Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Consumo e crescimento



Ricardo Lacerda

Alguns períodos de crescimento são liderados pela expansão do comércio exterior, outros pelos investimentos autônomos e, mais comumente, pela expansão de consumo.  Depois do impulso inicial, pode-se formar um ciclo virtuoso em que o crescimento se desdobra na elevação das outras variáveis que compõem a demanda agregada.

O ciclo de crescimento iniciado em 2004 contou com o impulso decorrente do forte incremento da demanda por matérias-primas no mercado internacional associado à expansão da economia chinesa, mas somente firmou-se com a ampliação do poder de compra interno promovida pela incorporação de novos contingentes populacionais ao mercado de consumo.

Varejo

Os dados do comércio varejista anunciados pelo IBGE na semana passada confirmam a ampliação do mercado de consumo no país. Com os 8,4% de crescimento do volume de vendas do comércio varejista em 2012, o tamanho do mercado de varejo brasileiro fechou o ano 90,4% maior do que se encontrava ao final de 2002, antes do inicio do ciclo de crescimento.  

Assim, contamos hoje com um mercado de varejo que é quase o dobro de dez anos atrás. Reformulando, somente para enfatizar: são quase dois Brasis em consumo no varejo em uma década.

Em todos os anos a partir de 2004, o volume de vendas no varejo cresceu acima de 4% (ver Gráfico) e a expansão média anual desde então foi de simplesmente de 7,9%.  Esse crescimento foi maior nos estados mais pobres, nos quais a incorporação de mais pessoas ao mercado de consumo foi mais intensa. A média anual de crescimento em Sergipe alcançou 9,2% ao ano.




Fonte:IBGE-PMC


Se o crescimento do consumo trouxe alguns gargalos não desprezíveis, foram muitas as oportunidades abertas por ele. Alicerçada na expansão do emprego, no aumento da renda e na ampliação do crédito, a evolução do varejo reflete também a melhoria do acesso aos bens nos domicílios e ainda indica como esse novo Brasil agregou milhões de famílias ao mercado de consumo.

Efeitos e limites

A expansão do mercado de consumo gerou oportunidades de investimentos e fez multiplicar os pequenos empreendimentos voltados para atender a esse poder de compra aumentado. Muitos investimentos foram direcionados para as regiões mais pobres do país a fim de atender essa demanda crescente por bens de consumo e as oportunidades surgidas de adensar a cadeia de fornecimento.

Ainda que tenham surgidas alertas aos limites de manter um crescimento puxado pelo consumo, essa questão não tem uma resposta tão simples assim. A expansão do consumo em determinadas etapas em que a crise internacional se agudizou foi benéfica para o país. Nos momentos mais críticos, o incremento do consumo animou as receitas públicas, o emprego, a produção interna e ajudou a retomada do investimento.

Há evidentemente limites em quanto o consumo pode seguir crescendo a taxas mais elevadas do que a média da economia. A um período liderado pelo crescimento de uma variável como o consumo, deve seguir outros períodos em que os investimentos públicos e privados, estimulados pelo próprio aumento do consumo, passem a crescer em ritmo mais acelerado. De outra forma, o crescimento não se sustenta.

Há sim distorções decorrentes da expansão do consumo. As mais graves decorrem da valorização cambial, que amplia o acesso a bens de consumo importados em detrimento da produção que gera emprego internamente e aumenta artificialmente o poder de compra da população. A ampliação do consumo quando não se segue à retomada do investimento ou quando a economia se aproxima do teto de sua capacidade também pode pressionar os preços de tal forma que induza a adoção de políticas monetárias e fiscais restritivas que findam prejudicando a expansão dos investimentos.

Os recursos reais e creditícios que financiam a expansão do consumo podem concorrer ou não com as demandas de crescimento dos investimentos públicos e privados se a fase do ciclo econômico já aproxima o uso dos recursos produtivos de sua plena utilização ou se limita a capacidade dos governos de investir em infraestrutura para o desenvolvimento.

