Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O rebaixamento das expectativas para a economia mundial



Ricardo Lacerda

O agravamento do cenário econômico mundial nas últimas semanas deixou em segundo plano as criticas do ‘mercado’ à decisão do Copom de reduzir a taxa Selic em sua última reunião. A precipitação de notícias ruins sobre as dificuldades na rolagem da dívida soberana da Grécia, os riscos de contaminação de bancos europeus e americanos pelos créditos ruins em carteira, a desaceleração econômica da China, além da queda de braço entre republicanos e democratas que inibe a definição de medidas para ativar a economia americana, geraram um ambiente de forte incerteza na economia mundial, em que a turbulência no mercado de câmbio foi a face mais visível no Brasil.

Relatórios da Fazenda, do Banco Central e a edição de setembro das Perspectivas da Economia Mundial, do Fundo Monetário Internacional, publicados ao longo da semana, que são fontes úteis na compreensão do cenário econômico brasileiro no futuro próximo, podem ter se tornados obsoletos frente aos novos eventos, mas já registram a deterioração do cenário externo nas últimas semanas.

Perspectivas


O relatório do FMI alerta para desaceleração do nível de atividade da economia mundial, para o que contaram tanto fatores previstos na projeção anterior, de junho, quanto fatos que emergiram no período. A recuperação relativamente robusta do nível do comércio e do nível de atividade industrial em 2010 desacelerou-se em 2011. A instituição se diz surpreendida pela demora, nos países avançados, na transmissão de efeitos positivos dos gastos públicos para elevar as demandas das empresas e das famílias.
Fatores adicionais da desaceleração decorreram das dificuldades para a superação da crise das dívidas soberanas de países europeus, do impacto dos acidentes climáticos sobre o nível de atividade da economia japonesa e da elevação em cerca de 25% no preço do barris de petróleo associada aos conflitos no Norte da África e Oriente Médio (NAOM).

Economias avançadas
Na projeção efetuada em junho, o FMI estimava crescimento do produto mundial de 4,3%, em 2011, e 4,5%, em 2012, quando a taxa de 2010 alcançou 5,1%. A projeção de setembro é de que a economia mundial reduza o crescimento para 4%, em 2011 e em 2012, refletindo a deterioração do cenário nos últimos meses.
O produto das economias avançadas, que ensaiava uma recuperação relativamente robusta em 2010, deve registrar forte desaceleração, em 2011, limitando-se a um crescimento de 1,6% e permaneceu com a taxa rebaixada, de 1,9%, em 2012 (ver Gráfico 1). A reversão das expectativas de crescimento em 2011 e 2012, entre as projeções de junho e a de setembro, foi acentuada, encolhendo 0,6% para 2011 e 0,7%, para 2012.


Fonte: IMF.World Economic Outlook. Setembro de 2011.

Economias emergentes


As economias emergentes que, em média, atravessaram com perdas menores os impactos da crise de confiança no sistema financeiro mundial, apresentam cenários menos favoráveis para 2011 e 2012, se comparados aos resultados de 2010. Ainda assim, puxada pelas taxas de crescimento notáveis da China e da Índia, a projeção de crescimento das economias emergentes alcança 6,4% em 2011 e 6,1%, 2012. A projeção para a economia brasileira, no relatório do FMI, é de 3,8%, em 2011, e 3,6%, em 2012 (ver Gráfico 2).
Como a presidente Dilma destacou em seu discurso na abertura dos trabalhos da assembleia anual das Nações Unidas, há limites para as economias emergentes seguirem com crescimentos robustos enquanto as economias dos países avançados não superarem as ameaças de estagnação.


Fonte: IMF.World Economic Outlook. Setembro de 2011.

Mesmo com esta concentração de notícias ruins, vaticínios sobre a ocorrência de mais um dêbacle da economia mundial, abrindo um novo período de queda do PIB nas economias avançadas ou de incidência de nova crise de confiança no sistema financeiro internacional parecem precipitados, quando se considera a margem de atuação das economias líderes para enfrentar a situação, apesar da falta geral de entendimento sobre o que fazer. As próximas semanas serão ricas em acontecimentos.


