Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O Pólo de fertilizantes de Sergipe

Ricardo Lacerda


A base de recursos minerais de Sergipe, abrangendo petróleo, gás natural, calcário e sais de potássio, tem sido desde os anos sessenta um dos principais diferenciais do Estado e um dos fatores mais importantes que fizeram com que ele tenha crescido sistematicamente acima das médias do Nordeste e do Brasil a partir da década de setenta, com exceção de alguns anos da primeira metade da década de noventa, quando a desestruturação do setor produtivo estatal abateu profundamente sua economia.

Os melhores indicadores sociais de Sergipe frente aos demais estados nordestinos podem ser atribuídos a um conjunto de fatores, entre eles a maior taxa de população urbana, a menor parcela do território no semi-árido e a concentração fundiária menos acentuada, mas devem ser associados também à geração de renda e emprego propiciada pela exploração e transformação da base de recursos naturais. Tais atividades têm importantes impactos diretos e indiretos, financiando, inclusive, uma presença mais expressiva da administração governamental na economia estadual.

O Pólo de Fertilizantes

O Pólo de Fertilizantes de Sergipe tem como matriz fundamental a produção de amônia e uréia, a partir do gás natural pela Fábrica de Fertilizantes do Nordeste (FAFEN), de propriedade da Petrobras, e a produção de sais de potássio pela companhia Vale, a partir da extração da silvinita, com o que Sergipe oferta nitrogênio e potássio, dois dos três componentes do composto NPK. Em 2010, a FAFEN produziu 315 mil toneladas de amônia e 423 mil toneladas de uréia, e a mina de potássio da companhia Vale, 662 mil toneladas. A unidade da FAFEN em Laranjeiras é uma das maiores plantas de nutrientes nitrogenados instaladas no território nacional e a mina de Taquari –Vassouras, da Vale, é a única fonte de potássio do Brasil.

Atraídas pela disponibilidade destes insumos, empresas misturadoras dos componentes como Heringer, Fertinor, Adubos Sudoeste, entre outras, instalaram-se em Sergipe, base a partir da qual comercializam para boa parte do mercado nacional, concentrando-se, todavia, no abastecimento da região Nordeste e Centro-Oeste.

Tanto a unidade produtora de amônia e uréia da FAFEN, em Laranjeiras, a antiga Nitrofértil, como a mina Taquari- Vassouras de extração da silvinita, no município de Rosário do Catete, foram instaladas ainda na década de oitenta, como desdobramento do II Plano Nacional de Desenvolvimento do Governo Geisel que buscava diminuir a dependência de insumos importados pela agricultura brasileira.

Novos Investimentos

Passados cerca de trinta anos, o Brasil não logrou diminuir significativamente a sua dependência de insumos importados para a produção de fertilizantes. Segundo dados da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (ANDA), a agricultura brasileira importa 72% da uréia, 90% do potássio e 38% do fósforo consumidos (ver Gráfico). O grau de dependência externa deverá se agravar nos próximos anos por conta da rápida expansão da produção do milho e da cana-de-açúcar, duas das culturas dentre as que consomem mais intensamente fertilizantes nitrogenados.

Fonte: Anda. Obs: O dado de uréia refere-se a 2009, e os de Potássio e Fósforo são relativos a 2008.

Dois investimentos de grande porte na área de produção de fertilizantes estão definidos para Sergipe. Uma planta de produção de potássio a partir da exploração da Carnalita, pela companhia Vale, e a unidade de Sulfato de Amônio da FAFEN. O investimento para a produção de potássio a partir da carnalita, segundo a Vale, pode alcançar US$ 4 bilhões, o maior investimento de uma empresa privada da história de Sergipe.

A mina de silvinita terá seu potencial de exploração esgotado em 2016, enquanto a nova unidade, com base na extração da carnalita, entrará em operação em 2015. Quando estiver em funcionamento pleno, aumentará a capacidade produtiva das atuais 700 mil toneladas/ano propiciadas pela extração de silvinita, para um mínimo de 1,2 milhão até o máximo de 2,4 milhões de toneladas/ano, com potencial de atender, ainda segundo a Vale, 40% da demanda brasileira.

