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domingo, 12 de abril de 2015

O FMI e as expectativas diminuídas



Ricardo Lacerda

O Fundo Monetário Internacional publicou na semana passada relatório revendo o crescimento potencial das economias avançadas e das economias emergentes, mostrando, no caso das primeiras, que o declínio do potencial de crescimento remete ao início dos anos 2000, ainda que tenha se acentuado com a crise financeira mundial, enquanto entre as economias emergentes a queda do potencial do crescimento se deu depois da crise.

O relatório reconhece que os PIBs apresentaram desempenhos nos anos pós-crise muito abaixo do que esperava em 2008 e que as expectativas de médio prazo têm sido revisadas para baixo desde 2011 , tanto para as economias avançadas quanto para os mercados emergentes.

Não se sabe se o desvio recorrente deve ser atribuído a deficiências metodológicas ou ao desejo da instituição de procurar estimular o espírito animal dos empresários e passar o sentimento de que o pior da crise já passou, à maneira de um célebre ex-ministro da fazenda do Brasil.

Talvez o mais correto seja afirmar que a economia mundial se encontra em uma embrulhada difícil de desbaratar e as expectativas de uma retomada robusta de crescimento, depois de sete anos de anemia econômica, vão sendo postergadas ano após ano. O relatório pode ser encarado como o reconhecimento de tais dificuldades.

Avançadas e emergentes

Na atualização de janeiro do relatório Panorama da Economia Mundial, o FMI projetou leve aceleração do crescimento do PIB mundial, dos 3,3% obtidos nos últimos três anos, para 3,5%, em 2015, e 3,7%, em 2016. No relatório de outubro passado, as projeções para 2015 e 2016 eram mais altas, 3,8% e 4,0%, respectivamente. Não vai ser surpresa se nas próximas atualizações as projeções voltarem a ser revistas para taxas próximas às alcançadas no último triênio, ou quem sabe a instituição até subestimou as forças da recuperação desta vez.

O Panorama da Economia Mundial de janeiro informa que as revisões para baixo das projeções de crescimento para 2015 e 2016 se devem à piora, em relação ao relatório anterior, dos desempenhos esperados para a China, Rússia e para os países exportadores de petróleo. Entre as grandes economias, apenas a norte-americana teve a projeção revista para cima, o que equivale dizer que as expectativas de recuperação das economias da zona do euro e do Japão continuam a causar frustrações.

Para 2015, a publicação de janeiro projeta que as economias avançadas deverão manter a trajetória de suave aceleração passando de 1,8% para 2,4%, lideradas pela retomada da economia norte-americana (projeção de 3,6%), enquanto as economias emergentes registrariam mais um ano de desaceleração, de 4,4% para 4,3%.
  
Determinantes

Entre outubro e janeiro, informa o relatório, a economia mundial foi impactada por quatro movimentos significativos para a reformulação das perspectivas de curto e médio prazos: a queda muito acentuada nas cotações dos petróleo, de cerca de 55% desde setembro de 2014, e seus efeitos sobre os investimentos no setor, ainda que seja razoável prever uma recuperação parcial nos preços nos próximos meses; uma certa aceleração do crescimento da economia mundial no terceiro trimestre de 2014, mesmo que os desempenhos tenham sido muito divergentes entre as principais economias, acima do esperado nos EUA e abaixo no Japão e zona do euro; valorização do dólar frente às principais moedas, que se apresentou ainda mais acentuada em relação às moedas dos países emergentes exportadores de commodities; e, por último, a súbita elevação das taxas de juros e dos riscos nos títulos nos países emergentes.

Foi com tal cenário externo com se defrontou o Brasil nos últimos meses de rápida deterioração do quadro econômico e político do país. Uma sequência de desequilíbrios macroeconômicos foram se acumulando internamente enquanto as tentativas de manter mercado interno em expansão entregavam resultados cada vez menos consistentes.

Trajetórias

O Gráfico apresentado resume o desempenho do PIB mundial e de algumas das principais economias depois que eclodiu a crise financeira internacional no final de 2008 até o ano de 2014. São apresentadas médias trienais de crescimento a fim de captar o movimento tendencial, amortecendo as oscilações nervosas de cada ano.

Na média do triênio 2005-2007, o PIB mundial cresceu 5,4%. Em 2011, a média trienal havia caído para 3,2% e três anos depois, com as renovadas frustrações nas expectativas de retomada, a média trienal se limita a 3,3%.

A rápida desaceleração do crescimento do gigante chinês é inequívoca, como se pode perceber, da mesma forma que os atoleiros em que se meteram as economias japonesa e da zona do euro. A economia norte-americana apresenta uma retomada consistente, mas ainda modesta, depois de ter despencado nas primeiras etapas da crise.

O Gráfico também traz as trajetórias de algumas das maiores economias emergentes (Brasil, México e Rússia) com desempenhos não tão exuberantes quanto a China. O Brasil resiste relativamente bem aos impactos crise internacional até 2011-2012 e depois disso entra em um processo de forte desaceleração acompanhada pela deterioração dos indicadores macroeconômicos. Os desempenhos do México e da Rússia também não são dignos de júbilo.


Fonte: FMI. Database

Publicado no Jornal da Cidade, em 12/04/2015

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