Ricardo Lacerda*
A crise financeira internacional impôs
importantes restrições ao crescimento da economia brasileira dos últimos anos,
dentre as quais aquelas decorrentes do fim do ciclo longo de valorização das
commodities. Desde 2013 o comércio mundial vem passando por importante
desaceleração no ritmo de crescimento. O volume de bens comercializados internacionalmente,
que havia se expandido à taxa média anual de 5,5% entre 2004 e 2012, reduziu
desde então o crescimento médio para 2,8% ao ano e deve ter encerrado 2016 com
expansão de 2,2%, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional.
O setor exportador brasileiro, que havia sido
um dos principais vetores do crescimento brasileiro entre 2004 e 2011, ao lado
da expansão do mercado de consumo interno, perdeu fôlego e vem apresentando
desempenho adverso nos últimos anos.
Declínio das exportações
Em 2016, as exportações brasileiras
alcançaram 185,2 bilhões de dólares, frente aos 191,1 bilhões de dólares do ano
anterior, completando a quinta queda anual subsequente. 2011 foi o último ano
que o valor das exportações brasileiras apresentou crescimento. Desde então, as
exportações recuaram 5,3%, em 2012, 0,2%, em 2013, e despencaram 7% e 15,1% em
2014 e 2015, respectivamente. A queda do valor exportado em 2016 foi de 3,1%
(ver Gráfico 1).
Fui conferir a série histórica. Em nenhum
outro período, a contar de 1890, o valor das exportações brasileiras havia
recuado por cinco anos subsequentes. O mais próximo disso aconteceu entre 1929
e 1932, durante a Grande Depressão, quatro anos seguidos, ainda que nesse
período as quedas tenham sido muito mais acentuadas, sem termos de comparação.
Postarei a série completa com os valores e as taxas de crescimento no link http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com.br/.
É verdade que em termos de volume as exportações
brasileiras cresceram 1,2% em 2016, de forma que o recuo do valor exportado resultou
do declínio de 4,2% no valor médio da tonelada comercializada.
Mas, como vimos acima, a retração no valor
exportado já se estende por cinco longos anos e, em relação ao ano de 2011, as
exportações de 2016 recuaram 27,8%, enquanto o volume exportador cresceu 18,1% no
período. O cenário de reversão nas cotações de nossos principais produtos fez
com que o valor médio da tonelada exportada recuasse quase 40% nesses cinco
anos.
Diante do recuo no valor exportado, os saldos
robustos na balança comercial nos últimos dois anos decorreram inteiramente de
retrações ainda mais acentuadas nas importações (ver Gráfico 1).
Fonte: MDIC-SECEX
Câmbio
O ajuste no valor câmbio foi uma das
principais medidas adotadas pelo ex-ministro Joaquim Levy ainda ao final de
2014 com o propósito de corrigir preços que se encontravam mantidos
artificialmente. Entre dezembro de 2014
e setembro de 2015, a taxa de câmbio real e efetiva do Brasil, frente a uma
cesta de moeda, subiu notáveis 33,7%, muito acima do esperado pelas autoridades
econômicas, com impacto muito forte sobre a inflação interna.
Nos meses seguintes, todavia, a taxa de câmbio
real e efetiva recuou, corrigindo o overshooting, até que a partir do segundo
trimestre de 2016 o seu ritmo de queda foi acentuado, como resultado combinado
dos efeitos do agravamento da recessão sobre as importações de bens e serviços
e de taxas de juros reais muito elevadas. Em novembro de 2016, último resultado
disponível, a paridade do real frente a cesta de moedas, corrigida pelo IPCA, já
se encontrava 0,8% acima da vigente em dezembro de 2014, indicando que, mais
uma vez, optou-se por utilizar a política cambial com objetivos de controle de
preço, sacrificando a atividade industrial e as exportações,
Frente ao pessimismo em relação ao desempenho
do setor externo, o governo brasileiro não parece mesmo apostar nas exportações
como vetor de estabilização e crescimento do nível de atividade, ainda que deva
ocorrer em 2017 uma correção importante por conta da melhoria da produção
agrícola e de certa recuperação na cotação das commodities minerais.
A aposta do governo, como sabemos, está focada
em recuperar a confiança do mercado, dando demonstrações do seu compromisso em
realizar o ajuste das contas públicas e de manter a inflação dentro da meta
estabelecida, abrindo espaço para acelerar a queda nas taxas de juros nominais.
Por meio de recuperação da confiança, aposta que será possível interromper a
queda na Formação Bruta do Capital Fixo e injetar otimismo entre os
consumidores. Na prática, o governo tem deixado o esforço exportador de lado e,
novamente, caiu na tentação de utilizar o câmbio como instrumento de contenção
dos preços, criando obstáculos adicionais à competividade dos produtos
brasileiros no mercado externo e no mercado doméstico.
