Praça São Francisco, São Cristovão- SE

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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 27 de abril de 2015

As fontes do crescimento

Ricardo Lacerda

Em período de baixo crescimento, acompanhado de cortes de gasto público, dissemina-se uma atmosfera de ansiedade associada à incerteza em relação às perspectivas da economia brasileira. A recessão duradoura que acomete as economias avançadas findou contaminando as perspectivas de crescimento das economias emergentes por meio de diversos canais de transmissão e é natural que as pessoas questionem quais seriam os vetores que poderiam impulsionar à recuperação da nossa economia.

Cenário externo

Algumas considerações são necessárias para dimensionar o tamanho de nossas dificuldades e os horizontes de nossas perspectivas. No cenário externo, apesar da aceleração do crescimento norte-americano, o quadro ainda é de baixo dinamismo nas principais economias. Mesmo que as agências multilaterais venham reiterando que o pior da crise da zona do euro teria passado, a verdade é que não há segurança sobre tais vaticínios que já se revelaram equivocados em anos anteriores.

Os relatórios de tais agência apontam que países e bancos europeus teriam reduzido a vulnerabilidade relativa a dívidas problemáticas, mas não há até o momento sinais de crescimento robusto da economia do euro. Assim como não há, no curto prazo, muito o que se esperar em termos de reaceleração do crescimento chinês ou de recuperação no Japão, cuja economia encontra-se adormecida há muitos anos.

Em síntese, se nada atrapalhar as economias avançadas deverão acelerar moderadamente nos próximos anos, lideradas pelo crescimento da economia norte-americana e apoiadas pela adoção de política monetária expansiva na zona do euro. Na projeção do FMI, o potencial de crescimento das economias avançadas aponta para taxas médias anuais de crescimento de 1,6% entre 2015 e 2018.

Tal cenário externo restringe as possibilidades de que a retomada do crescimento brasileiro possa ser impulsionada por um drive de exportações movido pela melhoria dos termos de trocas, mas isso não significa que o comércio externo não possa desempenhar papel importante na medida em que a depreciação recente do real impacte a competitividade da produção interna, tanto no mercado doméstico quanto no exterior.

Cenário interno

Não há obstáculos internos de monta que impeçam a economia do país de seguir em frente, após o equacionamento de algumas questões básicas. Os desajustes nas contas públicas estão sendo enfrentados e os desequilíbrios do balanço de pagamento não guardam proporção com o que já se enfrentou no passado. Enfim, há tempo para fazer os ajustes, desde que haja determinação para tal.

Alguns fatores internos deverão delimitar as possibilidades de retomada do crescimento. Entre os mais importantes, julgo que devem ser elencados os efeitos do ajuste fiscal sobre a demanda corrente e os ganhos de credibilidade que podem proporcionar e o desenlace da crise da Petrobras e a continuidade da expansão dos investimentos na cadeia de petróleo e gás.

Duas outras questões também me parecem decisivas para alavancar os investimentos e deixar para trás o impasse que imobiliza o país. A primeira é a retomada dos leilões de concessão de infraestrutura que poderá viabilizar a expansão de investimentos importantes, tanto em termos de geração de emprego e renda quanto pelos efeitos que geram pela abertura de fronteiras de crescimento e pela elevação da produtividade.

O segundo fator diz respeito ao encaminhamento satisfatório da situação energética, em comparação a situação atual de estrangulamento de oferta e de preços proibitivos do suprimento emergencial. A normalização do nível dos reservatórios e a ampliação da oferta de energia a custos mais baixos podem conferir ganhos extraordinários ao país que, somados à queda dos preços do petróleo, equivaleriam a um deslocamento para baixo na curva de custos de produção, além de liberar renda das famílias.

Os ciclos expansivos

A deflagração de um ciclo expansivo depende de alargar os fatores de oferta, quando não há ociosidade dos recursos produtivos, que restringem fisicamente o potencial de crescimento. Depende igualmente de um ou mais impulsos pelo lado do dispêndio que arrastem e multipliquem a demanda efetiva na economia. Frente ao nível de endividamento das famílias e da restrição fiscal é difícil imaginar uma expansão autônoma do consumo.

