Ricardo Lacerda
A queda do nível de atividade econômica por
cinco trimestres seguidos e em oito dos dez últimos trimestres tem causado
impactos muito intensos sobre o mercado de trabalho brasileiro. O emprego formal
e a ocupação sob qual quer tipo de vínculo vem não apenas despencando como o
ritmo de queda vem se acentuando.
Com a adoção de medidas adicionais de redução
das despesas públicas prometidas pelo governo interino a fim de se contrapor à
deterioração do quadro fiscal, a situação do mercado de trabalho deverá se
tornar ainda mais crítica nos próximos trimestres, com efeitos imprevisíveis em
termos de crise social e de seus desdobramentos políticos.
A esse respeito, chamou atenção a declaração recente
do ministro da fazenda Henrique Meirelles de que a taxa de desocupação da
economia brasileira, que atingiu 10,9% da População Economicamente Ativa (PEA) no
trimestre encerrado em março, deverá alcançar 14% antes de começar a cair, em
um momento ainda incerto.
Queda da ocupação nas regiões
Menos tratada tem sido a dimensão regional da
deterioração do mercado de trabalho. Entre todas as regiões do país, o Nordeste
tem sido a região mais atingida pelos efeitos da crise econômica e política sobre
o mercado de trabalho. A região, que havia sido a mais beneficiada pelo ciclo
de inclusão social e de fortalecimento do mercado de trabalho, vem sendo, sob
quase todos os aspectos, a mais sacrificada na crise recente, especialmente nos
dois últimos trimestres.
Para exemplificar como os mercados regionais
de trabalho tem sofrido rápida deterioração, são apresentados a seguir os dados
de ocupação por tipo de vínculo e por setor de atividades. Em artigos
subsequentes, serão examinados os indicadores regionais de desocupação e de
remuneração.
Vínculos ocupacionais
Na série que compara com o mesmo período do
ano anterior, o contingente de pessoas ocupadas no Brasil, sob qualquer tipo de
vínculo no mercado de trabalho, começou a cair no 3º trimestre de 2015
(jul-set), quando recuou 0,2%. Desde então, o ritmo de queda tem sido
intensificado, tendo alcançado 0,7% no trimestre out-dez de 2015 e 1,5% no
trimestre jan-mar de 2016.
O contingente de pessoas ocupadas na região
Nordeste começou a recuar no último trimestre de 2015. Já naquele momento, a
queda na taxa da desocupação da região foi mais acentuada do que nas demais
regiões e atingiu o dobro da média nacional, respectivamente 1,7% e 0,7% (ver
Gráfico). A retração no número de pessoas ocupadas se intensificou muito no 1º
trimestre de 2016, quando alcançou 3,7%, frente à média 1,5% do país.
O contingente de pessoas ocupadas no 1º
trimestre de Nordeste, nessa comparação com igual período do ano anterior, teve
desempenho pior do que a média do país sob praticamente todos os tipos de
vínculos dos trabalhadores com o mercado de trabalho.
Em linhas gerais, a região registrou quedas
mais acentuadas do que a média do país no número de empregos no setor privado
com ou sem carteira assinada e do emprego no setor público. O emprego com
carteira assinada caiu 7,3% na região Nordeste frente à média nacional de recuo
de 4,0%.
Por outro lado, a taxa de crescimento do contingente
de pessoas da região que encontrou alternativa de trabalho por conta própria para
enfrentar a piora no mercado foi bem
menor do que na média do país, 3,4%, frente aos 6,5% da média nacional
.
Fonte: IBGE.PNAD contínua.
Ocupação setorial
A crise no mercado de trabalho do Nordeste
tem-se revelado abrangente em termo setoriais. Na comparação entre o 1º
trimestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016, o contingente de pessoas ocupadas na
região Nordeste somente cresceu nas atividades de alojamento e alimentação,
favorecidas que foram pelos efeitos da depreciação da moeda sobre o turismo
interno, e no setor de transporte e armazenagem (ver Quadro). Em todos os
demais grupos de atividades a ocupação regional registrou retração.
Chama a atenção o fato de que, em quase todas
as atividades, a queda na ocupação na região tem sido mais intensa do que na
média do país. O Quadro apresentado sombreia as células em que a variação da
ocupação por setor em cada região, no período em questão, foi pior do que a média
nacional. Entre todas as regiões, foi no Nordeste que um leque maior de
atividades registrou tal comportamento.
Fonte: IBGE.PNAD contínua.
Publicado no Jornal da Cidade, em 22/05/2016
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