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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

terça-feira, 16 de agosto de 2016

O refluxo do impulso exportador

Ricardo Lacerda

Desde junho o valor das exportações brasileiras voltou a apresentar retração na comparação com o mesmo mês do ano anterior, indicando que o esperado estímulo que o crescimento do setor exportador poderia exercer sobre a retomada da atividade econômica poderá ser frustrado.  Além do valor exportado, o volume físico das exportações também recuou nesses últimos dois meses. 

Frente à expectativa de que as exportações acumuladas no ano evoluiriam na direção de iniciar o segundo semestre com resultados superiores aos de 2015 o desempenho recente sinaliza para uma reversão de tendência que poderá ser confirmada ou não. Os valores exportados dos últimos dois meses já vêm se refletindo no acumulado anual que em julho se apresentou 5,6% abaixo do mesmo período do ano anterior, quando em maio a desvantagem de 2016 era de apenas 1,6% (ver Gráfico 1). 

O refluxo do impulso exportador pode frustrar a expectativa de que o ajuste cambial iniciado no ano passado poderia estimular a expansão das atividades econômicas de maior inserção externa, com efeitos positivos para o conjunto da economia brasileira.

Parte do refluxo nas exportações decorreu de dificuldades enfrentadas por alguns dos principais parceiros comerciais; parte está associada à quebra de safras de produtos agrícolas de peso na pauta exportadora; parte pode estar relacionada a problemas na atividade mineradora; e parte da reversão pode já estar refletindo a perda de competitividade decorrente da valorização do real nos últimos meses.

Fator agregado

Ainda que a queda do valor das exportações venha se concentrando nos produtos primários, as exportações dos demais grupos de produtos também decepcionaram: as exportações de manufaturados desaceleraram seu crescimento e as de semimanufaturados, que vinham retomando com muito ímpeto, refrearam a recuperação (ver Gráfico 1).

Cerca de ¾ da queda no acumulado de janeiro a junho, em comparação ao mesmo período de 2015, concentraram-se nas exportações de produtos primários, com destaque para óleo bruto de petróleo, minério de ferro e café. Produtos industrializados como autopeças e produtos siderúrgicos também contribuíram expressivamente para o recuo.

No acumulado até julho, o valor exportado dos produtos básicos se situava 9% abaixo do resultado do mesmo período de 2015, enquanto as exportações de manufaturados (+0,4%) e de semimanufaturados (+0,2%) repetiam o mesmo patamar do período do ano anterior (Ver Gráfico 1).

Em junho e julho as exportações de produtos básicos despencaram, na comparação com o mesmo período do ano anterior, as de produtos manufaturados desaceleraram a expansão e depois estagnaram e as de semimanufaturados em julho interromperam a recuperação.


Fonte: MDIC-SECEX

Resultados trimestrais

Resultados trimestrais têm a vantagem de atenuar desempenhos mensais atípicos, que muitas vezes não representam mudanças de tendência. O Gráfico 2 apresenta os resultados trimestrais móveis das exportações brasileiras em US$ milhões-FOB entre janeiro e julho de 2015 e 2016.

Em janeiro de 2016, o valor das exportações acumuladas em três meses (nov_2015 a jan_2016) se situava 10,7% abaixo do mesmo período do ano anterior. Nos meses seguintes, a diferença na comparação trimestral foi se estreitando até que no período fevereiro-abril o valor exportado de 2016 superou o de 2015 em 1,1%. A partir de então, a tendência do comportamento trimestral começou a se inverter. Já no trimestre março-maio as exportações de 2016 repetiram o valor de 2015, e nos trimestres móveis seguintes foi abrindo uma diferença desfavorável a 2016 que alcançou 7,8% no trimestre maio-julho.

A curva que apresenta a evolução da taxa de crescimento trimestral, na parte de baixo do Gráfico 2 assumiu um declive acentuado nos trimestres encerrados em junho e julho.

Não há clareza se a tendência de declínio das exportações vai perdurar ao longo do segundo semestre, mas a inversão de tendência é muito preocupante, principalmente por conta da recente valorização do real que pôs a perder uma parte importante dos ganhos de competitividade em vários setores de atividade.

O excesso de liquidez no mercado internacional conjugado ao diferencial entre os juros internos e externos (além da tentação renovada de combater a inflação por meio de apreciação da moeda nacional) poderá novamente solapar a competitividade das nossas atividades exportadoras.

Fonte: MDIC-SECEX

Publicado no Jornal da Cidade, em 14/08/2016

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