Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O peso do emprego público nos estados

Ricardo Lacerda

Decano dos economistas sergipanos, Dilson Menezes Barreto escreve comentando o artigo da semana passada sobre a geração de emprego formal na economia brasileira. Pareceu-lhe acima do desejável o peso da administração pública, em suas três esferas, no emprego formal da economia sergipana, 118.554 empregos, equivalentes a 32,1% do total de 369.579.

Instigado pelo comentário do eminente economista, levantei os dados por unidades da federação para verificar o peso do emprego público, nos anos de 2000 e de 2010, em relação ao emprego total, e a relação entre o emprego público e a população economicamente ativa referente ao ano de 2009.

O emprego público

Em dezembro de 2010, segundo o Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego, as três esferas de governo empregavam no Brasil 8.763.970 pessoas, equivalentes a 20,2% do total de pessoas com emprego formal, cerca de 1 em cada 5 empregados formalizados. Esta participação já foi maior, alcançou 22,4% em 2000.

O gráfico, a seguir, não deixa dúvida sobre a relação entre o peso do setor público e o grau de maturidade do desenvolvimento econômico. Nos estados da região Norte e Nordeste, o setor público tem uma participação relativamente maior do que nas áreas mais desenvolvidas do país. É importante destacar que tal fato não permite inferir o gigantismo do emprego público em determinado lugar, pois o dado diz mais respeito ao grau de desenvolvimento das forças produtivas do setor privado, frente ao tamanho do setor público.

Enquanto nas regiões Norte e Nordeste, as participações do emprego público alcançavam, respectivamente, 37,6% e 31,1% do emprego formal, nas regiões Sul e Sudeste estas participações se situavam a menos da metade das primeiras, 14,5% e 15,2%. Observe-se que as maiores participações do emprego público verificavam-se nos ex-territórios federais, por ordem, Roraima, 49% dos empregos formais, Acre, 47,7%, e Tocantins, 47,1%.

Fonte: MTE-RAIS

No outro extremo geográfico e econômico do país, encontravam-se os estados de menores participações da administração pública no emprego total, Santa Catarina (11,8%), São Paulo (12,6%), Paraná (15,1%) e Rio Grande do Sul (15,9%). Mesmo estados com forte presença do setor público, como Rio de Janeiro (18,2%) e Minas Gerais (19%), por contarem com setor produtivo mais desenvolvido, apresentavam participações menores. (Ver gráfico)

Nordeste

Na região Nordeste, os estados economicamente mais expressivos registravam as menores taxas de participação da administração pública no emprego formal, Pernambuco, com 25,8%, Bahia, 28,6% e Ceará, 29,2%. Sergipe, com seus 32,1% se situava em uma posição intermediária, 12º no ranking nacional, em ordem decrescente de participação, e 4º lugar no Nordeste, abaixo da Paraíba (42,5%), Maranhão (40,1%), Piauí (37,3%).

Variação

Ao longo da década, a forte expansão do emprego no setor privado, mesmo diante de um aumento expressivo do emprego público, fez com que caísse a participação da administração pública no total do emprego formal no país, de 22,4%, em 2000 para os já citados 20,2%, em 2010. A queda de 2,2 pontos percentuais pode não parecer grande, mas ela significa que, caso tivesse crescido às mesmas taxas do emprego privado no período, teriam sido criados 1.237.927 empregos adicionais na administração pública.


PEA

Uma outra dimensão é a importância do emprego público como proporção da População Economicamente Ativa (PEA). Em 2009, o emprego formal na administração pública correspondia a 8,7% da PEA brasileira. O emprego público no Distrito Federal alcançava 30,8%, e no outro extremo, representava apenas 6,2% da PEA catarinense. Nesta comparação, o estado de Sergipe aparece em segundo lugar na região Nordeste, atrás da Paraíba, e em oitavo lugar no país, com o emprego público equivalendo a 11,8% da PEA. (Ver tabela).

Em termos regionais, o Centro-Oeste, por conta do peso do Distrito Federal, tem a maior porcentagem, 13,1%, seguido pelas regiões Norte, 11,2% e Nordeste, 9,1%. Observe-se que neste tipo de comparação as discrepâncias entre as regiões são bem menores do que quando se compara o peso do emprego público no total do emprego formal.


Fonte: MTE-RAIS e PNAD.


Respondendo ao ilustre economista, o peso do emprego público no total do emprego formal na economia sergipana não distoa muito da média dos demais estados nordestinos. Enquanto proporção da População Economicamente Ativa, o resultado indica que o emprego público em Sergipe se encontra acima da média da região e entre os maiores do país.



Publicado no Jornal da Cidade em 29/05/2011


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quinta-feira, 26 de maio de 2011

A geração de emprego em Sergipe na primeira década do novo século

Ricardo Lacerda

Um dos aspectos mais notáveis da evolução recente da economia brasileira foi o descolamento entre a geração do emprego e o crescimento do PIB. Entre 2000 e 2010, o PIB brasileiro teve um incremento de 42%, enquanto o emprego formal aumentou 68%. O crescimento médio anual do PIB foi de 3,6%, o do emprego formal alcançou 5,3%.

Em Sergipe, como em outros estados do Nordeste, o emprego formal cresceu a taxas superiores à média brasileira. O emprego com carteira assinada em Sergipe passou de 206.054 para 369.579, ou seja, foram criados 163.525 empregos adicionais em 10 anos, incremento de 79% e média anual de 6,0%. É importante destacar que todos os dados citados dizem respeito à situação de dezembro de cada ano.

Setores

Em 2010, os setores de atividade com maior número de emprego formal em Sergipe eram a administração pública, com 118.554 pessoas, equivalentes a cerca de 1/3 do total (32,1%), o setor de serviços, com 100.189 vínculos empregatícios (27,1%), o comércio, com 56.221 (15,2%), e a indústria de transformação, 41.477 (11,2%).
O setor agropecuário contava com 13.730 empregos formais, apenas 3,7% do total, ainda que este segmento respondesse por 22% da população ocupada no Estado de Sergipe, com ou sem vínculo empregatício formal, posto que parte expressiva da força de trabalho rural desenvolve produção familiar ou mantém relação de trabalho informal.

A construção civil empregava 28.713 pessoas, 7,8% do total, e a indústria extrativa mineral, que inclui a exploração de petróleo e gás natural, 4.600 pessoas, diretamente, por que, certamente, parte expressiva das pessoas empregadas em segmentos de serviços e na construção civil também integra a cadeia de petróleo e gás.


Fonte: MTE-RAIS


Crescimento
Ainda que se situasse no topo de empregos formais, a administração pública perdeu a primazia na geração de empregos adicionais entre 2000 e 2010, o que é positivo por que mostra o amadurecimento do setor privado local. Dos 163.525 novos postos de trabalho criados, o setor serviços foi responsável por 47.469 novos empregos, ou 29% do incremento total, mais do a administração pública, em suas três esferas, que ampliou o número de vagas em 39.421, ou 24,1% do incremento total. Percebam nas duas últimas colunas da tabela 1 que a administração pública, apesar de ter registrado a menor taxa de crescimento do emprego, teve o crescimento não desprezível de 4,1% anuais. O comércio sergipano abriu 27.058 novas vagas.

Dois segmentos apresentaram crescimento espetacular do emprego, com taxa anual igual ou superior a 10%, a indústria extrativa mineral, que ampliou as vagas de 1.287, em 2000, para 4.600, 257% no período, ou 13,6% ao ano, e a construção civil, que ampliou o contingente empregado em 17.682 postos de trabalho, 160,3% no período, ou 10% ao ano. Não menos significativo foi o fato de o setor agropecuário ter criado 6.357 empregos formais no período, 6,4% ao ano, em grande parte por conta da implantação nos últimos anos de duas novas usinas de cana de açúcar.


