Ricardo Lacerda
Depois de registrar a redução 1.542.371 empregos celetistas em 2015, a economia brasileira voltou a desempregar em
2016; mais 1.321.994 empregos formais foram eliminados, totalizando
2,86 milhões de empregos a menos nos dois anos de recessão profunda.
Em 2016, as regiões Norte, Sudeste e Nordeste apresentaram as maiores
taxas de retração no emprego celetista, respectivamente, 4,36%, 3,78% e 3,63%,
enquanto as regiões Sul e Centro-Oeste registraram quedas abaixo da média do
país, 2,03% e 2,12%. A média nacional foi de queda de 3,3%. A região
Sudeste concentrou cerca de 60% da retração do emprego, com corte de 788,6 mil
vínculos formais (ver Tabela 1).
Nordeste
O Nordeste contava em dezembro de 2015 com 6,58 milhões de empregos celetistas, equivalentes a
16,6% do total do país, ainda que a região participe com 27,8% da população
nacional, o que bem representa o seu hiato de desenvolvimento frente à média do
país. Em 2016, o Nordeste eliminou 239,3 mil empregos formais, 18,1% do que foi
perdido nacionalmente. Em dois anos de recessão, quase quinhentos mil empregos
formais foram eliminados no Nordeste, região que detém ao lado do Norte, o mais
elevado grau de informalidade no mercado de trabalho. Os quantitativos de perda de emprego por
região estão apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Brasil
e regiões: Saldo do emprego formal em 2016
|
||||
Brasil e Regiões
|
SALDO
|
Part. na redução
de 2016 (%)
|
Participação no
estoque em dez de 2015 (%)
|
Taxa de
crescimento %
|
Brasil
|
-1.321.994
|
100
|
100
|
-3,33
|
Norte
|
-80.415
|
6,08
|
4,65
|
-4,36
|
Nordeste
|
-239.239
|
18,10
|
16,60
|
-3,63
|
Sudeste
|
-788.558
|
59,65
|
52,52
|
-3,78
|
Sul
|
-146.472
|
11,08
|
18,22
|
-2,03
|
Centro-Oeste
|
-67.310
|
5,09
|
8,02
|
-2,12
|
Fonte: MTPS-CAGED
Atividades
No conjunto do país, a eliminação de vínculos empregatícios formais foi
generalizada entre os ramos de atividades econômicas. As maiores perdas absolutas
se concentraram no ramo de serviços, 390,1 mil vínculos empregatícios
eliminados, na construção civil, 358,7 mil, na indústria de transformação,
322,5 mil, e nas atividades comerciais (varejo e atacado), 204,4 mil, que são as atividades mais importantes em
termos de vínculos empregatícios no país.
Entre elas, todavia, a que apresentou a queda relativa mais acentuada
foi a construção civil que em apenas um ano perdeu 13,48% de todo o seu estoque
do emprego, mais do que o dobro de qualquer outro ramo de atividade. Como se
sabe, a atividade vem sendo castigada pelo estouro da bolha imobiliária e pela
paralisia das obras públicas, em parte por conta da crise nas finanças nas três
esferas de governo, em parte por conta dos escândalos de corrupção que vêm
desorganizando o setor (ver Tabela 2).
Tabela 2. Brasil
e regiões: Saldo do emprego formal em 2016 segundo setor de atividade
|
||||
SETORES
|
BRASIL
|
NORDESTE
|
||
SALDO
|
VARIAC. EMPR %
|
SALDO
|
VARIAC. EMPR %
|
|
TOTAL
|
-1.321.994
|
-3,33
|
-239.239
|
-3,63
|
EXTRATIVA MINERAL
|
-11.888
|
-5,67
|
-2.423
|
-6,88
|
IND. DE TRANSFORMAÇÃO
|
-322.526
|
-4,23
|
-39.593
|
-3,78
|
SERV INDUST DE UTIL PÚBLICA
|
-12.687
|
-3,07
|
-7.561
|
-8,70
|
CONSTRUÇÃO CIVIL
|
-358.679
|
-13,48
|
-86.107
|
-15,06
|
ATIVIDADES COMERCIAIS -VAREJO E ATACADO
|
-204.373
|
-2,22
|
-48.214
|
-2,97
|
SERVIÇOS
|
-390.109
|
-2,28
|
-55.546
|
-2,01
|
ADM. PÚBLICA
|
-8.643
|
-0,97
|
90
|
-0,04
|
AGROPECUÁRIA
|
-13.089
|
-0,84
|
115
|
0,04
|
Fonte: MTPS-CAGED
Comparativo regional
Entre as principais atividades empregadoras, o corte de vínculos formais
no Nordeste em 2016 foi mais alto do que a média do Brasil na construção civil
e nas atividades comerciais (varejo e atacado) e foi relativamente menos acentuado na indústria de transformação
e no segmento de serviços.
Ainda que a perda de emprego também tenha sido generalizada na região
(apenas a agropecuária e os empregos celetistas na administração pública
tiveram incrementos de emprego mesmo assim insignificantes) foi a construção
civil que liderou a perda de emprego em termos absolutos e em termos relativo,
com a eliminação de 86,1 mil vínculos, número muito superior aos 55,5 mil
empregos perdidos nos segmentos de serviços, o segundo que mais desempregou. Na
região, foram eliminados -15,06% de todos os vínculos formais na construção
civil. A terceira atividade que mais desempregou na região em 2016 foi o
comércio, 48, 2 mil vínculos eliminados, e a quarta o comércio varejista e atacadista, -39,6 mil.
A estatística do corte do emprego por setor de atividade revela um dado
curioso que ainda carece de explicação: do total de 12.687 empregos formais
eliminados no setor de serviços industriais de utilidade pública, que abrange o
fornecimento de água, saneamento e energia e os serviços de limpeza pública,
7.561 se concentraram na região Nordeste, cerca de 60% do total do país, participação
muito desproporcional ao peso que a região tem no emprego total.
Chama atenção ainda o fato de que a região em que o consumo cresceu bem
acima do país no ciclo expansivo de 2004 a 2014 em 2016 a atividade comercial
tenha desempregado mais do que a média do país.
Entre os subsetores da indústria de transformação do Nordeste, o corte
de emprego atingiu fortemente as suas atividades mais importantes na ocupação
de mão-de-obra, como a indústria de alimentos e bebidas e a têxtil-confecção. Em
termos relativos, a queda do emprego no segmento têxtil-confecção na região
Nordeste foi mais do que o dobro da média nacional, assim como em outro
importante segmento da indústria de transformação regional, a de produtos
químicos e farmacêuticos.
Publicado no Jornal da Cidade, em 29/01/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário