Ricardo Lacerda
Os dados da PNADc do terceiro trimestre de
2017 confirmam que a ocupação da força de trabalho vem aumentando, mas o
mercado de trabalho permanece muito fragilizado, devendo demorar muitos
trimestres até que a taxa de desocupação se situe abaixo de 10%. Até o momento,
não dá para falar ainda em copo meio cheio meio vazio.
Surpreende a velocidade de transformação no
mercado de trabalho brasileiro. Entre o segundo e o terceiro trimestres de 2017,
um milhão de pessoas encontrou algum tipo de ocupação no Brasil.
A recuperação da ocupação vem ocorrendo muito
desbalanceada no que se refere à posição das pessoas no mercado de trabalho. Cerca
de 2/3 das novas ocupações nessa comparação com o trimestre imediatamente
anterior eram de pessoas que trabalhavam por conta própria (37,9%) ou em empregos
no setor privado sem carteira assinada (27%).
No trimestre, o emprego formal no setor
privado recuou 2,4%, ou 31 mil vínculos, mas na maioria dos setores de
atividade é razoável inferir que esse tipo de vínculo parece ter atingido ou
estar próximo de chegar ao fundo do poço, com problemas concentrados em duas
atividades: agropecuária e construção civil.
O principal fato novo no 3º trimestre foi o
incremento da ocupação na construção civil, mas, aparentemente, o aspecto
sazonal deve ter prevalecido, não havendo clareza que a ocupação no segmento vá
começar a recuperar a partir de agora.
Posição na Ocupação
Ainda falta muito para que o mercado de
trabalho reponha as ocupações perdidas e crie oportunidades para os novos
contingentes de jovens que buscaram uma colocação no mercado de trabalho nos
últimos três anos. A PNAD do terceiro trimestre constatou que 13 milhões de
pessoas estavam desocupadas no Brasil, frente às 6,7 milhões de pessoas nessa
situação no 3º trimestre de 2014.
Considerando apenas a reposição nas ocupações
perdidas, há muito ainda a caminhar, com situações diversas de acordo com a
posição na ocupação e do setor de atividade, como veremos nas tabelas a seguir.
A coluna A da Tabela 1 mostra que 1.462 mil pessoas
encontraram ocupações entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2016.
Foi o primeiro resultado positivo nessa comparação anual. Em relação ao pico em
2014, a ocupação no 3º trimestre de 2017 é ainda inferior em 972 mil pessoas
(Coluna C).
Observe-se que a redução do contingente de
pessoas ocupadas no 3º trimestre atingiu seu ponto máximo em 2016, quando em
relação a 2014 haviam sido eliminadas 2,4 milhões de ocupações.
Em todos os sentidos, foi notável o esforço
feito pela população brasileira para buscar alternativas de sobrevivência em
uma economia em profunda recessão, mesmo que em posições precárias de ocupação,
como trabalhador por conta própria ou aceitando vínculos empregatícios
informais.
O quadro do mercado de trabalho formal no 3º
trimestre de 2017 permaneceu muito precário. Na comparação com o mesmo
trimestre do ano anterior (Coluna A da Tabela 1), o número de pessoas com
emprego formal no setor privado havia recuado em 810 mil pessoas, o que é um
contingente ainda muito expressivo. Na comparação com o volume de pessoas
ocupadas no 3º trimestre de 2014 (Coluna C da Tabela 1), a quantidade de
pessoas ocupadas com vínculo formal no setor privado havia decrescido em 3,6
milhões.
Parcela expressiva dessas pessoas buscou,
nessa comparação, ocupação por conta própria (1,4 milhão de pessoas), emprego
sem carteira (655 mil pessoas), como empregador ou em trabalho doméstico.
Tabela
1. Variação do número de pessoas ocupadas segundo posição na ocupação (em mil
pessoas)
|
|||
Posição na ocupação
|
Coluna
A
3T
2017 em relação ao 3T 2016
|
Coluna
B
3T
2016 em relação ao 3T 2014
|
Coluna
C
3T 2017
em relação ao 3T 2014
|
Total
|
1.462
|
-2.434
|
-972
|
Empregado no setor privado, exclusive trabalhador
doméstico
|
-169
|
-2.529
|
-2.698
|
Com carteira de trabalho assinada
|
-810
|
-2.543
|
-3.353
|
Sem carteira de trabalho assinada
|
641
|
14
|
655
|
Trabalhador doméstico
|
54
|
144
|
198
|
Empregado no setor público
|
161
|
-230
|
-69
|
Empregador
|
163
|
324
|
487
|
Conta própria
|
1.057
|
382
|
1.439
|
Trabalhador familiar auxiliar
|
198
|
-527
|
-329
|
Fonte. IBGE. PNADc Trimestral
Ocupação setorial
A Tabela 2 mostra comparação similar do ponto
de vista do setor de atividade. Na comparação com o mesmo trimestre de 2016
(Coluna A), apenas o setor agropecuário e a construção civil contavam com
contingentes menores de pessoas ocupadas no 3º trimestre e 2017.
Na comparação com o 3º trimestre de 2014, há
perdas expressivas de ocupação em atividades muito importantes com destaque
para a indústria de transformação, com menos 1,4 milhão de pessoas ocupadas, e
a construção civil, menos 741 mil pessoas ocupadas, considerando tantos os vínculos
formais quanto os informais.
Para onde essas pessoas se dirigiram em busca
de alternativas de subsistência? Na
comparação com a situação de igual trimestre de 2014, para ocupações por conta
própria, como empregados sem carteira, ou como empregadores; no segmento de
alimentação e alojamento, no setor de transporte, no comércio, nos serviços
domésticos e outros serviços e na administração pública.
Os dados da PNADc do 3º trimestre de 2017
parecem sinalizar que a recuperação do mercado de trabalho deverá seguir
desbalanceada em termos setoriais e de posições na ocupação. E que muita água
deverá rolar até que o emprego formal possa voltar a crescer em ritmo intenso.
Tabela
2. Variação do número de pessoas ocupadas segundo setor de atividade (em mil pessoas)
|
|||
Setores de Atividade
|
Coluna
A
3T
2017 em relação ao 3T 2016
|
Coluna
B
3T
2016 em relação ao 3T 2014
|
Coluna
C
3T 2017
em relação ao 3T 2014
|
Total
|
1.462
|
-2.434
|
-972
|
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca
e aquicultura
|
-400
|
-576
|
-976
|
Indústria geral
|
245
|
-1.820
|
-1.575
|
Indústria de transformação
|
205
|
-1.636
|
-1.431
|
Construção
|
-268
|
-473
|
-741
|
Comércio, reparação de veículos automotores e
motocicletas
|
410
|
-144
|
266
|
Transporte, armazenagem e correio
|
116
|
361
|
477
|
Alojamento e alimentação
|
562
|
478
|
1.040
|
Informação, comunicação e atividades financeiras,
imobiliárias, profissionais e administrativas
|
487
|
-1.109
|
-622
|
Administração pública, defesa, seguridade social,
educação, saúde humana e serviços sociais
|
51
|
608
|
659
|
Outro serviço
|
214
|
42
|
256
|
Serviço doméstico
|
28
|
205
|
233
|
Atividades mal definidas
|
15
|
-5
|
10
|
Fonte. IBGE. PNADc Trimestral
Publicado no Jornal da Cidade, em 19/11/2017
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