Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

terça-feira, 27 de julho de 2010

O milho e o semiárido sergipano**

Ricardo Lacerda*

O que você pensaria se alguém lhe dissesse que a cultura do milho superou a da cana de açúcar em Sergipe? Pois, segundo a Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, a cultura do milho, em 2007 e 2008, se tornou a cultura temporária com o maior valor de produção do Estado. É possível que, com a instalação recente de duas importantes usinas de álcool, estimulando a expansão do cultivo da cana de açúcar, essa situação tenha se alterado, mas os últimos resultados disponíveis, referentes a 2008, são de que o valor da produção do milho em grãos alcançou a cifra de R$ 180,7 milhões, comparativamente aos R$ 89,7 da cana de açúcar. O valor da produção do milho ficou acima também do apresentado pelo da cultura da laranja.

Mas o aspecto mais importante da expansão do milho não é a sua posição relativamente a outras culturas, e sim o fato de que uma cultura característica do semiárido tenha ganho tal dimensão na economia do Estado. Você poderia pensar que a recente expansão da cultura do milho teria sido um fenômeno comum aos estados nordestinos e que Sergipe seria um entre outros. Não, não foi. O crescimento acelerado da cultura do milho tem sido uma especificidade de Sergipe, ainda que a Bahia também venha conhecendo importante expansão.

Sergipe e Nordeste

A produção do milho em Sergipe somou 585 toneladas, em 2008. Sergipe apresentou a 3ª maior produção de milho do Nordeste, 13% do total da região, atrás apenas da Bahia e do Ceará, o que, considerando-se as diferenças de dimensões territoriais, é um resultado extraordinário. Entre 2000 e 2008, a quantidade produzida de milho em grãos de Sergipe cresceu simplesmente 572,7%, frente a 82,3% do incremento da produção brasileira e 50,1% da produção nordestina. Ver gráfico 1. Depois de Sergipe, o estado nordestino que apresentou maior crescimento nessa cultura foi o Maranhão, com 82%, no período. O gráfico 1 mostra, também, o salto da produção em 2008.



Um fato significativo é o de que o crescimento da produção e do valor de produção do milho em Sergipe vem se dando tanto em razão do aumento da área de cultivo quanto do incremento da produtividade. O rendimento, em 2008, foi de 3.644 quilogramas por hectare, ainda 11% abaixo da média brasileira, mas 131% acima da média nordestina, que era de 1.578 quilogramas por hectare.

Geografia

A produção do milho ao longo da década vem alterando o padrão de ocupação do espaço rural sergipano. Em 2000, essa cultura respondia por 15% da área plantada com culturas temporárias no Estado. Em 2008, ela já havia mais do que dobrado, respondendo por 35% do total das culturas temporárias.
A cultura do milho é fortemente disseminada em todo o semiárido sergipano. Os maiores municípios produtores se localizam nos territórios do Alto Sertão, do Agreste e do Centro-Sul Sergipano, e ainda é importante para vários municípios do Médio Sertão. O grande destaque é o município de Carira, com 209 mil toneladas, em 2008, equivalentes a 35% do total produzido em Sergipe, seguido por Simão Dias, 15% do total, e Frei Paulo, 12%. Ver gráfico 2.



O Censo Agropecuário de 2006 identificou 31.412 produtores de milho em Sergipe. De lá para cá, certamente esse número deve ter aumentado consideravelmente. Naquele ano, os estabelecimentos com até 02 hectares de área de milho representavam 18% do total da produção. Os estabelecimentos com até 10 hectares de área respondiam por 50% da produção. E o grupo de estabelecimentos com até 50 hectares, respondia por 74% do total.

A acelerada expansão da produção de milho no semiárido sergipano é um fato muito significativo na agricultura daquela região. E mostra que o semiárido tem peso na agricultura sergipana.

* Professor do Departamento de Economia da UFS.
** Publicado no Jornal da Cidade em 27 de junho de 2010

A composição dos orçamentos das famílias sergipanas por faixas de renda**

Ricardo Lacerda*

A situação dos rendimentos das famílias brasileiras tem melhorado no período recente, inclusive os rendimentos das famílias de Sergipe. Estudo do IPEA revelou que, entre 1995 e 2008, mais de 13 milhões de brasileiros superaram a situação de pobreza extrema, caracterizada pelo rendimento familiar mensal por pessoa inferior a ¼ do salário mínimo. Em Sergipe, especificamente, em 1995, 41% das famílias se encontravam abaixo desse patamar de rendimentos, participação que caiu para 21,3%, em 2008, ainda alto, mesmo considerando que é o segundo melhor resultado dentre os dos estados nordestinos, logo depois do Rio Grande do Norte. A diminuição da pobreza extrema é uma boa notícia, mas o mais importante é que o IPEA projetou que, com redução anual de 2,7%, até 2016 é possível promover o conjunto das famílias sergipanas para fora da pobreza extrema.

