Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 14 de junho de 2015

A seca e a safra (1)


Ricardo Lacerda

O país recebeu recentemente uma notícia auspiciosa sobre a agricultura do Nordeste. Em 2015, pela primeira vez, a produção de grãos do Nordeste deveria superar a da região Sudeste. Das 201 milhões de toneladas de cereais, leguminosas e oleaginosas projetadas para o Brasil pelo Levantamento Sistemático da Produção Agropecuária (LSPA) de abril, o Nordeste responderia por 18,9 milhões  de toneladas e o Sudeste por 18,3 milhões de toneladas, respectivamente 9,4% e 9,2% do total. As regiões Centro-Oeste e Sul, pela ordem, com cerca de 40% cada, continuariam liderando a produção de grãos.

Na edição de maio do LSPA, o IBGE revê esses números e apresenta, digamos assim, um empate técnico, com ligeira vantagem ainda para o Sudeste em 2015. Na nova projeção para 2015, a região Sudeste deverá produzir 18,7 milhões de toneladas de grãos enquanto para a região Nordeste foram projetadas 18,5 milhões de toneladas, correspondendo, cada uma, a 9,1% do total nacional (ver Gráfico 1).

Comparativamente à safra de 2014, a produção de grãos de Nordeste cresceu 17,7%, enquanto a da região Sudeste aumentou 4,2%. O Mato Grosso continua liderando a produção nacional de grãos respondendo por quase uma em cada quatro (24,2%) toneladas produzidas no país.


Fonte: IBGE. LSPA.Maio de 2015.

MAPITOBA

A revisão da projeção não diminuiu a importância da extraordinária expansão agrícola de parte do território regional representado pelo oeste da Bahia e pelo sul do Maranhão e do Piauí que em conjunto com área ocidental do estado de Tocantins formam a mesorregião conhecida como MAPITOBA, acrônimo das sílabas iniciais dos estados, uma das principais fronteiras agropecuárias do país.  

Ainda que em a mesorregião em grande parte integre o Nordeste as suas condições agrícolas diferem substancialmente de outras áreas do território regional, em particular do semiárido nordestino que periodicamente sofre os efeitos da estiagem.

A seca

Muito se tem falado que a estiagem atual, iniciada em 2012, é provavelmente a mais intensa desde a década de 1970. Os prejuízos sobre a produção agrícola foram particularmente acentuados em 2012, ainda que se estendam até o ano atual em algumas áreas do semiárido. Em comparação a 2011, as duas culturas temporárias mais disseminadas na sub-região  foram fortemente impactadas.

A produção de milho nos municípios do semiárido da região (excluindo os municípios do norte de Minas Gerais) despencou 68% entre 2011 e 2012 (ver Gráfico 2). A quantidade produzida de mandioca recuou 1/3 e a do feijão, outro cultivo muito praticado,  caiu 81%.

Em 2013, último ano com dados disponíveis por município e por sub-região , os cultivos de milho e de feijão no semiárido já principiavam forte retomada, enquanto a de mandioca seguia despencando. Nos três casos a quantidade produzida em 2013 se situou muito abaixo do volume de 2011, antes do início da estiagem.

Fonte: IBGE. PAM.


2014 e 2015

Há indícios de forte recuperação da atividade agrícola no semiárido nordestino em 2014 e 2015, ainda que não estejam disponíveis os dados por município que possibilitam agregar os resultados por sub-região .

Os municípios do semiárido respondem por uma parcela bastante grande da produção de milho, mandioca e feijão do Nordeste. Em 2011, último ano em que a safra não foi afetada pela atual seca, a sub-região  do semiárido produzia 47% do milho, 42% da mandioca e 76% do feijão obtido no Nordeste. Com os efeitos da estiagem, essas participações se retraíram, em 2012, para 20%, 37% e 48%, mas se recuperaram parcialmente em 2013.

As projeções de safra do LSPA mostram que as três culturas emblemáticas do semiárido nordestino apresentaram recuperações vigorosas nos estados da região em 2014 e 2015 (ver Gráfico 3). No casos do milho e do feijão, as safras nordestinas de 2015 deverão alcançar, respectivamente, produções 46% e 8% superiores às de 2011.

Mesmo no caso do cultivo da mandioca, em que a produção ainda não alcançou o pico anterior à estiagem, os anos de 2014 e de 2015 tiveram incrementos bem acentuados, indicando que o pior do período da seca já passou, pelo menos para a maior parte da região. No próximo artigo, serão analisados os dados por estado, a fim de mostrar como os resultados se apresentaram bem distintos entre eles.



Fonte: IBGE. PAM e LSPA (2014 e 2015)


Publicado no Jornal da Cidade, em 14 de junho de 2015


Nenhum comentário:

Postar um comentário