Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O emprego formal em 2014

Ricardo Lacerda

A estagnação da economia brasileira fez com que a criação de emprego formal em 2014 tenha se apresentado bem menos intensa do que em anos anteriores. Desde que se iniciou o ciclo de inclusão social em 2004 o Brasil manteve a notável marca de mais de um milhão de empregos formais gerados por ano, mesmo depois que a crise financeira mundial se instalou no final de 2008.

2014 foi o ano em que a crise econômica ameaçou a continuidade da melhoria do mercado de trabalho, no sentido de que a criação de emprego com carteira assinada deverá ter crescido, depois de muitos anos,  à taxa similar a do incremento da PEA- População Economicamente Ativa, interrompendo o longo ciclo de formalização do mercado de trabalho. Depois dos dois milhões de empregos formais criados em 2011, foram gerados 1,37 milhão em 2012, e 1,1 milhão, em 2013, frente a uma geração de empregos bem menos intensa em 2014, de 397 mil, equivalentes a taxa de crescimento de 0,98% (ver Gráfico 1).


Fonte: MTE- CAGED

Setorial

A geração de quase 400 mil postos de trabalho em um ano de crescimento próximo a zero do PIB não chega a ser um resultado desastroso, comparado ao que aconteceu  nas economias centrais depois de 2008, mas, além de ter sido um recuo muito grande em relação ao que vinha ocorrendo nos anos anteriores, ele foi especialmente duro em alguns setores de atividade.

Foram os desempenhos negativos na indústria de transformação e na construção civil que mais contribuíram para  a menor geração do emprego em 2014 (ver Gráfico 2). A indústria de transformação, mesmo enfrentando dificuldades há alguns anos, ainda gerou 122 mil empregos em 2013. Em 2014 a situação se agravou muito. Foram destruídos simplesmente 163 mil postos de trabalho na atividade industrial.

Ainda que grande parte dos empregos perdidos no setor industrial tenha se concentrado no subsetor metal-mecânico, reflexo do recuo da produção automobilística, todos os subsetores da indústria, com a exceção de alimentos e bebidas, desempregaram em 2014.
Além do complexo automobilístico, as atividades em alguns ramos de bens não duráveis intensivos em trabalho, como calçado e têxteis-confecções dispensaram grandes contingentes de trabalhadores.

Na construção civil, foram fechados 106 mil postos de trabalho. O comércio e o setor de serviços, que vêm sustentando o crescimento econômico desde que a atividade industrial estagnou em 2008, abriram um grande número de vagas em 2014, mas em quantidades bem inferiores às do ano anterior, sintoma de que a perda de dinamicidade vem se disseminando nos vários segmentos econômicos. Em comparação ao ano de 2013, a geração de emprego de 2014 foi menor em todos os setores de atividade (a exceção foi o setor agrícola, mas ele já havia reduzido o emprego em 2013, apenas cortou menos postos de trabalho em 2014).


Fonte: MTE- CAGED

Regional

Em termos regionais, a desaceleração na geração de emprego em 2014 foi mais acentuada nas regiões em que a atividade industrial pesa mais no emprego total, o Sudeste e o Norte, mas todas as regiões criaram menos emprego do que no ano anterior. Alguns estados das regiões Norte e Nordeste ainda mantiveram taxas de elevação do emprego formal acima de 3%. No caso do Nordeste, além de Sergipe (3,01%), Piauí, Ceará e Paraíba. Em Sergipe foram criados quase nove mil (8.913) novos empregos formais em 2014. Os setores que mais criaram emprego na economia sergipana em 2014 foram o comércio, o turismo, a atividade sucroalcooleira, devido a retomada parcial depois da estiagem, o setor de saúde e a  atividade de call center, que continuou se expandindo.

Não foram poucos os economistas ortodoxos que atribuíram a maior parte dos nossos desequilíbrios macroeconômicos à baixa taxa de desocupação dos últimos anos. Em uma perspectiva invertida em relação aos objetivos da política econômica, infelizmente muito disseminada, a intensa geração de emprego foi vista como um mal. Argumentavam tais especialistas que a ocupação próxima ao pleno emprego pressionava os salários para cima, colocando-os em patamar superior ao da produtividade do trabalho, o que seria a raiz dos todos os nossos males, desde a relutância da inflação em retornar ao centro da meta até a perda de competitividade do nosso setor industrial.

Nesta perspectiva, o real valorizado e o cenário de crise prolongada da economia internacional deveriam ser tomados como meros dados da realidade em relação aos quais nada haveria a fazer; o ajuste deveria vir pelo mercado de trabalho, em forma de destruição de postos de trabalho a fim de alinhar os reajustes salariais ao incremento da produtividade. O ano de 2015 está apenas começando. Para quem não compartilha de crenças tão maquiavélicas, a evolução do mercado de trabalho será o termômetro mais sensível para acompanhar o desenrolar da economia ao longo dos próximos meses.

Publicado no Jornal da Cidade, em 25/01/2015

domingo, 18 de janeiro de 2015

Perspectivas mundiais em 2015



Ricardo Lacerda

O Banco Mundial publicou na semana passada a edição de janeiro do seu relatório semestral  Global Economic Prospects em que apresenta os principais condicionantes do crescimento da economia mundial para 2015 e 2016.

O relatório inicia reconhecendo que o crescimento da economia mundial decepcionou em 2014, devendo ficar abaixo do que foi projetado pela instituição nos relatórios semestrais anteriores, em janeiro e junho passados.  Segundo estimativa da instituição, a economia mundial deve ter crescido 2,6%, em 2014; os países de alta renda apresentaram recuperação modesta, elevando a taxa de expansão do PIB de 1,4%, em 2013, para 1,8%, em 2014, mas, enquanto os EUA e o Reino Unido surpreenderam positivamente (cresceram, respectivamente, 2,4% e 2,6%), a Zona do Euro teve incremento de apenas 0,8% e o Japão, 0,2%.

