Ricardo Lacerda*
Depois de um terceiro trimestre com
resultados muito ruins, a economia brasileira iniciou o ultimo trimestre de
2016 confirmando a trajetória de aceleração do ritmo de queda do nível de
atividade, enquanto o aguardado choque de confiança simplesmente faltou ao
encontro marcado.
Comércio varejista, indústria e serviços
recuaram no mês de outubro e as edições dos índices setoriais de expectativas de
outubro e novembro oscilaram entre estagnação ou queda na confiança de
consumidores e empresas. Crise política e recessão se reforçam mutuamente e já
ninguém arrisca prognóstico de quando o nível de atividade chegará ao fundo do
poço.
A mudança do humor é patente, sendo
constatada tanto nas sondagens de mercado quanto nas pesquisas de opinião junto
aos eleitores. Com o chão abrindo aos seus pés depois de delações de crimes de
corrupção envolvendo a alta cúpula da administração, o governo federal recorreu
às pressas a arremedos de estímulos à economia por meio de alguma recomposição
do poder de compra de famílias e de empresas, asfixiado pelo alto nível de
endividamento.
As medidas anunciadas contemplam a
reestruturação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), renegociação
de dívida com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o
diferimento no pagamento de tributos por parte das empresas. Em uma segunda
etapa, poderá ser regulamentada a utilização de parcela do FGTS para abater
dívidas das famílias.
Reação tardia
Analistas próximos ao governo alertavam já há alguns meses que o ritmo de atividade da economia sinalizava o aprofundamento
da recessão no terceiro trimestre e recomendavam que o Comitê de Política
Monetária do Banco Central (COPOM) acelerasse o ritmo de redução da taxa básica
de juros da economia. Por duas reuniões subsequentes, o comitê decidiu por
limitar a queda dos juros em 0,25 ponto percentual.
Na reunião dos dias 18 e 19 de outubro, o Copom
literalmente fez pouco caso do agravamento do quadro recessivo, comunicando na
ata da reunião que não se impressionava com os
números ruins do nível de atividade no terceiro trimestre e que, apesar da
queda dos índices de preço ao consumidor, os preços dos serviços ainda
resistiam a cair, exigindo “persistência” na política monetária. Ao final da reunião, o Copom decidiu pela
redução de 0,25 pp na taxa básica, o que na prática sinalizou a elevação na
taxa de juros reais, frente à perspectiva de queda acentuada nos índices de
preço. Na reunião seguinte, nos dias 29 e 30 de outubro, mesmo com a forte
deterioração desde a reunião anterior, o Copom manteve a política de redução de
0,25 pp, com a diferença que agora reconhecia o agravamento do quadro recessivo.
Vale a pena comparar o item que trata do nível de atividade econômica nas atas
das duas reuniões.
Na Ata da 202ª reunião do COPOM, de 18 e 19
de outubro de 2016, o Copom registrava que “3.
Oscilações no atual estágio do ciclo econômico são comuns e provavelmente
explicam os resultados recentes. No seu conjunto, a evidência disponível é
compatível com estabilização recente da economia brasileira. Índices de
confiança, expectativas de crescimento do PIB para 2017 apuradas pela pesquisa
Focus e o comportamento de prêmios de risco e preços de ativos apontam para uma
possível retomada gradual da atividade econômica.”
Seis semanas depois, na 203ª reunião do COPOM de 29 e 30 de novembro, reconhecia-se
que os recuos dos indicadores de atividade não eram meramente flutuações
naturais do ciclo de negócios “3. Após os recuos dos indicadores de
atividade econômica relativos a agosto, a ausência de uma reversão nos meses
seguintes torna menos provável o cenário em que esses movimentos refletiriam
oscilações naturais da atividade econômica em torno de momentos de
estabilização. Aumenta, portanto, a probabilidade de que a retomada da
atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada previamente”.
Apesar do reconhecimento da piora do cenário, o Copom
persistiu no ritmo de redução da taxa básica. Em eventos posteriores, o
presidente do Banco Central teria declarado que estava sofrendo horrores de
pressão para acelerar a queda da taxa de juros nas próximas reuniões do Copom.
Outubro
No mês de outubro, os indicadores do nível de atividade
sinalizaram a continuidade do agravamento do quadro recessivo. O volume de
vendas do comércio varejista recuou 0,8%, na série livre de efeitos sazonais,
no pior resultado para o mês desde 2008. O volume de serviços e a produção
industrial despencaram, respectivamente, 2,4% e 1,1%.
O Índice de Atividade do Banco Central sintetiza o
movimento recente registrando a aceleração do ritmo de queda no cálculo
trimestral. Na comparação entre o trimestre agosto-outubro e o trimestre
anterior (maio-julho) o IBC-BR caiu 1%, quando havia se retraído 0,6% no
trimestre encerrado em setembro. Na comparação do trimestre agosto-outubro com
o trimestre móvel anterior (julho-setembro), o IBC-BR recuou 0,5%, frente a
queda de 0,3% no trimestre encerrado em setembro (ver Gráfico).
Frente ao agravamento da crise política, a equipe
econômica corre atrás do prejuízo. O prazo para mostrar resultados positivos na
atividade econômica encurtou, a ficha caiu, e a equipe econômica soma-se à
operação deflagrada para salvar o governo Temer.
Fonte.
Banco Central do Brasil.
Publicado no Jornal da Cidade, em 18/12/2016
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