Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 25 de abril de 2011

A ascensão da Classe “C” e a elevação da renda em Sergipe

Ricardo Lacerda

O economista Marcelo Néri, pesquisador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPS/FGV), denominou de Nova Classe Média, correspondente à classe C, o estrato médio da população brasileira que se situava, grosso modo, acima dos 50% mais pobres e abaixo dos 10% mais ricos, estes últimos integrantes das classes A e B, isto no ano de 2001. Em 2009, foram consideradas como pertencentes à classe C as famílias cuja renda domiciliar variava entre R$ 1.126 e R$ 4.854. A classe C seria média no sentido estatístico, ou seja, aufere a renda média da sociedade, noção diversa do que se convencionou chamar de classe média no Brasil, aquelas famílias que tinham acesso aos bens e conforto da modernidade, filhos em escolas particulares, casa própria, automóvel e empregado doméstico.

Estratos de renda

A emergência desta nova classe média, em que teriam ingressado 29 milhões de brasileiros entre 2003 e 2009, consistiria no evento de maior relevância na estrutura social brasileira, pois refletiria, na visão daquele pesquisador, o contingente de pessoas que deixou o lado Índia da nossa estrutura social. Nesse período, a classe C passou de 66 milhões para 95 milhões, mais de metade da população brasileira em 2009.

O crescimento da nova classe média, além de retratar a ascensão social de milhões de brasileiros, refletiu a criação de um mercado de consumo de massa na economia brasileira, que se constituiu em um dos elementos centrais do ciclo expansivo recente.

A publicação “A nova classe média: o lado brilhante dos pobres”, (http://www3.fgv.br/ibrecps/ncm2010/NCM_Pesquisa_FORMATADA.pdf), delimita as classes sociais segundo a renda mensal familiar total. Em 2009, foram classificadas como classe E, cujos integrantes são considerados pobres, as famílias com ganho mensal de até R$ 705; a classe D teria como limite superior a renda familiar mensal de R$ 1.126; a classe C tem como limites esse valor e R$ 4.854; a classe B, até R$ 6.329, e; a classe A, acima desse valor. (Ver quadro).



Fonte: CPS/FGV, com base em dados da PNAD do IBGE.

Classe C em Sergipe

A figura a seguir apresenta o numero de integrantes de cada uma desses estratos de renda em Sergipe, em milhares de pessoas, nos anos de 2001 e 2009, com base nos dados fornecidos pelo estudo do FGV.
Ao longo da última década, considerando os anos de 2001 e 2009, a nova classe média sergipana, identificada como classe C, passou de 23,4% para 38,4% do total da população, tornando-se o estrato de renda com maior contingente populacional.

Em termos absolutos, ver figura, o número de pessoas pertencentes a esse segmento saltou de 431 mil para 788 mil, um incremento de 83%. Nesse período, mais 357 mil pessoas passaram a fazer parte da classe C, o maior incremento entre os segmentos considerados, tanto em termos relativos, quanto em termos absolutos. O estrato referente às classes A e B que, em 2001, contava com 75 mil pessoas registrou, em 2009, 132 mil pessoas, 56 mil pessoas a mais, enquanto a classe D foi ampliada em 54 mil pessoas.

Gráfico. Sergipe: Composição da população por Estratos de Renda. 2001 e 2009.
(Em mil pessoas)
Fonte: CPS/FGV, com base em dados da PNAD do IBGE.

Pobreza

Para o estudo da FGV, o estrato E representa a população que se encontra abaixo da linha de pobreza. As famílias pobres em Sergipe representavam em 2001, 43,83% do total, equivalentes a 806 mil pessoas. Na média, essa participação se aproximava da metade da população da região nordestina (49%). Em 2009, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza em Sergipe caiu para 551 mil pessoas, ou 26,8% da população na estimativa do estudo da FGV. Isso significa que ao longo deste período, à força do crescimento da economia e das políticas sociais, 255 mil pessoas deixaram a pobreza no Estado.

