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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O PIB do 2º semestre de 2011

Ricardo Lacerda

A semana correu repleta de informações inquietantes que criaram um ambiente de angústia entre aqueles que acompanham o cenário econômico brasileiro: revisão da taxa de crescimento econômico americano para 1,7% em 2011, contra a projeção anterior de 2,7%; revisão da taxa de crescimento do PIB brasileiro de 2011 pelo Banco Central de 4% para 3,5%; o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, surpreendeu o mercado financeiro, antecipando o corte da taxa básica de juros em 0,5%, frente à expectativa de sua manutenção, quando ainda são tênues os sinais de recuo da taxa de inflação no acumulado de doze meses.

A semana fechou com o anúncio do crescimento do PIB brasileiro do segundo trimestre de 2011, de 0,8%, em relação ao semestre anterior, na série livre de efeitos sazonais, o que aponta a taxa anualizada de 3,6%.

Para além do recorrente comportamento histriônico de certos setores do chamado mercado, sempre que suas projeções não são confirmadas, como se assim fosse colocada em questão a sua pretensa onisciência, a decisão do Copom de reduzir a taxa de juros responde à deterioração do cenário externo e procura se antecipar aos seus efeitos recessivos sobre a economia brasileira, que apesar de ter mantido aquecido o nível de atividade, encontra-se em rápido processo de desaceleração, muito particularmente no setor industrial.

Desaceleração

Ainda que o crescimento do PIB dos últimos doze meses, em relação aos doze meses anteriores, tenha se mantido relativamente elevado, atingindo 4,7%, a trajetória apresentada é de rápida desaceleração, frente aos 6,2% no final do 1º trimestre, e dos 7,5% obtidos nessa série nos dois trimestres anteriores.

Quando se observam os resultados do trimestre comparativamente ao mesmo trimestre do ano anterior, é possível constatar o quão abruptamente a economia brasileira vem desacelerando em 2011. Depois de crescer 5% no 4º trimestre de 2010, em relação ao 4º trimestre de 2009, a taxa de crescimento nessa série caiu para 4,2% no 1º trimestre de 2011 e agora, no 2º trimestre de 2011, para 3,1% (ver Gráfico 1).

Setor Industrial

No setor industrial, mais sensível à valorização do câmbio e ao acirramento da competição com os produtos importados, depois das elevadas taxas de incremento no início de 2010, que na verdade apenas repunham parcialmente a produção perdida no ano de 2009, o PIB setorial se expandiu 4,3% no último trimestre de 2010, em relação ao mesmo trimestre de 2009, desacelerou para 3,5% no 1º trimestre de 2011, e cresceu apenas 1,7% na comparação entre o 2º trimestre de 2011 e o 2º trimestre de 2010, acionando o sinal de alerta (ver Gráfico 1). Entre o primeiro e segundo trimestres de 2011, na série sem efeitos sazonais o PIB industrial teve incremento de 0,2%, o que corresponde a uma taxa anualizada inferior a 1%.


Fonte: IBGE. Contas trimestrais

Gastos

Do ponto de vista do dispêndio, o consumo das famílias, responsável por 63% da demanda total da economia brasileira e principal motor do crescimento nos últimos anos, reduziu o ritmo de expansão nos últimos trimestres, à força das medidas voltadas para a restrição do crédito, mesmo que as taxas de incremento ainda se mantenham elevadas.

Depois de crescer 7,5% na comparação entre o 4º trimestre de 2010 e o mesmo período de 2009, o consumo das famílias aumentou 5,9% no 1º trimestre, nessa série, e 5,5% no 2º trimestre. O dispêndio de consumo da administração pública manteve uma trajetória de expansão moderada, com taxa de incremento de 2,5% no 2º trimestre, e a outra variável interna da demanda, a Formação Bruta de Capital (FBCF), fundamental para ampliar a capacidade produtiva interna e expandir o potencial de crescimento e que vinha se ampliando rapidamente à reboque da expansão do mercado de consumo interno, desacelerou intensamente no último trimestre (ver Gráfico 2).

O governo federal apontou para um novo redirecionamento da política econômica, com maior emprego dos instrumentos fiscais e menor uso da política monetária, diante dos efeitos dessa última sobre a valorização cambial.


Fonte: IBGE. Contas trimestrais

Confirmou-se, sem dúvida, uma mudança de comportamento do Copom, no sentido de se antecipar aos fatos adversos e demonstrar compromisso com a manutenção do crescimento, em uma conjuntura em que isto depende essencialmente do comportamento do mercado interno, mas como dizia Keynes àqueles que lhe cobravam coerência: quando mudam os fatos, eu mudo de ideia, e o que você faz?


Publicado no Jornal da Cidade em 04/09/2011



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