Ricardo Lacerda
Há mais interrogações do que certezas em
relação às perspectivas de curto prazo da economia brasileira.
Do lado das certezas, é possível afirmar que
o nível de atividade atingiu ou está próximo de atingir o fundo do poço, ainda
que o mercado de trabalho deva permanecer em declínio por algum tempo. No
segundo trimestre de 2016, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central
(IBC-BR) recuou 0,5%, quando no 1º trimestre anterior havia se retraído 1,5%.
Mais sintomático da aproximação do fundo do poço é o fato de que as regiões
Sudeste, Sul e Norte apresentaram crescimento no Índice de Atividade Regional
(IBC-R) no 2º trimestre. As regiões Centro-Oeste e o Nordeste se retraíram no
período.
Comércio e serviços continuam perdendo vendas
mas um número cada vai maior de atividades da indústria de transformação vem
apresentando incremento, mesmo que modesto, no volume de produção física.
É também relativamente seguro que os
desequilíbrios macros e microeconômicos ainda vão se acentuar, no que tange à
situação fiscal do país, grau de endividamento das empresas e famílias e finanças
de estados e municípios, entre outros.
Do lado das interrogações, podem ser listadas
as incertezas em relação ao impulso e fôlego que terá a recuperação do nível de
atividade. Tomando por base o IBC-BR, o nível de atividade do segundo trimestre
de 2016 se situou 8,0% abaixo do resultado do trimestre encerrado em janeiro de
2015 e 9,7% abaixo do índice trimestral de janeiro de 2014, o pico da série
livre de efeitos sazonais.
Caso a economia brasileira apresente o incremento
de 1,7% em 2017, tal como consta da previsão otimista do governo, o IBC-BR
trimestral voltará ao patamar do segundo trimestre de 2010. Os desequilíbrios
financeiros de famílias, empresas e governos somente se acentuaram ao longo
dessa acentuada trajetória de declínio e o reequilíbrio na situação desses
agentes não será facilmente alcançado, notadamente enquanto o nível de
atividade se mantiver debilitado.
Há ainda importantes interrogações
relacionadas ao cenário externo, abrangendo a já tão anunciada reversão da
política monetária do Banco Central norte-americano e a evolução nas cotações do
petróleo e das principais commodities da pauta exportadora brasileira. Ao lado
da evolução das taxas de juros internas, tais fatores serão determinantes do comportamento
que a taxa de câmbio assumirá nos próximos meses e de suas consequências em
termos de saúde financeira das empresas e governo e competitividade externa.
Finalmente, há incertezas relacionadas ao
grau e efeitos das medidas de ajuste e das reformas ditas estruturais
prometidas (mas ainda não inteiramente desenhadas) sobre a situação fiscal e
sobre o nível de atividade econômica.
Indústria
Depois de um longo período de descenso, o
volume de produção trimestral da indústria brasileira apresentou incremento nos
trimestres encerrados em maio e junho, em relação ao trimestre imediatamente
anterior. O volume de produção do 2º trimestre de 2016 se revelou 1,2% acima em
relação ao 1º trimestre, mesmo que ainda se posicionasse 6,7% abaixo do
resultado do segundo trimestre de 2015 (ver Gráfico 1).
Essa trajetória responde, na essência, ao
próprio ciclo de negócios do setor que aparentemente encontrou um piso mínimo
no seu nível de atividade. A linha tracejada do Gráfico 1 mostra como desde os
últimos resultados de 2015 o volume de produção trimestral da indústria
desacelerava o ritmo de queda. O volume
de produção mensal de junho foi superior ao de maio em dezoito e inferior em
seis ramos de atividade da indústria de transformação.
Fonte: IBGE-PIM
Varejo e serviços
Varejo e serviços permanecem ainda em etapa
declinante do ciclo de negócios, com a particularidade de que as atividades de
serviços aparentemente deverão retardar por mais tempo o momento de
estabilização. Ambos segmentos se ressentem da situação extremamente
fragilizada do mercado de trabalho.
O volume de vendas do varejo continuou
declinando no 2º trimestre de 2016, em relação ao 1º trimestre. O volume
trimestral deve encontrar a estabilidade no terceiro trimestre (ver Gráfico 2).
Na comparação com o mesmo trimestre de 2015, todavia, o volume de vendas do
varejo se mantém muito rebaixado, com queda de 7,1%.
Fonte: IBGE-PMC
O volume de serviços recuou 1,2% no segundo
trimestre de 2016, em relação ao 1º trimestre do ano. Diferentemente do volume
de vendas no varejo, todavia, não emite ainda sinais consistentes de
aproximação do fundo do poço.
Fonte: IBGE-PMS
Publicado no Jornal da Cidade, em 28/08/2016
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