Sulfato de amônio

A implantação da unidade de sulfato de amônio, nas instalações da FAFEN, em Laranjeiras, envolve o investimento de US$ 130 milhões para produzir 303 mil toneladas /ano visando atender o mercado nordestino.

Em 2009, a agricultura brasileira consumiu 1.734 mil toneladas de sulfato de amônio, das quais cerca de 90% são importadas. Como mostra a figura a seguir, o Nordeste consumiu 450 mil toneladas do produto, em 2009, das quais 45% foram demandadas pela cana-de-açúcar e 27% pelas culturas do milho e do algodão.


Fonte: Petrobrás (2009).
Extraída de apresentação de Paulo Lucena. Petrobras – posicionamento atual e perspectivas de produção
 de fertilizantes nitrogenados, em 20/03/2010.

Os sergipanos têm consciência, por conta da própria vivência, da importância tanto da exploração de petróleo e gás como da produção de nutrientes para a indústria de fertilizantes na geração de oportunidades de trabalho e na criação de renda na economia sergipana. Mais recentemente, começam a se dar conta do desdobramento que essa base produtiva, apoiada na exploração de recursos minerais, vem alcançando, com a formação do Pólo de Fertilizantes de Sergipe.

 

Publicado no Jornal da Cidade em 28/08/2011

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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Piranema e a produção de petróleo de Sergipe (2)

Ricardo Lacerda


Os royalties da exploração de petróleo e gás geram um adicional de receita para União, Estados e Municípios que ajuda a viabilizar projetos importantes para o desenvolvimento regional. Há, todavia, certo fetiche em relação a tais recursos, predominando a percepção de que constituiriam uma das principais fontes de receita para muitos estados e municípios. Isso não corresponde exatamente à verdade, por conta do montante gerado atualmente e do grau de concentração de tais recursos em poucos Estados.

Em 2010, as participações governamentais da exploração de petróleo e gás natural, que incluem os royalties e as participações especiais além de outros componentes de menor peso, atingiram R$ 21,6 bilhões. Os Estados e Municípios, em conjunto, receberam R$ 12,2 bilhões.

As participações governamentais na exploração de petróleo e gás vão ganhar peso no total das receitas públicas, devendo duplicar até o final da atual década, podendo até triplicar com a plena exploração das reservas do pré-sal. Para efeito de comparação, a principal fonte de receita dos Estados e Municípios menos desenvolvidos são o Fundo de Participação dos Estados (FPE) e o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), que alcançaram em conjunto R$ 82 bilhões em 2010. Para o Governo do Estado de Sergipe, a receita de royalties de 2010 representou o equivalente a 7% dos recursos oriundos do FPE.

Receita

Depois do pico alcançado em 2008, quando somou R$ 154 milhões, em razão da entrada da produção de Piranema e dos elevados preços médios do barril no mercado internacional, a receita de royalties do Governo de Sergipe despencou, em 2009, para R$ 96,4 milhões, corrigidos pelo IPCA do período, recuo real de 38%, em decorrência da queda do preço motivada pela crise financeira internacional e pelos problemas operacionais enfrentados.

Em 2010, com a recuperação parcial do volume da produção e da cotação do produto, os royalties auferidos pelo Estado de Sergipe somaram R$ 106,4 milhões, 13% a mais do que em 2009, mas ainda 29% abaixo do resultado de 2008, a preços de dezembro de 2010, corrigidos pelo IPCA (ver Gráfico 1).


Fonte: ANP. Valores corrigidos pelo IPCA de dezembro de 2010



2011

Os royalties de Sergipe vêm se recuperando nos últimos quatro meses, beneficiando o Estado e os Municípios produtores. O Gráfico 2, a seguir, mostra como as receitas mensais de royalties do Governo de Sergipe se mantiveram rebaixadas ao longo de 2009 e 2010. Em 2011, verificou-se uma intensa oscilação, em grande parte resultante dos problemas operacionais no campo de Piranema. A partir de maio, todavia, as receitas mensais de royalties do Governo do Estado retornaram ao patamar de R$ 11 milhões.




Fonte: ANP.


Preço de referência

Nos últimos meses, a recuperação das receitas de royalties contou com um importante fator; além da retomada da produção, a elevação do preço de referência. O gráfico 3, a seguir, apresenta o preço de referência do m3 de petróleo para pagamento de royalties do campo de Piranema. Desde o início de 2011, o preço de referência ultrapassou mil reais por m3, o que não se verificava desde outubro de 2008. O gráfico 3 apresenta também os royalties mensais gerados por aquele campo de exploração, alertando que, como os royalties são pagos sobre a produção de dois meses atrás, deslocamos para frente o preço de referência em dois meses para que ele corresponda ao royalties pagos com esse valor.

A combinação do forte incremento da produção de Piranema no mês de maio com a elevação do seu preço de referência fez com que a receita de royalties daquele campo pulasse de R$ 1,88 milhão, em junho, para R$ 5,67 milhões em julho.


Fonte: ANP. Obs: Os preços de referência foram deslocados dois meses para frente
 a fim de corresponderem aos royalties gerados com base neles.



Para concluir, os artigos da semana passada e o presente apontam para a recuperação da produção do petróleo e das receitas de sua exploração em Sergipe, favorecendo o Estado e os Municípios produtores, notadamente aqueles que recebem royalties de Piranema. Os abalos na economia mundial, todavia, vêm mexendo com preço do barril, o que poderá arrefecer os ganhos com a recuperação do nível de atividade.




Publicado no Jornal da Cidade em 21/08/2011

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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Piranema e a produção de petróleo em Sergipe

 
Ricardo Lacerda

"A notícia a respeito de minha morte é um exagero”.
Resposta de Mark Twain ao falso anúncio de sua morte pelo New York Journal, em 02/06/1897

Em 2003, a exploração de petróleo e gás natural em Sergipe ganhou um novo alento. Afinal, a produção de petróleo no Estado manteve-se deprimida ao longo de toda a década de noventa e nos três primeiros anos do novo século. Depois de atingir a produção anual de 18.500 mil barris, em 1984, a produção de petróleo iniciou uma trajetória descendente, somando 16.372 mil barris em 1990, e atingiu seu ponto mais baixo no fatídico ano de 1997, marcado pela crise asiática, quando alcançou 12.083 mil barris, 30% abaixo do resultado de 1984 e 26% do volume de 1990. A produção manteve-se rebaixada até 2002, ano que em alcançou 12.932 mil barris. Naquele período, talvez fizesse sentido vaticinar o fim das perspectivas da exploração do petróleo em Sergipe.

A partir de 2003, iniciou-se um novo ciclo de exploração do petróleo em Sergipe. Concorreram para a retomada dois fatores fundamentais, um relativo ao cenário externo e outro de caráter empresarial, respectivamente, a elevação dos preços no mercado internacional que tornava rentável a exploração de campos de produtividade mais baixa e a decisão da Petrobras de voltar a investir na bacia de Sergipe e Alagoas. Os investimentos deste novo ciclo concentraram-se no melhor aproveitamento dos chamados campos maduros, que requeriam novos investimentos para se contrapor à produção descendente, e na exploração de uma nova fronteira, com a descoberta do campo marítimo de Piranema.

Nos anos seguintes, a produção de petróleo em Sergipe obteve volumes crescentes, passando para 13.962 mil barris, em 2004, até atingir 17.194 mil barris, em 2008, 42% acima do pior resultado, em 1997. Contribuiu para o forte incremento da produção de 2008 a entrada em operação, em setembro de 2007, do campo de Piranema, de exploração em águas profundas, fazendo com que a produção de petróleo em Sergipe alcançasse novo patamar, depois da forte queda no período anterior (ver Gráfico 1).

