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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

quarta-feira, 1 de março de 2017

Seca, crise na construção civil e colapso das finanças públicas fazem desabar a ocupação no Nordeste

Ricardo Lacerda

Em 2016, a desestruturação do mercado de trabalho avançou em todas as regiões do país, mas o agravamento do quadro se deu com muito mais intensidade no Nordeste. A contaminação da crise no mercado de trabalho da região tem sido generalizada, não poupando nenhum setor de atividade e nenhum tipo de ocupação, entre aqueles de maior peso na estrutura ocupacional. Em termos do emprego com carteira de trabalho, a retração da ocupação na região Nordeste (de 5,5%) somente foi inferior à da região Norte do país, que atingiu notáveis 8,5%.

Na comparação entre o trimestre outubro-dezembro de 2015 e o mesmo trimestre de 2016, o contingente de pessoas ocupadas no Brasil foi reduzido em cerca de duas milhões de pessoas (1,98 milhão), das quais 1.238 mil residiam na região Nordeste, equivalentes a 62,4% do total. 

A queda da ocupação na região Sudeste, que possui uma População Economicamente Ativa muito maior a do Nordeste, foi quase cinco vezes menor no período, 265 mil pessoas ocupadas (ver Gráfico). Nessa comparação, o contingente de pessoas ocupadas no Nordeste caiu 5,5%, frente a 2,1% na média do país, 3,5% no Norte, 0,7% no Sudeste, 1,3% no Sul e 0,4% na região Centro-Oeste.


Fonte: IBGE. PNADc

Retração generalizada


A queda da população ocupada no Nordeste foi mais intensa do que a média nacional em todos os setores de atividade econômica, com as exceções da indústria geral e da indústria de transformação, mesmo considerando que as retrações da ocupação na região terem sido também muito expressivas nessas atividades.

Nessa comparação entre os últimos trimestre de 2015 e 2016, três atividades representaram quase 70% da queda da ocupação na região Nordeste: a agropecuária, a construção civil e o segmento de administração pública, saúde, educação e assistência social. Agregando-se ainda as atividades comerciais e a indústria de transformação, esse conjunto de atividades representou 87,1% da redução do contingente de pessoas ocupadas na região.

 A forte retração da ocupação na construção civil e no setor industrial foi generalizada no país, mas os mergulhos do número de pessoas ocupadas na agropecuária e nas atividades de administração pública, saúde e assistência social apresentaram efeitos devastadores apenas para a região Nordeste. 

No caso da ocupação no setor agropecuário, a retração se verificou apenas nas regiões Nordeste e Sudeste, e nesse último caso em proporção muito menor. E a ocupação nas atividades vinculadas à administração pública e à prestação de serviços de educação, saúde e assistência social, além de ter sofrido queda extremamente significativa, foi exclusividade da região Nordeste.

Com a seca que vem castigando a região há alguns anos e que se intensificou em 2016, a ocupação nas atividades agropecuárias, no sentido amplo, na região Nordeste no último trimestre de 2016 registrou queda de 363 mil pessoas, 10,3% da ocupação setorial de um ano antes, frente à média nacional de redução de 5,5%. A retração de pessoal ocupado na construção civil foi generalizada no país, mas o recuo a região Nordeste, de 257 mil ocupações, equivalentes a 12,7%, foi proporcionalmente superior à média nacional (10,8%).

Serviços públicos

Finalmente, um fenômeno que não tem uma explicação evidente foi a redução na região Nordeste de 230 mil pessoas ocupadas nas atividades de administração pública, educação, saúde e serviços sociais, enquanto na soma das demais regiões a ocupação nesse segmento teve incremento de 121 mil pessoas. É possível que a queda acentuada da ocupação nessas atividades esteja associada ao colapso nas finanças públicas dos municípios e estados da região e o corte pode ter sido potencializado pelo fim do ciclo administrativo municipal em dezembro de 2016, mas não é evidente porque isso não se repetiu em outras regiões em que as finanças locais também enfrentam dificuldades extremas.

Entre todas as regiões, na maioria dos setores de atividade e de tipos de ocupação, o mercado de trabalho nordestino tem sofrido com mais intensidade os efeitos da crise econômica nacional: A estiagem foi um fator adicional de deterioração da situação da ocupação regional; os efeitos do colapso das finanças públicas sobre o mercado de trabalho pode revelar uma contaminação avançada da crise recessiva no sistema econômico regional.

Fonte: IBGE. PNADc

Publicado no Jornal da Cidade, em 26/02/2017

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