Aproximando-se do fim, o ano 2016 não vai
deixar saudades. Na política, o ano se iniciou com o cerco final ao governo
eleito e está findando com uma crise entre os poderes da república reveladora do
grau de esgarçamento institucional do país. Nessa dimensão, 2016 talvez possa
ser sumariamente caracterizado como o ano do golpe parlamentar que afastou a presidente
da república e como o ano em que a Operação Lava Jato acuou o mundo político e
sua interface empresarial. É no mínimo difícil antecipar quais serão os
desdobramentos da crise política e institucional em que estamos enredados, da
mesma forma como o roteiro da crise tem fugido ao controle dos principais
atores intervenientes.
Na dimensão econômica, o ano de 2016 ficou
marcado pelo aprofundamento da recessão e pela nova tentativa de aprovar no
congresso nacional as duras medidas de ajuste fiscal, em meio a quedas contínuas
nas receitas públicas. Frente ao quadro de recessão profunda, restou a opção de
adotar uma estratégia de ajuste gradualista em que os resultados fiscais somente
começarão a ser produzidos ao custo de duradoura recessão.
A síntese do ano em termos sociais é o ingresso
de 2,96 milhões de pessoas no contingente de trabalhadores desocupados. Em
termos empresariais, a retração no faturamento e o crescimento do endividamento
consolidaram perspectivas difíceis.
Recessão longa e abrangente
Não bastassem os efeitos da compressão da
demanda e da crise de confiança sobre o nível de atividade, a estiagem que
assola o país fez com que a safra de grãos recuasse mais de 10% em comparação
ao ano anterior e, no caso da região Nordeste, que a queda na produção do setor
alcançasse cerca de 40%. Ao fim de 2016, indústria, agricultura e serviços, solidariamente,
terão despencados na comparação com o ano anterior, em uma queda simultânea
inédita na série estatística iniciada em 1996. No acumulado de quatro
trimestres completados no 3º trimestre, em relação ao mesmo período anterior, o
PIB agropecuário declinou 5,6%, a atividade industrial, 5,4%, e o setor de
serviços, 3,2%.
Do ponto de vista do dispêndio, nessa série
de quatro trimestres acumulados, até o mês de setembro o consumo das famílias
encolheu 5,2%, o investimento em capital fixo, 13,5%, e o consumo do governo,
0,9%.
O setor exportador, ainda que não tenha
concorrido para deprimir o PIB, não foi capaz de gerar um impulso de maior
significado sobre o conjunto da economia. Nessa série, o PIB total manteve
quedas de mais de 4% ao longo de todo o ano de 2016 (ver Gráfico).
Fonte: IBGE-CNT
Chances de reversão
É sempre custoso interromper o ciclo vicioso
de declínio do nível de atividade a fim de retomar o crescimento e dar início a
um novo ciclo virtuoso. Algumas abordagens mais pessimistas apontam que o
caminho do crescimento é como “o fio da navalha”, ao longo do qual pequenos
desvios para baixo poderiam dar origem a mecanismos de autorreforço que
empurrariam a economia mais e mais para a recessão. Somente fatores exógenos ao
sistema, como a melhoria do cenário internacional ou a ação de estímulo
promovida pelo setor público, seriam capazes de sustar o declínio. Ou que, pelo
menos, a duração e o custo da recessão seriam muito maiores na ausência desses
estímulos.
Outras abordagens, menos pessimistas, argumentam
que o ciclo de negócios conta com mecanismos próprios de amortecimento da crise
que, com o tempo, seriam capazes de reverter a trajetória de descendente para
ascendente. A crise seria uma oportunidade para sanear finanças públicas e
privadas para que o peso do passado não restringisse a retomada da economia e
para que ela voltasse a crescer em bases mais saudáveis, no novo ciclo que se
avizinhasse. O período de ajuste é, também, o momento em que se definem os
ganhadores e perdedores no ciclo seguinte, em termos de setores, segmento de
classes sociais e regiões. Em outras palavras, quem paga o pato do ajuste e quem
se beneficiará mais no período seguinte.
Ao findar 2016, estaremos ainda na metade do
percurso entre a interrupção do ciclo vicioso e as bases de uma retomada. São
muitos, incertos e potencialmente desestabilizadores os percalços nesse
caminho, tanto os de origem externa quanto os oriundos do cenário doméstico,
dentre os quais, certamente, o mais grave é o esgarçamento do ambiente político
e institucional. Meus votos para que, ao final de 2017, tenhamos um balanço
mais promissor de nossas perspectivas.
Publicado o Jornal da Cidade, em 11 de dezembro de 2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário