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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O “Grau de Abertura” da economia sergipana

Uma questão nem sempre colocada de forma devida no debate econômico brasileiro é o peso do comércio exterior no desenvolvimento dos estados. O clima de euforia vigente nos anos noventa em relação à abertura comercial e à globalização concorreu para disseminar a idéia de que a evolução das vendas internacionais cumpriria papel determinante também para o crescimento das economias estaduais.

Bem, esse não é o caso para a maioria das unidades da federação, ainda que se deva reconhecer que alguns dos estados dentre os que têm apresentado maiores taxas de crescimento, a exemplo, do Mato Grosso, Maranhão e do Espírito Santo, encontraram no comércio externo uma importante fonte de expansão. O fato é que as unidades da federação têm diferentes tipos de articulação comercial com o exterior e com os demais estados e esse é um aspecto importante para entender as suas dinâmicas de crescimento.

Tomando por base o ano de 2007, o último para o qual estão disponíveis as estimativas de PIBs estaduais, o coeficiente de comércio exterior da economia brasileira se situa em 19,6%, o que significa que a soma das exportações e das importações daquele ano correspondia a cerca de 1/5 da riqueza gerada no país. Esse coeficiente é tido como representativo do grau de abertura externa de uma economia. Naquele mesmo ano de 2007, o grau de abertura da economia chinesa atingia o extraordinário índice de 61,7%, o que bem diz do papel do comércio internacional na sua expansão econômica. Já o coeficiente de exportações, que relaciona o montante das exportações com o PIB, em 2007, era de 10,9% para o Brasil. Esse coeficiente já foi bem inferior entre os anos sessenta e oitenta, quando a economia brasileira se mantinha mais fechada em relação ao comércio mundial.

Estados

Para alguns estados brasileiros, o comércio exterior tem grande significado na geração da riqueza em função de contarem com perfil produtivo orientado para exportações e/ou se constituírem em portas de entrada de mercadorias importadas para o país. O Espírito Santo é o campeão brasileiro em termos de grau de abertura. Em 2007, o fluxo comercial externo daquele estado correspondia a 40,6% do seu PIB. O estado do Amazonas, por conta da Zona Franca de Manaus, o Pará e o Maranhão, pelas exportações de minérios, e alguns estados com importantes complexos agroexportadores, como Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Paraná, registravam os mais elevados coeficientes do país. Entre os estados nordestinos, apenas o Maranhão (26,0) e a Bahia (21,2) contavam com grau de abertura superior a 20% do PIB em 2007.

Em relação ao coeficiente de exportações, os estados especializados na produção de grãos ou de minérios de ferro/siderurgia são aqueles que se apresentam mais orientados para os mercados externos, a exemplo do Pará, Mato Grosso, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Estado de grande densidade produtiva, como São Paulo, e/ou de forte base minero/metalúrgica, como Minas Gerais, contam com coeficientes de exportações acima da média brasileira.

Sergipe

A situação de Sergipe é bem diversa. Os setores industriais e agrícolas mais expressivos da economia sergipana foram estruturados para atender a demanda interna, seja o mercado da própria região, seja o mercado do conjunto do país. A produção de petróleo e gás, de fertilizantes, e a mesmo a fabricação de cimento e das tradicionais indústrias de tecido têm no mercado interno brasileiro o seu destino principal.

Na verdade, alguns desses empreendimentos foram implementados com o objetivo de ocupar o lugar de produtos importados no abastecimento do mercado nacional, como os casos de produção de fertilizantes e de petróleo. O mercado externo tem sido prioritário em Sergipe para as atividades de produção de sucos concentrados e de alguns produtos metalúrgicos, além de ter importante significado, é importante reconhecer, para as indústrias do açúcar, cimento, calçados e tecidos.
Em 2007, o fluxo de comercio exterior sergipano correspondia a 3,1% do PIB e as exportações se limitavam a 1,55%. Esses indicadores confirmam que o comércio exterior não tem se constituído no motor do desenvolvimento sergipano, o que não tem impedido o PIB de Sergipe crescer, sistematicamente, acima das médias brasileira e nordestina.

O baixo grau de abertura externa, todavia, não significa que a economia sergipana sofra de problema de introspecção ou de isolamento. Estudo do BNDES em cooperação com o Departamento de Economia da Universidade Federal de Sergipe, ainda inédito, auxilia a iluminar essa questão. No ano de 2006, dos fluxos comerciais da economia sergipana com agentes de fora do Estado, 97,6% eram realizados com os demais estados da federação e tão somente 2,4% com o exterior. As proporções das vendas e das compras efetuadas pelas empresas sergipanas mantinham perfis semelhantes, em termos agregados. As compras interestaduais de Sergipe representavam 97,4% do total e as vendas interestaduais, 97,8%, cabendo tão somente 2,6% e 2,2%, respectivamente, para as transações externas. (Ver Gráfico).

O estudo revela ainda que a integração de Sergipe com a economia do Nordeste é intensa. Em 2006, 53,4% das compras interestaduais e 55,9% das vendas interestaduais de Sergipe foram efetuadas com os demais estados da região. Individualmente, os maiores parceiros sergipanos são a Bahia, São Paulo, Pernambuco e Alagoas, ainda que Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás apresentem participações expressivas.













Fonte: BNDES.

O processo histórico, através do qual se estruturou a economia sergipana, condiciona a sua atual forma de articulação externa e interna. Em si, essa forma de articulação não é boa nem má. Tampouco é um círculo de ferro que a aprisione. Ela foi diferente no passado e pode ser alterada, mas isso depende de mudanças estruturais de longo prazo. Por outro lado, indicadores agregados como grau de abertura ou coeficiente de exportações não devem impressionar as empresas que buscam uma maior inserção externa. Alcançar maior participação no mercado exterior é uma meta desejável e deve ser perseguida por que abre novas oportunidades de expansão de negócios e de aprendizagem tecnológica e comercial para as empresas sergipanas.

Ricardo Lacerda
Professor do Departamento de Economia da UFS e Assessor Econômico do Governo de Sergipe
Publicado no Jornal da Cidade em 04 de abril de 2010.

3 comentários:

  1. Ricardo
    Cada vez que leio, acho seu blog ainda melhor. Parabéns.
    José de Oliveira Júnior

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  2. Obrigado, Júnior. Tem sido um aprendizado para mim.

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