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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A seca e a safra(2)


Ricardo Lacerda

Os efeitos da estiagem sobre a produção agrícola do Nordeste foram atenuados nos últimos três anos. Os impactos mais duros da seca do Nordeste se concentraram em 2011 e 2012. Em duas das três culturas emblemáticas do semiárido nordestino (milho e feijão), as safras encontram-se em recuperação ou expansão desde 2013. Apenas no cultivo da mandioca a retomada da produção foi postergada para 2014. Ainda assim, extensas áreas da região devem apresentar em 2015 níveis de produção bem inferiores aos do período anterior ao início do período seco.

O impacto da seca foi mais agudo e mais duradouro nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Foi menos intenso e terminou mais cedo nos estados situados nos extremos da região Nordeste.

O estado do Maranhão não possui nenhum município integrante da sub-região do semiárido nordestino e foi relativamente pouco atingido pela estiagem. A Bahia e o Piauí foram fortemente impactados pela estiagem nas porções dos seus territórios que fazem parte do semiárido mas as safras estaduais não caíram tanto porque as áreas de cerrados, o Sul do Piauí e o Oeste da Bahia, são grandes produtoras agrícolas e não foram atingidas.

Nos casos de Sergipe e Alagoas, a estiagem teve forte impacto na produção agrícola mas o seu período mais agudo foi relativamente mais curto do que na maioria dos estados da região. As quantidades produzidas das três culturas em Sergipe e Alagoas apresentaram recuos muito acentuados nos primeiros anos de estiagem, notadamente em 2011 e 2012, mas nos anos seguintes os efeitos foram muito atenuados, como indica a forte retomada da produção do milho e do feijão nesses estados (Ver gráficos 1, 2 e 3).

Semiárido

As perdas de produção foram especialmente elevadas nos municípios integrantes do semiárido nordestino. Na comparação com o ano anterior, as quantidades produzidas de milho, feijão e mandioca despencaram no semiárido nordestino em 2012. As perdas foram especialmente elevadas no cultivo de feijão, cuja quantidade produzida encolheu 81%. Nas áreas semiáridas do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas as quebras da produção naquele ano ultrapassaram 90%. 

A produção de milho recuou 2/3 no semiárido. Nesses mesmos estados, a queda na safra de milho no semiárido em 2012 ultrapassou 80%. No Ceará, Paraíba e Pernambuco, a produção de milho permaneceu rebaixada até 2015, enquanto no Rio Grande do Norte e Alagoas o cultivo apresentou forte retomada nos anos mais recentes (ver Gráficos)

A queda na produção de mandioca do semiárido em 2012 foi de cerca de 1/3. A produção de mandioca do semiárido alagoano ainda resistiu em 2012, somente despencando em 2013.
A redução da safra de mandioca no semiárido sergipano foi menos acentuada do que na maioria dos estados da região. Em 2013, a produção do semiárido sergipano era 17% menor do que em 2011, enquanto no semiárido piauense caíra 78%, nas áreas de semiárido potiguar, 76%, e nas da Bahia, 56%.

Ainda vai ser necessário aguardar a publicação de dados mais pormenorizados para avaliar a situação real da produção agrícola no semiárido nordestino. Com as informações disponíveis, é possível inferir que em uma parcela muito ampla do seu território, principalmente as áreas do semiárido entre Ceará e Pernambuco, as principais culturas agrícolas permanecem com níveis de produção muito rebaixados. 

Nos demais estados que possuem municípios que integram o semiárido (Piauí, Bahia, Sergipe e Alagoas), ainda que as safras das três culturas examinadas tenham apresentado forte recuperação nos anos recentes, há ainda áreas em que os efeitos da estiagem não cessaram inteiramente.



Fonte: IBGE. Pam e LSPA (2014 e 2015, edição de maio de 2015)

Fonte: IBGE. Pam e LSPA (2014 e 2015, edição de maio de 2015)

Fonte: IBGE. Pam e LSPA (2014 e 2015, edição de maio de 2015)





Publicado no Jornal da Cidade, em 21/06/2015 

4 comentários:

  1. Caro professor Ricardo.
    Li seus artigos, a seca e a safra e fiquei surpreso com as informações do semiárido. Questiono Vsa,, se a informação continua válida, pois a impressão que se tem, viajando na região, é exatamente oposta, principalmente com a suspensão de abastecimento de água a partir da grande maioria dos açudes e a proibição e de utilizar a água dos que sobraram, para irrigação.
    Gostaria de convida-lo para escrever no meu blog (http://psnatal.com.br/opine), particularmente sobre o semiárido nordestino. Terei prazer em coloca-lo como autor colaborador.
    Atenciosamente,
    Guilherme Melo

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    1. Prezado Guilherme,
      Agradeço seus comentários e no essencial você está certo, mas você escreve cerca de três meses depois do meu artigo e a situação parece ter se agravado nesse período e a estiagem voltou a manifestar com mais intensidade na região.

      Dois pontos sobre suas observações. 1) Salvo engano, você escreve de Natal e como destaquei nos artigos, a estiagem continuou entre Ceará e Pernambuco, incluindo RN e PB. Em Sergipe,Alagoas e Bahia, a safra de milho voltou com força em 2014 e 2015.
      2) O IBGE reviu para baixo a previsão de safra de alguns estados do Nordeste, principalmente do Ceará.

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    2. Me comprometo a voltar ao tema nas próximas semanas.

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