O crescimento da classe C deve ser comemorado como um importante resultado alcançado no combate à pobreza e sintoma da inserção econômica e social dos brasileiros. Nos próximos anos, a prioridade das políticas é erradicar da pobreza os mais de 500 mil sergipanos, 15 milhões de nordestinos e 29 milhões de brasileiros que ainda se encontram nesta situação.
Publicado no Jornal da Cidade em 24/04/2011


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segunda-feira, 18 de abril de 2011

As exportações nordestinas na primeira década do novo século (Parte 2)

Ricardo Lacerda

A primeira década do século XXI foi marcada pelo forte incremento das exportações brasileiras, favorecidas pela expansão da demanda mundial por alimentos e minérios. O Nordeste registrou, no período, o terceiro maior crescimento das vendas externas entre as regiões brasileiras, superando as regiões Sul e Sudeste, mas abaixo do desempenho do Centro-Oeste e do Norte

As exportações nordestinas saltaram de US$ 4,0 bilhões, em 2000, para US$ 15,9 bilhões em 2010, fechando a década com crescimento 10% acima da média do país. (Ver gráfico). Com a exceção do Rio Grande do Norte, os estados da região aumentaram as exportações em mais de 100% no período. O grande destaque, todavia, é o estado da Bahia, que já representava 48% das exportações regionais, em 2000, e passou a responder por 56% do total, em 2010.


Fonte: MDIC-SECEX

Orientação externa

Desde os anos setenta, com a implantação de grandes projetos industriais produtores de bens intermediários das indústrias química, petroquímica e de minerais não metálicos, a maioria dos estados nordestinos voltou-se para o mercado nacional, deixando para trás a especialização exportadora em produtos agrícolas como algodão, babaçu, açúcar e cacau. Nas últimas décadas, três estados têm se distinguido dos demais quanto à orientação para o exterior por diferentes fatores: o Maranhão, a Bahia e Alagoas. O Maranhão, por conta das exportações de produtos metalúrgicos e de grãos, a Bahia, com uma pauta exportadora mais diversificada, com destaque para minérios, químicos, celulose e grãos, e o estado de Alagoas, com as exportações de açúcar.
Em todos os demais estados da região, as participações nas exportações regionais são menores do que no Produto Interno Bruto regional. Sergipe, inclusive, em razão do peso dos grandes empreendimentos nos setores de petróleo e gás, minerais não metálicos, fertilizantes e energia, é entre os estados da região, o mais voltado para o mercado nacional.

Pauta exportadora

Em 2010, os principais produtos da pauta exportadora do Nordeste eram, por ordem, óleo combustível, celulose, açúcar, soja, minério de ferro, automóveis, alumínio, produtos de algodão, metais preciosos, castanha de caju, produtos químicos e calçados. Ou seja, ao lado de tradicionais produtos de exportação regional, como açúcares, tecidos de algodão e castanha de caju, sobressaem-se os setores produtores de bens intermediários como minérios de ferro, alumínio, celulose e produtos químicos, e produtos que entraram mais recentemente na pauta exportadora da região, como soja e automóveis. Alguns bens de consumo não duráveis também ganharam participação, na pauta exportadora, como os calçados, enquanto outros perderam peso, como os produtos têxteis.

Alguns desses setores foram fortemente favorecidos pela elevação dos preços das commodities alimentícias e minerais no mercado internacional. A tonelada do açúcar bruto, por exemplo, cotada a US$ 216 em 2000, registrou preço médio de US$ 496, em 2010, mais do que o dobro, e o óleo combustível, principal produto da pauta exportadora, saltou de US$ 150, em 2000, para US$ 456, em 2010.