Elevar o nível de renda das famílias mais pobres é fundamental para a melhoria da qualidade de vida das pessoas e assim construir uma sociedade menos desigual e mais harmoniosa. O aspecto mais relevante é o de que, talvez, pela primeira vez, estejam disponíveis as condições materiais, políticas e de aprendizado social para que a pobreza seja superada em nosso país, em nossa região, em nosso Estado.

O nível de rendimento familiar é a mais importante variável na explicação da composição dos gastos das famílias. Neste artigo examina-se como as famílias sergipanas distribuem suas despesas de acordo com as faixas de renda. Esse corte permite que sejam mais bem apreendidas as formas de sobrevivências das famílias sergipanas, diante da restrição orçamentária. Os dados são provenientes Pesquisa de Orçamentos Familiares- POF, do IBGE, referente aos anos de 2008 e 2009.

Orçamentos

Em 2008-2009, a média mensal de gastos da família sergipana era de R$ 1.809,83, 6,4% acima da média nordestina e a segunda maior da região Nordeste, logo depois da média da Bahia. Essas despesas eram distribuídas entre consumo para atender as necessidades das famílias (R$ 1.680), a realização de algum tipo de poupança (R$ 88) e o pagamento de dívidas (R$ 42).

Uma característica que influencia os orçamentos familiares é o tamanho da unidade domiciliar que, no ano da pesquisa, era de 3,6 pessoas em média em Sergipe e esse tamanho não variava significativamente com o nível de renda.
A composição dos gastos das famílias depende principalmente do nível de rendimento familiar. As famílias mais pobres comprometem uma parcela grande do orçamento com despesas com alimentação, habitação e deslocamento, sobrando poucos recursos para os gastos em outros itens importantes da vida. Mesmo esses gastos mais essenciais, frequentemente, são insuficientes e ainda é necessário dispor de recursos para outros itens da vida, como a aquisição de vestuário, saúde, educação, higiene e cuidados pessoais, acesso à cultura e lazer, serviços pessoais e outros.

Faixas de renda

A pesquisa do IBGE informa que, em 2008, as famílias sergipanas com rendimento total e variação patrimonial de até R$ 830,00, comprometiam mais de 2/3 (68,8%) do seu orçamento com gastos com alimentação e habitação, quando a média das famílias sergipanas dedicava 49% com esses grupos de itens. É fácil verificar no gráfico como a parcela direcionada aos gastos com alimentos e habitação (marcada na cor branca), cai rapidamente na medida em que são consideradas faixas de renda mais elevadas. Assim, as famílias com rendimento médio mensal superior a R$ 10.375 comprometem cerca de 30% do orçamento com alimentação e habitação. Ver gráfico. Isso significa que, na medida em que os rendimentos vão se elevando, as famílias podem deslocar mais recursos para fazerem frente a outras despesas de consumo, como o melhor acesso a educação, a saúde e serviços pessoais e a cultura e lazer.

Um aspecto que chama a atenção é o grau de comprometimento com a aquisição de veículos que respondia, em 2008, por 7% do rendimento médio das famílias sergipanas. Sem dúvida a facilidade de crédito e o sonho de consumo explicam esse tipo de dispêndio que, naturalmente, é mais comum nas faixas de renda mais elevadas, mas que se tem tornado crescentemente realidade em grupos de rendas intermediários. Em média, as famílias com rendimentos superiores a R$ 10.375 dedicavam cerca de 10% dos seus orçamentos com a aquisição de veículos. No estrato de renda mais baixo, as despesas com deslocamento se situavam em torno de 2% do orçamento.



Um outro aspecto importante é a capacidade das famílias de investirem no aumento dos seus patrimônios, com a aquisição de imóveis, aplicações financeiras e outros. Em níveis de rendimentos mais baixos, a parcela da renda direcionada a aquisição de ativos é inexpressiva frente à urgência das despesas com a sobrevivência da família. No estrato de rendimento mais baixo, em média, apenas 1,1% do orçamento é utilizado para aquisição de patrimônio. A pesquisa revela que, somente a partir de um orçamento familiar acima de R$ 4.150, as famílias sergipanas passam a contar com uma parcela expressiva da renda voltada para esse intuito. Na faixa de rendimento familiar entre R$ 4.150 e R$ 6.225, as famílias já dedicavam 6,1% dos gastos para o aumento do patrimônio, participação que podia superar os 10% do rendimento familiar nos casos das famílias que auferiam mensalmente acima desse patamar. Dentre esses investimentos, o mais expressivo, sem termos de comparação com nenhum outro, é aquele efetuado com a aquisição ou reforma de imóvel.