Os sinais que indicam o limite dessa política se cristalizam em desequilíbrios no balanço de pagamento ou quando o excesso de demanda pressiona os preços. É monitorando essas varáveis que a política macroeconômica deve compatibilizar o duplo objetivo de manter a economia em crescimento, para proporcionar a continuidade da elevação da qualidade de vida das pessoas, sem descuidar dos desequilíbrios que se manifestam nos preços e nas relações externas.

Publicado no Jornal da Cidade em 24/02/2013

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O comercio exterior brasileiro em 2012




Ricardo Lacerda

A expansão das nossas exportações a partir de 2003 foi um dos principais vetores do recente crescimento econômico brasileiro. Entre 2003 e 2007, o valor das exportações brasileiras cresceu notáveis 166%, equivalentes a taxas anuais de 21,6%. Nesse período, dois fatores favoreceram a rápida evolução das vendas externas do Brasil: a elevação das cotações internacionais das principais commodities agrícolas e minerais brasileiras e o novo patamar estabelecido para o câmbio, após o fim do regime de câmbio fixo no início de 1999 e a forte desvalorização ocorrida entre 2002 e 2003.

Com o advento da crise financeira em 2008, o ritmo de expansão de nossas exportações desacelerou, apresentando taxas anuais de crescimento bem inferiores, mas ainda elevadas, 12,4% entre 2008 e 2011.

À medida que a economia brasileira foi se consolidando entre 2003 e 2006, com a ampliação do mercado interno, as importações de bens de consumo para as famílias e de insumos e de componentes para as empresas também aceleraram, de tal forma que, entre 2006 e 2008, o ritmo de crescimento das importações se apresentou mais rápido do que o da expansão das exportações.  A revalorização do câmbio nesse período também foi importante, na medida em que elevou a competitividade do produto importado no mercado interno.

Já sob a influência da crise financeira, de 2008 em diante, as importações também desaceleraram, mas se mantiveram com expansão superior a das exportações. O movimento, portanto, foi de saltos anuais no saldo da balança comercial entre 2003 e 2006, e de encolhimento desde lá, em um primeiro momento em função do forte aquecimento do mercado interno e, a partir de 2009, por conta do diferencial entre o ritmo de desaceleração do crescimento das exportações e o das importações, em favor dessas últimas que caíram mais lentamente.

2012

Em 2012, o comércio exterior não ajudou o crescimento da economia brasileira. Pelo contrário. Exportações e importações se retraíram. Todavia, enquanto as primeiras caíram 5,3%, as últimas apresentaram perdas menores, de 1,4%, mesmo considerando a contabilização retardada das compras externas de combustíveis.

Com isso, o saldo comercial de 2012 apresentou um recuo de impressionantes US$ 10,4 bilhões em relação ao ano anterior, caindo de US$ 29,8 bilhões para US$ 19,4 bilhões. Definitivamente, não foi um bom desempenho (ver Gráfico). 

A retração das exportações de 2012 em US 13,5 bilhões, em relação ao ano anterior, se deveu essencialmente à redução das compras de alguns dos nossos principais parceiros comerciais. As exportações para a Argentina caíram quase 9%, para a Alemanha, 46%, para a Espanha, 25% e para a China 9%.  Em termos de grupos de produtos, as principais quedas em 2012 atingiram as exportações de minérios, café, açúcar, metais e veículos.

Fatores

Para as sucessivas retrações no saldo comercial desde o pico de 2006, quando atingiu US$ 46,5 bilhões, para os atuais US$ 19,4 bilhões, muitos fatores concorreram. Considerando o conjunto do período, os principais estão relacionados ao forte incremento da demanda por importações, mesmo quando a economia interna desacelerou após 2008, e a redução mais intensa do ritmo de crescimento das exportações. Os dois processos indicam a perda relativa de competitividade de nossos produtos, seja no mercado doméstico, seja no mercado externo.  

Parte desse fenômeno se deve à valorização cambial em um cenário de comércio mundial desaquecido, parte se deve aos efeitos do forte incremento da renda interna sobre a nossa estrutura de custos. Para ambos os casos, somente uma mudança de preços relativos induzida pela desvalorização cambial pode se contrapor.

