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domingo, 21 de agosto de 2016

Quase duas em cada três pessoas que perderam ocupação no Brasil são do Nordeste


Ricardo Lacerda
O mercado de trabalho no Brasil está imerso em uma crise de grandes proporções. Os resultados trimestrais de junho de 2016 da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua (PNAD contínua) confirmam que as condições do mercado de trabalho seguiram se deteriorando no período mais recente e que o ritmo de piora ainda não arrefeceu.
Na comparação entre o trimestre abril-junho de 2016 e o mesmo período de 2015, um milhão, quatrocentos e treze mil pessoas perderam o vínculo ocupacional que possuíam; qualquer tipo de vínculo, entre empregados com ou sem carteira de trabalho, empregadores e trabalhadores por conta própria e outros. Os vínculos empregatícios com carteira assinada no setor privado recuaram em 1 milhão e 486 mil. As duas únicas categorias de ocupação que apresentaram aumento expressivo de ocupação foram as de trabalhadores por conta própria e empregados domésticos.
A retração no total da população ocupada vem se verificando desde o trimestre julho-setembro de 2015, portanto há perda na ocupação já por quatro trimestres, na série que compara com igual período do ano anterior. 
As projeções dos especialistas convergem no sentido de apontar para deteriorações adicionais no mercado de trabalho. Ainda que o nível de atividade econômica possa se estabilizar no terceiro trimestre e apresentar algum incremento no último trimestre do ano, como prever o Banco Central do Brasil, o início da recuperação do mercado de trabalho não deverá se dar em 2016.
Nordeste
Causou impacto especial na publicação dos resultados da PNAD contínua trimestral de junho a gravidade que assumiu a crise no mercado de trabalho na região Nordeste. Enquanto na média do país o contingente de pessoas ocupadas sob qualquer tipo de vínculo recuou 1,5% entre abril-junho de 2015 e o mesmo período de 2016, a retração do pessoal ocupado no Nordeste alcançou a taxa de 3,9%. Ou seja, a velocidade de perda de ocupação na região é mais do que o dobro da média nacional e é mais de quatro vezes intensa do que a de qualquer outra região do país. Nessa comparação, os resultados da região Nordeste impactaram fortemente o ritmo de queda do total da ocupação nacional, dobrando-o em relação ao que seria caso computadas apenas as variações nas demais regiões, média de -0,75%.
A região Nordeste respondeu sozinha por 63,2% do total da redução na população ocupada no país, sempre na comparação entre o trimestre abril-junho de 2016 com o mesmo trimestre do ano anterior. Simplesmente 893 mil pessoas do total de um milhão, 413 mil pessoas que perderam ocupação no Brasil eram da região Nordeste. Ou seja, mais de três em cada cinco pessoas e quase duas em três pessoas que perderam a ocupação nessa comparação são do Nordeste, uma participação muito desproporcional em relação aos 24,6% de participação que a região detinha no total da ocupação nacional no trimestre abril-junho de 2015 (ver Tabela 1).
Caso sejam considerados apenas os vínculos empregatícios com carteira de trabalho no setor privado, o desempenho do Nordeste foi também muito inferior à média nacional. Na região, quatrocentos e setenta e cinco mil pessoas perderam emprego formal no setor privado, equivalentes a 32% do total suprimido, quando o peso regional no total do emprego formal privado do país era de apenas 17% no trimestre abril-junho de 2015. Ou seja, a queda do emprego com carteira de trabalho foi quase duas vezes mais acentuada na região.

Tabela 1. Brasil e regiões-Variação na população ocupada entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016
Regiões
(A)
Variação absoluta na Pop Ocupada (em mil pessoas)
(B)
Participação na variação absoluta
(%)
(C)
Participação no estoque de Pessoas Ocupadas em Abril-Junho de 2015 (%)
D= B/C
Relação entre a participação na variação e a participação no estoque na ocupações
Brasil
-1.413
100
100
1,00
Norte
-13
0,9
7,7
0,12
Nordeste
-893
63,2
24,6
2,57
Sudeste
-382
27,0
44,0
0,61
Sul
-136
9,6
15,8
0,61
Centro-Oeste
11
-0,8
7,9
-0,10
Fonte: IBGE. Pnad Contínua
Setores
Em todos os segmentos de atividade considerados na PNAD contínua, o desempenho da ocupação da região Nordeste foi inferior à média nacional. Naquelas atividades em que a ocupação cresceu no país, em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a ocupação no Nordeste cresceu menos ou decresceu. Naquelas atividades em que a ocupação nacional se retraiu, a perda de ocupação no Nordeste foi mais acentuada do que a média nacional (Ver Tabela 2).
As perdas mais expressivas na ocupação regional se concentraram na agropecuária, na indústria, no comércio e no segmento de Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas, mas a perda na ocupação foi abrangente, atingindo quase todos os segmentos.

Tabela 2. Taxas de crescimento da população ocupada no Brasil e no Nordeste segundo aos setores de atividade entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016. (em %)
Atividades
Taxa de crescimento das ocupações entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016 (%)
Diferença entre as taxas do Nordeste em relação às do Brasil (p.p.)
Brasil
Nordeste
Administração pública
3,1
1,2
-1,9
Agropecuária
-1,5
-7,5
-6,0
Alojamento e alimentação
3,8
-2,3
-6,1
Comércio
-1,0
-2,4
-1,4
Construção
3,9
-2,9
-6,8
Indústria de transformação
-10,6
-12,7
-2,1
Indústria geral
-11,0
-12,1
-1,1
Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas
-10,0
-13,6
-3,6
Outro serviço
-0,5
-3,4
-2,9
Serviço doméstico
5,3
4,5
-0,8
Transporte, armazenagem e correio
5,0
3,1
-1,9
Total
-1,5
-3,9
-2,4
Fonte: IBGE. Pnad Contínua

Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju, em 21/08/2016



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