado desde meados de 2012; a arrecadação federal se apresentou estagnada
até o final de 2014 e desde então iniciou trajetória fortemente declinante, não
interrompida até o momento (ver Gráfico).
A crise da atividade industrial cumpriu papel
importante na evolução da arrecadação tributária do país. Na série acumulada em
doze meses, a receita do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI)
interrompeu seu crescimento desde a deflagração da crise financeira
internacional em setembro de 2008 (ver Gráfico). Em meados de 2012, a receita
de IPI em doze meses se encontrava no mesmo patamar de setembro de 2008.
Em
meados de 2012, a arrecadação com IPI iniciou uma trajetória de declínio
seguida por uma estabilização em um patamar muito rebaixado entre o segundo trimestre
de 2013 e final de 2014. No último um ano e meio as quedas na receita de IPI
têm sido assustadoramente acentuadas.
O conjunto da receita tributária federal,
arrecadada pela Receita Federal e por outros órgãos, caiu 8,2% no primeiro
semestre de 2016, na comparação ao mesmo período de 2015, bem mais do que a
estimativa de queda do PIB, de cerca de 5%.
O dilema com que o governo se defronta é o de
compatibilizar a urgência em estabilizar o nível de atividade econômica, sem o
que a arrecadação vai continuar despencando, com a pressão do mercado por
austeridade fiscal e com a política de juros altos. O governo ainda não mostrou
como pretende fechar essa conta, nem em que horizonte temporal pretende
fazê-lo. As finanças de estados e municípios são levadas de arrastão.
Fonte: Tesouro Nacional
Publicado no Jornal da Cidade, em 32/07/2016
Dificílima a situação fiscal de nosso pobre país.Mas usar a crise de 2008 como mãe de todos os males é fazer vistas grossas ao grande estelionato que vivemos até há pouco...
ResponderExcluirPrezado Unknown, foram apresentados os dados. Somente isso. nada mais do que isso.
ResponderExcluir