Na ausência de ociosidade de recursos, ou na vigência de restrições fiscais e no balanço de pagamento, que é o nosso caso, os investimentos privados e públicos deverão liderar a expansão do gasto, concorrendo simultaneamente para superar os limitantes físicos do lado da oferta e injetar poder de compra na economia, ao tempo que estimulam a expansão do dispêndio corrente das famílias e do governo. Tal como em um modelo autoalimentado do tipo acelerador-multiplicador.

Para finalizar, vale a pena indagar sobre os fatores que mantêm as economias das regiões Norte e Nordeste crescendo a ritmos próximos a 3% enquanto as demais regiões se encontram em estagnação já há alguns trimestres. O Gráfico apresenta as trajetórias das taxas de crescimento do Indice de Atividade do Banco Central (IBC) para o Brasil e para o Nordeste no acumulado de doze meses e as taxas de crescimento trimestral em relação a iguais períodos do ano anterior.


Fonte: BCB

Nos doze meses encerrados em fevereiro a economia do Nordeste cresceu 3,6%. Na série trimestral, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, percebe-se que a economia vem desacelerando desde dezembro do ano passado. Ainda assim no trimestre encerrado em fevereiro de 2015  o IBC-R NE se situa 3,1% acima de fevereiro de 2014. Nas duas séries, o IBC-BR apresenta resultados negativos em fevereiro de 2015.

A resposta mais adequada, provavelmente, é a de que tais regiões ainda se beneficiam do impulso anterior de expansão da renda interna que alimentou a realização de investimentos em busca do atendimento do poder de compra aumentado e que não há segurança que manterão taxas de crescimento tão robustas por muito tempo. Ainda assim, a manutenção de tais taxas de crescimento em um cenário interno adverso serve para ilustrar as possibilidades de um novo ciclo expansivo, após o período de ajuste.

Publicado no Jornal da Cidade,  em 26/04/2015
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segunda-feira, 20 de abril de 2015

O FMI e o potencial de crescimento da economia mundial

Ricardo Lacerda

As recorrentes revisões para baixo das projeções que elabora sobre crescimento da economia mundial instigou o Fundo Monetário Internacional a investigar as mudanças recentes no potencial de crescimento de longo prazo entre as economias avançadas e entre as economias emergentes.
A figura apresentada, extraída da edição de abril do Panorama da Economia Mundial, ilustra como os PIBs das economias avançadas e dos mercados emergentes evoluíram a taxas bem inferiores às que foram projetadas em 2007 e 2008, antes da deflagração da crise financeira internacional.

Gráfico: Evolução dos Índices de crescimento das economias avançadas
e das economias emergentes comparados com as projeções pré-crise. (2007=100)


Fonte: Extraído de FMI, Panorama da Economia Mundial, abril de 2015.

Produto potencial

A edição de abril de 2015 do relatório Panorama da Economia Mundial dedica o capítulo 3 ao exame da queda do potencial de crescimento de longo prazo nos últimos anos. O capítulo examina as mudanças recentes que aconteceram na evolução dos fatores do lado da oferta (trabalho, capital e tecnologia) que teriam provocado deslocamento para baixo no potencial de crescimento, tanto entre as economias avançadas quanto entre os chamados mercados emergentes.

Segundo o relatório, o crescimento de longo prazo entre as economias avançadas teria espaço para acelerar moderadamente nos próximos anos, à medida que forem amortecidos os efeitos restritivos da crise financeira.

As economias emergentes, por sua vez, se situariam em outro estágio e amargariam redução adicional do produto potencial depois de terem conhecido um período relativamente longo de sua ampliação, entre o início dos anos 2000 e a deflagração da crise financeira no final de 2008.
O relatório aponta as razões substantivas para que o potencial de crescimento das economias avançadas não alcance as taxas do período pré-crise: fatores associados a questões demográficas como o envelhecimento da população e aspectos relacionados ao ritmo lento da recuperação do investimento.

No caso das economias emergentes, as taxas de expansão do PIB dos últimos anos viriam se posicionando acima do seu potencial, rebaixado após a crise de 2008, resultando em desequilíbrios fiscais e nas contas externas que minaram a confiança das empresas e famílias sobre as perspectivas de crescimento.