Na tabela a seguir, resumem-se as participações dos setores nas exportações nordestinas de 2010 e suas participações no aumento das vendas externas entre 2000 e 2010.
Os produtos minerais responderam por 18,6% das exportações regionais de 2010 e por quase ¼ do seu crescimento na década. As exportações de alimentos e bebidas representavam 14,2%, com grande destaque para o açúcar, 7,1% do total. Responderam, ainda, por uma fatia superior a 10% das exportações regionais, os segmentos de produtos químicos, uma ampla seção denominada produtos do reino vegetal e as atividades de papel e celulose.




Fonte: MDIC-SECEX

A última coluna da tabela apresenta, entre as seções de maior peso na pauta exportadora, aquelas que cresceram mais do que a média da região e, portanto, aumentaram suas participações, e aquelas seções cujos crescimentos ficaram abaixo dessa média. Além dos produtos minerais, o grande destaque, cabe mencionar positivamente o crescimento do segmento de papel e celulose, de material de transporte, por conta da implantação da Ford, de calçados, de produtos vegetais, em razão do crescimento das exportações de soja, e curiosamente, de metais preciosos.

As seções que apresentaram as maiores perdas de participação no período foram os metais comuns e os produtos têxteis.


Artigos anteriores estão postados em http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com/

Publicado no Jornal da Cidade em 17/04/2011

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terça-feira, 12 de abril de 2011

Desenvolvimento e Urbanismo

José Manuel Pinto Alvelos– Prof. Economia/UFS; Pro Reitor de Administração.

Lá pelos idos de 1959_1960, quando eu era menino de “calças curtas” na cidade de Estância, fazendo o primário na Escola de D. Joaquina na Rua da Baixa (Rua General Pedra) quase em frente ao “velho” Hospital Amparo de Maria ao fim da tarde quando se encerravam as aulas, em grupo íamos caminhando pelo “Beco do Cruzeiro” que findava no cemitério, apreciar numa alegria incontida as caçambas, máquinas, tratores, rasgando e trabalhando para construir o “asfalto”, que hoje se intitula a BR-101, no contorno da cidade e margeando o Rio Piauitinga. Nossas excursões se estendiam desde a “velha ponte de pau” da cachoeira, passando pela centenária “ponte do Bomfim”, até o limite da cidade na “granja”, onde hoje se localiza o Distrito Industrial de Estância.

Passados então 40_50 anos, pelo espírito empreendedor de sua gente a cidade se expandiu criando ruas, avenidas e bairros como Alagoas; Conjunto Pedro Barreto; Conjunto Valadares; Bairro Valter Cardozo; Conjunto Paulo Amaral e outros, integrando pelo lado leste da BR-101 a cidade a esta. Já pelo lado oeste, pelo contorno natural do Rio Piauitinga, ergueram-se além de bairros como Alecrim; Piauitinga; Camaçari, sobretudo a expressiva estrutura industrial de Estância destacando-se firmas como: S/A CONSTÂNCIO VIEIRA; GUFI; SULGIPE; MARATÁ; FRUTOS TROPICAIS; BRAHMA; EVEL; CROWN QUÍMICA; DUAS RODAS; TOPFRUIT; etc. Percebe-se assim que a BR-101, além da integração nacional do eixão Nordeste/ Sudeste/ Sul, para cargas e passageiros terrestres, tornou-se um divisor da cidade em sua urbanidade de trabalho, saúde, lazer, cultura, comércio, educação, .

Hoje em 2011 é o tempo da duplicação da BR-101, assim novos desafios se colocam e merecem serem avaliados. Para simplificar faremos 03 (três) hipóteses:

A) duplicação pelo leito existente; B) duplicação pelo lado Oeste (Conjunto Alecrim/ Bonfim/ Zona industrial); C) duplicação pelo lado Leste (por trás do Conjunto Paulo Amaral; Bairro Valter Cardozo; Forródromo).

Mas por que fazer o exercício das respostas a estas hipóteses? Para enfrentarmos o título deste artigo: Desenvolvimento e Urbanismo. Assim, avancemos preliminarmente em três pontos.

Em primeiro lugar, a natureza do Desenvolvimento e do Urbanismo, pode dar-se tanto de forma “espontânea” como “induzida”. Pela primeira, o caráter empreendedor, a visão e o acerto na aposta do mercado, podem traduzir-se em progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social etc. Já pela segunda, o planejamento dos agentes públicos, o caráter regulatório do estado, o bem público, também pode traduzir-se em progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc. Certamente o que não deve acontecer é a contradição quanto aos resultados a serem alcançados. Portanto, para ser repetitivo o objetivo central é obter progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc. Feita esta qualificação, avancemos sobre outro tema.

Em segundo lugar, a Universidade Federal de Sergipe, através do Magnífico Reitor Prof. Dr. Josué, quando da sua posse em 2004 propôs um pacto com a sociedade sergipana para fazer avançar o Ensino Superior Público no Estado de Sergipe, naturalmente compondo esforços com o Governo Federal, com o MEC, Governo Estadual, Governos Municipais, com a Classe Política, com a Sociedade Civil, as Forças Eclesiásticas, os Agentes Econômicos, dentre outros, para levar a interiorização da UFS para Propriá; Glória; Itabaiana; Lagarto; Estância. Após muitos esforços, estão instalados os Campi de Itabaiana, Laranjeiras e Lagarto.

Já o de Estância merece um aprofundamento. Sendo um Campus focado nas Engenharias, em função da natureza industrial da Cidade e da polarização sobre o Centro-sul sergipano e norte do estado da Bahia, especialmente Camaçari/Aratu, deverá ter 10 Engenharias, a saber: Civil; Mecânica; Elétrica/Eletrônica; Computação; Química; Minas; Naval; Petróleo; Produção; Materiais. Quando plenamente instalado, para um horizonte de 3 a 5 anos deverá ter de 6.000 a 7000 alunos, 250 professores PhD., 80 técnicos administrativos, um investimento global de R$60.000.000,00 e um requerimento de 100 a 120 hectares para a sua implantação física agregando uma “incubadora” e um “parque tecnológico”. Daí, a importância deste Campus para Desenvolvimento e Urbanização de Estância e vice-versa.

Em terceiro lugar, a ligação de Estância com o seu litoral é sonho de mais de 40 anos. Um primeiro passo dessa epopéia deve-se ao Prefeito Raimundo Souza, Seu Bedóia, Rubens Silva, que resultou na “ponte de Pau” e a ligação ao litoral. Um segundo passo completou-se com a “ponte de concreto” o asfaltamento da via até ao Abaís e entroncamento com a “Linha Verde de SE”, atravessando os governos Augusto Franco, João Alves, Albano Franco. Um terceiro passo deu-se com a edificação das Pontes “Joel Silveira” (Mosqueiro/ Caueira) e “Gilberto Amado” (Estância/ Indiaroba) já no governo Deda e com o rasgo e alargamento de estradas vicinais a partir do Bairro Botequim, no sentido leste com construção de pontes, restando uma última Sobre a maré do Rio Fundo, para a qual já esta alocada uma Emenda Parlamentar do ex-deputado Albano Franco no Valor de R$20.000.000,00, que deixa Estância a 15_17 km do litoral. E aqui temos que ter um entroncamento desta estrada vindo do litoral com a cidade.

Portanto, colocados estes três pontos, voltemos à duplicação da BR-101 e às hipóteses, A); B); C); e suas repercussões sobre o Desenvolvimento e a Urbanismo de Estância.

Na hipótese, A) duplicação pelo leito existente – constata-se que pelo intenso trânsito de hoje a BR-101 tem uma dupla função: servir de eixão Nordeste/ Sudeste/ Sul para cargas e de avenida central para Estância e cidades circunvizinhas que dela utilizam o seu aparato urbano. As áreas físicas em seu entorno, encontram-se edificadas e em alguns pontos até saturadas, sendo as vias de acesso ao núcleo central da cidade, limitadas e estranguladas. Esta opção aparta a cidade, ficando a maior malha urbana na parte leste e na oeste a estrutura industrial (para entrega de insumos e saída de produtos industriais) e a ligação da estrada SE que vai para Boquim. Criam-se evidentes riscos para pedestres e veículos, com crescentes chances de acidentes, atropelamentos e óbitos, ademais não se agrega emprego, renda ou riqueza nova, equivalente ao investimento a ser realizado, perdendo-se a oportunidade única do Estado “induzir” a geração de riqueza “nova”.

