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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Turbulências externas e desemprego restringem a recuperação


Ricardo Lacerda
A expectativa de mercado para o crescimento do PIB de 2018 subiu seguidamente entre o início de fevereiro até a penúltima semana de março; desde então ela entrou em trajetória descendente, com a projeção mais recente (de 27 de abril) retornando ao patamar de meados de fevereiro (ver Gráfico 1). As estimativas para a produção industrial e para o nível de atividade do setor de serviços, ainda que indiquem continuidade do crescimento, vêm sendo revistas para baixo.
Não foi um declínio assombroso, mas a reversão de trajetória revela frustração em relação às perspectivas anteriores de melhoria sustentada no ambiente político, econômico e social no futuro próximo. Pode ser uma percepção momentânea, que venha a ser revertida nas próximas semanas, mas não é fora de propósito afirmar que ela também pode se cristalizar em um final de ano melancólico.

Fonte: Banco Central do Brasil

Sim, é verdade que, em parte, as revisões para baixo no crescimento do PIB  representam ajustes em expectativas anteriores demasiadamente otimistas; mas, em grande parte, elas respondem aos seguidos resultados aquém do esperado das pesquisas setoriais ao longo dos três primeiros meses do ano e da ausência de reanimação do mercado de trabalho, consolidando na população a sensação de desalento em relação às possibilidades de melhoria do quadro social.
É prematuro concluir que a recuperação do nível de atividade da economia brasileira vai entrar em banho-maria, mas acontecimentos externos e internos nas duas últimas semanas somente concorreram para deprimir as expectativas.
Em artigo publicado no dia 03 de maio no portal Poder360, o jornalista Alon Feuerwerker fez, em nosso entendimento, a melhor síntese do momento econômico e político, quando pespegou o título “Ortodoxos de mau humor, um sintoma de que as coisas não vão bem”, para assinalar que a frustração com a retomada do crescimento em bases mais firmes pôs em cheque o projeto político da ortodoxia liberal.
Turbulências
Ingredientes externos recentes, como as turbulências provocadas pelas perspectivas de aceleração na elevação dos juros dos títulos do tesouro norte-americano, a imposição de quotas de exportações do aço pela administração Trump e os sinais de crise cambial na vizinha Argentina poderão induzir, nas próximas semanas, a novas revisões para baixo na estimativa do crescimento do PIB brasileiro para 2018.
Firmando-se o crescimento da economia da norte-americana, acompanhado pelas perspectivas de incrementos nas taxas de juros internacionais, o capital externo deverá se tornar mais avesso ao risco, exigindo prêmios mais elevados para continuar fluindo para os países emergentes, com consequências ainda não bem dimensionadas sobre o comportamento do PIB e dos preços internos.
Não menos importante tem sido a sensação de que o país perdeu o prumo: a plataforma de transição apresentada no documento Uma Ponte para o Futuro pouco resultados alcançou, o governo central se encontra imobilizado com as denúncias de corrupção e a crise social se agravou.
Mercado de trabalho
Após seis trimestres de crescimento do PIB, a contar do último trimestre de 2016, a taxa de desocupação no Brasil no trimestre janeiro-março manteve-se em patamar muito elevado (13,1%), redução quase imperceptível em relação aos 13,7% do mesmo trimestre de 2017.
Ainda que a ocupação total tenha aumentado em 1,6 milhão de pessoas nessa comparação, o emprego formal no setor privado não vem reagindo. Pelo contrário, o contingente de pessoas ocupadas com carteira de trabalho no setor privado encolheu em 493 mil, na comparação entre os primeiros trimestres de 2017 e de 2018 (ver Gráfico 2). É especialmente preocupante que a desaceleração do ritmo de queda desse vínculo tem sido muito lenta, indicando que ainda poderá demorar alguns trimestres até que o emprego de melhor qualidade volte a crescer.
Como sintoma adicional da fragilização do mercado de trabalho, os dados do Cadastro de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do Trabalho, que registra as movimentações nos vínculos celetistas, apontaram que o contingente de empregados formais somente vem crescendo nas faixas salariais mais baixas, de até 1,5 salários mínimos, enquanto  a ocupação formal continua se retraindo nas faixas médias e altas.


Fonte: IBGE. PNADC

Publicado no Jornal da Cidade, em 06/05/2018

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