Para o relatório do FMI, três seriam as causas da revisão para baixo do potencial de crescimento de longo prazo das economias emergentes: o envelhecimento da população, a forte contração dos investimentos que acompanhou a crise internacional e a desaceleração dos incrementos de produtividade à medida que as economias emergentes reduziram a diferença tecnológica em relação às economias avançadas. Em outras palavras, a maior parte das economias emergentes estaria crescendo mais do que pode.

Para aqueles países que se encontrariam em tal situação caberia seguir duas linhas de ação: ajustar o crescimento efetivo ao potencial de crescimento, adotando políticas fiscais e monetárias restritivas, e fazer as reformas e investir em recursos humanos a fim de ampliar tal potencial, a receita básica das agências internacionais.

Avançadas e emergentes

O FMI projeta que as economias avançadas devem ampliar o potencial de crescimento médio anual de 1,3% entre 2008-2014 para as taxas ainda muito modestas, de 1,6% entre 2015 e 2020, assinalando que elas alcançaram 2,25% entre 2001 e 2007. A ampliação do potencial de crescimento entre as economias avançadas decorreria do incremento gradual da taxa de investimento, acelerando a ampliação do estoque de capital à medida que a crise ficasse para trás. Taxa média anual de 1,6%, definitivamente, não é uma perspectiva extraordinária.

Entre os países emergentes, o crescimento do produto potencial ter-se-ia retraído da média anual de 6,5%, entre 2008 e 2014, para 5,2%, entre 2015 e 2020.

Como dito acima, a estimativa da expansão do produto potencial, que funcionaria como um teto para o crescimento equilibrado, se baseia na velocidade do crescimento da força de trabalho, do estoque de capital e dos ganhos de produtividade proporcionados pela instalação de equipamentos mais modernos, por contar com mão-de-obra mais qualificada ou até mesmo por mudanças do ambiente econômico tornando-o mais favorável à expansão dos negócios e à inovação. Ao fim e ao cabo significa apenas que a economia somente pode crescer de forma equilibrada de acordo com a quantidade e a eficiência dos fatores de produção com que dispõe, uma simples igualdade contábil.

Quando as condições internas ou externas alterarem as possibilidades do crescimento do uso ou da disponibilidade dos fatores ou a eficiência ou rentabilidade deles novos cálculos deverão ser feitos.

Há limitações cruciais nas estimativas do produto potencial que fazem com que sejam desautorizadas seguidamente: mudanças institucionais, tecnológicas, regulatórias, comerciais, financeiras ou macroeconômicas inesperadas ou mal dimensionadas na economia mundial fazem picadinho das melhores projeções, como ocorreu após a deflagração da crise financeira internacional; em relação aos países emergentes, persiste uma limitação adicional; subestima-se o enorme potencial de crescimento que tem a incorporação de grandes contingentes de força de trabalho subaproveitada, assim como o da inclusão de tais pessoas no mercado de consumo.

Publicado no Jornal da Cidade, em 19/04/2015

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domingo, 12 de abril de 2015

O FMI e as expectativas diminuídas



Ricardo Lacerda

O Fundo Monetário Internacional publicou na semana passada relatório revendo o crescimento potencial das economias avançadas e das economias emergentes, mostrando, no caso das primeiras, que o declínio do potencial de crescimento remete ao início dos anos 2000, ainda que tenha se acentuado com a crise financeira mundial, enquanto entre as economias emergentes a queda do potencial do crescimento se deu depois da crise.

O relatório reconhece que os PIBs apresentaram desempenhos nos anos pós-crise muito abaixo do que esperava em 2008 e que as expectativas de médio prazo têm sido revisadas para baixo desde 2011 , tanto para as economias avançadas quanto para os mercados emergentes.

Não se sabe se o desvio recorrente deve ser atribuído a deficiências metodológicas ou ao desejo da instituição de procurar estimular o espírito animal dos empresários e passar o sentimento de que o pior da crise já passou, à maneira de um célebre ex-ministro da fazenda do Brasil.

Talvez o mais correto seja afirmar que a economia mundial se encontra em uma embrulhada difícil de desbaratar e as expectativas de uma retomada robusta de crescimento, depois de sete anos de anemia econômica, vão sendo postergadas ano após ano. O relatório pode ser encarado como o reconhecimento de tais dificuldades.

