Ricardo Lacerda*
O resultado de outubro foi surpreendentemente
bom. Foram gerados 5.491 novos empregos
com carteira assinada na economia sergipana. Nem os mais otimistas esperavam um
saldo tão elevado na geração de empregos formais, mesmo considerando que o
início da safra da cana no mês costume ter impacto forte na contratação da
força de trabalho, tanto nas atividades de corte da cana quanto na fabricação de
açúcar e etanol.
Há várias formas de indicar o quão positivo
foi o resultado, seja em razão do volume de emprego total gerado, seja porque
em outros setores de atividade o emprego formal interrompeu a queda e emite
sinais de recuperação gradual na contratação: é a maior geração de emprego para
o mês de outubro na série iniciada em 2003; e, desde julho de 2011, não
coincidia de todos os oito setores de atividade do IBGE apresentarem saldo positivo
na geração de emprego em Sergipe, mesmo que em alguns deles o número não tenha
sido expressivo.
É óbvio que não é caso para euforia. A crise
no mercado de trabalho é muito séria e vai demorar muito tempo antes que o
emprego alcance o patamar anterior à crise. O objetivo do artigo é o de examinar o quanto
de excepcional tem o resultado de outubro e o quanto ele pode estar sinalizando
a recuperação gradual no mercado de trabalho estadual.
Saldo de emprego
O período de setembro a novembro costuma ser
o de maior contratação no ano exatamente pelo inicio do corte e moagem da cana
e completamente pelo aquecimento da indústria e comércio com vistas ao
atendimento ao incremento da demanda do período natalino. O volume de 5.491
novos vínculos certamente não se repetirá em novembro e em meses seguintes, mas
parece haver evidências de que o nível de emprego não apenas deixou de cair na
economia sergipana como deverá ocorrer uma recuperação gradual a partir de agora,
mesmo que em meses específicos os saldos possam se apresentar negativos.
A tabela apresentada registra os saldos de
emprego formal do CAGED do Ministério do Trabalho nos meses de outubro de 2015,
2016 e 2017, sem incluir os registros fora de prazo. Em todos os setores
relevantes os resultados de outubro de 2017 são muito melhores do que os dos
dois anos anteriores, refletindo a evolução do nível de atividade econômica.
É verdade que a maior parte da melhoria do
emprego no mês se deveu a forte contratação no setor sucroalcooleiro, principal
responsável pelos números mais robustos da indústria de transformação (açúcar e
etanol) e na agropecuária, na lavoura canavieira (Ver Tabela). O nível de
contratação na safra de 2017 da cana-de-açúcar foi bem mais elevado do que em
anos anteriores. Mas os desempenhos dos demais setores também se mostraram melhores
em outubro de 2017 em relação aos dois anos anteriores, notadamente nas
atividades de comércio e de serviços.
Mesmo atividades que ainda não parecem ter
saído da estagnação apresentaram sinais de que a tendência de declínio se
aproxima do fim, como a construção civil que passou de uma situação de cortar
668 empregos formais, em outubro de 2016, para um quadro de estabilidade em
outubro de 2017, com saldo residual de 21 empregos (Ver Tabela). Há uma nítida
mudança no quadro do mercado de trabalho em todos os segmentos relevantes,
ainda que cada um deles esteja em estágio diferente de recuperação.
Tabela.
Sergipe. Saldo do emprego formal nos meses de outubro em 2015, 2016 e 2017,
segundo setores de atividade.
|
|||
IBGE Setor
|
Saldo
do emprego sem os registros de movimentação fora de prazo
|
||
out/15
|
out/16
|
out/17
|
|
Extrativa Mineral
|
10
|
-14
|
8
|
Indústria de transformação
|
1.284
|
1.880
|
2.908
|
Serviços Industriais de Utilidade Pública
|
0
|
11
|
117
|
Construção Civil
|
-240
|
-668
|
21
|
Comércio
|
-152
|
-215
|
293
|
Serviços
|
-160
|
-402
|
444
|
Adm Pública
|
-8
|
-29
|
26
|
Agropecuária
|
681
|
1.549
|
1.674
|
Total
|
1.415
|
2.112
|
5.491
|
Fonte. MTPS-CAGED
Cenário tendencial
No gráfico apresentado procura-se atenuar o
caráter excepcional do resultado de outubro para tentar captar o cenário
tendencial da geração de emprego a partir da comparação entre os trimestres
móveis de 2016 e 2017. Saltam aos olhos três constatações.
A primeira é que os resultados dos trimestres
móveis de 2017 são todos melhores do que seus equivalentes de 2016. A segunda
evidência é que a partir de maio de 2017 os resultados trimestrais passam a
melhorar significativamente, com registros de saldo positivos nos trimestres
encerrados em junho, julho, agosto e outubro.
A terceira constatação é que o resultado de
outubro foi parcialmente excepcional, diante do salto em relação aos trimestres
anteriores, em parte pelo efeito do atraso da contratação do setor
sucroalcooleiro de setembro para outubro, sobrecarregando o resultado desse
último mês. Mas os segmentos de comércio e serviços também reagiram. E como
complemento da constatação anterior, é possível inferir que há uma nítida
tendência de recuperação do emprego em Sergipe, mas não com a velocidade que o
resultado de outubro poderia sugerir.
Fonte. MTPS-CAGED
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