Ricardo Lacerda
O Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) publicou há duas semanas atrás os dados dos PIBs municipais
brasileiros referentes ao ano de 2014. Na série apresentada, os dados são
comparáveis para o período 2010-2014, posto que para os anos anteriores
utilizou-se metodologia distinta.
No artigo de hoje examinaremos os municípios
sergipanos que apresentaram os maiores PIBs e PIBs per capita nos anos extremos
dessa série, 2010 e 2014. Ao se enfocar esse tema serão ressaltados os efeitos
da longa estiagem nos PIBS municipais e, consequentemente, na participação e no
ranking estadual, ao lado de outros aspectos.
Setores
Os efeitos da seca repercutiram sobre a
participação de duas importantes atividades econômicas de Sergipe, a
agropecuária e a atividade denominada de eletricidade e gás, água, esgoto,
atividades de gestão de resíduos e descontaminação, agrupamento que
anteriormente, com algumas diferenças, era conhecido com SIUP (Serviços
Industriais de Utilidade Pública).
Na comparação entre 2010 e 2014, a
participação da agropecuária no Valor Adicionado Bruto (VAB) caiu de 6,38% para
5,23%, ou seja 1,15 ponto percentual. No caso das atividades integrantes do
SIUP, a queda na participação do VAB de Sergipe foi muito mais acentuada, de
8,52% para 3,33%, perda de 5,2 pontos percentuais, decorrente do impacto da
estiagem sobre a geração de energia pela Usina Hidroelétrica de Xingó, situada no
rio São Francisco, na divisa entre Sergipe e Alagoas.
A contraface dos recuos nas participações do
setor agropecuário e do setor industrial, esse último quase exclusivamente por
conta da influência do resultado do SIUP, posto que a indústria de
transformação e a extração de minerais aumentaram seus pesos, foi a ampliação
na participação do setor serviços, de 64,66% para 70,12%, ou seja, 5,46 pontos
percentuais. Nesse período, quase todas a as atividades do setor serviços
tiveram incremento na participação do VAB, com destaque para educação, saúde,
comércio, atividades profissionais, atividades imobiliárias e atividades
financeiras. As exceções foram transporte e armazenagem e o agrupamento de
outros serviços.
A essa
mudança nos pesos dos setores corresponderam algumas mudanças importantes no
ranking das maiores economias entre os municípios sergipanos, com algumas
dignas de destaque.
Ranking
A lista dos 15 maiores municípios em termos de PIB se encontra na Tabela
apresentada. Em 2014 lideravam a geração de riqueza em Sergipe, depois da
capital Aracaju, Nossa Senhora do Socorro, Estância, Itabaiana, Lagarto,
Laranjeiras, Itaporanga D`Ajuda e Carmópolis.
A mudança de maior vulto foi a perda de oitos posições do município de
Canindé do São Francisco, que sedia a usina hidrelétrica de Xingó, passando de
terceiro maior PIB municipal em 2010 para o 11º lugar em 2014. O impacto foi de tal dimensão que o município
que liderava o ranking do PIB per capita entre os municípios sergipanos despencou
para o 9º lugar, cedendo a primazia para Rosário do Catete, que sedia o
empreendimento de exploração de potássio da empresa Vale. Curiosamente, Rosário
do Catete perdeu quatro posições no ranking dos maiores PIBs municipais, passando
do 8º maior PIB municipal para 12º, por conta da redução da produção de
potássio no projeto Taquari-Vassouras e somente alcançou a liderança no PIB per
capita porque a perda de participação de Canindé no PIB foi bem mais acentuada.
Aracaju
A situação de Aracaju é curiosa. A capital manteve a liderança na
geração do PIB mas o PIB per capita local é apenas o 10º maior entre os
municípios sergipanos, ainda que a renda per capita de Aracaju seja bem mais
elevada do que nos demais municípios. Os nove municípios que apresentavam em
2014 PIB per capita mais elevado do que Aracaju, sem exceção, contam com
grandes unidades de exploração de recursos minerais ou da indústria de
transformação que geram um PIB relativamente elevado frente a uma população não
muito grande. São eles: Rosário do
Catete, Divina Pastora, Carmópolis, Japaratuba, Laranjeiras, Siriri, Itaporanga
d'Ajuda, Estância e Canindé de São Francisco.
