Ricardo Lacerda
O país recebeu recentemente uma notícia auspiciosa
sobre a agricultura do Nordeste. Em 2015, pela primeira vez, a produção de
grãos do Nordeste deveria superar a da
região Sudeste. Das 201 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e
oleaginosas projetadas para o Brasil pelo Levantamento Sistemático da Produção
Agropecuária (LSPA) de abril, o Nordeste responderia por 18,9 milhões de toneladas e o Sudeste por 18,3 milhões de
toneladas, respectivamente 9,4% e 9,2% do total. As regiões Centro-Oeste e Sul,
pela ordem, com cerca de 40% cada, continuariam liderando a produção de grãos.
Na edição de maio
do LSPA, o IBGE revê esses números e apresenta, digamos assim, um empate
técnico, com ligeira vantagem ainda para o Sudeste em 2015. Na nova projeção para
2015, a região Sudeste deverá produzir 18,7 milhões de toneladas de grãos
enquanto para a região Nordeste foram projetadas 18,5 milhões de toneladas,
correspondendo, cada uma, a 9,1% do total nacional (ver Gráfico 1).
Comparativamente à
safra de 2014, a produção de grãos de Nordeste cresceu 17,7%, enquanto a da
região Sudeste aumentou 4,2%. O Mato Grosso continua liderando a produção
nacional de grãos respondendo por quase uma em cada quatro (24,2%) toneladas produzidas
no país.
Fonte: IBGE.
LSPA.Maio de 2015.
MAPITOBA
A revisão da
projeção não diminuiu a importância da extraordinária expansão agrícola de
parte do território regional representado pelo oeste da Bahia e pelo sul do
Maranhão e do Piauí que em conjunto com área ocidental do estado de Tocantins
formam a mesorregião conhecida como MAPITOBA, acrônimo das sílabas iniciais dos
estados, uma das principais fronteiras agropecuárias do país.
Ainda que em a mesorregião
em grande parte integre o Nordeste as suas condições agrícolas diferem
substancialmente de outras áreas do território regional, em particular do semiárido
nordestino que periodicamente sofre os efeitos da estiagem.
A seca
Muito se tem falado
que a estiagem atual, iniciada em 2012, é provavelmente a mais intensa desde a
década de 1970. Os prejuízos sobre a produção agrícola foram particularmente acentuados
em 2012, ainda que se estendam até o ano atual em algumas áreas do semiárido. Em
comparação a 2011, as duas culturas temporárias mais disseminadas na sub-região
foram fortemente impactadas.
A produção de milho
nos municípios do semiárido da região (excluindo os municípios do norte de
Minas Gerais) despencou 68% entre 2011 e 2012 (ver Gráfico 2). A quantidade
produzida de mandioca recuou 1/3 e a do feijão, outro cultivo muito
praticado, caiu 81%.
Em 2013, último ano
com dados disponíveis por município e por sub-região , os cultivos de milho e
de feijão no semiárido já principiavam forte retomada, enquanto a de mandioca
seguia despencando. Nos três casos a quantidade produzida em 2013 se situou
muito abaixo do volume de 2011, antes do início da estiagem.
Fonte: IBGE. PAM.
2014 e 2015
Há indícios de
forte recuperação da atividade agrícola no semiárido nordestino em 2014 e 2015,
ainda que não estejam disponíveis os dados por município que possibilitam
agregar os resultados por sub-região .
Os municípios do
semiárido respondem por uma parcela bastante grande da produção de milho,
mandioca e feijão do Nordeste. Em 2011, último ano em que a safra não foi
afetada pela atual seca, a sub-região do
semiárido produzia 47% do milho, 42% da mandioca e 76% do feijão obtido no
Nordeste. Com os efeitos da estiagem, essas participações se retraíram, em 2012,
para 20%, 37% e 48%, mas se recuperaram parcialmente em 2013.
As projeções de
safra do LSPA mostram que as três culturas emblemáticas do semiárido nordestino
apresentaram recuperações vigorosas nos estados da região em 2014 e 2015 (ver
Gráfico 3). No casos do milho e do feijão, as safras nordestinas de 2015
deverão alcançar, respectivamente, produções 46% e 8% superiores às de 2011.
Mesmo no caso do
cultivo da mandioca, em que a produção ainda não alcançou o pico anterior à
estiagem, os anos de 2014 e de 2015 tiveram incrementos bem acentuados,
indicando que o pior do período da seca já passou, pelo menos para a maior
parte da região. No próximo artigo, serão analisados os dados por estado, a fim
de mostrar como os resultados se apresentaram bem distintos entre eles.
Fonte: IBGE. PAM e LSPA (2014 e 2015)
Publicado no Jornal da Cidade, em 14 de junho de 2015
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