Para 2015, a projeção é de modesta aceleração do crescimento tanto para os países de alta renda quanto para os países em desenvolvimento, indicando que vamos ter que aguardar por mais algum tempo uma retomada mais robusta da economia global: o crescimento do PIB mundial se elevaria para 3,0%, com os países de alta renda devendo registrar o ainda modesto resultado de 2,2% e os países em desenvolvimento passando de 4,4%, em 2014, para 4,8%, em 2015.

Frustração

A frustração do crescimento da economia em 2014 é um ponto sensível, posto que tem sido recorrente: por três anos, sucessivamente, a economia mundial tem se recusado a seguir as perspectivas relativamente otimistas das instituições multilaterais que, em essência, apontavam que o pior da crise teria ficado para trás. A duração do baixo crescimento por um período de tempo tão longo põe em xeque a efetividade das políticas fiscais e monetárias recomendadas por essas instituições com o propósito de acionar o crescimento.

A frustração do crescimento de 2014 se explicaria principalmente pelo desempenho abaixo do esperado no Japão e na Zona do Euro, enquanto a revisão para baixo da projeção para 2015 foi influenciada em maior parte pelas dificuldades enfrentadas pela Rússia e Brasil, pela Zona do Euro e Japão e, complementarmente, pela maioria das demais economias, que na virada para 2015 estão apresentando desempenho inferior ao que se esperava a um  ano atrás.

O Gráfico apresentado ilustra as revisões das projeções de crescimento calculadas pelas edições recentes do relatório. Informa, entre outras coisas, que em janeiro de 2014 havia uma expectativa de aceleração do crescimento mundial em relação ao que se previa em junho do ano anterior, mas as dificuldades acima do esperado pelo Japão, Zona do Euro e por algumas das principais economias emergentes fizeram com que as projeções fossem rebaixadas nos relatórios de junho de 2014 e na edição atual, de janeiro de 2015.

Fonte: Extraído de Worldbank. Global economic prospects. Janeiro de 2015.

 Vetores

Outro aspecto destacado na edição de janeiro é que as tendências de crescimento entre as principais economias do mundo se apresentam mais divergentes do que anteriormente, com a economia norte-americana ganhando impulso nos ultimos trimestres, enquanto na zona do Euro e no Japão frustou-se a expectativa de retomada do crescimento e que essas diferenças devem estar associadas as opções de políticas monetárias adotadas, mais expansiva nos EUA do que na Europa e no Japão.

O relatório enfatiza algumas ideias chave. As perspectivas da economia mundial nos próximos anos estariam associadas a alguns vetores fundamentais: a evolução dos preços das commodities, particularmente do que vai acontecer com as cotações do petróleo; o comportamento das políticas monetárias nas economias centrais, que se tornou crescentemente divergente; e a débil expansão do comércio mundial.
Petróleo
O relatório assume uma posição otimista em relação aos efeitos da queda acentuada dos preços do petróleo desde meados de 2014 sobre o crescimento global. Assinala que  um longo período de cotações baixas acionaria um fator de crescimento que ajudaria a compensar as dificuldades hoje enfrentadas pelas economias dos países em desenvolvimento importadores de petróleo, ainda que tenha o potencial de provocar desequilíbrios nas regiões que concentram as exportações do produto.

Em relação à política fiscal, o relatório é cauteloso. Reconhece que a recuperação nos países de alta renda é ainda muito frágil e envolve riscos de reversão. Recomenda a continuidade da política monetária acomodatícia. Para aqueles países que contam com espaço fiscal para elevar os gastos, indica que devem utilizar esse instrumento, enquanto aqueles, como boa parte dos países emergentes, inclusive o Brasil, que já o teriam utilizado deveriam realizar reformas estruturais, a fim de conquistar espaço fiscal, o que em geral significa adotar ajustes que envolvem sacrifício da população.

Publicado no Jornal da Cidade, em 18 de janeiro de 2015 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O ajuste e o Nordeste

Ricardo Lacerda

A nova equipe econômica estreou apresentando algumas das medidas de ajuste fiscal que deverão ser adotadas ao longo de 2015 a fim de alcançar o prometido superávit primário de 1,2% do PIB, enquanto as autoridades monetárias já iniciaram o ciclo de elevação de juros que deverá ser mantido nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária.

Em 2014, a economia brasileira deve ter basicamente repetido o nível de atividade do ano anterior, com o crescimento do PIB um pouco abaixo ou acima de zero. O Nordeste, por sua vez, deve ter encerrado o ano com taxa de crescimento ainda relativamente elevada, em torno de 3%. Mesmo demonstrando uma resistência à crise maior do que a média do país, a economia da região Nordeste não deixou de ser contaminada pela intensa desaceleração do crescimento da economia brasileira nos últimos meses, o que deverá se refletir nos resultados a serem obtidos ao longo de 2015.

Descolamento

A economia do Nordeste apresentou taxas de crescimento muito próximas à média do país ao longo do ciclo expansivo, entre o início de 2004 e setembro de 2008. As curvas de crescimento do Índice de Atividade do Banco Central (IBC) para o país e para a região se mantiveram quase sobrepostas nesse período (ver Gráfico 1).

Foi depois da deflagração da crise financeira internacional, em setembro de 2008, que a evolução do IBC do Nordeste descolou em relação ao crescimento das regiões mais industrializadas. A economia da região sofreu inflexão bem mais suave do que a média do país, em 2009. Entre o início de 2010 e meados de 2011, o Nordeste e a média do país voltaram a apresentar taxas de crescimento próximas, até que o impacto causado pelo segundo momento da crise internacional, em meados daquele ano, se mostrou muito mais intenso nas regiões mais industrializadas do que no Nordeste. Em meados de 2013, depois que a crise de confiança interna encavalou com a nova deterioração do quadro externo, a economia do Nordeste foi menos impactada do que a média do país.

Parte do desempenho mais favorável da economia do Nordeste nesse período de instabilidade pode ser atribuída a questões mais estruturais, relacionadas ao amplo processo de inclusão social e de formalização do mercado de trabalho e à implantação de empreendimentos de grande porte na região e seus efeitos de realimentação em termos de atração de investimento e expansão do consumo. Outra parte da evolução mais favorável da região, todavia, pode estar relacionada a questões de natureza mais conjuntural, como a resposta da política econômica de manter o consumo aquecido com o propósito de contrarrestar a tendência recessiva, o que teve efeitos maiores nas regiões mais pobres.


Fonte: Banco Central do Brasil.

Se os componentes do primeiro tipo conferem uma vantagem relativa ao Nordeste durante o período duro que o Brasil deve enfrentar nos próximos semestres, porquanto o crescimento recente do emprego e da renda pode ainda atrair novos investimentos, a reversão dos estímulos ao consumo, já anunciada pela equipe econômica, deverá ter implicações especialmente negativas para a região.

Desaceleração e crise
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC) já refletiu nos últimos meses o impacto da crise sobre a economia da região (ver Gráfico 2). Ainda que o IBC-R referente ao Nordeste tenha crescido 3,5% nos doze meses encerrados em outubro, frente a 0,2% do IBC do país, a economia da região vem apresentando queda desde julho de 2014 quando se observa o IBC-R trimestral em relação ao trimestre imediatamente anterior, na série livre de efeitos sazonais.

Ou seja, o trimestre maio-julho apresentou nível de atividade inferior ao de fevereiro-abril, já descontadas as influências sazonais, e a série registrou resultados negativos em agosto e setembro e depois estacionou no trimestre encerrado em outubro. Com tal desempenho ruim na ponta, o índice de atividade da região Nordeste em doze meses acumulados vai começar a desacelerar acentuadamente entre o final de 2014 e os primeiros meses de 2015.

O propósito da política econômica de que o consumo das famílias passe a crescer em ritmo ligeiramente inferior ao PIB poderá ter impacto recessivo mais intenso sobre as economias das regiões mais pobres, amortecendo a tendência recente de redução das disparidades regionais de renda e de produto, em um processo inverso ao que ocorreu quando o aumento mais intenso do consumo favoreceu as regiões mais pobres.


 Fonte: Banco Central do Brasil. Obs: * Índice em doze meses em relação a igual período anterior;
 ** Índice trimestral na série livre de efeitos sazonais, em relação ao trimestre imediatamente anterior.



Publicado no Jornal da Cidade, em 11 de janeiro de 2015 

domingo, 4 de janeiro de 2015

Comércio exterior e crescimento



Ricardo Lacerda

O debate sobre as relações entre comércio exterior e crescimento econômico tem pautado parte importante das preocupações dos economistas desde os tempos mercantilistas no século XVIII. No pós segunda guerra mundial, a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), sob a liderança intelectual do argentino Raúl Prebisch, elaborou um corpo de ideias inovadoras, a partir dos ensinamentos do economista alemão Frederico List, para fundamentar uma proposta de industrialização para a região apoiada no argumento da indústria nascente, que justificava a proteção do mercado interno.

Os cepalinos nunca se opuseram ao fortalecimento do comércio exterior, pois entendiam que a sua expansão era fundamental para o crescimento econômico e destacavam seu papel decisivo na difusão do progresso tecnológico em direção aos países pobres. Argumentaram, todavia, que os frutos do progresso técnico se distribuíam desigualmente entre os países industrializados e os países periféricos produtores de matérias-primas, em desfavor desses últimos, o que justificaria um amplo esforço nacional em prol da industrialização.

O pensamento cepalino foi fortemente influenciado pelo pessimismo em relação ao comércio exterior que se seguiu aos 15 anos de evolução desfavorável das exportações latino-americanas, deprimidas entre o início da grande depressão e o final do conflito bélico mundial, o que limitava as possibilidades de crescimento em modelos de base exportadora.

Quando ao final dos anos cinquenta, Celso Furtado, o mais ilustre dos cepalinos brasileiros, vai propor uma estratégia ampla de desenvolvimento para o Nordeste, em que a industrialização era uma peça fundamental, faz questão de matizar que “aumentar as exportações de produtos primários é, seguramente, a forma mais ‘barata’ de uma economia crescer”. Todavia, “nem sempre essa linha de desenvolvimento está aberta, ou apresenta as dimensões requeridas”. Nessas circunstâncias, “o desenvolvimento só é factível mediante a diversificação da própria produção interna, ou seja, pela industrialização” [GTDN, 1958].

Globalização

As transformações tecnológicas, econômicas, comerciais e financeiras dos anos noventa abriram um novo período de otimismo em relação ao comércio exterior, no âmbito do processo de globalização, em que cadeias de produção integradas internacionalmente comandaram a expansão do comércio internacional. 

Prostradas pela crise de endividamento externo dos anos oitenta que as havia levado para um beco sem saída, as nações latino-americanas, com graus variados de resistência, submeteram-se aos desígnios da economia global. Recomendavam-se para os países da América Latina desregulamentação financeira e abertura comercial, como duas faces para a entrada massiva de capital externo e a integração ao comércio mundial, projeto que foi reformado, mas não revertido, na sequência da crise cambial dos países emergentes na segunda metade da década.

