Ricardo Lacerda
O mercado de trabalho no Brasil está imerso em
uma crise de grandes proporções. Os resultados trimestrais de junho de 2016 da
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar Contínua (PNAD contínua) confirmam que
as condições do mercado de trabalho seguiram se deteriorando no período mais
recente e que o ritmo de piora ainda não arrefeceu.
Na comparação entre o trimestre abril-junho de
2016 e o mesmo período de 2015, um milhão, quatrocentos e treze mil pessoas
perderam o vínculo ocupacional que possuíam; qualquer tipo de vínculo, entre
empregados com ou sem carteira de trabalho, empregadores e trabalhadores por
conta própria e outros. Os vínculos empregatícios com carteira assinada no
setor privado recuaram em 1 milhão e 486 mil. As duas únicas categorias de
ocupação que apresentaram aumento expressivo de ocupação foram as de
trabalhadores por conta própria e empregados domésticos.
A retração no total da população ocupada vem
se verificando desde o trimestre julho-setembro de 2015, portanto há perda na
ocupação já por quatro trimestres, na série que compara com igual período do
ano anterior.
As projeções dos especialistas convergem no
sentido de apontar para deteriorações adicionais no mercado de trabalho. Ainda
que o nível de atividade econômica possa se estabilizar no terceiro trimestre e
apresentar algum incremento no último trimestre do ano, como prever o Banco
Central do Brasil, o início da recuperação do mercado de trabalho não deverá se
dar em 2016.
Nordeste
Causou impacto especial na publicação dos
resultados da PNAD contínua trimestral de junho a gravidade que assumiu a crise
no mercado de trabalho na região Nordeste. Enquanto na média do país o
contingente de pessoas ocupadas sob qualquer tipo de vínculo recuou 1,5% entre
abril-junho de 2015 e o mesmo período de 2016, a retração do pessoal ocupado no
Nordeste alcançou a taxa de 3,9%. Ou seja, a velocidade de perda de ocupação na
região é mais do que o dobro da média nacional e é mais de quatro vezes intensa
do que a de qualquer outra região do país. Nessa comparação, os resultados da
região Nordeste impactaram fortemente o ritmo de queda do total da ocupação
nacional, dobrando-o em relação ao que seria caso computadas apenas as variações
nas demais regiões, média de -0,75%.
A região Nordeste respondeu sozinha por 63,2% do total da redução na
população ocupada no país, sempre na comparação entre o trimestre abril-junho
de 2016 com o mesmo trimestre do ano anterior. Simplesmente 893 mil pessoas do
total de um milhão, 413 mil pessoas que perderam ocupação no Brasil eram da
região Nordeste. Ou seja, mais de três em cada cinco pessoas e quase duas em
três pessoas que perderam a ocupação nessa comparação são do Nordeste, uma
participação muito desproporcional em relação aos 24,6% de participação que a
região detinha no total da ocupação nacional no trimestre abril-junho de 2015 (ver
Tabela 1).
Caso sejam considerados apenas os vínculos empregatícios com carteira de
trabalho no setor privado, o desempenho do Nordeste foi também muito inferior à
média nacional. Na região, quatrocentos e setenta e cinco mil pessoas perderam
emprego formal no setor privado, equivalentes a 32% do total suprimido, quando
o peso regional no total do emprego formal privado do país era de apenas 17% no
trimestre abril-junho de 2015. Ou seja, a queda do emprego com carteira de
trabalho foi quase duas vezes mais acentuada na região.
Tabela 1. Brasil e regiões-Variação na
população ocupada entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016
|
||||
Regiões
|
(A)
Variação absoluta na Pop Ocupada (em
mil pessoas)
|
(B)
Participação na variação absoluta
(%)
|
(C)
Participação no estoque de Pessoas
Ocupadas em Abril-Junho de 2015 (%)
|
D= B/C
Relação entre a participação na
variação e a participação no estoque na ocupações
|
Brasil
|
-1.413
|
100
|
100
|
1,00
|
Norte
|
-13
|
0,9
|
7,7
|
0,12
|
Nordeste
|
-893
|
63,2
|
24,6
|
2,57
|
Sudeste
|
-382
|
27,0
|
44,0
|
0,61
|
Sul
|
-136
|
9,6
|
15,8
|
0,61
|
Centro-Oeste
|
11
|
-0,8
|
7,9
|
-0,10
|
Fonte: IBGE.
Pnad Contínua
Setores
Em todos os segmentos de atividade considerados
na PNAD contínua, o desempenho da ocupação da região Nordeste foi inferior à
média nacional. Naquelas atividades em que a ocupação cresceu no país, em
relação ao mesmo trimestre do ano anterior, a ocupação no Nordeste cresceu
menos ou decresceu. Naquelas atividades em que a ocupação nacional se retraiu,
a perda de ocupação no Nordeste foi mais acentuada do que a média nacional (Ver
Tabela 2).
As perdas mais expressivas na ocupação
regional se concentraram na agropecuária, na indústria, no comércio e no segmento
de Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias,
profissionais e administrativas, mas a perda na ocupação foi abrangente,
atingindo quase todos os segmentos.
Tabela 2. Taxas de
crescimento da população ocupada no Brasil e no Nordeste segundo aos setores
de atividade entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016. (em %)
|
|||
Atividades
|
Taxa
de crescimento das ocupações entre abril-junho de 2015 e abril-junho de 2016
(%)
|
Diferença
entre as taxas do Nordeste em relação às do Brasil (p.p.)
|
|
Brasil
|
Nordeste
|
||
Administração pública
|
3,1
|
1,2
|
-1,9
|
Agropecuária
|
-1,5
|
-7,5
|
-6,0
|
Alojamento e
alimentação
|
3,8
|
-2,3
|
-6,1
|
Comércio
|
-1,0
|
-2,4
|
-1,4
|
Construção
|
3,9
|
-2,9
|
-6,8
|
Indústria de
transformação
|
-10,6
|
-12,7
|
-2,1
|
Indústria geral
|
-11,0
|
-12,1
|
-1,1
|
Informação, comunicação
e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas
|
-10,0
|
-13,6
|
-3,6
|
Outro serviço
|
-0,5
|
-3,4
|
-2,9
|
Serviço doméstico
|
5,3
|
4,5
|
-0,8
|
Transporte, armazenagem
e correio
|
5,0
|
3,1
|
-1,9
|
Total
|
-1,5
|
-3,9
|
-2,4
|
Fonte: IBGE.
Pnad Contínua
Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju, em 21/08/2016
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