Praça São Francisco, São Cristovão- SE

Praça São Francisco, São Cristovão- SE
Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

A atribulada retomada da ocupação


Ricardo Lacerda

Os dados da PNADc do terceiro trimestre de 2017 confirmam que a ocupação da força de trabalho vem aumentando, mas o mercado de trabalho permanece muito fragilizado, devendo demorar muitos trimestres até que a taxa de desocupação se situe abaixo de 10%. Até o momento, não dá para falar ainda em copo meio cheio meio vazio.
Surpreende a velocidade de transformação no mercado de trabalho brasileiro. Entre o segundo e o terceiro trimestres de 2017, um milhão de pessoas encontrou algum tipo de ocupação no Brasil.
A recuperação da ocupação vem ocorrendo muito desbalanceada no que se refere à posição das pessoas no mercado de trabalho. Cerca de 2/3 das novas ocupações nessa comparação com o trimestre imediatamente anterior eram de pessoas que trabalhavam por conta própria (37,9%) ou em empregos no setor privado sem carteira assinada (27%). 
No trimestre, o emprego formal no setor privado recuou 2,4%, ou 31 mil vínculos, mas na maioria dos setores de atividade é razoável inferir que esse tipo de vínculo parece ter atingido ou estar próximo de chegar ao fundo do poço, com problemas concentrados em duas atividades: agropecuária e construção civil.
O principal fato novo no 3º trimestre foi o incremento da ocupação na construção civil, mas, aparentemente, o aspecto sazonal deve ter prevalecido, não havendo clareza que a ocupação no segmento vá começar a recuperar a partir de agora.

Posição na Ocupação
Ainda falta muito para que o mercado de trabalho reponha as ocupações perdidas e crie oportunidades para os novos contingentes de jovens que buscaram uma colocação no mercado de trabalho nos últimos três anos. A PNAD do terceiro trimestre constatou que 13 milhões de pessoas estavam desocupadas no Brasil, frente às 6,7 milhões de pessoas nessa situação no 3º trimestre de 2014.
Considerando apenas a reposição nas ocupações perdidas, há muito ainda a caminhar, com situações diversas de acordo com a posição na ocupação e do setor de atividade, como veremos nas tabelas a seguir.
A coluna A da Tabela 1 mostra que 1.462 mil pessoas encontraram ocupações entre o 3º trimestre de 2017 e o mesmo período de 2016. Foi o primeiro resultado positivo nessa comparação anual. Em relação ao pico em 2014, a ocupação no 3º trimestre de 2017 é ainda inferior em 972 mil pessoas (Coluna C).
Observe-se que a redução do contingente de pessoas ocupadas no 3º trimestre atingiu seu ponto máximo em 2016, quando em relação a 2014 haviam sido eliminadas 2,4 milhões de ocupações.
Em todos os sentidos, foi notável o esforço feito pela população brasileira para buscar alternativas de sobrevivência em uma economia em profunda recessão, mesmo que em posições precárias de ocupação, como trabalhador por conta própria ou aceitando vínculos empregatícios informais.
O quadro do mercado de trabalho formal no 3º trimestre de 2017 permaneceu muito precário. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior (Coluna A da Tabela 1), o número de pessoas com emprego formal no setor privado havia recuado em 810 mil pessoas, o que é um contingente ainda muito expressivo. Na comparação com o volume de pessoas ocupadas no 3º trimestre de 2014 (Coluna C da Tabela 1), a quantidade de pessoas ocupadas com vínculo formal no setor privado havia decrescido em 3,6 milhões.
Parcela expressiva dessas pessoas buscou, nessa comparação, ocupação por conta própria (1,4 milhão de pessoas), emprego sem carteira (655 mil pessoas), como empregador ou em trabalho doméstico.


Tabela 1. Variação do número de pessoas ocupadas segundo posição na ocupação (em mil pessoas)
Posição na ocupação
Coluna A
3T 2017  em relação ao 3T 2016
Coluna B
3T 2016  em relação ao 3T 2014

Coluna C
 3T 2017  em relação ao 3T 2014
Total
1.462
-2.434
-972
Empregado no setor privado, exclusive trabalhador doméstico
-169
-2.529
-2.698
Com carteira de trabalho assinada
-810
-2.543
-3.353
Sem carteira de trabalho assinada
641
14
655
Trabalhador doméstico
54
144
198
Empregado no setor público
161
-230
-69
Empregador
163
324
487
Conta própria
1.057
382
1.439
Trabalhador familiar auxiliar
198
-527
-329
Fonte. IBGE. PNADc Trimestral
Ocupação setorial

A Tabela 2 mostra comparação similar do ponto de vista do setor de atividade. Na comparação com o mesmo trimestre de 2016 (Coluna A), apenas o setor agropecuário e a construção civil contavam com contingentes menores de pessoas ocupadas no 3º trimestre e 2017.
Na comparação com o 3º trimestre de 2014, há perdas expressivas de ocupação em atividades muito importantes com destaque para a indústria de transformação, com menos 1,4 milhão de pessoas ocupadas, e a construção civil, menos 741 mil pessoas ocupadas, considerando tantos os vínculos formais quanto os informais.
Para onde essas pessoas se dirigiram em busca de alternativas de subsistência?  Na comparação com a situação de igual trimestre de 2014, para ocupações por conta própria, como empregados sem carteira, ou como empregadores; no segmento de alimentação e alojamento, no setor de transporte, no comércio, nos serviços domésticos e outros serviços e na administração pública. 
Os dados da PNADc do 3º trimestre de 2017 parecem sinalizar que a recuperação do mercado de trabalho deverá seguir desbalanceada em termos setoriais e de posições na ocupação. E que muita água deverá rolar até que o emprego formal possa voltar a crescer em ritmo intenso.


Tabela 2. Variação do número de pessoas ocupadas segundo setor de atividade (em mil pessoas)
Setores de Atividade
Coluna A
3T 2017  em relação ao 3T 2016
Coluna B
3T 2016  em relação ao 3T 2014

Coluna C
 3T 2017  em relação ao 3T 2014
Total
1.462
-2.434
-972
Agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura
-400
-576
-976
Indústria geral
245
-1.820
-1.575
Indústria de transformação
205
-1.636
-1.431
Construção
-268
-473
-741
Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas
410
-144
266
Transporte, armazenagem e correio
116
361
477
Alojamento e alimentação
562
478
1.040
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas
487
-1.109
-622
Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais
51
608
659
Outro serviço
214
42
256
Serviço doméstico
28
205
233
Atividades mal definidas
15
-5
10

Fonte. IBGE. PNADc Trimestral

Publicado no Jornal da Cidade, em 19/11/2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário