Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 8 de janeiro de 2017

Exportações brasileiras caem pelo quinto ano seguido


Ricardo Lacerda*
A crise financeira internacional impôs importantes restrições ao crescimento da economia brasileira dos últimos anos, dentre as quais aquelas decorrentes do fim do ciclo longo de valorização das commodities. Desde 2013 o comércio mundial vem passando por importante desaceleração no ritmo de crescimento. O volume de bens comercializados internacionalmente, que havia se expandido à taxa média anual de 5,5% entre 2004 e 2012, reduziu desde então o crescimento médio para 2,8% ao ano e deve ter encerrado 2016 com expansão de 2,2%, segundo projeção do Fundo Monetário Internacional.
O setor exportador brasileiro, que havia sido um dos principais vetores do crescimento brasileiro entre 2004 e 2011, ao lado da expansão do mercado de consumo interno, perdeu fôlego e vem apresentando desempenho adverso nos últimos anos.
Declínio das exportações
Em 2016, as exportações brasileiras alcançaram 185,2 bilhões de dólares, frente aos 191,1 bilhões de dólares do ano anterior, completando a quinta queda anual subsequente. 2011 foi o último ano que o valor das exportações brasileiras apresentou crescimento. Desde então, as exportações recuaram 5,3%, em 2012, 0,2%, em 2013, e despencaram 7% e 15,1% em 2014 e 2015, respectivamente. A queda do valor exportado em 2016 foi de 3,1% (ver Gráfico 1).  
Fui conferir a série histórica. Em nenhum outro período, a contar de 1890, o valor das exportações brasileiras havia recuado por cinco anos subsequentes. O mais próximo disso aconteceu entre 1929 e 1932, durante a Grande Depressão, quatro anos seguidos, ainda que nesse período as quedas tenham sido muito mais acentuadas, sem termos de comparação. Postarei a série completa com os valores e as taxas de crescimento no link http://cenariosdesenvolvimento.blogspot.com.br/.
É verdade que em termos de volume as exportações brasileiras cresceram 1,2% em 2016, de forma que o recuo do valor exportado resultou do declínio de 4,2% no valor médio da tonelada comercializada.
Mas, como vimos acima, a retração no valor exportado já se estende por cinco longos anos e, em relação ao ano de 2011, as exportações de 2016 recuaram 27,8%, enquanto o volume exportador cresceu 18,1% no período. O cenário de reversão nas cotações de nossos principais produtos fez com que o valor médio da tonelada exportada recuasse quase 40% nesses cinco anos. 
Diante do recuo no valor exportado, os saldos robustos na balança comercial nos últimos dois anos decorreram inteiramente de retrações ainda mais acentuadas nas importações (ver Gráfico 1).

Fonte: MDIC-SECEX

Câmbio
O ajuste no valor câmbio foi uma das principais medidas adotadas pelo ex-ministro Joaquim Levy ainda ao final de 2014 com o propósito de corrigir preços que se encontravam mantidos artificialmente.  Entre dezembro de 2014 e setembro de 2015, a taxa de câmbio real e efetiva do Brasil, frente a uma cesta de moeda, subiu notáveis 33,7%, muito acima do esperado pelas autoridades econômicas, com impacto muito forte sobre a inflação interna.
Nos meses seguintes, todavia, a taxa de câmbio real e efetiva recuou, corrigindo o overshooting, até que a partir do segundo trimestre de 2016 o seu ritmo de queda foi acentuado, como resultado combinado dos efeitos do agravamento da recessão sobre as importações de bens e serviços e de taxas de juros reais muito elevadas. Em novembro de 2016, último resultado disponível, a paridade do real frente a cesta de moedas, corrigida pelo IPCA, já se encontrava 0,8% acima da vigente em dezembro de 2014, indicando que, mais uma vez, optou-se por utilizar a política cambial com objetivos de controle de preço, sacrificando a atividade industrial e as exportações,       
Frente ao pessimismo em relação ao desempenho do setor externo, o governo brasileiro não parece mesmo apostar nas exportações como vetor de estabilização e crescimento do nível de atividade, ainda que deva ocorrer em 2017 uma correção importante por conta da melhoria da produção agrícola e de certa recuperação na cotação das commodities minerais. 
A aposta do governo, como sabemos, está focada em recuperar a confiança do mercado, dando demonstrações do seu compromisso em realizar o ajuste das contas públicas e de manter a inflação dentro da meta estabelecida, abrindo espaço para acelerar a queda nas taxas de juros nominais. Por meio de recuperação da confiança, aposta que será possível interromper a queda na Formação Bruta do Capital Fixo e injetar otimismo entre os consumidores. Na prática, o governo tem deixado o esforço exportador de lado e, novamente, caiu na tentação de utilizar o câmbio como instrumento de contenção dos preços, criando obstáculos adicionais à competividade dos produtos brasileiros no mercado externo e no mercado doméstico.