Fonte: Banco Central do Brasil
Publicado no Jornal da Cidade, em 08 de janeiro de 2017
APÊNDICE
APÊNDICE
Anos
|
Exportações
- (US$ milhões FOB) (Antiga metod. - BPM5)
|
Taxa
|
1890
|
128,2
|
-7,6%
|
1891
|
131,9
|
2,9%
|
1892
|
150
|
13,7%
|
1893
|
155,6
|
3,7%
|
1894
|
148,2
|
-4,8%
|
1895
|
158,4
|
6,9%
|
1896
|
137,7
|
-13,1%
|
1897
|
125,8
|
-8,6%
|
1898
|
121,6
|
-3,3%
|
1899
|
124,1
|
2,1%
|
1900
|
161,2
|
29,9%
|
1901
|
197,8
|
22,7%
|
1902
|
176,9
|
-10,6%
|
1903
|
179,3
|
1,4%
|
1904
|
191,5
|
6,8%
|
1905
|
216,8
|
13,2%
|
1906
|
258,1
|
19,0%
|
1907
|
263,4
|
2,1%
|
1908
|
214,8
|
-18,5%
|
1909
|
309,6
|
44,1%
|
1910
|
307,3
|
-0,7%
|
1911
|
325
|
5,8%
|
1912
|
363,3
|
11,8%
|
1913
|
318,9
|
-12,2%
|
1914
|
228,6
|
-28,3%
|
1915
|
256,8
|
12,3%
|
1916
|
269,4
|
4,9%
|
1917
|
300,1
|
11,4%
|
1918
|
291,6
|
-2,8%
|
1919
|
580,6
|
99,1%
|
1920
|
408,2
|
-29,7%
|
1921
|
224,2
|
-45,1%
|
1922
|
366,1
|
63,3%
|
1923
|
336,6
|
-8,1%
|
1924
|
422,7
|
25,6%
|
1925
|
496,9
|
17,6%
|
1926
|
458,1
|
-7,8%
|
1927
|
431,2
|
-5,9%
|
1928
|
473,9
|
9,9%
|
1929
|
460,4
|
-2,8%
|
1930
|
319,4
|
-30,6%
|
1931
|
244
|
-23,6%
|
1932
|
179,4
|
-26,5%
|
1933
|
216,8
|
20,8%
|
1934
|
292,8
|
35,1%
|
1935
|
269,5
|
-8,0%
|
1936
|
320,6
|
19,0%
|
1937
|
346,8
|
8,2%
|
1938
|
294,3
|
-15,1%
|
1939
|
299,9
|
1,9%
|
1940
|
272,6
|
-9,1%
|
1941
|
370,4
|
35,9%
|
1942
|
400,8
|
8,2%
|
1943
|
466,5
|
16,4%
|
1944
|
574,5
|
23,2%
|
1945
|
655,4
|
14,1%
|
1946
|
985,4
|
50,4%
|
1947
|
1.152,31
|
16,9%
|
1948
|
1.180,46
|
2,4%
|
1949
|
1.096,47
|
-7,1%
|
1950
|
1.355,47
|
23,6%
|
1951
|
1.769,00
|
30,5%
|
1952
|
1.418,12
|
-19,8%
|
1953
|
1.539,32
|
8,5%
|
1954
|
1.561,84
|
1,5%
|
1955
|
1.423,25
|
-8,9%
|
1956
|
1.481,97
|
4,1%
|
1957
|
1.391,61
|
-6,1%
|
1958
|
1.242,99
|
-10,7%
|
1959
|
1.281,97
|
3,1%
|
1960
|
1.268,77
|
-1,0%
|
1961
|
1.402,97
|
10,6%
|
1962
|
1.214,19
|
-13,5%
|
1963
|
1.406,48
|
15,8%
|
1964
|
1.429,79
|
1,7%
|
1965
|
1.595,48
|
11,6%
|
1966
|
1.741,44
|
9,1%
|
1967
|
1.654,04
|
-5,0%
|
1968
|
1.881,34
|
13,7%
|
1969
|
2.311,17
|
22,8%
|
1970
|
2.738,92
|
18,5%
|
1971
|
2.903,86
|
6,0%
|
1972
|
3.991,22
|
37,4%
|
1973
|
6.199,20
|
55,3%
|
1974
|
7.951,00
|
28,3%
|
1975
|
8.669,94
|
9,0%
|
1976
|
10.128,30
|
16,8%
|
1977
|
12.120,18
|
19,7%
|
1978
|
12.658,94
|
4,4%
|
1979
|
15.244,38
|
20,4%
|
1980
|
20.132,40
|
32,1%
|
1981
|
23.293,04
|
15,7%
|
1982
|
20.175,07
|
-13,4%
|
1983
|
21.899,31
|
8,5%
|
1984
|
27.005,34
|
23,3%
|
1985
|
25.639,01
|
-5,1%
|
1986
|
22.348,60
|
-12,8%
|
1987
|
26.223,93
|
17,3%
|
1988
|
33.789,37
|
28,8%
|
1989
|
34.382,62
|
1,8%
|
1990
|
31.413,76
|
-8,6%
|
1991
|
31.620,44
|
0,7%
|
1992
|
35.792,99
|
13,2%
|
1993
|
38.554,77
|
7,7%
|
1994
|
43.545,16
|
12,9%
|
1995
|
46.506,28
|
6,8%
|
1996
|
47.746,73
|
2,7%
|
1997
|
52.994,34
|
11,0%
|
1998
|
51.139,86
|
-3,5%
|
1999
|
48.011,45
|
-6,1%
|
2000
|
55.085,60
|
14,7%
|
2001
|
58.222,64
|
5,7%
|
2002
|
60.361,79
|
3,7%
|
2003
|
73.084,14
|
21,1%
|
2004
|
96.475,24
|
32,0%
|
2005
|
118.308,39
|
22,6%
|
2006
|
137.807,47
|
16,5%
|
2007
|
160.649,07
|
16,6%
|
2008
|
197.942,44
|
23,2%
|
2009
|
152.994,74
|
-22,7%
|
2010
|
201.915,29
|
32,0%
|
2011
|
256.039,58
|
26,8%
|
2012
|
242.578,01
|
-5,3%
|
2013
|
242.033,58
|
-0,2%
|
2014
|
225.100,90
|
-7,0%
|
2015
|
191.134,30
|
-15,1%
|
2016
|
185.235,40
|
-3,1%
|
Extraído do IPEADATA
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