Publicado no Jornal da Cidade em 25/09/2011

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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A produção industrial em 2011

Ricardo Lacerda*

O ano de 2011 está sendo pródigo em medidas que sinalizam para uma reorientação da política econômica. A partir de uma leitura que contempla a reversão de um cenário de lenta recuperação para outro de estagnação nas economias avançadas, acompanhada pelo aumento da cobiça pelos mercados em forte expansão dos países de nível de desenvolvimento intermediário, está em curso uma mudança no mix das políticas fiscal, monetária e de desenvolvimento produtivo, cujo cerne parece ser o de assegurar a continuidade do ciclo expansivo da economia brasileira.

A reorientação da política econômica pode estar sendo motivada por uma combinação de percepção do agravamento conjuntural no cenário externo com o entendimento que se apresentam condições externas e internas para uma mudança na qualidade do desenvolvimento brasileiro, para não utilizar o tão demonizado termo modelo de desenvolvimento.

Depois de conquistar a estabilidade e de promover a formação de um amplo mercado interno, em um cenário de profundas transformações na economia mundial, o Brasil estaria preparado para uma nova geração de políticas de desenvolvimento de forte conteúdo social, mais pragmática e menos tributária das expectativas de mercado, uma combinação de ativismo econômico e social com responsabilidade macroeconômica. Sob certo sentido, é o terceiro estágio de uma política iniciada ainda no primeiro governo do Presidente Lula e que foi mudando de contorno progressivamente. Deixando de lado as digressões sobre o longo prazo, cabe registrar que os resultados do PIB Industrial do segundo trimestre e da produção física da indústria de julho acionaram um conjunto de medidas voltadas para a defesa e promoção do setor industrial, cujos alcances ainda são difíceis de serem avaliados.

Produção Industrial

Como alertou o ministro Mantega, o hiato entre o ritmo ainda intenso de crescimento do comércio varejista e as baixas taxas de incremento da produção industrial foi aberto pelo aumento da participação dos produtos importados no mercado interno. Enquanto o mercado de consumo permanece aquecido, a produção física da indústria vem reduzindo a taxa de expansão desde o início do ano. Na série do crescimento em doze meses, a produção física da indústria vem desacelerando em 2011, o que até certo ponto é natural em razão da elevada base de comparação do ano anterior, mas o faz em ritmo muito intenso, caindo de 3,7% em junho para 2,9%, em julho (ver Gráfico).

PIM-IBGE

A série que mostra a taxa de crescimento acumulada ao longo do ano, que capta melhor o comportamento mais recente, representada na linha dupla no gráfico, informa que até julho de 2011 a produção física da indústria teve incremento de apenas 1,4%, em relação ao mesmo período de 2010.
Setores
A redução do ritmo de crescimento da produção física da indústria teve amplo espectro, atingindo os segmentos de produção de máquinas e equipamentos (bens de capital), de insumos (bens intermediários) e os bens de consumo duráveis, semi-duráveis e não duráveis.

No caso do segmento de bens de capital, cuja produção física vinha crescendo rapidamente em resposta ao aumento do uso da capacidade produtiva disponível nos diversos segmentos da economia, a taxa acumulada de crescimento no ano caiu de 8,6% em março de 2011 para 5,5% em julho. Bem mais preocupantes foram as trajetórias da produção física dos segmentos de bens intermediários, bens de consumo duráveis e do segmento de bens de consumo semi-duráveis e não duráveis, que, respectivamente, apresentaram taxas de crescimento acumulado em julho de 0,6%, 1,9% e 0,5% (ver Tabela).



PIM-IBGE

Ainda na Tabela, podem ser observadas as taxas de crescimento das atividades industriais que tiveram os piores desempenhos nesse período: Têxtil (-14,4%), calçados (-7,4%), máquinas de escritório e equipamentos de informática (-5,5%), bebidas (-4,1%) e vestuários (-3,0%) Como são atividades industriais que, em sua maioria, têm forte participação na matriz industrial do Nordeste, a produção industrial de alguns estados da região está sendo fortemente afetada.

Publicado no Jornal da Cidade, em 18/09/2011

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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A desaceleração econômica e o Nordeste

Ricardo Lacerda

A desaceleração do crescimento da economia brasileira entre o primeiro e o segundo trimestres de 2011 teve andamento diferente entre as regiões, ainda que alguns indicadores tenham apresentado comportamentos destoantes sobre esse ponto. Observando-se especificamente o desempenho da economia do Nordeste no período, a evolução do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) e os dados de emprego apontam uma desaceleração menos pronunciada na região em relação ao comportamento médio do país.