Fonte: Banco Central do Brasil
Publicado no Jornal da Cidade, em 08 de janeiro de 2017


APÊNDICE



Anos
Exportações - (US$ milhões FOB) (Antiga metod. - BPM5)
Taxa
1890
128,2
-7,6%
1891
131,9
2,9%
1892
150
13,7%
1893
155,6
3,7%
1894
148,2
-4,8%
1895
158,4
6,9%
1896
137,7
-13,1%
1897
125,8
-8,6%
1898
121,6
-3,3%
1899
124,1
2,1%
1900
161,2
29,9%
1901
197,8
22,7%
1902
176,9
-10,6%
1903
179,3
1,4%
1904
191,5
6,8%
1905
216,8
13,2%
1906
258,1
19,0%
1907
263,4
2,1%
1908
214,8
-18,5%
1909
309,6
44,1%
1910
307,3
-0,7%
1911
325
5,8%
1912
363,3
11,8%
1913
318,9
-12,2%
1914
228,6
-28,3%
1915
256,8
12,3%
1916
269,4
4,9%
1917
300,1
11,4%
1918
291,6
-2,8%
1919
580,6
99,1%
1920
408,2
-29,7%
1921
224,2
-45,1%
1922
366,1
63,3%
1923
336,6
-8,1%
1924
422,7
25,6%
1925
496,9
17,6%
1926
458,1
-7,8%
1927
431,2
-5,9%
1928
473,9
9,9%
1929
460,4
-2,8%
1930
319,4
-30,6%
1931
244
-23,6%
1932
179,4
-26,5%
1933
216,8
20,8%
1934
292,8
35,1%
1935
269,5
-8,0%
1936
320,6
19,0%
1937
346,8
8,2%
1938
294,3
-15,1%
1939
299,9
1,9%
1940
272,6
-9,1%
1941
370,4
35,9%
1942
400,8
8,2%
1943
466,5
16,4%
1944
574,5
23,2%
1945
655,4
14,1%
1946
985,4
50,4%
1947
1.152,31
16,9%
1948
1.180,46
2,4%
1949
1.096,47
-7,1%
1950
1.355,47
23,6%
1951
1.769,00
30,5%
1952
1.418,12
-19,8%
1953
1.539,32
8,5%
1954
1.561,84
1,5%
1955
1.423,25
-8,9%
1956
1.481,97
4,1%
1957
1.391,61
-6,1%
1958
1.242,99
-10,7%
1959
1.281,97
3,1%
1960
1.268,77
-1,0%
1961
1.402,97
10,6%
1962
1.214,19
-13,5%
1963
1.406,48
15,8%
1964
1.429,79
1,7%
1965
1.595,48
11,6%
1966
1.741,44
9,1%
1967
1.654,04
-5,0%
1968
1.881,34
13,7%
1969
2.311,17
22,8%
1970
2.738,92
18,5%
1971
2.903,86
6,0%
1972
3.991,22
37,4%
1973
6.199,20
55,3%
1974
7.951,00
28,3%
1975
8.669,94
9,0%
1976
10.128,30
16,8%
1977
12.120,18
19,7%
1978
12.658,94
4,4%
1979
15.244,38
20,4%
1980
20.132,40
32,1%
1981
23.293,04
15,7%
1982
20.175,07
-13,4%
1983
21.899,31
8,5%
1984
27.005,34
23,3%
1985
25.639,01
-5,1%
1986
22.348,60
-12,8%
1987
26.223,93
17,3%
1988
33.789,37
28,8%
1989
34.382,62
1,8%
1990
31.413,76
-8,6%
1991
31.620,44
0,7%
1992
35.792,99
13,2%
1993
38.554,77
7,7%
1994
43.545,16
12,9%
1995
46.506,28
6,8%
1996
47.746,73
2,7%
1997
52.994,34
11,0%
1998
51.139,86
-3,5%
1999
48.011,45
-6,1%
2000
55.085,60
14,7%
2001
58.222,64
5,7%
2002
60.361,79
3,7%
2003
73.084,14
21,1%
2004
96.475,24
32,0%
2005
118.308,39
22,6%
2006
137.807,47
16,5%
2007
160.649,07
16,6%
2008
197.942,44
23,2%
2009
152.994,74
-22,7%
2010
201.915,29
32,0%
2011
256.039,58
26,8%
2012
242.578,01
-5,3%
2013
242.033,58
-0,2%
2014
225.100,90
-7,0%
2015
191.134,30
-15,1%
2016
185.235,40
-3,1%

Extraído do IPEADATA


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