Atividades
A tabela 2, a seguir, apresenta um maior detalhamento setorial dos empregos criados na economia sergipana entre 2000 e 2010. São muitas as informações. Algumas valem a pena serem destacadas, como os 5.205 empregos criados pelas indústrias de calçados, os 5.870 no segmento de alojamento e alimentação, que devem ser somados aos 1.217 empregos nos serviços auxiliares de transporte e agencia de viagens, que sugerem a ampliação do setor de turismo no Estado, os 3.452 novos empregos na indústria química, que inclui o segmento de etanol, e a ampliação de 2.534 empregos na extração de petróleo.
Fonte: MTE-RAIS

Os dados sobre a geração de emprego na primeira década do novo século revelam uma evolução positiva da economia sergipana que nem mesmo as turbulências da crise financeira internacional conseguiram empanar. Em 2011 e 2012, novos desafios estão postos, ainda em razão do desdobramento da crise.


Publicado no Jornal da Cidade em 22/05/2011


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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Acessos ao Blog

Prezados,

Ontem, 17 de maio, pela primeira vez o blog superou a marca de 100 visitas diarias, foram 124 acessos. Nos últimos 30 dias o numero de visitantes também foi recorde, 1.812. Desde a sua criação, em 03/08/2010, tivemos 8.450 acessos. Sei que os números não são espetaculares, mas fico satisfeito de ver que o objetivo do blog está sendo alcançado, acima mesmo de minhas expectativas.

No inicio, os acessos eram quase totalmente locais. Hoje os acessos de fora do Estado de Sergipe já respondem por cerca de 2/3 do total, o que mostra que os temas abordados têm interessado a pessoas de outros estados e também a residentes de alguns outros países de lingua portuguesa.

Os artigos com maior número de acesso neste periodo foram, por ordem, Expectativas e projeções para 2011; Preço e produção de petróleo em Sergipe; O Nordeste no Atual Ciclo Industrial; A expansão da pecuária de leite em Sergipe; Situação financeira e expectativas das famílias brasileiras; O Petróleo na economia sergipana e A ascensão da Classe “C” e a elevação da renda em Sergipe.


Ricardo

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quem são os sergipanos que se encontram na pobreza extrema

Ricardo Lacerda


A focalização das políticas sociais nas populações mais vulneráveis tem gerado importantes resultados no Brasil, muito especialmente nos estados da região Nordeste. Ao lado do crescimento do emprego, impulsionado pela expansão econômica, as políticas sociais têm permitido que milhões de brasileiros superem os níveis mais degradantes da pobreza e tenham atendidas algumas das necessidades básicas de alimentação e moradia.

No dia 02 de maio, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (MDS) apresentou o perfil do que foi chamado de extrema pobreza no Brasil, já com base nos dados preliminares do Censo Demográfico de 2010.

O universo dos brasileiros que se encontravam, em 2010, na situação de extrema pobreza, segundo a nova metodologia do MDS, é aquele composto por pessoas que residem em domicílios que não obtiveram rendimentos em julho daquele ano, ou cujos rendimentos por pessoa não ultrapassaram R$ 70,00. Todavia, o IBGE identificou que parcela expressiva dos domicílios sem rendimento no mês da pesquisa não tinha perfil de extrema pobreza.

Foi feita, então, uma triagem, entre esses domicílios, com base em alguns indicadores de vulnerabilidade, como a falta de acesso à rede geral de esgoto, falta de acesso à energia elétrica, presença de analfabetos e de idosos, ou de três ou mais moradores acima de 14 anos, e mais alguns outros critérios para buscar identificar as famílias com o perfil pretendido. (Ver anota metodológica em http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias/2011/maio/arquivos/11.05.02_Nota_Tecnica_Perfil_A.doc/at_download/file).

Distribuição regional

Mesmo com valor muito baixo do critério de renda adotado, delimitou-se o universo de 16.267.197 brasileiros com perfil de extrema pobreza. A ampla maioria deste contingente, 9.609.803 pessoas, residia no Nordeste, respondendo por 59,1% do total, 2.725.532 no Sudeste, 16,8%, 2.658.452 no Norte, 16,3%, 715.961 na região Sul, 4,4%, e 557.449 na região Centro-Oeste, 3,4%.(Ver gráfico).

As pessoas que se encontravam na pobreza extrema, de acordo com os critérios utilizados, respondiam por 8,6% da população brasileira de 2010. Três estados tinham mais de 20% da população no perfil da extrema pobreza, Maranhão com 25,7%, ou seja, cerca de uma em cada quatro pessoas, Piauí, com 21,4%, e Alagoas com 20,3%, uma em cada cinco pessoas. A média dos estados nordestinos, 18,1%, foi a mais elevada entre as regiões.

Fonte: IBGE- Censo Demográfico de 2010.

Sergipe

Sergipe contava com 311.162 pessoas no perfil de extrema pobreza, o que representava 15,7% de sua população em 2010, a segunda menor porcentagem do Nordeste. Quem são estes sergipanos que se encontram no grau mais alto de vulnerabilidade social? Um pouco mais da metade são pessoas que residem no meio rural, 158.223, frente aos 152.939 que vivem em áreas urbanas, apesar do total da população urbana alcançar 1.520.366 e a população rural 547.651, pouco mais de 1/3 da primeira. Assim, enquanto 10,1% das pessoas que moram nas áreas urbanas se situariam no perfil de extrema pobreza, este percentual alcança 28,9% no meio rural. (Ver quadro).

Fonte: IBGE- Censo Demográfico de 2010.

O censo permite observar o numero de pessoas em situação de extrema pobreza de acordo com a raça/cor declarada. A ampla maioria das pessoas nesta condição informou ter a cor parda, 206.505 indivíduos, ou 66,3% do total. Chama a atenção, todavia, que não é muito forte a discrepância entre as percentagens de pessoas com perfil de extrema pobreza de acordo com esse critério, variando de 11,6%, entre os indígenas e 12,4% entre os brancos a 15,2% e 16,3% nos grupos de cor preta e parda, respectivamente. Mesmo quando se observa apenas a população urbana tal padrão se repete, variando entre 8% e 11,2%.

Inclusão

O critério de delimitação da pobreza extrema utilizado pelo MDS tem gerado controvérsias de diversas naturezas, dentre as quais, duas são dignas de maior atenção. Em primeiro lugar, o critério de baixa renda monetária cria um viés rural, posto que parcela da renda dessa população tem como fonte atividades não monetárias. Segundo, não levou em consideração o custo de vida significativamente mais elevado nos grandes centros urbanos.

O governo federal adotou o lema País rico é país sem pobreza. Em Sergipe, o compromisso do governo estadual é o de Incluir pelo direito e pela renda os sergipanos que se encontram em situação mais vulnerável. A delimitação da linha de pobreza extrema, identificando 16.267.197 brasileiros e 311.162 sergipanos, vai ajudar a orientar as ações de inclusão social e produtiva nos próximos quatro anos.


Publicado no Jornal da Cidade em 15/05/2011

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segunda-feira, 9 de maio de 2011

A desconcentração regional do emprego industrial

Ricardo Lacerda


Ao longo da primeira década do século XXI,o emprego da indústria de transformação brasileira aumentou em mais de 50%. Enquanto no ano 2000 o emprego formal do setor era de 4,9 milhões de pessoas, em 2009 o contingente de empregados atingiu 7,4 milhões. O emprego na indústria de transformação cresceu mais rápido nas regiões menos industrializadas e menos aceleradamente nas regiões mais industrializadas.

Desconcentração

Ainda que não tenha havido grandes mudanças nas participações das regiões no total do emprego da indústria de transformação, como mostra o gráfico 1, as taxas de crescimento entre 2000 e 2009 foram muito diferenciadas, destacando-se os incrementos de 93% no Centro-Oeste, 70% no Norte, e 69% no Nordeste. No Sudeste, região que responde por mais da metade do emprego do setor, o emprego cresceu 42%. O emprego industrial na região Sul se expandiu às mesmas taxas do Brasil, 51%.

