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segunda-feira, 1 de junho de 2015

A crise e o desemprego depois de 2008

Ricardo Lacerda

Muitos de nós economistas esquecemos em algumas situações que a economia trata de pessoas. Os números do PIB, juros, inflação/deflação, câmbio, ajuste fiscal, balanço de pagamentos não se encerram em si próprios.

Na edição de maio de 2015 do relatório Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) dimensiona o impacto da crise financeira internacional sobre o mercado de trabalho, tanto em termos de desemprego quanto da precarização nas relações de trabalho.

O relatório estima que o número de desempregados ao final de 2014 se posicionou cerca de 30 milhões acima da situação anterior à crise de 2008. A edição de janeiro do relatório havia apresentado os números de forma mais detalhada. Entre 2008 e 2009 o contingente de desempregados na economia mundial saltou de 179 milhões de pessoas para 199 milhões de pessoas (ver Gráfico).


Fonte: OIT. Trends Econometric Models. Outubro de 2014


Projeções

A instituição estima que 40 milhões de jovens entram no mercado de trabalho anualmente no mundo e que um crescimento econômico robusto é fundamental para abrir postos de trabalho para essas pessoas, o que não vem ocorrendo já por sete longos anos.

No primeiro momento da crise, o mercado de trabalho nas economias emergentes não foi tão impactado. O Brasil, por exemplo, continuou gerando empregos formalizados até muito recentmente e a taxa de desocupação no país caiu de 8,1%, em 2007, para 6,5%, em 2013.

Nos últimos dois anos a geração de emprego se tornou mais débil nas economias emergentes e as projeções da OIT apontam para aumento na taxa de desemprego em muitas das principais economias emergentes, como Rússia, Brasil e África do Sul.

O mercado de trabalho nos países de economia avançada sofreu com intensidade muito maior os efeitos da crise. Em alguns deles, como a França e a Itália, a taxa de desemprego se aproxima, no primeiro caso, e ultrapassa, no segundo, de 10% da força de trabalho, sem perspectivas de melhorias expressivas até 2017.
Mesmo com a recuperação no mercado de trabalho nos útimos anos em grandes economias, como as dos EUA, Reino Unido e Alemanha, a taxa de desemprego entre os países de economia avançada se situou ao final de 2014 dois pontos percentuais acima da taxa de 2007.

Precarização

A edição de maio do relatório da OIT sublinha que desde a deflagração da crise financeira em 2008 a relação de trabalho se tornou menos segura o que, inclusive, enfraquece a demanda e penaliza a produção. Como o sacrifício recaiu desproporcionalmente sobre os segmentos mais pobres da população economicamente ativa, notadamente nos países ricos, a piora no mercado de trabalho produziu aumento de desigualdades e colocou novos e maiores desafios para as políticas públicas em termos de ampliação da cobertura da proteção social.

O relatório denuncia que a relação de emprego estável em tempo integral perdeu peso nas economias avançadas e corre o risco de deixar de ser o tipo de vínculo dominante. Entre os países de economia emergente, apesar do ciclo de crescimento anterior que favoreceu a formalização do trabalho, o emprego informal continua a ser muito disseminado. Ademais, a OIT alerta que nas atividades menos nobres das cadeias de abastecimento globais disseminam-se relações de trabalho de curta duração e com horários irregulares.

Em tempos de crise, eleva-se o risco da corda arrebentar do lado mais fraco. Nesse momento da vida brasileira em que a quase totalidade dos segmentos empresariais e uma parcela ampla da classe política e economistas se perfilam em favor de, sob pretexto de regulamentar, ampliar a prática da terceirização da força de trabalho, o relatório da OIT serve de alerta.

Cadeias globais

A OIT entende que mudanças na regulação do trabalho são necessárias para dar conta da nova realidade. A inserção dos países pobres nas cadeias globais de produção e comercialização tem ocorrido muitas vezes sem observar as garantias minímas para os trabalhadores.
A instituição sublinha que os trabalhadores submetidos às novas relações de trabalho, mais precarizadas, como trabalhadores temporários e informais, trabalhadores em tempo parcial, en muitos das quais há um predomínio de mulheres, são mais afetados pela pobreza e pela exclusão social e que adotar políticas públicas que propiciam uma cobertura social daqueles que estão submetidos às relações mais frágeis vai ser um dos principais desafios dos próximos anos. Nesse contexto, defender o avanço da terceirização, como alguns propõem para o Brasil é um grande equívoco.

Publicado no Jornal da Cidade, em 31 de maio de 2015

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