Ricardo Lacerda
O curso de Ciências
Econômicas da Universidade Federal de Sergipe não tem rival no que se refere à
sua contribuição para o desenvolvimento institucional, econômico e social de
Sergipe. A Faculdade de Ciências Econômicas, fundada em 1948, inaugurou o
ensino superior em nosso estado no ano de 1950, juntamente com o curso de
química. Em 1961, reuniu-se às também isoladas Escola de Química, Faculdade de
Direito, Faculdade Católica de Filosofia, Escola de Serviço Social e Faculdade
de Ciências Médicas para pleitear a criação da Universidade Federal de Sergipe,
o que veio a se concretizar em 15 de maio de 1968.
A construção da cidade
Universitária, no município de São Cristóvão, teve por liderança o professor
José Aloisio de Campos, reitor entre 1976-1980, que posteriormente veio dar
nome ao campus. O economista José Aloísio de Campos foi, desde os anos 1960, a
principal liderança intelectual de Sergipe nos debates travados em favor da
industrialização do estado e da exploração das nossas riquezas minerais. Presidiu
o histórico Conselho de Desenvolvimento Econômico de Sergipe (CONDESE), que
cumpriu papel decisivo na elaboração e execução das políticas voltadas para o
desenvolvimento das chamadas indústria de base de Sergipe nos anos 1970 e 1980.
Nesse momento da história, o curso de economia da Universidade Federal
de Sergipe foi peça determinante na formação de recursos humanos e no
amadurecimento das reflexões sobre as questões mais relevantes para o
desenvolvimento do estado de Sergipe, em suas diversas dimensões.
A fundação da UFS coincidiu com outras grandes transformações de nosso
estado: a exploração intensiva das riquezas minerais, com a produção de
petróleo e gás natural pela Petrobras e com a instalação de unidades de
produção de amônia e ureia e de produção de potássio, que viriam impactar
profundamente a estrutura ocupacional e de renda e acelerar o ritmo de
crescimento econômico; o intenso processo de urbanização e a modernização da
máquina administrativa pública; o florescimento de Aracaju como uma cidade
moderna, com oferta diversificada de bens e serviços. Em todas essas dimensões,
os economistas formados pela UFS tiveram participações decisivas.
Esse conjunto de transformações correspondia ao movimento intenso de
modernização do Brasil, com baixa inclusão social, cujas referências centrais
foram os períodos de intenso crescimento do Milagre Econômico e dos Planos
Nacionais de Desenvolvimento, nos anos sessenta e setenta, em um regime
político fechado.
Três professores honraram
o departamento de economia em suas passagens pela reitoria da Universidade
Federal de Sergipe. Além de José Aloísio de Campos, os professores Gilson
Cajueiro de Holanda (1980-1984) e Josué Modesto dos Passos Subrinho, esse
último por dois mandatos conferidos em eleições diretas pela comunidade
universitária (2004-2008 e
2008-2012). O professor Gilson Cajueiro de Holanda, com larga experiência
administrativa, foi fundamental para a conclusão dos investimentos no
recém inaugurado campus universitário, nesse momento de consolidação do ensino superior no Brasil e em Sergipe
O sistema universitário público somente voltou a apresentar um novo
ciclo de expansão de grande magnitude nos anos 2000, agora já em plena vigência
do regime democrático, quando a melhoria nas finanças e a decisão de ampliar a
rede federal viabilizaram os recursos necessários. A redemocratização inseriu
definitivamente na agenda do Brasil a preocupação com o progresso social da
população brasileira que não poderia mais ser aparteado da perspectiva do
desenvolvimento econômico.
Foi nessas circunstâncias que a gestão do Prof. Josué Modesto dos Passos
Subrinho (2004-2012) empreendeu um novo grande salto da Universidade
Federal de Sergipe, com o estabelecimento, pela primeira vez, de um
sistema robusto de pesquisa e de pós-graduação, e de uma grade de cursos de
graduação muito ampla, contemplando as mais importantes áreas de conhecimento e
de formação profissional, fundamentais para o presente e para o futuro de
Sergipe.
Ao longo desse período, o
departamento de economia também passou por importantes mudanças. Inicialmente contou
com um corpo docente composto por técnicos do governo do estado dedicados em
tempo parcial ao curso de economia e, como era típico da época, em boa parte
com formação em cursos de pós-graduação lato sensu promovidos pela Comissão
Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL). Com a expansão do sistema de
pós-graduação brasileiro, a partir do final dos anos setenta, o departamento de
economia passou a assumir uma feição propriamente acadêmica nos anos oitenta,
com a chegada de professores formados em cursos de pós-graduação stricto sensu.
É o início de um processo que mesclou a chegada de docentes de fora do estado
com a participação do(a)s melhores aluno(a)s egresso(a)s do curso local e que
buscaram qualificação em alguns dos mais renomados centros de pós-graduação de
economia do Brasil.
O enfoque do curso também
tem passado por importantes mudanças, em consonância com o que vem ocorrendo na
disciplina. Com o rápido avanço dos métodos quantitativos nas chamadas ciências
econômicas, potencializado pelos efeitos da radical transformação das
tecnologias de informação sobre os métodos estatísticos e econométricos, o curso
de economia da UFS mais recentemente buscou conjugar uma formação teórica
sólida e plural, abrangendo os principais paradigmas das chamadas ciências
econômicas, com o instrumental técnico propiciado pelas novas tecnologias. Faz
isso sem se afastar do seu compromisso fundamental, que vem norteando suas
ações desde sua longínqua criação em 1948, o compromisso com o desenvolvimento
econômico e social de Sergipe.
Publicado no Jornal da Cidade, em 21/03/2021
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