Ricardo Lacerda
O mercado de trabalho brasileiro vem desacelerando a geração de novas
ocupações ao longo dos últimos trimestres. Depois de encerrar o ano de 2017 com
as ocupações totais registrando crescimento de 2,05%, o último trimestre de
2018 mostrou incremento de apenas 0,97% nas ocupações totais, sempre na
comparação com o mesmo período do ano anterior.
Em termos absolutos, foram criadas 1,89 milhão de novas ocupações na
comparação entre os últimos trimestres de 2016 e 2017, e 890 mil novas
ocupações na comparação dos mesmos períodos entre 2017 e 2018, menos da metade.
O fato é que em todos os principais tipos de inserção no mercado de trabalho
os resultados mais recentes vêm apresentando melhorias mais lentamente do que
há um ano atrás, refletindo a desaceleração no ritmo de crescimento econômico.
A grande interrogação é se as fortes elevações dos índices de confiança nos
últimos meses terão ou não o condão de estimular a retomada do crescimento
econômico e, assim, impulsionar a criação de empregos em 2019.
Precarização
Após sete semestres subsequentes de crescimento do PIB, a taxa de
desocupação na economia brasileira se mantém muito elevada. No trimestre móvel outubro-dezembro
de 2018 a taxa de desocupação se situou em 11,6%, apenas 0,2 pontos percentuais
abaixo do resultado do mesmo período do ano anterior. Em relação a quatro anos
antes, trimestre outubro-dezembro de 2014, a taxa mais recente se posicionou 5,1
pontos percentuais acima (ver Gráfico 1).
Além da lentidão na
queda da taxa de desocupação, chama a atenção a qualidade ruim das novas inserções
no mercado de trabalho. O emprego formal no setor privado continuou declinando em
2018, registrando retração de novas 324 mil ocupações com carteira de trabalho.
As novas ocupações, por sua vez, revelam inserções precárias: em 2018, a
ocupação por conta própria respondeu por quase 50% do total criado e quase 1/3 das
novas ocupações correspondem a empregos sem carteira assinada no setor privado.
Em termos de
grupamentos de atividades no trabalho principal, chama a atenção a concentração
das ocupações criadas nos segmentos de serviços sociais e outros serviços. Permanece
grave a situação da ocupação na construção civil, que ainda não estabilizou o
contingente de trabalhadores empregados; o setor vem apresentando sucessivas
quedas na série que compara com mesmo período do ano anterior desde o trimestre
móvel junho-agosto de 2016.
Fonte: IBGE, PNADC
Desaceleração
Além dos fatos relatados
acima, relativamente bem conhecidos pelo público, há um dado novo e
preocupante: a desaceleração na geração de novas ocupações nos últimos
trimestres entre as ocupações consideradas mais precárias.
O Gráfico 2 apresenta
as taxas de crescimento da ocupação total e do número de pessoas nos tipos de ocupações de maior de peso no mercado de trabalho, na comparação com
iguais trimestres móveis do ano anterior. Observando-se a ocupação total indica-se
que depois de crescerem 2,05% no último trimestre móvel de 2017, em relação a
igual período de 2016, no trimestre móvel janeiro-março de 2018 essa taxa
recuou para 1,84%; no segundo trimestre móvel (abril-junho de 2018), refletindo
os efeitos da paralisação dos caminhoneiros, a taxa recuou ainda mais célere,
para 1,11%. Na segunda metade do ano, apesar de alguma retomada no incremento
na geração de ocupação no trimestre julho-setembro, a linha de tendência é
claramente declinante, registrando-se nova forte desaceleração no último
trimestre móvel de 2018.
Observando-se as
evoluções dos principais tipos de ocupação, contata-se que a desaceleração foi
generalizada entre os vínculos precários que vinham sustentando a retomada da
ocupação, enquanto a ocupação formal no setor privado não mostrou sinal de
animação maior, continuando a apresentar quedas sucessivas e ainda expressivas
no número de pessoas ocupadas.
Assim, os empregos sem
carteira de trabalho assinada que finalizaram o ano de 2017 apresentando taxa
de crescimento de 5,69%, no último trimestre de 2018 registraram incremento de
3,84%; a taxa de crescimento dos empregadores, que cresceu 6,34% no final de
2017, no último trimestre de 2018 revelava forte desaceleração para 2,79%.
Mesmo as ocupações por conta própria, último reduto de sobrevivência das
famílias empobrecidas pela crise, já não cresciam em 2018 na mesma intensidade
de 2017.
A desaceleração da
retomada do mercado de trabalho a partir do segundo trimestre de 2018 pode ser
atribuída, no primeiro momento, à paralisação dos caminhoneiros e, no segundo
semestre, à instabilidade política interna e à piora relativa do cenário
internacional. A expectativa para 2019 é de certa retomada no ritmo na geração
de ocupações, apesar de todas as incertezas reinantes.
Fonte: IBGE, PNADC
Publicado no Jornal da Cidade, em 03 de fevereiro de 2019
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