China

A emergência da China como a potência na virada para o novo século impulsionou a demanda mundial por alimentos e matérias-primas, articulando o continente africano e os países latino-americanos no intenso crescimento do comércio internacional.  Os termos de troca entre os preços dos produtos exportados e os dos produtos importados pela América Latina e Caribe que haviam caído 15,1%, entre 1984 e 1990, e que registraram nova queda, de 1,9%, sobre uma base já rebaixada entre 1990 e 2000, se elevaram em 23,1% entre 2000 e 2007, inaugurando um novo período de otimismo da região em relação ao comércio exterior.

O cenário favorável, todavia, começou a inverter a tendência depois da crise financeira de 2008 e muito particularmente nos últimos três anos, entre 2012 e 2014 (ver Gráfico 1). Não é fortuito que os países emergentes, inclusive os latino-americanos, que haviam se saído relativamente bem no primeiro momento da crise internacional, desaceleraram fortemente as taxas de crescimento e passaram a apresentar crescentes desequilíbrios externos e internos, desde então.


Fonte: FMI. WEO, Outubro de 2014.

Sustentação do crescimento

A opção brasileira pela preservação do crescimento impulsionado pela expansão da renda e do consumo, enquanto a economia mundial mergulhava em uma recessão de longa duração, não foi feita sem importantes custos, dentre os quais se sobressaem a penalização do setor industrial e a rápida deterioração de nossas relações comerciais com o exterior.

Refletindo o agravamento do cenário externo a partir de 2008, as exportações brasileiras, depois da forte retomada em 2010 e 2011, interromperam o crescimento e passaram a registrar tendência declinante nos últimos três anos. Nos doze meses acumulados em novembro, as exportações brasileiras declinaram 5,18% em relação a igual período anterior.

A manutenção do crescimento do poder de compra interno, todavia, em uma situação de câmbio ainda depreciado e de acirramento da competição no comércio mundial, propiciou que as importações se mantivessem em crescimento, mesmo que em ritmo moderado, mas suficiente para fazer desaparecer o saldo positivo no comércio exterior brasileiro. No intervalo de três anos, passamos de um saldo positivo de quase US$ 30 bilhões (ao final de 2011), para um resultado negativo, nos doze meses encerrados em novembro de 2014 (ver Gráfico 2).


Fonte: Secex- Mdic. Obs. O resultado de 2014 é o acumulado em 12 meses entre dezembro de 2013 e novembro de 2014.

Em uma situação de crise prolongada no cenário externo, o Brasil (e outros países da América Latina) não poderia mesmo contar com o comércio exterior como vetor de crescimento. Não resistiu, todavia, em recorrer ao crescimento das importações para complementar oferta interna.


Publicado no Jornal da Cidade, em 04 de janeiro de 2015

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Discurso de Posse da presidente Dilma Rousseff