Avançadas e emergentes

Na atualização de janeiro do relatório Panorama da Economia Mundial, o FMI projetou leve aceleração do crescimento do PIB mundial, dos 3,3% obtidos nos últimos três anos, para 3,5%, em 2015, e 3,7%, em 2016. No relatório de outubro passado, as projeções para 2015 e 2016 eram mais altas, 3,8% e 4,0%, respectivamente. Não vai ser surpresa se nas próximas atualizações as projeções voltarem a ser revistas para taxas próximas às alcançadas no último triênio, ou quem sabe a instituição até subestimou as forças da recuperação desta vez.

O Panorama da Economia Mundial de janeiro informa que as revisões para baixo das projeções de crescimento para 2015 e 2016 se devem à piora, em relação ao relatório anterior, dos desempenhos esperados para a China, Rússia e para os países exportadores de petróleo. Entre as grandes economias, apenas a norte-americana teve a projeção revista para cima, o que equivale dizer que as expectativas de recuperação das economias da zona do euro e do Japão continuam a causar frustrações.

Para 2015, a publicação de janeiro projeta que as economias avançadas deverão manter a trajetória de suave aceleração passando de 1,8% para 2,4%, lideradas pela retomada da economia norte-americana (projeção de 3,6%), enquanto as economias emergentes registrariam mais um ano de desaceleração, de 4,4% para 4,3%.
  
Determinantes

Entre outubro e janeiro, informa o relatório, a economia mundial foi impactada por quatro movimentos significativos para a reformulação das perspectivas de curto e médio prazos: a queda muito acentuada nas cotações dos petróleo, de cerca de 55% desde setembro de 2014, e seus efeitos sobre os investimentos no setor, ainda que seja razoável prever uma recuperação parcial nos preços nos próximos meses; uma certa aceleração do crescimento da economia mundial no terceiro trimestre de 2014, mesmo que os desempenhos tenham sido muito divergentes entre as principais economias, acima do esperado nos EUA e abaixo no Japão e zona do euro; valorização do dólar frente às principais moedas, que se apresentou ainda mais acentuada em relação às moedas dos países emergentes exportadores de commodities; e, por último, a súbita elevação das taxas de juros e dos riscos nos títulos nos países emergentes.

Foi com tal cenário externo com se defrontou o Brasil nos últimos meses de rápida deterioração do quadro econômico e político do país. Uma sequência de desequilíbrios macroeconômicos foram se acumulando internamente enquanto as tentativas de manter mercado interno em expansão entregavam resultados cada vez menos consistentes.

Trajetórias

O Gráfico apresentado resume o desempenho do PIB mundial e de algumas das principais economias depois que eclodiu a crise financeira internacional no final de 2008 até o ano de 2014. São apresentadas médias trienais de crescimento a fim de captar o movimento tendencial, amortecendo as oscilações nervosas de cada ano.

Na média do triênio 2005-2007, o PIB mundial cresceu 5,4%. Em 2011, a média trienal havia caído para 3,2% e três anos depois, com as renovadas frustrações nas expectativas de retomada, a média trienal se limita a 3,3%.

A rápida desaceleração do crescimento do gigante chinês é inequívoca, como se pode perceber, da mesma forma que os atoleiros em que se meteram as economias japonesa e da zona do euro. A economia norte-americana apresenta uma retomada consistente, mas ainda modesta, depois de ter despencado nas primeiras etapas da crise.

O Gráfico também traz as trajetórias de algumas das maiores economias emergentes (Brasil, México e Rússia) com desempenhos não tão exuberantes quanto a China. O Brasil resiste relativamente bem aos impactos crise internacional até 2011-2012 e depois disso entra em um processo de forte desaceleração acompanhada pela deterioração dos indicadores macroeconômicos. Os desempenhos do México e da Rússia também não são dignos de júbilo.


Fonte: FMI. Database

Publicado no Jornal da Cidade, em 12/04/2015

terça-feira, 7 de abril de 2015

A balança comercial do 1º trimestre de 2015


Ricardo Lacerda

Um dos aspectos que mais impressiona nas dificuldades econômicas que o Brasil enfrenta é o ritmo intenso com que a balança comercial se deteriorou de 2012 em diante.  A que atribuir a deterioração tão acelerada da conta comercial: à piora do cenário externo que derrubou os preços de nossas principais commodities e afetou as importações de nossos principais destinos de produtos manufaturados ou à manutenção até pouco tempo do real em patamar muito apreciado, ou uma combinação dos dois fatores.