Para que os mais apressados não atribuam tal desconcentração do emprego industrial aos impactos da crise financeira internacional, convém observar que entre 2000 e 2007, portanto antes destes impactos se manifestarem, o padrão do crescimento do emprego regional na industrial de transformação seguiu esse mesmo comportamento, ou seja, o emprego industrial desconcentrou-se da região Sudeste em direção às regiões e Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Ao longo da década, algo em torno de 3% do emprego industrial brasileiro se deslocou do Sudeste para aquelas três regiões. (Ver gráfico 1)

O emprego na indústria de transformação do Nordeste passou de 585 mil no primeiro ano, para 991 mil, em 2009, fazendo com a sua participação tenha passado de 12% para 13,5%.

Fonte: RAIS-MTE.


Subsetores

A desconcentração regional do emprego da indústria de transformação em direção as regiões menos industrializadas foi generalizada, tanto quando se observa o período 2000 e 2009, quanto entre 2000 e 2007. Dentre os doze subsetores de atividades da indústria, a região Sudeste ganhou participação somente no segmento de madeiras e móveis.

A região Nordeste, por sua vez, entre 2000 e 2009, perdeu participação no emprego da indústria de alimentos e bebidas e manteve a sua fatia no emprego da indústria têxtil. E aumentou as participações em todos os demais subsetores. Notável foi o crescimento da participação da região Nordeste no emprego da indústria de calçados, em que já ultrapassou o número de empregos da região Sudeste e se aproxima dos números da indústria calçadista da região Sul, com a particularidade de que o emprego na indústria de calçados, em termos absolutos, vem crescendo no Nordeste e caindo, no Sul e no Sudeste. Em 2009, o Nordeste já respondia por 36,5% do emprego da indústria de calçados, frente a 37,9% da região Sul. Em 2000, o Nordeste contava com 20% do emprego do setor e a região Sul com 52,4%.

A participação do Nordeste no emprego da indústria de minerais não metálicos, da indústria química, do subsetor de papel e gráfica, da indústria mecânica e da fabricação de material de transporte tiveram crescimento significativo no período.

Sudeste

A região Sudeste vem perdendo participação na geração de emprego não apenas nos setores mais tradicionais da indústria de transformação, como também em segmentos importantes da chamada indústria pesada brasileira, a exemplo da fabricação de produtos metalúrgicos, minerais não metálicos, material elétrico e de comunicação e em material de transporte, seja quando se considera o período mais longo, 2000-2009, seja quando se observa o período mais curto, 2000-2007. (Ver gráfico 2).

Fonte: RAIS-MTE.

É fato que regiões mais industrializadas foram especialmente afetadas pela crise financeira internacional, mas a recente desconcentração regional do emprego industrial vai além deste fenômeno. Parece refletir um novo ciclo de espraiamento do desenvolvimento industrial brasileiro movido pela busca dos mercados regionais que se encontram em forte ampliação, pela disponibilidade de recursos naturais e de força de trabalho.


Publicado No Jornal da Cidade em 08/05/2011



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segunda-feira, 2 de maio de 2011

As disparidades regionais no Brasil e a geração de emprego.

Ricardo Lacerda


Inicio com o presente artigo, uma pequena série de análises sobre a evolução das desigualdades entre as regiões brasileiras na primeira década do século XXI. Alguns pesquisadores têm apontado que, ao longo dos últimos anos, as largas disparidades econômicas e sociais entre as regiões brasileiras se reduziram de forma significativa, ainda que os indicadores regionais de desenvolvimento mantenham diferenças muito amplas, como ilustra o fato de a renda familiar per capita no Nordeste se limitar a 53% da média da região Sudeste, em 2009.