A elevação dos rendimentos das famílias brasileiras constatada pelo IBGE tem significado melhorias concretas nas condições de vida da população mais pobre. A ampliação do mercado de trabalho e a disseminação dos programas de transferências de renda explicam parte expressiva dessa melhoria. Há muito ainda o que caminhar. A composição das despesas familiares mostra que uma parcela muito expressiva da população ainda se defronta com fortes restrições orçamentárias e que é necessário intensificar as políticas sociais para esses setores.

* Professor do Departamento de Economia da UFS.
** Publicado no Jornal da Cidade em 18/07/2010.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A geração de emprego na economia sergipana em 2010

Um dos aspectos mais notáveis do ciclo expansivo recente da economia brasileira tem sido a sua capacidade de gerar empregos formais e de estreitar a taxa de desocupação no mercado de trabalho. Apenas nos seis primeiros meses de 2010 já foram criados, em termos líquidos, 1.473.320 empregos com carteira de trabalho no Brasil, resultado recorde para o 1º semestre. A ampliação do emprego e da ocupação tem um significado muito grande na melhoria da qualidade de vida do brasileiro, o que nem sempre é destacado pelos analistas quepreferem ressaltar os benefícios dos programas de transferência de renda, também importantes, sobretudo para os segmentos mais necessitados.
A geração de emprego e de ocupação é conseqüência, mas é, também, causa do crescimento econômico, reforçando o ciclo expansivo à medidaque expande a massa de salário e outros rendimentos e estimula a realização de novos investimentos voltados para a ampliação da produção.

A taxa de desocupação

O IBGE tornou pública na última quinta-feira a taxa de desocupação das regiões metropolitanas em junho de 2010, que alcançou 7,0%, a menor taxa para aquele mês desde o início da série histórica em 2002. A contínua queda da taxa de desocupaçãotem sido um dos aspectos mais saudáveis do ciclo de crescimento da economia brasileirainiciado ao final de 2003, que mesmo a crise financeira internacional não conseguiu reverter.
No gráfico 1 estão apresentadas as curvas anuais das taxas de desocupações das regiões metropolitanas brasileiras pesquisadas pelo IBGE no período 2002-2010. Salta aos olhos os deslocamentos para baixo dessas curvas, iniciados ainda no ano de 2004.




Em junho de 2002, a taxa de desocupação da economia brasileira se situava em 11,6%, um patamar muito elevado que correspondia ao baixo crescimento da economia brasileira dos últimos anos. Após um período marcado pela desconfiança em relação ao novo governo, em 2003, a economia brasileira iniciou um ciclo de forte crescimento econômico que impactou positivamente as taxas de desocupação, que passou a se retrair ano a ano. Ver gráfico 1.

Depois de atingir 13%, em junho de 2003, a taxa de desocupação retornou ao patamar anterior, em 2004, (11,7%), e assumiu uma trajetória de queda que se acentuou nos anos mais recentes, até atingir 7,8%, em junho de 2008, e os referidos 7,0%, em junho de 2010. Mesmo no ano de 2009, marcado pelos rescaldos da crise financeira, após se manter em patamar mais elevado frente ao ano de 2008 no primeiro semestre, a taxa de desocupação voltou, no segundo semestre de 2009, aos níveis de 2008. A curva de 2010, tem se mantido notavelmente abaixo dos anos anteriores.

Sergipe

O emprego em Sergipe tem se expandido em ritmo surpreendente. Apenas nos primeiros seis meses de 2010 foram criados, em termos líquidos, 6.167 postos de trabalho com carteira assinada. Nos últimos 12 meses, de julho de 2009 a junho de 2010, foram gerados 18.860 empregos formais, muito acima de qualquer resultado anterior.




Na verdade, o crescimento do emprego formal nesses 12 meses na economia sergipana atingiu a taxa de 8,4%, quando a média brasileira no período foi de 6,7%, fazendo com Sergipe apresentasse a quinta maior taxa de crescimento do emprego formal do país nesse período.

O mais surpreendente, todavia, foi o resultado do emprego na indústria de transformação de Sergipe nos últimos 12 meses, que registrou taxa de crescimento de 12,42%, muito acima da media nacional, de 7,56%, e a mais alta dentre as apresentadas pelos estados brasileiros no período.



Ricardo Lacerda
Professor do Departamento de Economia da UFS.
** Publicado no Jornal da Cidade em 25 de julho de 2010.