Depois de alcançar US$ 29,8 bilhões em 2011, o saldo entre as exportações e importações caiu para US 19,4 bilhões em 2012 e a partir daí iniciou uma trajetória de declínio acentuado que levou ao saldo de apenas US$ 2,3 bilhões em 2013. De novembro de 2014 em diante, em novo período de deterioração, o saldo comercial no acumulado de doze meses inverteu e passou a mostrar resultado negativo, fechando 2014 com déficit de US$ 4 bilhões (ver Gráfico 1). 

Há expectativa de que a forte depreciação do real, que foi acelerada no 1º trimestre de 2015, possa ter impactos benéficos, concorrendo, após certa defasagem de tempo, para elevar as exportações e comprimir as importações, abrindo um novo período de resultados positivos e crescentes. O 1º trimestre de 2015, todavia, ainda não captou esses efeitos, pelos menos não do lado das exportações.

Fonte: BCB

Exportações

A deterioração da balança comercial brasileira desde o final de 2011 se deveu principalmente ao desempenho ruim das exportações e não propriamente a uma explosão das importações. Em 2012, quando o saldo comercial recuou US$ 10,4 bilhões, as importações também apresentaram retração, de US$ 3,1 bilhões, mas a queda no valor das exportações foi muito mais acentuada, de US$ 13,5 bilhões (ver Gráfico 2).

O incremento das importações teve peso importante na piora do saldo comercial de  2013, quando explicou quase a totalidade de sua queda para o minguado superávit de US$ 2,3 bilhões.
Em 2014, a recessão e a depreciação do real começaram a impactar no valor das importações, que se retraíram em US$ 10,6 bilhões, mas as exportações tiveram um desempenho ainda pior, recuaram US$ 16,9 bilhões.

O ano de 2015 não começou bem para o comércio exterior brasileiro. No primeiro trimestre, o saldo comercial acumulou déficit de US$ 5,6 bilhões, um pouco inferior ao alcançado no 1º trimestre de 2014, de US$ 6,1 bilhões, mas isso não se deveu à melhoria de nossas exportações e sim porque as importações apresentaram recuo ainda mais expressivo, quedas de, respectivamente, US$ 12,9 bilhões e 13,7 bilhões.

Fonte: BCB

 Cenário externo versus câmbio

Há uma questão importante relativa a que fatores atribuir a deterioração recente do saldo comercial brasileiro, especificamente o desempenho ruim das exportações. Em três anos (2012 a 2014), as exportações brasileiras recuaram US$ 30,9 bilhões, enquanto as importações tiveram um pequeno incremento, de US$ 2,9 bilhões.

A quase totalidade do recuo das exportações no período parece estar associada à piora do cenário externo que afetou muito intensamente o desempenho comercial de países muito dependentes de exportações de commodities agrícolas e minerais, como o Brasil e a Rússia e mais recentemente atingiu os nossos principais destinos de produtos manufaturados. A apreciação do real potencializou de forma significativa a deterioração desse quadro já adverso, na medida em o país perdeu mercado para outros concorrentes.

O exame dos dados das exportações brasileiras por fator agregado tende a confirmar essa hipótese.  Dos referidos US$ 30,9 bilhões de queda nas exportações nos últimos três anos, cerca de US$ 13 bilhões foram de produtos básicos, equivalentes a um recuo de 10,5%, mesmo com o volume exportado tendo aumentado 7,4%. Cerca de US$ 7 bilhões foram perdas nas exportações de semimanufaturados e outros US$ 12 bilhões nas exportações de produtos manufaturados. O curioso é que 70% das perdas nas exportações dos produtos básicos no período se concentraram no ano de 2012 enquanto nas exportações manufaturados o ano de 2013 mais do compensou o recuo de 2012 e o desastre se concentrou integralmente em 2014, com queda de US$ 12,7 bilhões.

Publicado no Jornal da Cidade, em 05/04/2015