Para exemplificar como as disparidades regionais de renda vêm diminuindo, basta observar que a renda per capita familiar do Nordeste, em 2001, representava 43% da média do Sudeste, segundo estudo da FGV. No caso de Sergipe, o movimento de convergência foi mais rápido do que o da média da região Nordeste, passando de 44% da renda per capita do Sudeste, em 2001, para 62%, em 2009.

O ritmo de convergência dos indicadores tem acelerado nos últimos anos, ainda que haja muito terreno pela frente até estreitar tais disparidades a níveis civilizados. No artigo de hoje, será examinado um aspecto dos mais interessantes deste processo de convergência: a evolução do emprego formal nas regiões brasileiras.

Emprego formal

Entre 2000 e 2009, o número de brasileiros com emprego formal aumentou 57%, com uma expressiva taxa de incremento anual médio de 5,1%, passando de 26,2 milhões para 42,2 milhões de pessoas. O ritmo de geração de emprego formal se intensificou a partir de 2004, fazendo com que a taxa de crescimento anual médio tenha subido para 5,7%. Os dados são do Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego

Nas regiões mais pobres, Nordeste, Norte e Centro- Oeste,a geração de emprego formal foi mais acelerada do que nas regiões de rendas per capita mais elevadas, o Sudeste e o Sul. Desde 2004, o emprego formal cresceu anualmente, em média, 8% na região Norte, 6,5% na região Nordeste, 5,9% no Centro-Oeste, frente às taxas de 5,4% na região Sudeste e 5,1%, na região Sul.

Inversão
A geração mais intensa de emprego nas regiões mais pobres provocou mudançasnão desprezíveis nas participações no total do emprego formal no país. Entre 2000 e 2009, a participação da região Sudeste caiu 2,3 pontos percentuais, passando de 53,5% para 51,2%, a região Sul teve um pequeno recuo, de 17,6% para 17,2%, enquanto as regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste aumentaram seus pesos.
Nesta trajetória, a região Nordeste superou, desde 2006, a região Sul no que se refere ao contingente de pessoas com emprego formal. Em 2009, o Nordeste já representava 18% do total de emprego formal do Brasil, contra 17,2% daquela região. (Ver gráfico 1). O número de pessoas com emprego formal no Nordeste saltou de 4,4 milhões em 2000, para 7,4 milhões, em 2009, enquanto na região Sul este montante passou de 4,6 milhões para 7,1 milhões.

Fonte: RAIS-MTE
Setorial

Um aspecto significativo da evolução do emprego na região Nordeste em relação à média do país reside no fato de que a taxa de crescimento da região foisuperior em quase todos os segmentos econômicos. No período 2000-2009, o crescimento do emprego formal no Nordeste somente ficou abaixo da média nacional no segmento de Serviços Industriais de Utilidade Pública (SIUP) que abrange os serviços de fornecimento de saneamento, energia e telecomunicações. (Ver gráfico 2). Enquanto o crescimento total do emprego formal no Brasil alcançou 57%, o do Nordeste foi de 70%, treze pontos percentuais acima. Entre os setores de maior peso no emprego, a diferença favorável ao Nordeste atingiu 15 p.p. nos serviços, 17 p.p. no comércio, 11 p.p. na administração pública. Na indústria de transformação, a diferença alcançou notáveis 18 pontos percentuais.


Fonte: RAIS-MTE

2010

O Nordeste continuou criando emprego em ritmo mais acelerado do que a média do Brasil no período mais recente. No ano de 2010, em que a geração de empregos formais bateu recorde na série do CAGED-MTE, com 2.136.947 novos postos de trabalho no país, a região Nordeste respondeu por 17,9% do total,equivalentes a 382.050 novas vagas, muito acima dos 14,6% da média da região para o período 2003-2009.

A geração do emprego formal na última década representa uma das dimensões mais representativas do ciclo recente de crescimento da economia brasileira. É sintoma de um conjunto de políticas públicas nacionais e regionais que tiveram maior impacto relativo nas áreas mais pobres do país.

Publicado no Jornal da Cidade em 01/05/2011


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