Brasília, 1° de janeiro de 2015.
Senhoras e Senhores,
Volto a esta casa com a alma cheia de alegria, de responsabilidade e de esperança.
Sinto alegria por ter vencido desafios e honrado o nome da mulher brasileira. 
O nome de milhões de guerreiras anônimas que, voltam a ocupar, encarnadas na minha figura, o mais alto posto de nossa grande nação.
Encarno outra alma coletiva que amplia ainda mais a minha responsabilidade e a minha esperança. 
O projeto de nação que é detentor do mais profundo e duradouro apoio popular da nossa história democrática. 
Este projeto de nação triunfou e permanece, devido aos grandes resultados que conseguiu até agora, e porque o povo entendeu que este é um projeto coletivo de longo prazo.
Este projeto pertence ao povo brasileiro e, mais que nunca, é para o povo e com o povo que vamos governar.
A partir do extraordinário trabalho iniciado pelo governo do presidente Lula e continuado por nós, temos hoje a primeira geração de brasileiros que não vivenciou a tragédia da fome. 
Resgatamos 36 milhões da extrema pobreza, 22 milhões apenas em meu primeiro governo.
Nunca tantos brasileiros ascenderam às classes médias. 
Nunca tantos brasileiros conquistaram tantos empregos com carteira assinada.
Nunca o salário mínimo e os demais salários se valorizaram por tanto tempo e com tanto vigor. 
Nunca tantos brasileiros se tornaram donos de suas próprias casas.
Nunca tantos brasileiros tiveram acesso ao ensino técnico e à universidade.
Nunca o Brasil viveu um período tão longo sem crises institucionais.
Nunca as instituições foram tão fortalecidas e respeitadas, e nunca se apurou e puniu com tanta transparência  a corrupção.  
Em nossos governos, cumprimos o compromisso fundamental de oferecer, a uma população enorme de excluídos, os direitos básicos que devem ser assegurados a qualquer cidadão. 
O direito de trabalhar, de alimentar a família, de educar e acreditar em um futuro melhor para seus filhos.
Isso que era tanto para uma população que tinha tão pouco,  tornou-se pouco para uma população que conheceu, enfim, governos que a respeitam e que realmente se esforçam para protegê-la.
A população quis que ficássemos porque viu o resultado do nosso trabalho,  compreendeu as limitações que o tempo nos impôs e concluiu que poderemos fazer muito mais.  
O recado que o povo nos mandou não foi só de reconhecimento e confiança, foi também um recado de quem quer mais e melhor.
Por isso, a palavra mais repetida na campanha foi mudança, e o tema mais invocado foi reforma.
Por isso, eu repito hoje, nesta solenidade de posse: fui reconduzida à Presidência para continuar as grandes mudanças do país e não trairei este chamado.
O povo brasileiro quer mudanças, quer avançar, quer mais.
É isso que também quero! 
É isso que vou fazer, com destemor mas com humildade, contando com o apoio desta Casa e com a força do povo.
Este ato de posse é, antes de tudo, uma cerimônia de reafirmação e ampliação de compromissos. É a inauguração de uma nova etapa neste processo histórico de mudanças sociais do Brasil.
Faço questão, também, de renovar, nesta Casa, meu compromisso de defesa permanente e obstinada da Constituição, das leis, das liberdades individuais, dos direitos democráticos, da mais ampla liberdade de expressão e dos direitos humanos.
Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
Em meu primeiro mandato, o Brasil alcançou um feito histórico: superamos a extrema pobreza.
Mas como eu disse  - e sei que é expectativa de todos os brasileiros - o fim da miséria é só um começo. 
Agora, é a hora de prosseguir com o nosso projeto, de perseguir novos objetivos. É hora de melhorar o que está bom, corrigir o que é preciso e fazer o que o povo espera de nós.
Sim, neste momento, ao invés de simplesmente garantir o mínimo necessário, temos que lutar para oferecer o máximo possível. Vamos precisar, governo e sociedade de paciência, coragem, persistência, equilíbrio e humildade para vencer os obstáculos. E venceremos
O povo brasileiro quer democratizar, cada vez mais a renda, o conhecimento e o poder.
O povo brasileiro quer educação, saúde, e segurança de mais qualidade.
O povo brasileiro quer ainda mais transparência e mais combate a todos os tipos de crimes, especialmente a corrupção - e quer que o braço da justiça alcance a todos de forma igualitária. 
Eu não tenho medo de encarar estes desafios, até porque sei que não vou enfrentar esta luta sozinha. 
Sei que conto com o apoio dos senhores e das senhoras parlamentares, legítimos representantes do povo  neste Congresso Nacional.
Sei que conto com o apoio do meu querido vice-presidente, Michel Temer, parceiro de todas as horas.
Sei que conto com o esforço dos homens e mulheres do Judiciário. 
Sei que conto com o forte apoio da minha base aliada, de cada liderança partidária de nossa base e com os ministros e ministras que estarão, a partir de hoje, trabalhando ao meu lado pelo Brasil.
Sei que conto com o apoio de cada militante do meu partido, o PT, e da militância de cada partido da base aliada, representados aqui pelo mais destacado militante e  maior líder popular da nossa história, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Sei que conto com o apoio dos movimentos sociais e dos sindicatos; e sei o quanto estou disposta a mobilizar todo povo brasileiro neste esforço para uma nova arrancada do nosso querido Brasil.
Assim como provamos que é possível crescer e distribuir renda, vamos provar que se pode fazer ajustes na economia sem revogar direitos conquistados ou trair nossos compromissos sociais. 
Vamos provar que depois de fazermos políticas sociais que surpreenderam o mundo, é possível corrigir eventuais distorções e torná-las ainda melhores.
É inadiável, também, implantarmos práticas políticas mais modernas e éticas e por isso mesmo mais saudáveis.
É isso que torna urgente e necessária a reforma política.
Uma reforma profunda que é responsabilidade constitucional desta Casa, mas que  deve mobilizar  toda a sociedade na busca de novos métodos e novos caminhos para nossa vida democrática. Reforma política que estimule o povo brasileiro a retomar seu gosto e sua admiração pela política.
Queridas brasileiras e queridos brasileiros, 
Neste momento solene de posse é importante que eu detalhe algumas ações e atitudes concretas que vão nortear nosso segundo mandato.
As mudanças que o país espera para os próximos quatro anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia.
Isso, para mim, não é novidade.
Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade econômica, a centralidade do controle da inflação, o imperativo da disciplina fiscal e a necessidade de conquistar e merecer a confiança dos trabalhadores e dos empresários.
Mesmo em meio a um ambiente internacional de extrema instabilidade e incerteza econômica, o respeito a esses fundamentos econômicos nos permitiu colher resultados positivos.
Em todos os anos do meu primeiro mandato, a inflação permaneceu abaixo do teto da meta e assim vai continuar.
Na economia, temos com o quê nos preocupar, mas também temos o que comemorar.
O Brasil é hoje a 7ª economia do mundo, o 2º maior produtor e exportador agrícola, o 3º maior exportador de minérios, o 5º país que mais atrai investimentos estrangeiros, o 7º em acúmulo de reservas cambiais e o 3º maior usuário de internet.
Além disso, a dívida líquida do setor público é hoje menor do que no início do meu mandato.
As reservas internacionais estão em patamar histórico, na casa dos 370 bilhões de dólares.
Os investimentos estrangeiros diretos atingiram, nos últimos quatro anos, volumes recordes.
Mais importante: a taxa de desemprego está nos menores patamares já vivenciados na história de nosso país.
Geramos 5 milhões e 800 mil empregos formais em um período em que o mundo submergia em desemprego.
Porém queremos avançar ainda mais e precisamos fazer  mais e melhor!
Por isso, no novo mandato vamos criar, por meio de ação firme e sóbria na economia, um ambiente ainda mais favorável aos negócios, à atividade produtiva, ao investimento, à inovação, à competitividade e ao crescimento sustentável. Combateremos sem tréguas a burocracia.
Tudo isso voltado para o que é mais importante e mais prioritário: a manutenção do emprego e a valorização do salário, muito especialmente, a política de valorização do salário mínimo que continuaremos assegurando.
Mais que ninguém sei que o Brasil precisa voltar a crescer.
Os primeiros passos desta caminhada passam por um ajuste nas contas públicas, um aumento na poupança interna, a ampliação do investimento e a elevação da produtividade da economia.
Faremos isso com o menor sacrifício possível para a população, em especial para os mais necessitados.
Reafirmo meu profundo compromisso com a manutenção de todos os direitos trabalhistas e previdenciários.
Temos consciência que a ampliação e a sustentabilidade das políticas sociais exige equidade e  correção permanente de distorções e eventuais excessos. 
Vamos mais uma vez derrotar a falsa tese que afirma existir um conflito entre a estabilidade econômica e o investimento social e em infraestrutura.
Ao falar dos desafios da nossa economia, faço questão de deixar uma palavra aos milhões de micro e pequenos empreendedores do Brasil.
Em meu primeiro mandato, aprimoramos e universalizamos o Simples e ampliamos a oferta de crédito para os pequenos empreendedores.
Quero, neste novo mandato, avançar ainda mais. Pretendo encaminhar ao Congresso Nacional um projeto de lei criando um mecanismo de transição entre as categorias do Simples e os demais regimes tributários.
Vamos acabar com o abismo tributário que faz os pequenos negócios terem medo de crescer. Porque se o pequeno negócio não cresce, o país também não cresce.
Nos dedicaremos, ainda, a ampliar a competitividade do nosso país e das nossas empresas.
Daremos prioridade ao desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da inovação, estimulando e fortalecendo as parcerias entre o setor produtivo e nossos centros de pesquisa e universidades.
Um Brasil mais competitivo está nascendo também, a partir dos maciços investimentos em infraestrutura, energia e logística. 
Desde 2007, foram duas edições do Programa de Aceleração do Crescimento - o PAC-1 e o PAC-2 - que totalizaram cerca de 1 trilhão e 600 bilhões de reais em investimentos em  milhares de  kms de rodovias, de ferrovias; em obras nos portos, terminais hidroviários e em  aeroportos. Na expansão da geração e da rede de transmissão de energia. Em obras de saneamento e ligações de energia do Luz para Todos.
Com o Programa de Investimentos em Logística, demos um passo adiante, construindo parcerias com o setor privado, implementando um novo modelo de concessões que acelerou a expansão e permitiu um salto de qualidade de nossa logística. 
Asseguramos a concessão de  aeroportos e de milhares de km de rodovias e a autorização para dezenas de novos terminais portuários de uso privado.
Agora, vamos lançar o PAC 3 e o Programa de Investimento em Logística 2. Assim, a partir de 2015 iniciaremos a implantação de uma nova carteira de investimento em logística, energia, infraestrutura social e urbana, combinando investimento públicos e parcerias privadas. 
Vamos o aprimorar os  modelos de regulação, o mercado privado de crédito de longo prazo, as garantias para financiamento de projetos de grande vulto.
Reafirmo ainda meu compromisso de apoiar Estados e municípios na tão desejada expansão da infraestrutura de transporte coletivo em nossas cidades. 
 Está em andamento uma carteira de 143 bilhões de reais em obras de mobilidade urbana por todo o Brasil.
Assinalo que, neste novo mandato, daremos especial atenção à infraestrutura que vai nos conduzir ao Brasil do futuro: a rede de internet em banda larga. 
Em 2014, em um esforço conjunto com este Congresso Nacional, demos ao Brasil uma das legislações mais modernas do mundo na área da internet, o Marco Civil da Internet
 Reitero aqui meu compromisso de, nos próximos quatro anos, promover a universalização do acesso a um serviço de internet em banda larga barato, rápido e seguro.
Quero reafirmar o compromisso de continuar reduzindo os desequilíbrios regionais, impulsionando políticas transversais e projetos estruturantes, especialmente no Nordeste e na região Amazônica. Foi decisivo mitigar o impacto desta prolongada seca no semi-árido nordestino, mas mais importante será a conclusão da nova e transformadora infraestrutura de recursos hídricos perenizando 1.000 km de rios, combinada com o importante investimento social em mais de um milhão de cisternas. 
Senhoras e Senhores
Gostaria de anunciar agora o novo lema do meu governo.
Ele é simples, direto e mobilizador.
Reflete com clareza qual será a nossa grande prioridade e sinaliza para qual setor deve convergir o esforço de todas as áreas de governo.
Nosso lema será : BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA! 
Trata-se de lema com duplo significado. Ao bradarmos "BRASIL, PÁTRIA EDUCADORA" estamos dizendo que a educação será a prioridade das prioridades, mas também que devemos buscar, em todas as ações do governo, um sentido formador, uma prática cidadã, um compromisso de ética e  sentimento republicano.
Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero.
Democratizar o conhecimento significa universalizar o acesso a um ensino de qualidade em todos os níveis – da creche à pós-graduação; para todos os segmentos da população – dos mais marginalizados, os negros, as mulheres e todos os brasileiros.
Ao longo deste novo mandato, a educação começará a receber volumes mais expressivos de recursos oriundos dos royalties do petróleo e do fundo social do pré-sal. 
Assim, à nossa determinação política se somarão mais recursos, mais investimentos.
 Vamos continuar expandindo o acesso às creches e pré-escolas para todos, garantindo o cumprimento da meta de universalizar, até 2016, o acesso de todas as crianças de 4 e 5 anos à pré-escola.
Daremos sequência à implantação da alfabetização na idade certa e da educação em tempo integral.
Ênfase especial daremos ao ensino médio, buscando em parceria com os Estados efetivar mudanças curriculares e o aprimoramento da formação dos professores. 
O Pronatec oferecerá, até 2018, 12 milhões de vagas para que nossos jovens, trabalhadores e trabalhadoras tenham mais oportunidades de conquistar melhores empregos e possam contribuir ainda mais para o aumento da competitividade da economia brasileira.
Darei especial atenção ao Pronatec Jovem Aprendiz, que permitirá às micro e pequenas empresas contratarem um jovem para atuar em seu estabelecimento. 
Vamos continuar apoiando nossas universidades e estimulando sua aproximação com os setores mais dinâmicos da nossa economia. 
Ciência Sem Fronteirasvai continuar garantindo bolsas de estudo nas melhores universidades do mundo para 100 mil jovens brasileiros. 
Queridas brasileiras e queridos brasileiros.
O Brasil vai continuar como o país lider, no mundo, em políticas sociais transformadoras.
Aos beneficiários do Bolsa Família continuaremos assegurando o acesso às políticas sociais e a  novas oportunidades de renda. Destaque será dado à formação profissional dos beneficiários adultos e à educação das crianças e dos jovens.
 Com a terceira fase do Minha Casa Minha Vida contrataremos mais 3 milhões de novas moradias, que se somam às 2 milhões de casas entregues até 2014 e às 1 milhão e 750 mil moradias em construção, que serão entregues neste segundo mandato. 
Na saúde, reafirmo nosso compromisso de fortalecer o SUS.  Sem dúvida, a marca mais importante de meu primeiro mandato foi a implantação do Mais Médicos, levando atendimento básico de saúde a 50 milhões de brasileiros nas áreas mais vulneráveis do nosso país. 
Persistiremos ampliando as vagas em graduação e em residência médica, para que cada vez mais jovens brasileiros possam se tornar médicos e assegurar atendimento ao povo brasileiro. 
Neste segundo mandato, vou implantar o Mais Especialidades para garantir o acesso resolutivo e em tempo oportuno aos pacientes que necessitem de consulta com especialista, exames e os respectivos procedimentos.
Assumo com todas as brasileiras e brasileiros o compromisso de redobrar nossos esforços para mudar o quadro da segurança pública em nosso País. 
Instalaremos centros de comando e controle em todas as capitais, ampliando a capacidade de ação de nossas polícias e a integração dos órgãos de inteligência e das forças de segurança pública. 
Reforçaremos as ações e a nossa presença nas fronteiras para o combate ao tráfico de drogas e de armas com o Programa Estratégico de Fronteiras.
Vou propor ao Congresso Nacional alterar a Constituição Federal, para tratar a segurança pública como atividade comum de todos os entes federados, permitindo à União estabelecer diretrizes e normas gerais válidas para todo o território nacional, para induzir políticas uniformes no país e disseminar a adoção de boas práticas na área policial.
Senhoras e senhores,
Investimos muito e em todo o País sem abdicar, um só momento, de nosso compromisso com a sustentabilidade ambiental do nosso desenvolvimento.
Um dado explicita este compromisso: alcançamos, nos quatro anos de meu primeiro mandato, as quatro menores taxas de desmatamento da Amazônia.
Nos últimos 4 anos, o Congresso Nacional aprovou um novo Código Florestal e implementamos o Cadastro Ambiental Rural - CAR. Vamos aprofundar a modernização de nossa legislação ambiental e, já a partir deste ano, nos engajaremos fortemente nas negociações climáticas internacionais para que nossos interesses sejam contemplados no processo de estabelecimento dos parâmetros globais de redução de emissões.
Nossa inserção soberana na política internacional continuará sendo marcada pela defesa da democracia, pelo princípio de não-intervenção e respeito à soberania das nações, pela solução negociada dos conflitos, pela defesa dos Direitos Humanos, pelo combate à pobreza e às desigualdades, pela preservação do meio ambiente e pelo multilateralismo. 
Insistiremos na luta pela reforma dos principais organismos multilaterais, cuja governança hoje não reflete a atual correlação de forças global.
Manteremos a prioridade à América do Sul, América Latina e Caribe, que se traduzirá no empenho em fortalecer o MERCOSUL, a UNASUL e a Comunidade dos Países da América Latina e Caribe (CELAC), sem discriminação de ordem ideológica. 
Da mesma forma será dada ênfase a nossas relações com a África, com os países asiáticos e com o mundo árabe. 
Com os BRICS, nossos parceiros estratégicos globais - China, Índia, Rússia e África do Sul – avançaremos no comércio, na parceria científica e tecnológica, nas ações diplomáticas e na implementação do Banco de desenvolvimento e na implementação do acordo contingente de reservas.
É de grande relevância aprimorarmos nosso relacionamento com os Estados Unidos, por sua importância econômica, política científica e tecnológica, sem falar no volume de nosso comércio bilateral. 
O mesmo é válido para nossas relações com a União Européia e com o Japão, com os quais temos laços fecundos.
Em 2016, os olhos do mundo estarão mais uma vez voltados para o Brasil, com a realização das Olimpíadas.
Temos certeza que mais vez, como na Copa, vamos mostrar a capacidade de organização dos brasileiros e, agora, numa das mais belas cidades do mundo o nosso Rio de Janeiro.
Brasileiros e Brasileiras,
Tudo que estamos dizendo, tudo que estamos propondo converge para um grande objetivo: ampliar e fortalecer a democracia, democratizando verdadeiramente o poder.
