Ricardo Lacerda
Uma nova onda de projeções trouxe à tona, mais uma vez, a
perspectiva de que a economia brasileira deverá finalmente interromper a
trajetória de queda em algum momento dos próximos meses, dando início a um
período de estabilização ao qual se seguirá uma elevação muito tímida da
atividade econômica, que poderá ser sustentável ou não.
Diante dos resultados ainda muito ruins nos indicadores de consumo, do setor de serviços e do mercado de trabalho, os vaticínios que apontam a aproximação do momento de recuperação da economia se apoiam na evolução de dois grupos de indicadores: a desaceleração do ritmo de queda da atividade industrial, sinalizando a proximidade do fundo do poço nesse segmento, e a elevação, já por alguns meses, dos indicadores de confiança de empresas e consumidores.
À semelhança de ocasiões anteriores, fatos, desejos e posicionamentos políticos se misturam na eloquência com que essas projeções são apresentadas.
Choque de confiança
Especialmente os indicadores de confiança estariam calçando as projeções de retomada do nível de atividade. Diante do fato de que a crise de confiança cumpriu papel importante nas atuais dificuldades da economia brasileira não é prudente menosprezar os efeitos positivos que a melhoria no grau de confiança pode trazer, da mesma forma que também não o é superestimá-los.
Em artigo publicado no jornal Valor Econômico no dia 07 de julho, Ricardo de Menezes Barboza e Gilberto Borça Jr, economistas do BNDES e do grupo de conjuntura da UFRJ, apresentaram algumas conclusões de estudo que realizaram a respeito das relações entre o aumento da confiança das famílias e dos empresários industriais e o incremento do nível de atividade.
Os economistas informam que as simulações por eles realizadas confirmam os estudos recentes do Banco Central de que “choques na confiança da indústria parecem ter efeitos positivos e estatisticamente significativos sobre a atividade econômica no Brasil ... [e] que o mesmo não vale para choques na confiança do consumidor, embora esta variável contribua para melhorar a previsão do consumo agregado.”
Os testes realizados pelos autores indicaram que “um choque padrão na confiança da indústria faz a produção de bens de capital aumentar em cerca de 2% num horizonte de seis meses à frente, quando o efeito é máximo e começa a perder força”.
Portanto, a constatação dos autores é que a
elevação da confiança entre os empresários industriais, tudo o mais
permanecendo constante, impulsiona a retomada do investimento no horizonte
indicado, engendrando forças favoráveis a recuperação do nível de atividade.
A confiança dos agentes econômicos
(empresários e consumidores) se encontra em alta desde abril, como decorrência
direta do afastamento da presidente Dilma Rousseff e da nomeação de uma equipe
econômica tida e havida como determinada a realizar o ajuste nas finanças
públicas.
Como assinalam os dois economistas, a
melhoria nos indicadores de confiança desde então se baseia quase
exclusivamente nos componentes relativos ao Índice de Expectativa (IE) enquanto
que os índices de Situação Atual (ISA) ainda não revelam melhoria expressiva,
tomando por base os indicadores elaborados pela Fundação Getúlio Vargas,
A elevação da confiança, aliada há alguns outros
fatores como a recuperação parcial nos preços das commodities, deverá, segundo
os autores do artigo, traduzir-se em incremento no nível de atividade em algum
momento entre o final de 2016 e início de 2017, mesmo que a situação presente
continue no mesmo atoleiro.
Em outras palavras, empresários da indústria,
construção, comércio e serviços, além das famílias, não sentiram ainda melhorias
significativas nos últimos meses, mas creem que a vida vai melhorar.
É crer para ver. Curiosamente, bancos e empresas
de consultorias locais têm se mostrado mais otimistas do que instituições
multilaterais, como o Fundo Monetário e a OCDE, e agências de riscos.
Nível
de atividade
Mesmo que a atividade industrial apresente, a
partir de uma base de comparação muito rebaixada, um modesto crescimento nos
próximos meses, o que não é consenso entre os analistas, o setor de serviços e
o mercado de trabalho não dão sinais de que vão melhorar. Há ainda a incógnita
do câmbio, cuja valorização recente alivia as pressões inflacionárias e estimula
o consumo mas coloca um enorme interrogação sobre as perspectivas da retomada
da indústria e sobre a sustentabilidade das contas externas no médio prazo.
Aparentemente, a equipe de Meirelles, com
maior apoio político, adota nesse primeiro momento uma gestão macroeconômica
mais próxima da executada por Nelson Barbosa do que do aperto promovido por Joaquim
Levy. Emite sinais de que vai buscar de imediato a estabilização do nível de
atividade, antes de adotar cortes mais profundos nos gastos públicos. A questão
é como a confiança dos agentes vai reagir a essa estratégia.
Para finalizar, a publicação do Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) de maio funcionou como uma ducha
fria para as projeções mais otimistas. Na série livre de efeitos sazonais, o
IBC-BR caiu 0,51% entre abril e maio. Em termos trimestrais, o declínio do
nível de atividade não deu mostra de maiores arrefecimentos. A economia recuou
1% entre o trimestre imediatamente anterior e o trimestre encerrado em maio. Na
série que compara com o mesmo trimestre do ano anterior, a queda foi de 5,5%
(ver Gráfico)
Fonte: Banco Central do Brasil
Publicado no Jornal da Cidade, em 17/07/2016
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