Ricardo Lacerda
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil
recuou 0,8% no terceiro trimestre de 2016, em relação ao segundo trimestre, em
uma nova aceleração no ritmo de queda da atividade econômica, depois de quatro trimestres
em que a taxa de retração vinha encolhendo.
É a sétima redução consecutiva do PIB quando
se compara com o trimestre imediatamente anterior e a décima seguida em relação
ao mesmo trimestre do ano anterior. As projeções mais recentes apontam para a
estabilização do nível de atividade para algum trimestre ainda indefinido do
próximo ano. Nessa semana, a OCDE reviu de 0,3% para zero o crescimento do PIB
do Brasil para 2017 e o Bradesco, de 1% para 0,3%.
O desempenho da economia do Nordeste, a região mais pobre do país, tem se
apresentado ainda pior do que a média nacional. O Índice de Atividade do Banco
Central da economia do Nordeste recuou quase dois pontos percentuais a mais do
que a média do país, na comparação entre o terceiro trimestre de 2016 e o mesmo
período de 2015.
Nessa série que compara com o mesmo trimestre
do ano anterior, desde o trimestre fevereiro-abril de 2016 a economia do
Nordeste apresenta desempenho pior do que a média do Brasil e desde o trimestre
junho-agosto de 2015 que o desempenho da região é inferior ao do Sudeste, a
região mais rica e industrializada do país.
Parte desempenho pior do Nordeste decorre dos
efeitos da seca que assola a região, mas uma parte expressiva do ritmo mais
acentuado de queda da economia regional está associada à crise da construção
civil e e dos efeitos sobre o setor serviços decorrentes da intensificação da deterioração
do mercado de trabalho iniciada em outras atividades. Há, portanto, em
andamento um ciclo intensamente vicioso no mercado de trabalho da região que
vai se disseminando pelo vários setores de atividade.
Mercado de trabalho
Enquanto na média do país o contingente de
pessoas ocupadas encolheu 2,4% na comparação do 3º trimestre de 2016 e o mesmo
trimestre de 2015, no Nordeste a retração atingiu 6,4%, mais do que o dobro. Nessa comparação, das 2,26 milhões ocupações
perdidas no país, simplesmente 1,46 milhão, equivalente a 65% do total se
concentrou no Nordeste, uma distribuição inteiramente desproporcional ao peso regional
no mercado de trabalho brasileiro. A queda do emprego com carteira assinada no
Nordeste foi ainda mais acentuada do que a da ocupação total e também superior
à média nacional, atingindo 7,9%, frente ao encolhimento em 3,7% da média do
país (ver Gráfico 1).
Fonte: IBGE- PNAD Contínua
Declínio acentuado em 2016
Ao longo de 2016, o mercado de trabalho no
Nordeste foi se desmanchando em ritmo mais intenso do que no ano anterior. A
queda na ocupação regional se iniciou na construção civil e na agropecuária ainda
no 1º trimestre de 2015 e estendeu-se para a indústria geral (indústria de transformação
e extração mineral) no segundo semestre de 2015. A contínua deterioração da
economia regional se disseminou de forma crescente entre a miríade de ocupações
das atividades de serviços e, já em 2016, atingiu o segmento de maior peso na
ocupação regional, representado pelas atividades de comércio, transporte e
armazenagem, responsável por cerca de 25% do total (ver Gráfico 2). Em meio à
crise das finanças de estados e municípios, a ocupação na administração pública
também começa a declinar.
Fonte: IBGE- PNAD Contínua
Com a deterioração do mercado de trabalho, a
taxa de desocupação do Nordeste saltou de 10,8%, em julho-setembro de 2015,
para 14,1%, em julho-setembro de 2016. Nesse último trimestre, quase 1/3 da
força de trabalho da região se encontrava subutilizada, entre pessoas desocupadas,
desalentadas e pessoas que estavam disponíveis para trabalhar mais horas, cerca
do dobro do peso desse contingente na região Centro-Oeste e mais do que duas
vezes no caso da região Sul, ainda que o mercado de trabalho venha se deteriorando
em ritmo intenso em todas as regiões.
Publicado o Jornal da Cidade, em 04/12/2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário