Ricardo Lacerda
O comportamento do emprego formal é um indicador que provê boas
pistas para compreender como se deu a expansão dos centros urbanos sergipanos ao
longo dos anos noventa, complementando o cenário apresentado no artigo da
semana passada que centrou a análise no crescimento demográfico.
Ainda que o emprego formal não capte a ocupação de mais da metade
da PEA, e muito mais do que isso nas cidades do interior, o seu acompanhamento propicia
que sejam identificadas as modificações mais significativas no setor mais
moderno da economia e sua distribuição entre os principais centros urbanos.
O Gráfico abaixo mostra a evolução do emprego formal nos
principais núcleos populacionais do Estado, igualando o estoque de emprego
formal de 1990 a 100 e assinalando os índices de crescimento nos anos de 1994,
1996 e 2000.
Em trajetória que se refletiu no crescimento populacional visto no
artigo anterior, o incremento do emprego formal foi acentuado em Nossa Senhora
do Socorro e São Cristóvão, Itabaianinha, Lagarto e Itabaiana. Em Aracaju e
Estância o emprego formal andou de lado e despencou em Propriá. A forte queda
do emprego formal em Canindé do São Francisco, mostrada no gráfico, foi reflexo
direto da conclusão das obras de implantação da Usina Hidroelétrica de Xingó.
Fonte: MTE-RAIS
Grande Aracaju
Alguns movimentos significativos foram registrados no período. Na
comparação entre 1990 e 2000, Aracaju perdeu 5.996 postos de trabalho formal,
equivalentes a uma retração de 4,4% no estoque do emprego formal da capital, o
que não é pouca coisa. Já em Nossa Senhora do Socorro, as vagas formais foram
ampliadas em 5.059, crescimento de 135,9%. O emprego formal do município de São
Cristóvão, na Grande Aracaju, dobrou, saltou de 3.032, em 1990, para 6.072, em
2000.
As perdas de emprego em Aracaju na década se concentraram
fortemente na indústria têxtil e no setor de couros, borracha e fumo. A
indústria têxtil em Aracaju fechou mais de quatro mil postos de trabalho. Na
atividade industrial, o aumento de emprego mais expressivo ficou restrito à fabricação
de alimentos e bebidas.
É interessante notar como a década liberal se traduziu na evolução
do emprego público na capital, com a forte retração da contratação direta e o aumento
na mesma proporção no emprego terceirizado. Entre 1990 e 2000, a administração
pública eliminou 3.605 vagas, enquanto o subsetor chamado de administração
técnica e profissional, no qual se inserem as atividades terceirizadas mais
típicas, teve incremento de 4.456 vagas. Finalmente, vale destacar a expansão muito
intensa do emprego nas atividades no setor de saúde e educação particulares.
O caso de Nossa Senhora de Socorro é particularmente interessante.
Mesmo passando a contar com o principal distrito industrial do estado, a maior
parcela dos novos empregos foi gerada pelo comércio, 3.776 nos postos formais, estimulado
pela demanda dos novos núcleos residenciais. A indústria de transformação criou
apenas 439 novos empregos no município, concentrados fortemente na produção de
minerais não metálicos (fábrica de cimento), 396.
Interior
No interior, Canindé do São Francisco e Propriá viram o emprego
formal despencar, a primeira em função da conclusão das obras de implantação da
Usina Hidreletrica de Xingó. O emprego
na construção civil no município, que havia atingido 6.054 em 1993 despencou
para apenas 99 no ano de 2000.
Em Propriá, a retração do emprego formal foi menos acentuada do
que em Canindé do São Francisco, mas mesmo assim espelhou uma situação muito
mais preocupante. Entre 1990 e 2000, o município perdeu 462 postos de trabalho,
equivalentes a 28,3% do que havia no início da década. As perdas se
distribuiram entre a construção civil, setor de transporte, alojamento e
comunicações, entre outros.
O município de Estância foi um dos mais sacrificados, com a perda
de quase mil empregos industriais, em função da crise têxtil e do setor de
alimentos, entre 1990 e 1997. A partir desse ano, o município recupera parte
dos empregos perdidos na indústria de transformação, com a implantação da
cervejaria.
De outra parte, o emprego formal apresentou
crescimento notável em Lagarto, Itabaiana e Itabaiaininha. E também foram muito expressivos, por
diferentes motivos, os incrementos do emprego formal em Itaporanga D´ajuda,
Pacatuba, Japaratuba, Areia Branca, Tobias Barreto e Capela.
O Quadro apresentado seleciona informações sobre
o emprego gerado no setor privado (emprego total- emprego na administração
pública) nos doze municípios mais expressivos nesse quesito ao longo dos anos
noventa, destacando na última coluna as atividades com maior peso na criação do
emprego no período.
Quadro: Geração de Emprego Formal entre 1990 e
2000, excluídos os empregos no setor
público
|
|||
Município
|
Novos Empregos
|
Taxa de Crescimento
(%)
|
Setor (es) que mais
criaram emprego
|
N. S. Socorro
|
4.658
|
143%
|
Comércio; Min. n Metálicos; Transporte e Aloj e comunicação.
|
São
Cristóvão
|
2.914
|
128%
|
Aloj e comunicação; Adm. Técnica; Construção;
Comércio.
|
Lagarto
|
1.742
|
95%
|
Comércio; Ind. de Alimentos, Quím. e de Couros, Saúde Educ.
|
Itabaiana
|
1.302
|
64%
|
Comércio; Ind Min n. Metalicos e Alimentos e Saúde
e Educ.
|
Itabaianinha
|
1.221
|
335%
|
Indústria Têxtil e de Minerais n metálicos
|
Pacatuba
|
1.118
|
288%
|
Usina de álcool e açúcar
|
Itaporanga
|
943
|
129%
|
Ind. de Calçados e de Alimentos; Comércio
|
Japaratuba
|
611
|
754%
|
Transporte e comunicação
|
Areia
Branca
|
568
|
536%
|
Cana-de-açúcar; Construção
|
T.
Barreto
|
565
|
113%
|
Indústria de Confecção; Comércio
|
Estância
|
428
|
10%
|
Saúde e Ensino; Comércio; Ind. de Bebida e Metalúrgica
|
Capela
|
404
|
125%
|
Cana-de-Açúcar e ind. de Alimentos
|
Fonte: MTE-RAIS
Publicado no Jornal da Cidade, em 18 de maio de 2014
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