 

Fonte: MDIC-SECEX

Publicado no Jornal   da Cidade , em 17/02/2013 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A política econômica em compasso de espera




Ricardo Lacerda

O anúncio na semana passada do índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro acendeu o sinal de alerta. O IPCA alcançou 0,86%, acumulando alta de 6,2% em doze meses, o quinto mês consecutivo de elevação dessa série acumulada.

Há alguns motivos para preocupação, como reconheceu o presidente do Banco Central.  Alguns dos componentes do IPCA têm pressionado fortemente o índice para cima, antes mesmo de o nível de atividade econômica apresentar uma retomada mais consistente. O grupo de alimentos e bebidas, que responde por 22,1% do índice, registrou o crescimento assombroso de 11,1%, o mesmo do grupo de despesas pessoais, que representa 6,5% do total (ver Gráfico).

Estiagem e pressão de demanda

A forte elevação no preço da alimentação em doze meses foi em grande parte provocada pelos efeitos da estiagem que atingiu várias regiões e fez com que o preço da farinha da mandioca tivesse aumentado 111,9%, a batata inglesa, 67,4% e o feijão mulatinho 43,7%.  O subgrupo de hortaliças teve aumento de 24% no período. A desvalorização cambial também impactou o preço dos alimentos. 

É de se esperar que a pressão de preços do grupo de alimentos vá ser diluída nos próximos meses, porquanto os aspectos climáticos deverão ser mais favoráveis em 2013.

De natureza diferente é o aumento dos preços no grupo de despesas pessoais, que vem se mantendo em patamar elevado durante um período muito longo. A elevação dos preços neste grupo que abrange os serviços pessoais está fortemente relacionada ao aumento real do salário mínimo e à expansão de demanda associada ao crescimento do poder de compra da população. Em geral, a um aumento de demanda pelos serviços desse grupo a oferta demora a responder, podendo pressionar os preços por longos períodos. O ajuste vem a longo prazo, na medida que parte do hiato é coberto pelo aumento da oferta e parte é suprimido pela corrosão do poder de compra.   

Raio de manobra.

Para alguns analistas, a elevação nos preços dos serviços, como no caso das despesas pessoais, é um sintoma do esgotamento do ciclo de crescimento dos últimos anos, puxado pela expansão do consumo. Também refletiria o baixo potencial de crescimento da economia brasileira nesse momento, em que qualquer novo estímulo a demanda impacta mais fortemente os preços do que impulsiona o crescimento da produção.

Se essa conclusão pode parecer um pouco apressada, refletindo talvez o desejo de certos segmentos que não vêm se sentindo suficientemente contemplados pela política econômica, há pouca dúvida de que a reaceleração dos preços reduz a margem para a adoção de medidas adicionais de estímulos à demanda e talvez venha a obrigar as autoridades econômicas a buscar uma melhor calibragem entre os vários instrumentos.

O fato é que o tempo de respostas de cada uma das várias medidas adotadas desde 2011 para estimular o crescimento econômico pode diferir muito, com impactos diferenciados sobre os índices de preço. A pressão de demanda sobre os serviços pessoais, em um sentido amplo, continua a puxar os preços para cima enquanto a desvalorização do câmbio impacta de imediato os preços dos importados e somente no médio prazo traz benefícios em termos de crescimento do nível de produção.  Há ainda uma interrogação quanto ao repasse para os preços das desonerações na folha de pagamento e da redução nas tarifas de energia elétrica.

Fica a expectativa em aberto se a média de doze meses do IPCA vai se manter suficientemente comportada até que o nível de produção comece a se recuperar de forma mais sustentada ou se o governo vai adotar medidas adicionais de desoneração da produção, agora não mais para estimular a produção e sim diretamente para reduzir os preços dos bens e serviços.  


Fonte: IBGE


Publicado no Jornal da Cidade em 10/02/2013

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O crescimento do emprego



Ricardo Lacerda

O IBGE informou na semana passada que a taxa de desocupação nas regiões metropolitanas de dezembro de 2012 foi de 4,6%, a mais baixa desde o início da atual série histórica em março de 2002. A taxa de desocupação média ao longo do ano de 2012 ficou em 5,5%, também a menor registrada. Cabe lembrar que em 2003, antes do início do ciclo expansivo que mudou as condições do mercado de trabalho no país, a média anual da taxa de desocupação atingiu 12,4%, mais do que o dobro da taxa de 2012.

