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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Importações e saldo comercial no primeiro semestre de 2016

Ricardo Lacerda

A intensa depreciação da moeda nacional e a também impactante recessão interna, em meio a um quadro de nova debilidade do comércio mundial, foram os determinantes do resultado da balança comercial brasileira no 1º semestre de 2016. O saldo comercial brasileiro alcançou US$ 23,6 bilhões no semestre, frente a US$ 2,2 bilhões no mesmo período de 2015.
O salto do superávit comercial entre o 1º semestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016 foi, portanto, de US$ 21,4 bilhões, mais do que o dobro do que qualquer incremento anterior, na série de dados de comércio exterior iniciada em 1989.
Foi o mais elevado saldo comercial do 1º semestre na série iniciada em 1989. Talvez tenha sido, não tive tempo para conferir, o maior saldo comercial já obtido no 1º semestre na história do país. 
As importações despencam
O mais notável é que o incremento do superávit comercial se deveu integralmente à redução do valor das importações (em 27,7%), porquanto as exportações também declinaram, em 4,3% no período.
Queda tão pronunciada das compras internacionais se deveu em parte à recessão, principalmente a retração nas atividades industriais e no consumo das famílias, mas certamente decorreu em parcela bem maior dos efeitos combinados da substituição de importação de produtos importados pelos produzidos internamente e pela queda nas cotações internacionais dos produtos importados pelo país.
Esse último aspecto põe em destaque o fato nem sempre percebido de que não apenas as cotações de nossos produtos de exportação declinaram no mercado internacional, como também que as cotações dos produtos importados apresentaram expressiva redução. Ainda que a resultante desses dois movimentos deva ser amplamente desfavorável aos termos de troca do país, a retração nas cotações internacionais da pauta de importações não pode ser negligenciada na avaliação da evolução do comércio exterior do período.
Valor e quantidade
Assim, enquanto a queda no valor das importações no 1º semestre de 2016 alcançou os já citados 27,7%, a retração do volume físico importado, apesar de bem pronunciada, foi bem menor, de 10,8%. O Gráfico 1  apresenta a evolução dos índices de valor e de quantidade de importações no acumulado em doze meses entre o final de 2010 e junho de 2016.
Em termos de valor, as importações brasileiras no acumulado de doze meses vêm declinando desde o início de 2014, enquanto a quantidade importada somente começou sua trajetória de queda cerca de um ano depois, no início de 2015, quando a recessão se instalou internamente.
O efeito combinado entre recessão interna, depreciação da moeda nacional (e a consequente substituição de importações) fez com que ao final do 1º trimestre de 2016, o volume físico das importações brasileiras no acumulado de doze meses retornasse ao patamar do final de 2010. O valor das importações se igualou ao de dezembro de 2010 entre outubro e novembro de 2015 e despencou nos meses seguintes, até atingir 20% a menos em junho de 2016, sempre na série acumulada em doze meses. Certamente, a retração acima da média nas importações de bens de capital responde por parte da explicação.


Fonte: MDIC
Importações segundo uso dos bens
Ainda que a retração no valor das importações tenha atingido todos os grupos segundo o uso dos bens, há algumas especificidades que merecem ser mencionadas.
As importações de bens de capital, relacionadas à aquisição de máquina e equipamentos que comporão o investimento interno no país, recuaram 18,6% no semestre, em relação a igual período do ano anterior, abaixo da média do conjunto das importações, em razão de já se encontrarem muito deprimidas.
As importações de bens de consumo (duráveis e não duráveis) que serão vendidos às famílias no mercado interno recuaram 26,5% e os bens intermediários, utilizados na produção interna, principalmente nas atividades industriais, recuaram 25,6%.
As importações de combustíveis e lubrificantes, em parte por conta da queda no quantitativo, em parte por conta da forte redução nas cotações médias, caíram 48%.
O Gráfico 2 apresenta os índices do valor importado segundo as categorias de uso entre o final de 2010 e junho de 2016, na série acumulada em doze meses. Alguns fatos chamam a atenção.
Nessa série de doze meses, as principais categorias de importados segundo o uso dos bens iniciam a trajetória de declínio, em termos de valor, no início de 2014, com a notória exceção de combustíveis e lubrificantes.
Todavia, as importações de bens de capital, associadas aos investimentos das empresas, apresentam no ano de 2014 queda bem mais acentuada do que as das categorias associadas ao consumo das famílias (Bens de consumo) e ao uso intermediário para atender as necessidades de produção das empresas (bens intermediários).
Os valores das importações dessas duas categorias de bens, todavia, aprofundarão seus declínios a partir de 2015, quando a crise no mercado interna se agrava. Já as importações de combustíveis e lubrificantes despencam desde o final de 2014, diante, inicialmente, da queda nas cotações do produto e depois, também pela redução no consumo interno.

Fonte: MDIC
Publicado no Jornal da Cidade, em 10/07/2016

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