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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 15 de janeiro de 2017

Tempos incertos

Ricardo Lacerda*             
2017 será ainda um período de grandes dificuldades para a economia brasileira que deverá enfrentar o quarto ano sem crescimento, entre estagnação e queda do nível de atividade, e o terceiro ano de intensa deterioração do mercado de trabalho. Segundo estimativa da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2017 mais um milhão e duzentos mil brasileiros serão incorporados ao contingente de desempregados.
O Banco Mundial publicou na semana que passou a edição de janeiro de 2017 do relatório semestral Perspectivas Econômicas Globais, cujo subtítulo dessa vez ressalta a fragilidade dos investimento em tempos marcados por fortes incertezas. O documento pode ser acessado no link http://www.worldbank.org/en/publication/global-economic-prospects. Para o Banco Mundial, em 2016 o comércio global estagnou, o investimento desacelerou e as incertezas políticas se ampliaram.
Em linhas gerais, o relatório ressalta o aumento das incertezas associadas ao recrudescimento do protecionismo nos países centrais e os riscos de piora nas condições de financiamento externo ameaçando as perspectivas de crescimento da economia mundial. Fica implícito o temor dos impactos globais caso o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, venha, como vem anunciando, adotar linha de atuação de forte protecionismo no mercado interno e que, dado o peso da economia daquele país, o comércio internacional sofra um revés importante.
Condicionantes

São cinco os destaques no relatório do Banco Mundial: em 2016, o crescimento da economia mundial encolheu para 2,3%, frente à expansão de 2,7% em 2015. O comércio internacional, por sua vez, se encontra estagnado, deixando de operar como mecanismo de impulso ao crescimento econômico. De fato, no mundo pós-crise financeira, as taxas de expansão do comércio mundial se situaram muito abaixo do período imediatamente anterior a 2008 e tanto em 2014 quanto em 2015 o volume de bens transacionados internacionalmente registrou expressiva desaceleração na taxa de incremento.
Como vem se verificando nos relatórios de primeiro semestre dos últimos anos, o Banco Mundial, assim como o Fundo Monetário Internacional, estima recuperação moderada na taxa de crescimento da economia mundial no ano que se inicia que depois é revista para baixo nos relatórios de segundo semestre e do início do ano seguinte, a fim de se adequar aos resultados que vão se tornando públicos.
Para 2017, o relatório projeta crescimento de 2,7% na economia mundial, decorrente principalmente de certa aceleração da expansão nas economias em desenvolvimento e no mercados emergentes. Enquanto as economias ditas avançadas apresentariam uma melhoria muito modesta, passando de 1,6%, em 2016, para 1,8%, em 2017, as economias emergentes e em desenvolvimento acelerariam de 3,4% para 4,2% (ver Quadro). A melhoria nos preços das commodities e o incremento nos investimentos diretos estrangeiros seriam os principais vetores capazes de reanimar essas economias em 2017 e anos seguintes. A elevação nos preços das commodities, particularmente mas não exclusivamente de petróleo, deverá melhorar os termos de troca dos países exportadores desses bens, o que ajudará a alavancar suas taxas de crescimento e estreitar o hiato de ritmos de crescimento em relação aos países importadores de commodities.  Esses são os pontos 2 e 3 destacados no relatório,  
O quarto ponto apontado é a expectativa de adoção de fortes estímulos fiscais nas economias centrais, notadamente nos EUA. Para o relatório, a utilização de mecanismos fiscais para acelerar o crescimento econômico e gerar emprego, em acordo com que vem anunciando o virtual presidente norte-americano, poderá provocar aceleração no crescimento daquele país com possível impacto sobre o crescimento global acima da taxa estimada.
O relatório frisa que as projeções de crescimento global para 2017 estão sujeitas a incertezas substanciais. Esse é quinto e último destaque. Persistiria um elevado grau de incerteza política que teria sido exacerbada pelos acontecimentos de 2016, especialmente os resultados da disputa presidencial dos Estados Unidos e na decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia.

Perduram ainda riscos associados a disrupções no mercado financeiro por conta de condições mais restritas de acesso ao financiamento globais e que podem ser ampliados caso se confirme a escalada de tendências protecionistas, o que poderia redundar em crescimento mais lento e maior vulnerabilidade em algumas economias em desenvolvimento e mercados emergentes.

Avançadas e emergentes
Depois da intensa desaceleração em 2016, quando o crescimento encolheu de 2,1% para 1,6%, as economias avançadas deverão apresentar modesta retomada em 2017 e 2018, quando deverão crescer 1,8% em cada ano, impulsionadas pelo maior crescimento da economia dos EUA, posto que a Zona do Euro e o Japão não deverão acelerar o ritmo de expansão (ver Quadro). É importante registrar que a economia norte-americana deve ter crescido em 2016 em ritmo inferior aos de 2014 e 2015.
A aceleração dos países emergentes será impulsionada pelos resultados menos desastrosos de países exportadores de commodities, muito especialmente Brasil, Argentina e Rússia, que em 2016 devem ter recuado, respectivamente, 3,4%, 2,3% e 0,6%. Para 2017, o relatório projeta a retomada do crescimento na Rússia (1,5%) e Argentina (2,7%) e expansão residual na economia brasileira (0,5%). O grupo de países exportadores de commodities, que registraram estagnação em 2015 e 2016, deverão crescer 2,3% em 2017.
Não bastassem as incertezas da economia mundial, conviveremos em 2017 com um cenário interno marcado pela instabilidade inerente aos desdobramentos da crise política brasileira e pelas enormes dificuldades em reanimar o nível de atividade interna.

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Quadro. Projeção de crescimento do PIB em 2017 e 2018 (%)
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Itens
2014
2015
Estima-tiva
Projeções
2016
2017
2018
MUNDO
2,7
2,7
2,3
2,7
2,9
ECONOMIAS AVANÇADAS
1,9
2,1
1,6
1,8
1,8
EUA
2,4
2,6
1,6
2,2
2,1
Eurozona
1,2
2,0
1,6
1,5
1,4
Japão
0,3
1,2
1,0
0,9
0,8
EMERGENTES E EM DESENVOLVIMENTO
4,3
3,5
3,4
4,2
4,6
Exportadores de commodities
2,1
0,4
0,3
2,3
3,0
Outros emergentes
6,0
6,0
5,6
5,6
5,7
China
7,3
6,9
6,7
6,5
6,3
América Latina e Caribe
0,9
-0,6
-1,4
1,2
2,3
Brasil
0,5
-3,8
-3,4
0,5
1,8
México
2,3
2,6
2,0
1,8
2,5
Argentina
-2,6
2,5
-2,3
2,7
3,2
Rússia
0,7
-3,7
-0,6
1,5
1,7
Índia
7,2
7,6
7,0
7,6
7,8

Fonte: Worldbank. GEP, jan 2017
Publicado no Jornal da Cidade, 15/01/2017

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