Crise

A combinação dos efeitos da crise financeira internacional, em 2008 e 2009, com problemas operacionais no campo de Piranema e de licenciamento ambiental em alguns poços da plataforma continental, fez com que a produção de petróleo de Sergipe apresentasse, até abril de 2011, queda significativa em relação ao pico de 2008, ainda que se mantivesse em patamar superior ao volume obtido nos anos noventa. O acompanhamento mensal da produção permite examinar mais cuidadosamente esses pontos.



Fonte: Petrobras e ANP.

Com a crise internacional, o preço médio do petróleo tipo Brent no mercado spot caiu de US$ 99,04, na média de 2008, para US$ 61,50, em 2009, impactando o fluxo de caixa da empresa. A produção mensal de petróleo nos campos sergipanos baixou de 1.463 mil barris, em setembro de 2008, para 1.328 mil barris em janeiro de 2009, recuperando-se nos meses seguintes, até atingir 1.431 mil barris em dezembro de 2009, volume muito próximo ao do resultado do período anterior à crise.
Problemas operacionais no campo de Piranema, ao lado de dificuldades nos poços rasos, fez com que a produção enfrentasse novas quedas, atingindo o volume de 1.121 mil barris, em fevereiro de 2011 (Gráfico 2).

Piranema

A Petrobras vem realizando importantes investimentos visando solucionar os problemas técnicos na exploração de Piranema, alcançando bons resultados somente a partir do último mês de maio. Com o crescimento da produção de Piranema e as melhorias incrementais em outros poços, a produção de petróleo de Sergipe está voltando ao patamar anterior à crise financeira, tendo alcançado 1.393 mil barris, em maio, e 1.353 mil barris, em junho. O Gráfico 2, a seguir, que compara a produção mensal com a média do ano de 2008, mostra que os resultados dos dois últimos meses da série se aproximam da média daquele ano.

Fonte: ANP.

A produção de petróleo de Piranema, que chegou a somar 365,7 mil barris em julho de 2008, atingiu a média mensal 237,5 mil barris em 2008, algo em torno de oito mil barris diários, sem agregar os barris óleo equivalentes oriundos da exploração de gás natural. Nos meses seguintes, trilhou trajetória similar à vista no gráfico anterior, da produção total de petróleo de Sergipe, atingindo seu ponto mais baixo em novembro de 2010 (ver Gráfico 3).
Em maio último, a produção de Piranema alcançou o volume de 285,6 mil barris, próxima a 10 mil barris/dia, quando nos meses anteriores não ultrapassava a faixa de 4 mil barris/dia. Ainda que o resultado de junho não tenha sido publicado, o volume total da produção do mês, apresentado no Gráfico 2, confirma a mudança do patamar da produção de Piranema.

Fonte: ANP.

Perspectivas

Na semana passada, o gerente geral da Unidade de Produção da Petrobras nos Estados de Sergipe e Alagoas informou que as dificuldades operacionais nos poços de Piranema estão sendo equacionadas e que, nos próximos meses, a produção diária deverá atingir 15 mil barris. Em termos de novos investimentos, a Petrobras está delimitando o campo da Barra, área localizada a 90 quilômetros de Aracaju, que poderá constituir nova fronteira de expansão.




Publicado no Jornal da Cidade em 14/08/2011


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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A queda da produção industrial brasileira em junho

Ricardo Lacerda


O anúncio da produção industrial de junho de 2011 adicionou mais um ingrediente ao debate relativo aos efeitos da valorização cambial e do repique da crise internacional sobre o setor industrial brasileiro. A produção física do setor industrial caiu 1,6% em relação a maio, na série livre de efeitos sazonais. Na comparação com junho de 2010, o crescimento limitou-se a 0,7%, quando em dezembro de 2010, em relação a dezembro de 2009, alcançou-se a exuberante expansão de 10,3%. A queda de junho, na comparação com maio, foi generalizada, atingindo 20 dos 27 ramos pesquisados.

