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segunda-feira, 5 de maio de 2014

A economia de serviços de Sergipe nos anos noventa



Ricardo Lacerda


A década de noventa ficou marcada pela intensa diversificação e sofisticação das atividades de comércio e serviços no Brasil. Foram diversos os canais pelos quais a abertura comercial, abrupta e acompanhada por forte valorização cambial, e a desregulamentação da atividade econômica impulsionaram o crescimento do setor terciário, enquanto as atividades industriais perdiam espaço na geração de riqueza e ocupação.

Em primeiro lugar, a liberalização das importações abriu as portas do paraíso do consumo, propiciando o acesso a bens produzidos em qualquer lugar do planeta. O consumo de bens importados foi potencializado pelo subsídio implícito na valorização artificial de nossa moeda após a implantação do Plano Real em 1994. O brasileiro médio passou a adquirir a uma diversidade de bens inédita, totalmente impensável de ser imaginada dez anos antes.

De forma acelerada, trocou-se produção interna por consumo de importados, o que estimulou a expansão do comércio interno, mas penalizou fortemente a atividade industrial. Na prática, a ampliação do déficit na conta de transações correntes resultou da troca de produção por consumo, troca essa cujo ônus será cobrado nos últimos anos da década.

Em segundo lugar, a abertura comercial impulsionou a desverticalização da atividade industrial e a expansão da terciarização da força de trabalho. A desverticalização da atividade industrial vai fazer com que um contingente expressivo de trabalhadores, até então contratado diretamente pelas empresas do setor, seja deslocado, com a multiplicação de prestadores de serviços, tanto em atividades subsidiárias, a exemplo da prestação de serviços de informática, consultorias diversas, marketing e manutenção, como em atividades de vigilância e limpeza.

A emergência das tecnologias da informação e da comunicação concorreu para acelerar o redesenho das cadeias produtivas, além de propiciar o crescimento de uma nova atividade especializada na prestação desses serviços a empresas de praticamente todos os setores de atividade. Não custa lembrar que os anos noventa marcaram o surgimento e a primeira etapa de expansão da rede mundial de computadores e também o intenso crescimento da telefonia móvel.

Em terceiro lugar, o encolhimento das oportunidades de emprego nas atividades industriais e a falta de perspectivas para milhões de trabalhadores levaram à multiplicação de ocupações informais no pequeno comércio e na prestação de serviços, como estratégia de sobrevivência das famílias. Há mesmo o ressurgimento das atividades artesanais, como resultado da falta de oportunidades de empregos formais.

Também muito significativa foi a ampliação do peso da administração pública no PIB, em decorrência da ampliação ao longo da década das políticas sociais compromissadas na constituição de 1988.

Participação no valor adicionado

Ao longo dos anos noventa, as atividade de serviços ampliaram fortemente sua participação na riqueza gerada na economia sergipana. Na média da década, o setor de serviços, incluindo comércio e governo, passou a responder por mais da metade do Valor Adicionado Bruto (VAB).

Na comparação entre 1990 e 2000, o setor de serviços ganhou 10,2 pontos de participação, enquanto as atividades agropecuárias recuavam seu peso em 3,1 pp e o setor industrial 7,1% (Ver Tabela).



Tabela. Sergipe. Participação das Atividades de Serviços no Valor Adicionado Bruto a Preço Básico 1990- 2000 (%)
Ítem
1990
2000
Diferença
Total
100
100
Setor Agropecuário
10,7
7,6
-3,1
Setor Secundário
44,4
37,3
-7,1
Setor de Serviços 
44,9
55,1
10,2
Administração pública e seguridade social
19,1
25,6
6,5
Atividades imobiliárias, aluguéis e serviços às empresas
3,8
8,4
4,7
Comércio e reparação de veículos
9,1
7,3
-1,8
Intermediação financeira
3,1
3,8
0,7
Saúde e educação mercantis
2,1
3,0
0,9
Transportes e armazenagem
3,5
2,5
-1,0
Comunicações
0,6
2,1
1,5
Alojamento e alimentação
2,5
1,1
-1,4
Outros serviços
1,3
1,5
0,2
Fonte: IBGE- Contas regionais. Ano base 1985


Nos serviços, duas atividades se destacaram de forma muito intensa, o setor de administração pública (incluindo previdência) e o setor de atividades imobiliárias, aluguéis e serviços às empresas por conta do crescimento dessa última atividade de prestação de serviços às empresas, que contabiliza os serviços prestados pela mão-de-obra terceirizada. O setor público ampliou de 19,1% para 25,6% o peso na riqueza gerada e o setor de serviços às empresas mais do que dobrou a participação, passando de 3,8% para 8,4%.

É interessante observar também a evolução de algumas atividades de menor peso na geração de riqueza mas que apresentaram desempenho bem superior à média no período, aumentando a participação. São os casos das atividades financeiras, de saúde e educação particulares e do setor de comunicações.

De fato, ocorreu na década uma forte ampliação dos planos de saúde, assim como do ensino superior privado. O setor de comunicações, impulsionado pela expansão da telefonia móvel e dos serviços de informática e da internet, mais do que triplicaram seu peso no Valor Adicionado Bruto.

  
Publicado no Jornal da Cidade, em 04 de maio de 2014

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