Já na hipótese, B) duplicação pelo lado Oeste (Conjunto Alecrim/ Bonfim/ Zona industrial) – esta por sua natureza está definida no Plano Diretor da Cidade de Estância, desde a época do extinto CONDESE (Conselho de Desenvolvimento Econômico de SE) como a zona de expansão industrial da cidade, posto que além dos vazios no espaço, incorpora mão de obra especializada e tem farta disponibilidade de água a partir dos Rios Piauitinga e Piauí e portanto não merece uma ação “induzida” do Estado que comprometa as suas potencialidades para o Anti-Desenvolvimento e o Anti-Urbanismo.

Por fim, resta a hipótese, C) duplicação pelo lado Leste (por trás do Conjunto Paulo Amaral; Bairro Valter Cardozo; Forródromo) – aqui se trata de um “anel viário” que circunscreva todo o espaço urbano atual de Estância criando uma nova “perimetral”. Aquilo que nos anos 1959_1960 foi cumprido pelo atual traçado da BR-101, que hoje se tornou avenida urbana. Além de criar um espaço urbano para novos bairros, ruas, praças e atividades econômicas, de lazer, educacionais e sociais, entrelaçam pelo lado Leste no sentido do litoral com a futura estrada ligando a Praia à cidade no já citado percurso de 15_17 km. Neste sentido, a ação “indutora” do gasto público gera “ progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social, etc”, trazendo uma “taxa interna de retorno positiva na relação custo/ benefício social”, como a exemplo ocorreu em Feira de Santana (BA) com o seu “anel viário” e/ou em São Paulo (SP) com o “Rodoanel”.

Com certeza, assim os meninos de 9_10 anos de hoje não mais de ”calças curtas”, mas de “bermudas”, antes de partir para o mundo, sentirão um brilhar nos olhos como aquelas alegrias dos anos idos vividas por mim e meus colegas, por respirar progresso e os de 18_23 anos por poder aspirar ser “Engenheiro” e ter um futuro promissor.

Para terminar, que a duplicação da BR-101 e o Campus de Engenharias da UFS em Estância, seja, a partir da Política e da Cultura, como sujeitos da história, temas para pavimentar o Desenvolvimento e Urbanismo, trazendo “ progresso, renda, emprego, riqueza, bem estar social”, porque como fala Fernando Pessoa “...navegar é preciso; viver não é preciso...”.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

As exportações nordestinas na primeira década do novo século

Ricardo Lacerda

As exportações brasileiras apresentaram desempenho exuberante na primeira década do século XXI. O valor das exportações brasileiras saltou de US$ 55,1 bilhões em 2000 para US$ 201,9 bilhões em 2010, um incremento de 267% no período, equivalente a uma taxa anual de 13,9% em dólares correntes.


O comportamento das nossas vendas externas foi fator determinante no ciclo expansivo iniciado no ano de 2004, o mais longo desde a crise do endividamento externo nos anos oitenta. Com uma taxa anual tão elevada de expansão, as exportações puxaram para cima o ritmo de crescimento do PIB em todos os anos desde 2003, com a notória exceção do ano de 2009, marcado pelos efeitos da crise financeira internacional sobre o fluxo do comércio mundial. (Ver gráfico 1).



Fonte: MDIC-SECEX

Regiões

Menos conhecidas são as trajetórias das exportações regionais ao longo da década. O gráfico 2 a seguir apresenta os índices acumulados de crescimento do valor das exportações das regiões brasileiras ao longo da primeira década do século, comparando com a média trienal 1999-2001. Todas as regiões registraram crescimentos superiores a 10% ao ano, durante esse período.