As operações de crédito alcançaram elevadas taxas de crescimento em todas as regiões, e ainda que o Nordeste tenha apresentado taxas de crescimento dos saldos de operações bem acima da média brasileira, a redução do seu crescimento, mesmo que não muito acentuada, foi mais alta do que a média.

Finalmente, as trajetórias da produção física industrial e dos consumos industrial e total de energia elétrica foram menos favorável para região. Em conjunto, tais indicadores parecem apontar que a região Nordeste, com o mercado de consumo ainda bastante aquecido, foi, até o momento, menos impactada pelo agravamento do cenário externo e pelas medidas restritivas de política econômica.

Índice de Atividade

O Índice de Atividade do Banco Central (IBC), que procura antecipar os resultados do PIB, já é calculado para as regiões. Na comparação dos índices observados nos 1º e 2º trimestres de 2011 com igual período de 2010, alguns fatos saltam aos olhos. Enquanto nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, as taxas de crescimento se aceleraram no 2º trimestre, elas apresentaram forte recuo no Sudeste e, especialmente, na região Sul. Nessa série, o Nordeste registrou a mais alta taxa de crescimento no 2º semestre de 2011, 5,5% e a região Sul, a mais baixa, 2,7% (ver Gráfico 1).


Fonte: Banco central

Em termos de geração de emprego formal, nos últimos doze meses encerrados em julho, a taxa de crescimento da região Nordeste foi a segunda maior, 7,1%, atrás dos 8,26% da região Norte, mas superior às do Sudeste (5,90%), Centro-Oeste (6,32%) e Sul (6,07%). Apesar de serem taxas expressivas para todas as regiões, nos doze meses concluídos em março de 2011 as taxas de crescimento do emprego formal eram mais elevadas em todas as regiões. Produção Industrial

Os resultados da produção física da indústria e do consumo industrial são bem menos favoráveis ao Nordeste, em um grau surpreendente. Enquanto entre janeiro a julho a produção física da indústria brasileira cresceu 1,39%, na comparação com o mesmo período do ano anterior, no Nordeste verificou-se uma queda de 5,89%. No mesmo período, a produção física da indústria de São Paulo cresceu 2,6%.

O agravante é que segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), do IBGE, a queda da produção física da indústria nordestina nos sete primeiros meses do ano, embora mais acentuada no setor têxtil, foi generalizada. O consumo industrial da energia elétrica, apresentado no Gráfico 2, confirma essa trajetória desfavorável da indústria nordestina em 2011. Enquanto, em todas as demais regiões, o consumo industrial de energia elétrica, segundo dados da Eletrobrás, cresceu no primeiro semestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010, no Nordeste, o decréscimo alcançou 3,3%.

O Gráfico 2 permite observar, também, que na maioria das regiões, a taxa de crescimento do consumo industrial de energia elétrica refluiu entre o primeiro e o segundo trimestres, na comparação como os mesmos períodos do ano anterior. As magnitudes das variações na PIM e no consumo industrial de energia elétrica no Nordeste, no sentido inverso das demais regiões, podem sugerir problemas estatísticos e convém que sejam feitas investigações adicionais.


Fonte: Eletrobrás

Crédito
Finalmente, os dados relativos às operações de crédito no Nordeste mostram que elas continuam se expandindo em ritmo veloz, apesar de uma ligeira desaceleração no último trimestre. O saldo de operações de crédito para as famílias (PF), que financia a aquisição de imóveis e de bens duráveis, cresceu notáveis 28,2% no 2º trimestre de 2011, em relação ao mesmo período de 2010. Nessa mesma comparação, a taxa de incremento da região Sudeste alcançou 24,1% (ver Gráfico 3). As operações de crédito com as empresas (PJ) no 2º trimestre cresceram 25,8% no Nordeste e 18,9% no Sudeste.



Fonte: Banco Central

Apesar dos resultados problemáticos referentes à produção industrial e ao consumo de energia elétrica, as informações disponíveis apontam que a economia do Nordeste foi menos impactada no seu nível de atividade no segundo trimestre do que das regiões mais ricas do país. Voltaremos a esse tema no artigo da próxima semana.

Publicado no Jornal da Cidade, em 11/09/2011

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segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O PIB do 2º semestre de 2011

Ricardo Lacerda

A semana correu repleta de informações inquietantes que criaram um ambiente de angústia entre aqueles que acompanham o cenário econômico brasileiro: revisão da taxa de crescimento econômico americano para 1,7% em 2011, contra a projeção anterior de 2,7%; revisão da taxa de crescimento do PIB brasileiro de 2011 pelo Banco Central de 4% para 3,5%; o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, surpreendeu o mercado financeiro, antecipando o corte da taxa básica de juros em 0,5%, frente à expectativa de sua manutenção, quando ainda são tênues os sinais de recuo da taxa de inflação no acumulado de doze meses.

A semana fechou com o anúncio do crescimento do PIB brasileiro do segundo trimestre de 2011, de 0,8%, em relação ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, o que aponta a taxa anualizada de 3,6%.

Para além do recorrente comportamento histriônico de certos setores do chamado mercado, sempre que suas projeções não são confirmadas, como se assim fosse colocada em questão a sua pretensa onisciência, a decisão do Copom de reduzir a taxa de juros responde à deterioração do cenário externo e procura se antecipar aos seus efeitos recessivos sobre a economia brasileira, que apesar de ter mantido aquecido o nível de atividade, encontra-se em rápido processo de desaceleração, muito particularmente no setor industrial.

Desaceleração

Ainda que o crescimento do PIB dos últimos doze meses, em relação aos doze meses anteriores, tenha se mantido relativamente elevado, atingindo 4,7%, a trajetória apresentada é de rápida desaceleração, frente aos 6,2% no final do 1º trimestre, e dos 7,5% obtidos nessa série nos dois trimestres anteriores.

Quando se observam os resultados do trimestre comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, é possível constatar o quão abruptamente a economia brasileira vem desacelerando em 2011. Depois de crescer 5% no 4º trimestre de 2010, em relação ao 4º trimestre de 2009, a taxa de crescimento nessa série caiu para 4,2% no 1º trimestre de 2011 e agora, no 2º trimestre de 2011, para 3,1% (ver Gráfico 1).

Setor Industrial

No setor industrial, mais sensível à valorização do câmbio e ao acirramento da competição com os produtos importados, depois das elevadas taxas de incremento no início de 2010, que na verdade apenas repunham parcialmente a produção perdida no ano de 2009, o PIB setorial se expandiu 4,3% no último trimestre de 2010, em relação ao mesmo trimestre de 2009, desacelerou para 3,5% no 1º trimestre de 2011, e cresceu apenas 1,7% na comparação entre o 2º trimestre de 2011 e o 2º trimestre de 2010, acionando o sinal de alerta (ver Gráfico 1). Entre o primeiro e segundo trimestres de 2011, na série sem efeitos sazonais o PIB industrial teve incremento de 0,2%, o que corresponde a uma taxa anualizada inferior a 1%.


Fonte: IBGE. Contas trimestrais

Gastos

Do ponto de vista do dispêndio, o consumo das famílias, responsável por 63% da demanda total da economia brasileira e principal motor do crescimento nos últimos anos, reduziu o ritmo de expansão nos últimos trimestres, à força das medidas voltadas para a restrição do crédito, mesmo que as taxas de incremento ainda se mantenham elevadas.

Depois de crescer 7,5% na comparação entre o 4º trimestre de 2010 e o mesmo período de 2009, o consumo das famílias aumentou 5,9% no 1º trimestre, nessa série, e 5,5% no 2º trimestre. O dispêndio de consumo da administração pública manteve uma trajetória de expansão moderada, com taxa de incremento de 2,5% no 2º trimestre, e a outra variável interna da demanda, a Formação Bruta de Capital (FBCF), fundamental para ampliar a capacidade produtiva interna e expandir o potencial de crescimento e que vinha se ampliando rapidamente à reboque da expansão do mercado de consumo interno, desacelerou intensamente no último trimestre (ver Gráfico 2).

O governo federal apontou para um novo redirecionamento da política econômica, com maior emprego dos instrumentos fiscais e menor uso da política monetária, diante dos efeitos dessa última sobre a valorização cambial.


Fonte: IBGE. Contas trimestrais

Confirmou-se, sem dúvida, uma mudança de comportamento do Copom, no sentido de se antecipar aos fatos adversos e demonstrar compromisso com a manutenção do crescimento, em uma conjuntura em que isto depende essencialmente do comportamento do mercado interno, mas como dizia Keynes àqueles que lhe cobravam coerência: quando mudam os fatos, eu mudo de ideia, e o que você faz?


Publicado no Jornal da Cidade em 04/09/2011



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