Democratizar o poder significa lutar pela reforma política, ouvir com atenção a sociedade e os movimentos sociais e buscar a opinião do povo para reforçar a legitimidade das ações do Executivo. 
Democratizar o poder significa combater energicamente a corrupção.  
A corrupção rouba o poder legítimo do povo. A corrupção ofende e humilha os trabalhadores, os empresários e os brasileiros honestos e de bem. 
A corrupção deve ser extirpada.
O Brasil sabe que jamais compactuei com qualquer ilícito ou malfeito. Meu governo foi o que mais apoiou o combate à corrupção, por meio da criação de leis mais severas, pela ação incisiva elivre de amarras dos órgãos de controle interno, pela autonomia da Polícia Federal como instituição de Estado, e pela independência sempre respeitada ao Ministério Público.
Os governos e a justiça estarão cumprindo os papéis que se espera deles se punirem exemplarmente os corruptos e corruptores.
A luta que vimos empreendendo contra a corrupção, e principalmente contra a impunidade de corruptos e corruptores, ganhará ainda mais força com um pacote de  medidas que me comprometo a submeter à apreciação do Congresso Nacional ainda no primeiro semestre. 
São cinco medidas: transformar em crime e punir com rigor os agentes públicos que enriquecem sem justificativa ou não demonstrem a origem dos seus ganhos; modificar a legislação eleitoral para transformar em crime a prática de caixa 2; criar uma nova espécie de ação judicial que permita o confisco dos bens adquiridos de forma ilícita ou sem comprovação; alterar a legislação para agilizar o julgamento de processos envolvendo o desvio de recursos públicos; e criar uma nova estrutura no Poder Judiciário que dê maior agilidade e eficiência às investigações e processos movidos contra aqueles que possuem foro privilegiado. 
Em sua essência, essas medidas têm o objetivo de garantir processos e julgamentos mais rápidos e punições mais duras, mas jamais poderão agredir o amplo direito de defesa e o contraditório. 
Estou propondo um grande pacto nacional contra a corrupção, que envolve todas as esferas de governo e todos os núcleos de poder, tanto no ambiente público como no ambiente privado.
Senhoras e Senhores,
Como fiz na minha diplomação, quero agora me referir a nossa Petrobrás, uma empresa com 86 mil empregados dedicados e honestos que teve, lamentavelmente, alguns servidores que não souberam honrá-la, sendo atingidos pelo combate à corrupção.
A Petrobrás já vinha passando  por um vigoroso processo de aprimoramento de gestão. A realidade atual só faz reforçar nossa determinação de implantar, na Petrobrás, a mais eficiente e rigorosa estrutura de governança e controle que uma empresa  já teve no Brasil.
A Petrobrás é capaz disso e muito mais. Ela se tornou a maior empresa do mundo em capacitação técnica para a prospecção em águas profundas. Daí resultou a maior descoberta de petróleo deste início de século – as jazidas do pré-sal, cuja exploração, que já é realidade, vai tornar o Brasil um dos maiores produtores do planeta.  
Temos muitos motivos para preservar e defender a Petrobrás de  predadores internos e de seus inimigos externos. 
Por isso, vamos apurar com rigor tudo de errado que foi feito e fortalecê-la cada vez mais. 
Vamos, principalmente, criar mecanismos que evitem que fatos como estes possam voltar a ocorrer.
O saudável empenho da justiça de investigar e punir deve também nos permitir reconhecer  que a Petrobrás é a empresa mais estratégica para o Brasil e a que mais contrata e investe no país.
Temos, assim, que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobrás, nem diminuir a sua importância para o presente e para o futuro.
 Não podemos permitir que a Petrobrás seja alvo de um  cerco especulativo dos interesses contrariados com a adoção do regime de partilha e da política de conteúdo local, que asseguraram ao nosso povo, o controle sobre nossas riquezas petrolíferas.
A Petrobrás é maior do que quaisquer crises e, por isso  tem capacidade  de superá-las e delas sair mais forte .
Queridos brasileiros e queridas brasileiras,
O Brasil não será sempre um país em desenvolvimento. 
Seu destino é ser um país desenvolvido e justo, e é este destino que estamos construindo. 
Uma nação em que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades: de estudar, trabalhar, viver em condições dignas  na cidade e no campo. 
Um país que respeita e preserva o meio ambiente e onde todas as pessoas possam ter os mesmos direitos: à liberdade de informação e de opinião, à cultura, ao consumo, à dignidade, à igualdade independentemente de raça, credo, gênero ou sexualidade.
Dedicarei obstinadamente todos os meus esforços para levar o Brasil a iniciar um novo ciclo histórico de mudanças, de oportunidades e de prosperidade, alicerçado no fortalecimento de uma política econômica estável, sólida, intolerante com a inflação, e que nos leve a retomar uma fase de crescimento robusto e sustentável, com mais qualidade nos serviços públicos.
Assumo aqui um compromisso com o Brasil que produz e com o Brasil que trabalha.
Reafirmo também o meu respeito e a minha confiança no Poder Judiciário, no Congresso Nacional, nos partidos e nos representantes do povo brasileiro. 
Reafirmo minha fé na política que transforma para melhor a vida do povo.
Peço aos senhores e as senhoras parlamentares que juntemos as mãos em favor do Brasil, porque a maioria das mudanças que o povo exige tem que nascer aqui, na grande casa do povo.
Meus amigos e minhas amigas,
Já estive algumas vezes perto da morte e destas situações saí uma pessoa melhor e mais forte. 
Sou ex-opositora de um regime de força que provocou em mim dor e me deixou cicatrizes, mas que jamais destruiu em mim o sonho de viver num país democrático e a vontade de lutar e construir este sonho.
Por isso, me emociono ao dizer que sou uma sobrevivente. 
Se me permitem, quero dizer mais: pertenço a uma geração vencedora. 
Duas características que me aproximam do povo brasileiro - ele também, um sobrevivente e um vitorioso, que jamais abdica de seus sonhos.
Deus colocou em meu peito um coração cheio de amor pelas pessoas e por minha pátria.
Mas antes de tudo um coração valente que não tem medo da luta.
Um coração, sim, que dispara no peito com a energia do amor, do sonho e da esperança.
Um coração tão cheio de fé no Brasil que não tem medo de proclamar: vamos vencer todas dificuldades, porque temos a chave para isso. 
Esta chave pode ser resumida num verso com sabor de oração:
"O impossível se faz já; só os milagres ficam para depois".
Muito Obrigada.
Viva o Brasil! Viva o Povo Brasileiro!