A região Centro-Oeste mereceria uma análise à parte, tendo apresentado taxas anuais de crescimento do valor exportado acima de 20%, multiplicando 7,3 vezes as suas exportações no período. O comportamento das exportações do Centro-Oeste foi tão extraordinário que, em 2009, quando as exportações brasileiras recuaram 22,7%, naquela região a retração se limitou a 0,4%. Note-se no gráfico que a inclinação fortemente ascendente da curva do Centro-Oeste obscurece mesmo os índices também muito elevados das demais regiões.

As exportações da região Nordeste, representadas pela linha tracejada, alcançou o índice de 412 em 2010, bem acima da média brasileira de 378. Nesta comparação entre a média trienal de 1999-2001 e o ano de 2010, as exportações nordestinas apresentaram taxa anual de expansão de 15,2%. As regiões de maior participação nas exportações brasileiras, o Sudeste (58%, em 2010), e, notadamente, o Sul, (18,6%, em 2010) tiveram crescimento abaixo das regiões com menores participações.

Fonte: MDIC-SECEX


Preços

Um outro aspecto interessante é o comportamento do preço médio das exportações nordestinas. Analistas têm destacado o comportamento favorável dos preços dos produtos exportados brasileiros na última década, em grande parte por conta intenso crescimento da demanda por alimentos e minérios no mercado mundial. Pouco tem se observado, todavia, sobre o valor médio das exportações das regiões brasileiras.

No gráfico 3, a seguir, apresenta-se uma medida grosseira do valor médio das exportações do Brasil e do Nordeste entre 2001 e 2010, dividindo-se o valor total das exportações pelas toneladas embarcadas. Evidentemente, tal indicador pode, com freqüência, se revelar traiçoeiro, principalmente por que, no período, verificaram-se importantes mudanças na composição da pauta exportadora, tanto do Brasil, como do Nordeste. Estudos mais apurados podem fazer os ajustes necessários. Feitas estas observações, é fácil perceber como o preço médio por tonelada exportada apresentou crescimento sustentado ao longo da década, tanto para o Brasil, quanto para o Nordeste. No caso desse último, o valor das exportações por tonelada pulou de US$ 326, em 2004, para US$ 595, em 2008.
É curioso observar que o valor médio não caiu em 2009 para as exportações nordestinas, em plena conjuntura de crise, diferentemente do que ocorreu nas exportações totais brasileiras. Em 2010, o valor médio das exportações brasileiras esboçou uma reação, enquanto a média nordestina despencou. Tal queda, aparentemente contraditória em um ano de recuperação dos preços no mercado internacional, se deveu quase integralmente ao peso que as exportações de minérios, produtos de baixo valor por peso contido, ganhou na pauta exportadora nordestina naquele ano.

Fonte: MDIC-SECEX

Ainda que o comércio exterior tenha um peso muito menos importante para a economia do Nordeste do que para a média do país, o coeficiente de exportações da região é cerca da metade do nacional, a região participou de forma significativa do impulso exportador brasileiro dos últimos anos. No próximo artigo, examinam-se os principais mercados e a composição desse crescimento.


Publicado no Jornal da Cidade em 10/04/2011.


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terça-feira, 5 de abril de 2011

O IPCA e as expectativas de mercado

Ricardo Lacerda


Nas últimas semanas predomina certo mal estar na relação do Banco Central com o chamado mercado, que vem a ser essencialmente constituído por operadores no mercado financeiro, como corretoras, bancos e gestoras de recursos. O principal ponto da discórdia diz respeito às avaliações feitas pelo Copom (Comitê Política Monetária do Banco Central) sobre a trajetória do IPCA nos próximos meses e a defesa da instituição de uma estratégia de combate gradual à inflação, aguardando que surtam os efeitos das medidas de políticas macroprudenciais recentes que buscaram desacelerar o ritmo do nível de atividade por meio da restrição ao crédito, além das medidas de corte do gasto público e dos últimos aumentos da taxa básica de juros, antes de adotar novas medidas restritivas que findem por abortar continuidade do ciclo de expansão econômica.