O que mais tem intrigado os analistas são os resultados do mercado de trabalho nos dois últimos anos, quando a economia desacelerou. Em 2011, enquanto o PIB cresceu 2,7% o emprego formal aumentou 5,7%, segundo dados do Caged. Em 2012, o PIB deverá crescer em torno de 1%, mas o emprego formal subiu 3,4%.

Em um lapso de tempo um pouco mais longo, entre 2007 e 2012, enquanto o PIB cresceu estimados 3,6% ao ano, o emprego formal aumentou 5,6%, crescimento quase chinês.

Descolamento

Os analistas têm buscado explicação para esse descolamento entre o mercado de trabalho e o ritmo de atividade da economia. Uma das explicações mais disseminadas é a de que as atividades mais intensivas em trabalho, como aquelas que integram o setor de serviços, têm crescido mais rapidamente do que as atividades com maior relação capital/trabalho, como as vinculadas à indústria de transformação.

O gráfico 1, a seguir, apresenta a taxa de crescimento médio anual do emprego formal entre 2007 e 2012, nos principais setores de atividade. É interessante perceber que mesmo os setores com ritmo mais lento de crescimento de emprego formal (com exceção da agricultura em que o grau de informalidade ainda é muito elevado), a taxa média anual foi superior a 3%.  

Entre os setores de peso mais expressivo no mercado de trabalho, a indústria de transformação foi o que registrou a menor taxa anual de crescimento do emprego no período, 3,6%. Os grandes destaques foram a construção civil, com a notável taxa média anual de 11,1% , e o comércio (6,6%) e  os serviços (6,1%).


Fonte: MTE- CAGED

Limites

Por um lado, essa dinâmica tem um papel favorável no que tange à geração de emprego, por outro, ela findaria por limitar o crescimento da economia nacional, porque as atividades que mais têm evoluído são também aquelas de menor produtividade por trabalhador e, portanto, com menor potencial de incremento do PIB.  A partir dessa constatação, são lançadas críticas ao modelo de crescimento dos últimos anos que teria privilegiado o consumo em detrimento da produção.

Se essa argumentação, de fato, faz sentido talvez alguns analistas devessem apoiar, e não criticar, as últimas medidas adotadas para elevar a competitividade da produção industrial frente aos importados, incluindo a redução nas taxas de juros e nas tarifas de energia, a desoneração da folha de pagamentos e a desvalorização do câmbio. A elevação do câmbio, de R$ 1,70 para R$ 2,00, implica em estimular a produção frente ao consumo, e a indústria de transformação frente às atividades comerciais e de serviço. E a redução no patamar das taxas de juros empurra o crescimento da produção frente à expansão das atividades financeira e ao consumo das famílias.

Se os sinais de mercado fazem sentido, e fazem, é de se esperar que nos próximos trimestres a atividade industrial recupere em parte o espaço cedido para as atividades de serviço e a produção cresça mais do que o consumo. Esse ajuste, todavia, não implica em desaceleração no ritmo de crescimento do emprego, dado que a aceleração do PIB e seus efeitos interindustriais devem mais do que compensar as mudanças nas proporções setoriais.


Fonte: MTE- CAGED

Um desdobramento do movimento de descolamento da taxa de crescimento do emprego em relação ao PIB é que as regiões mais pobres têm apresentado ritmo bem mais intenso de criação de emprego formal. O gráfico 2 mostra que, entre 2007 e 2012, o emprego formal no Nordeste cresceu 46%, média anual de 6,5%,  enquanto o crescimento do Brasil foi de 39%, média de 5,6%. Sergipe apresentou o segundo maior crescimento do Nordeste, 53%, ou 7,3% ao ano, bem acima dos resultados médios da região e do país.

Publicado no Jornal da Cidade, em 03/02/2013