Uma outra curiosidade em relação à situação de Aracaju é que o seu ganho
de participação no PIB estadual entre 2010 e 2014 decorreu das perdas
expressivas de participação de Canindé e Rosário no PIB industrial, o que fez
elevar o peso da capital na geração da riqueza do setor, e por conta do aumento
do peso do setor serviços na formação do PIB estadual, sem que Aracaju tenha
significativamente aumentado seu peso na formação da riqueza no setor serviços,
sejam dos serviços privados, sejam dos serviços públicos.
Carmópolis e Japaratuba foram favorecidos por
esse mesmo impacto da redução de Canindé e Rosário no produto industrial.
Estância ganhou quatro posições no produção industrial, superando Canindé,
Rosário, Carmópolis e Nossa Senhora do Socorro, tornando-se o segundo maior
polo industrial de Sergipe.
No artigo da próxima semana, examinaremos as
mudanças de participação entre os municípios que apresentam os menores PIBs.
Tabela: Os 15
maiores PIBs municipais de Sergipe.
|
2014
|
2010
|
DIFERENÇA 2010- 2014
|
|||||
Nome do Município
|
Part. No PIB (%)
|
Posição no PIB
|
Posição no PIB per capita
|
Part. No PIB (%)
|
Posição no PIB
|
Posição no PIB per capita
|
Na posição no PIB
|
Na posição no PIB per capita
|
Aracaju
|
39,75
|
1 º
|
10 º
|
36,37
|
1º
|
11 º
|
-
|
+1
|
Nossa Sra. do Socorro
|
6,79
|
2 º
|
16 º
|
7,49
|
2 º
|
14 º
|
-
|
-2
|
Estância
|
4,73
|
3 º
|
8 º
|
4,20
|
4 º
|
8 º
|
+1
|
-
|
Itabaiana
|
3,82
|
4 º
|
14 º
|
3,30
|
5 º
|
19 º
|
+1
|
+5
|
Lagarto
|
3,28
|
5 º
|
25 º
|
2,86
|
6 º
|
29 º
|
+1
|
+4
|
Laranjeiras
|
2,64
|
6 º
|
5 º
|
2,70
|
7 º
|
6 º
|
+1
|
+1
|
Itaporanga d'Ajuda
|
2,34
|
7 º
|
7 º
|
1,98
|
11 º
|
7 º
|
+4
|
-
|
Carmópolis
|
2,16
|
8 º
|
3 º
|
2,11
|
10 º
|
3 º
|
+2
|
-
|
Japaratuba
|
2,10
|
9 º
|
4 º
|
1,87
|
12 º
|
5 º
|
+3
|
+1
|
São Cristóvão
|
2,10
|
10 º
|
46 º
|
2,19
|
9 º
|
40 º
|
-1
|
-6
|
Canindé de S. Francisco
|
1,82
|
11 º
|
9 º
|
6,48
|
3 º
|
1 º
|
-8
|
-8
|
Rosário do Catete
|
1,65
|
12 º
|
1 º
|
2,34
|
8 º
|
2 º
|
-4
|
+1
|
Nossa Sra. da Glória
|
1,37
|
13 º
|
15 º
|
1,14
|
14 º
|
20 º
|
+1
|
+5
|
Simão Dias
|
1,33
|
14 º
|
23 º
|
1,10
|
16 º
|
36 º
|
+2
|
+13
|
Barra dos Coqueiros
|
1,17
|
15 º
|
13 º
|
1,13
|
15 º
|
15 º
|
-
|
+2
|
Fonte: IBGE. Contas
regionais
Publicado no Jornal da Cidade, em 25/12/2016
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