O mercado avalia que a ata da última reunião do Copom, corroborada pelo relatório de inflação de março do Banco Central, reflete uma mudança do entendimento da autoridade monetária em relação ao sistema de meta de inflação. O Banco Central teria reduzido o seu compromisso em repor o IPCA ao centro da meta inflacionária (4,5%). Mais grave, o Copom estaria sendo leniente com o combate à inflação quando indica aceitar com naturalidade que a inflação somente se aproxime do centro da meta em meados do próximo ano.

Trocando em miúdos, os agentes mercado entendem que fazia parte da regra do jogo, do jogo deles, o Banco Central manter, dentro do ano, a inflação no nível contratado e que os desvios da inflação do centro da meta devem ser respondidos com elevações na taxa básica de juros.


IPCA


A partir de setembro do ano passado, o IPCA acumulado em doze meses iniciou uma trajetória de crescimento, passando de 4,70%, naquele mês, para 5,20% em outubro, 5,64%, em novembro, e encostou os 6% em dezembro e janeiro, atingindo 6,01% no mês de fevereiro. Ainda que o ímpeto de elevação do índice tenha se dissipado nos últimos meses, o mercado considera o patamar muito elevado. (Ver gráfico 1)

Fonte: IBGE


O ponto de vista do Banco Central é o de que a aceleração dos preços ao consumidor nos últimos meses se deveu, em parte, a pressões sazonais, seja nos preços de alimentos in natura, por conta das recentes inundações na região Sudeste, seja nas tarifas, especialmente de transportes públicos. A elevação nas cotações das commodities no mercado internacional seria um fator adicional. Aumentos na taxa de juros pouco poderiam atuar no sentido de combater tais pressões, [a não ser que em doses cavalares].

Reconhece, todavia, a persistência de descompasso entre a oferta e a demanda agregadas, ou seja, que a economia estaria excessivamente aquecida, fato evidenciado na evolução dos preços de serviços, mas que este desequilíbrio estaria sendo combatido pelas medidas adotadas e que, no segundo semestre, o IPCA acumulado de doze meses começará a refluir, até voltar a convergir ao centro da meta em 2012. As análises do Banco Central destacam ainda que o crescimento do nível de atividade vem desacelerando já há meses e que isso se refletirá, com alguma defasagem temporal, na evolução do IPCA.

A exposição desses argumentos foi entendida pelo mercado como uma sinalização de que o ciclo recente de elevação das taxas de juros não teria continuidade nas próximas reuniões do Copom e o mercado quer mais altas nos juros.

O gráfico 2 a seguir resume a expectativa de mercado desde agosto do ano passado em relação ao IPCA de dezembro de 2011. As projeções mais recentes apontam para a mediana de 6% para o índice no final do ano.


Fonte: Banco Central. Focus- Relatório de Mercado


Termômetro


O Banco Central tem emitido enfáticos sinais de que não tem visto com bons olhos as projeções do mercado. Para alguns analistas, a piora nas expectativas poderia refletir as insatisfações dos agentes do mercado com a mudança na postura do Banco Central, que diferentemente de situações pretéritas, não deverá responder à pressão inflacionária com novas rodadas de elevação da taxa Selic, contrariando as apostas que estas instituições fizeram em suas aplicações financeiras.

Há no momento uma tensão entre Banco Central e o mercado que somente será dissipada nas próximas semanas, à medida que os dados da inflação mostrarão quem está certo sobre a projeção do índice de inflação, o Banco Central ou o mercado. Eu aposto que o Banco Central dobra o mercado. Os agentes reelaborarão suas expectativas, convergindo com as projeções da autoridade financeira e ficarão felizes com os resultados alcançados.


Publicado no Jornal da Cidade em 03/04/2011.


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