Ricardo Lacerda
Desde junho o valor das
exportações brasileiras voltou a apresentar retração na comparação com o mesmo
mês do ano anterior, indicando que o esperado estímulo que o crescimento do
setor exportador poderia exercer sobre a retomada da atividade econômica poderá
ser frustrado. Além do valor exportado, o volume físico das exportações
também recuou nesses últimos dois meses.
Frente à expectativa de
que as exportações acumuladas no ano evoluiriam na direção de iniciar o segundo
semestre com resultados superiores aos de 2015 o desempenho recente sinaliza
para uma reversão de tendência que poderá ser confirmada ou não. Os valores
exportados dos últimos dois meses já vêm se refletindo no acumulado anual que
em julho se apresentou 5,6% abaixo do mesmo período do ano anterior, quando em
maio a desvantagem de 2016 era de apenas 1,6% (ver Gráfico 1).
O refluxo do impulso
exportador pode frustrar a expectativa de que o ajuste cambial iniciado no ano
passado poderia estimular a expansão das atividades econômicas de maior
inserção externa, com efeitos positivos para o conjunto da economia brasileira.
Parte do refluxo nas
exportações decorreu de dificuldades enfrentadas por alguns dos principais
parceiros comerciais; parte está associada à quebra de safras de produtos
agrícolas de peso na pauta exportadora; parte pode estar relacionada a
problemas na atividade mineradora; e parte da reversão pode já estar refletindo
a perda de competitividade decorrente da valorização do real nos últimos meses.
Fator agregado
Ainda que a queda do
valor das exportações venha se concentrando nos produtos primários, as exportações
dos demais grupos de produtos também decepcionaram: as exportações de
manufaturados desaceleraram seu crescimento e as de semimanufaturados, que
vinham retomando com muito ímpeto, refrearam a recuperação (ver Gráfico 1).
Cerca de ¾ da queda no acumulado
de janeiro a junho, em comparação ao mesmo período de 2015, concentraram-se nas
exportações de produtos primários, com destaque para óleo bruto de petróleo,
minério de ferro e café. Produtos industrializados como autopeças e produtos
siderúrgicos também contribuíram expressivamente para o recuo.
No acumulado até julho, o
valor exportado dos produtos básicos se situava 9% abaixo do resultado do mesmo
período de 2015, enquanto as exportações de manufaturados (+0,4%) e de
semimanufaturados (+0,2%) repetiam o mesmo patamar do período do ano anterior
(Ver Gráfico 1).
Em junho e julho as
exportações de produtos básicos despencaram, na comparação com o mesmo período
do ano anterior, as de produtos manufaturados desaceleraram a expansão e depois
estagnaram e as de semimanufaturados em julho interromperam a recuperação.
Resultados trimestrais
Resultados trimestrais
têm a vantagem de atenuar desempenhos mensais atípicos, que muitas vezes não
representam mudanças de tendência. O Gráfico 2 apresenta os resultados
trimestrais móveis das exportações brasileiras em US$ milhões-FOB entre janeiro
e julho de 2015 e 2016.
Em janeiro de 2016, o
valor das exportações acumuladas em três meses (nov_2015 a jan_2016) se situava
10,7% abaixo do mesmo período do ano anterior. Nos meses seguintes, a diferença
na comparação trimestral foi se estreitando até que no período fevereiro-abril
o valor exportado de 2016 superou o de 2015 em 1,1%. A partir de então, a
tendência do comportamento trimestral começou a se inverter. Já no trimestre
março-maio as exportações de 2016 repetiram o valor de 2015, e nos trimestres
móveis seguintes foi abrindo uma diferença desfavorável a 2016 que alcançou
7,8% no trimestre maio-julho.
A curva que apresenta a evolução da taxa de crescimento trimestral, na parte de
baixo do Gráfico 2 assumiu um declive acentuado nos trimestres encerrados em
junho e julho.
Não há clareza se a
tendência de declínio das exportações vai perdurar ao longo do segundo
semestre, mas a inversão de tendência é muito preocupante, principalmente por
conta da recente valorização do real que pôs a perder uma parte importante dos
ganhos de competitividade em vários setores de atividade.
O excesso de liquidez no
mercado internacional conjugado ao diferencial entre os juros internos e
externos (além da tentação renovada de combater a inflação por meio de
apreciação da moeda nacional) poderá novamente solapar a competitividade das
nossas atividades exportadoras.
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