Desaceleração
A indústria de transformação brasileira iniciou um longo ciclo expansivo em 2004, como é possível observar no gráfico 1, que apresenta o índice de produção física do mês de junho entre 2003 e 2011. Depois de atingir 94,8 em junho de 2003, o índice de produção física alcançou 107,8 , em junho de 2004, iniciando uma trajetória ascendente interrompida em 2009 com a crise de confiança na economia mundial. As medidas de desoneração tributária e de expansão do crédito tiveram os efeitos de retirar rapidamente a economia brasileira da recessão e de impulsionar a produção industrial, fazendo com que, em junho de 2010, o índice tenha voltado ao patamar de 2008.

Em 2011, a atividade industrial desacelerou-se rapidamente, com o que a produção física da indústria de transformação em junho situou-se apenas 0,7% acima do resultado do mesmo mês do ano anterior (ver Gráfico 1).



Fonte: IBGE-PIM

Os dados da produção industrial em junho foram muito ruins, notadamente nos setores de bens de consumo não duráveis e semi-duráveis, como o setor têxtil e o de calçados. Observe-se no gráfico 2, a seguir, que o índice de produção dos setores de bens de consumo não duráveis e semi-duráveis caiu na comparação entre junho de 2010 e junho de 2011. Nos demais segmentos, com exceção do setor de bens de capital que responde com certa defasagem temporal ao crescimento do uso da capacidade produtiva da indústria, a atividade vem se ressentindo da concorrência com os produtos importados que volta a ameaçar com a desarticulação das cadeias produtivas, à exemplo do que ocorreu no ciclo anterior de valorização cambial, na segunda metade dos anos noventa.


Fonte: IBGE-PIM

Importados


Com a economia dos países ricos andando de lado, os mercados emergentes têm sido alvo das economias exportadoras mais agressivas. A política monetária expansionista do governo americano, induzindo a desvalorização do dólar, é mais um ingrediente da guerra cambial em andamento.

Mesmo com o mercado interno ainda aquecido, entre janeiro e maio o volume do comércio varejista cresceu 7,35%, a indústria vem patinando, tendo aumentado a produção apenas em 1,6%, entre janeiro e junho, em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o volume de produtos industriais importados cresceu 13,7%.

Segundo estimativa efetuada pela LCA Consultores, citada na edição de 03 de agosto do Valor Econômico, no segundo trimestre de 2011 a participação das importações no mercado doméstico de bens industriais atingiu 21,6%. O espaço dos importados no total consumido internamente avançou tanto em setores mais tradicionais, como têxteis, calçados e móveis, quanto cresceu em segmentos da indústria pesada e de bens de consumo duráveis, como nos ramos químicos, automotivos, máquinas e equipamentos e aparelhos e materiais elétricos.


Nova política


O governo respondeu ao novo cenário na economia mundial com uma série de medidas, de curto e longo prazos que combinam instrumentos de estímulo à competitividade da nova política industrial e as intervenções no mercado de câmbio visando interromper a valorização da moeda.

O conjunto de medidas adotadas parece apontar para uma percepção por parte do governo de que o agravamento do cenário mundial, com aumento da instabilidade e com uma trajetória de recuperação muita lenta e arrastando-se por alguns anos ainda, reuqer uma postura mais pragmática, de defesa dos empregos e de preservação de nossa estrutura industrial. Em um cenário que se afasta da normalidade, não cabe fingir que está tudo bem ou que nada pode ser feito, a não ser seguir o mantra de cortar as despesas, repetido à exaustão pelos setores mais ortodoxos.

Publicado no Jornal da Cidade, em 07/08/2011



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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Os investimentos na exploração de petróleo e gás para o período 2011-2015

Ricardo Lacerda

A exploração na camada do pré-sal abriu novas perspectivas para a cadeia de petróleo e gás natural no Brasil. Nos próximos anos, os investimentos dos segmentos que a integram representarão mais de 1/3 do total previsto para a indústria. No último dia 22, com a aprovação pelo Conselho de Administração da Petrobras do Plano de Negócios 2011-2015, foram apresentados os investimentos da empresa para o período.

A Petrobras anunciou investimentos na ordem de US$ 224,7 bilhões, equivalentes a R$ 389 bilhões, dos quais US$ 127,5 bilhões, equivalentes a 57% do total, serão destinados à atividade de exploração e produção (E&P) de petróleo e gás natural.

Investimentos

No mês de junho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) havia publicado a estimativa de investimentos para o período 2011-2014. Segundo o BNDES, a Formação Bruta de Capital Fixo, que representa os investimentos em máquinas e equipamentos, construções e outros elementos tangíveis, seguirá trajetória crescente enquanto participação no PIB, passando dos 18,4% obtidos em 2010 até atingir 22,8%, em 2014 (ver Gráfico 1 a seguir). A elevação da taxa de investimento, como se sabe, é o elemento fundamental para aumentar o potencial de crescimento da economia brasileira e assegurar o crescimento sustentável nos próximos anos, sem maiores pressões sobre os preços ou nas transações com o exterior.

Gráfico 1: Projeção da taxa de investimento ( Formação Bruta de Capital Fixo/ PIB).
Fonte: BNDES. Extraído de BNDE. Visão de desenvolvimento, nº 95. 20 de junho de 2011.

Os investimentos totais entre 2011 e 2014 na economia brasileira alcançariam o montante de R$ 3,3 trilhões, dos quais cerca de R$ 1 trilhão destinam-se ao setor industrial, R$ 400 bilhões para infraestrutura, com destaque para os investimentos no segmento de energia elétrica, e R$ 1,9 trilhão nos demais setores (ver tabela).

O setor de petróleo e gás realizaria investimentos da ordem de R$ 378 bilhões, no período 2011-2014, que representariam 11,3% do total da economia brasileira e 36,1% dos investimentos do setor industrial. Apenas para comparar, o segundo segmento industrial em valor de investimento, a indústria extrativa mineral, alcançaria R$ 72 bilhões, cerca cinco vezes menos, e os investimentos somados da siderurgia com a indústria automobilística também montariam cinco vezes menos.

Fonte: BNDES. Extraído e adaptado de BNDE. Visão de desenvolvimento, nº 95. 20 de junho de 2011.

Pré e pós-sal

No período 2011-2015, os investimentos da Petrobras no pré-sal, US$ 53,4 bilhões, permanecerão ainda abaixo dos US$ 64,3 bilhões previstos para o pós-sal, que serão destinados principalmente para a bacia de Campos. Mas a participação do pré-sal nos negócios da empresa será crescente, estimando-se que a produção deverá passar de 2%, em 2011, para 40,5%, em 2020.

Com os investimentos projetados, a produção nacional de petróleo deverá apresentar crescimento de 46% entre 2011 e 2015, atingindo o notável crescimento de 136% até 2020, passando dos estimados 2,1 milhões de barris óleo equivalentes dia (boed), em 2011, alcançando 3,1 milhões de boed em 2015 e 4,9 milhões de boed, em 2020 (ver Gráfico 2).

Fonte: Petrobrás. Plano de Negócios 2011 - 2015

Desafios

A empresa explicita a necessidade de reforçar o fluxo de caixa para financiar os investimentos. Dos US$ 224,7 bilhões previstos para todos os segmentos de atuação, entre US$ 125,0 bilhões e US$ 148,9 bilhões, ou seja, entre 56% e 66%, dependendo do cenário, deverão ser originários de acumulação interna. Atenta a tal questão, serão priorizados os investimentos em campos sob regime de contrato de cessão onerosa, em que a empresa já despendeu recursos para obter o direito de exploração e produção, mas que são livres de pagamento de participações especiais, cabendo apenas o pagamento de royalties às esferas de governo.

No plano de negócios 2011-2015, a empresa se diz ciente dos desafios tecnológicos, ambientais, gerenciais e de formação de recursos humanos para levar adiante a expansão e sinaliza para a ampliação de parcerias com as universidades e para o fortalecimento dos laços com fornecedores nacionais.


Publicado no Jornal da Cidade em 31/07/2011

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