Inicio com o
artigo de hoje uma série que pretende examinar a evolução da economia sergipana
ao longo das duas primeiras décadas do século XXI. Em sua íntegra, trata-se de
um ensaio que busca acompanhar o comportamento da economia de Sergipe durante a
ascensão e crise da economia brasileira no período e identificar os principais desafios
que se colocam para que Sergipe volte a apresentar um novo ciclo virtuoso de
crescimento, com geração de emprego e inclusão social.
Publicado no Jornal da Cidade, de Aracaju, em junho de 2019
Desde a década de
1970, a dinâmica de crescimento da economia sergipana está associada, à
semelhança da maioria dos estados da federação, mas com algumas
especificidades, ao movimento geral da economia brasileira, acompanhando em
linhas gerais os seus períodos de prosperidade e de recessão (Ver GUIMARÃES
NETO, 1989; GUIMARÃES NETO, 1993; ARAÚJO, T., 1995). Nesse sentido, o
desenvolvimento da economia sergipana tem como seu principal determinante o
ritmo e a natureza da expansão da economia brasileira e a incidência regional
das políticas nacionais, sejam elas de cortes setorial, social ou de
infraestrutura.
Um segundo
conjunto de determinantes do crescimento da economia estadual está associado à
exploração de suas riquezas minerais. O crescimento da economia sergipana
depende, em grande parte, do comportamento das suas atividades de extração
mineral, particularmente da produção de petróleo e gás natural, ainda realizada
quase exclusivamente pela Petrobras, apesar de importantes novos campos de
exploração, que ainda não se encontram em estágio operacional, contarem com
investimentos de empresas internacionais. A presença da atividade petrolífera é
tão marcante que o sergipano médio tem plena consciência da importância da
Petrobras na economia estadual.
Quando, nos anos
noventa, a cotação mundial do barril de petróleo despencou, os investimentos na
exploração e produção de petróleo sofreram forte retração em Sergipe, com
impactos muito significativos sobre o emprego, a renda e as finanças públicas.
A economia
sergipana que, nas décadas de 1970 e 1980, havia acelerado seu crescimento e
passado por radical transformação na sua estrutura produtiva, com a implantação
de grandes plantas produtivas de propriedade estatal para exploração de
petróleo e para produção de fertilizantes nitrogenados e de potássio,
desacelerou o crescimento nos anos noventa e inverteu ao longo daquela década a
marca de crescer sistematicamente acima das médias do crescimento regional e do
país. Alguns estudos são fundamentais para compreender as transformações
econômicas de Sergipe a partir da década de 1970. Entre outros, Melo, R. (2012a
e 2012b), Feitosa, C. (2007), Santana, N. (1991). Melo, M. (2012) e Barreto, D.
(2013).
Um terceiro
conjunto de determinantes está associado ao desempenho do setor agrícola, em
grande parte dependente da combinação de preços favoráveis, disponibilidade de
crédito e regime de chuvas. A esse
respeito, é importante destacar que o semiárido sergipano vem enfrentando um
longo período de estiagem, à semelhança do que vem ocorrendo em quase toda
extensão do polígono da seca, cujo início remete ao ano de 2011, mesmo que de
forma intermitente. Os efeitos da estiagem sobre a produção de grãos e
oleaginosas foram recorrentemente devastadores, com retração de safra de mais
de 70%, como foi o caso de 2016. O
comportamento pluviométrico é ainda fundamental na atividade de geração de
energia hidroelétrica, que responde por parcela significativa do PIB estadual.
Um regime de chuva desfavorável nas cabeceiras do rio São Francisco pode
reduzir em até quatro vezes a participação da geração de energia elétrica no
Valor Adicionado Bruto (VAB) da economia sergipana.
Finalmente, a
articulação externa da base produtiva sergipana é essencialmente nacional, seja
extra regional, seja regional. O peso do setor externo na economia sergipana é
muito reduzido. A economia do estado tem um dos menores coeficientes de
exportação do país. São orientadas para o comércio exterior apenas as
atividades de produção de suco concentrado de laranja, parcelas da produção de
calçados e açúcar e, em proporção bem inferior, a fabricação de produtos
têxteis.
O ciclo e a crise
Durante a etapa
ascendente do ciclo econômico brasileiro, iniciado em 2004, a economia de
Sergipe acelerou o crescimento, diversificou sua estrutura produtiva por meio
de atração de empresas, intensificou a geração de emprego formal na região
metropolitana e no interior e ampliou os investimentos em infraestrutura
produtiva e social. Todavia, quando a economia brasileira desacelerou em 2014,
o nível de atividade estadual entrou em queda livre, entre 2015 e 2016, e
manteve-se estagnado, nos anos de 2017 e 2018. A economia de Sergipe foi
duramente atingida: a construção civil e a produção de cimento despencaram; e,
a Petrobras desmobilizou ativos, reduziu a produção de petróleo e gás e
desativou a unidade de produção de fertilizantes nitrogenados. Com os ventos
adversos, a recessão não tardou em contaminar o mercado de trabalho e as
finanças públicas.
Perspectivas
Em termos de
perspectivas, o principal projeto estruturador do estado de Sergipe está
associado à consolidação do seu Complexo Industrial-Portuário, tendo como
indústrias-chave a Usina Termoelétrica Porto de Sergipe e a Unidade de
Regaseificação de Gás Natural a ela associada, que podem abrir oportunidades de
implantação de indústrias e empresas de prestação de serviços em seu entorno.
Também se revelou
muito promissora a exploração de petróleo e gás natural em águas profundas na
bacia de Sergipe-Alagoas, apontada como a mais importante fronteira de
exploração da produção petrolífera no país, depois do pré-sal.
Nos artigos
subsequentes, iremos examinar as especificidades que distinguem a economia
sergipana das demais economias estaduais da região Nordeste e iniciar a
avaliação do comportamento dos principais setores de atividade nas duas
primeiras décadas do século XXI
Referências
Bibliográficas
ARAÚJO, T. (1995) Nordeste, nordeste: que
Nordeste? In: AFFONSO, R. &
SILVA, P (Orgs). Desigualdades regionais e desenvolvimento. São Paulo. Fundap/Unesp.
BARRETO,
D. (2013). A Construção do
Desenvolvimento de Sergipe e o Papel do Condese (1964-1982). Editora Diário
Oficial.
FEITOSA. C. As transformações recentes da
economia sergipana (1970-2004). 2007. 228 f. Dissertação de Mestrado – Instituto de Economia, Unicamp, Campinas,
2007.
GUIMARÃES NETO, L. (1989) Introdução à formação econômica do Nordeste.
Recife. Fundaj.
GUIMARÃES NETO, L. (1995) Desigualdades
regionais e federalismo. In: AFFONSO, R. & SILVA, P (Orgs). Desigualdades regionais e desenvolvimento.
São Paulo. Fundap/Unesp.
MELO, M. (2012). O legado desenvolvimentista do governo Augusto Franco. Editora
Criação.
MELO, R. (2012a)
O
ciclo desenvolvimentista em Sergipe:1970-2000. Economia Política do Desenvolvimento, v. 5, p. 10-68.
MELO, R. (2012b). Economia Sergipana Contemporânea (1970/2010). Editora UFS e Editora
Diário Oficial.
SANTANA, N. (1991). A INSERÇÃO DO Estado de
Sergipe na política de incentivos fiscais do Nordeste:1963-1988. Monografia (Especialização em Ciências
Sociais)-UFS. Aracaju.
Publicado no Jornal da Cidade, de Aracaju, em junho de 2019
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