Ricardo Oliveira Lacerda de Melo
Resumo
O objetivo do artigo é examinar as principais transformações estruturais e o desempenho da economia sergipana ao longo das duas primeiras décadas do século XXI, buscando captar os impactos sobre a economia estadual do ciclo expansivo da economia brasileira, que perdurou, grosso modo, entre 2004 e 2014, e os efeitos do período recessivo que o sucedeu, a partir de 2015. O artigo examina setorialmente as principais transformações da economia estadual no período. A dinâmica de crescimento da economia sergipana está associada, à semelhança da maioria dos estados da federação, mas com algumas especificidades, ao movimento geral da economia brasileira, acompanhando em linhas gerais os períodos de prosperidade e de recessão. Um segundo conjunto de determinantes relaciona-se à exploração de suas riquezas minerais, especificamente petróleo, fertilizantes e calcário. Um terceiro conjunto de determinantes está associado ao desempenho do setor agrícola, em grande parte derivado da combinação de preços favoráveis, disponibilidade de crédito e regime de chuvas. A esse respeito, é importante destacar que o semiárido sergipano vem enfrentando um longo período de estiagem, à semelhança do que vem ocorrendo em quase toda extensão do polígono da seca, cujo início remete ao ano de 2011, mesmo que de forma intermitente. O comportamento pluviométrico é ainda fundamental na atividade de geração de energia hidroelétrica, que responde por parcela significativa do PIB estadual. Durante a etapa ascendente do ciclo econômico brasileiro, a economia de Sergipe acelerou o crescimento e diversificou sua estrutura produtiva. Quando o ciclo de expansão da economia nacional se exauriu, a economia sergipana entrou em queda livre, entre 2015 e 2016, e manteve-se estagnada nos anos de 2017 e 2018. Por conta das especificidades de sua estrutura produtiva, a economia de Sergipe foi mais impactada do que a média nacional: a construção civil e a produção de cimento despencaram e a Petrobras desmobilizou ativos e reduziu intensamente a produção de petróleo e gás e de fertilizantes. Com os ventos adversos, a recessão não tardou em contaminar o mercado de trabalho e as finanças públicas. Em termos de perspectivas, o principal projeto estruturador da economia estadual é a implantação do seu Complexo Industrial-Portuário, tendo como indústrias-chave a Usina Termoelétrica Porto de Sergipe e a Unidade de Regaseificação de Gás Natural. Também se afigura muito promissora a exploração de petróleo e gás natural em águas profundas, apontada como a mais importante fronteira de exploração da produção petrolífera no país, depois do pré-sal. Diferentemente de ciclos anteriores de crescimento, as perspectivas de retomada dependerão menos do sistema Petrobras e mais de investimentos de empresas transnacionais da cadeia de petróleo e gás.
Revista Conjuntura Econômica do BNB- Edição Especial 15 Anos (2019)
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