Ricardo Lacerda
A intensa depreciação da moeda nacional e a também
impactante recessão interna, em meio a um quadro de nova debilidade do comércio
mundial, foram os determinantes do resultado da balança comercial brasileira no
1º semestre de 2016. O saldo comercial brasileiro alcançou US$ 23,6 bilhões no
semestre, frente a US$ 2,2 bilhões no mesmo período de 2015.
O salto do superávit comercial entre o 1º
semestre de 2015 e o 1º trimestre de 2016 foi, portanto, de US$ 21,4 bilhões, mais
do que o dobro do que qualquer incremento anterior, na série de dados de
comércio exterior iniciada em 1989.
Foi o mais elevado saldo comercial do 1º
semestre na série iniciada em 1989. Talvez tenha sido, não tive tempo para
conferir, o maior saldo comercial já obtido no 1º semestre na história do
país.
As
importações despencam
O mais notável é que o incremento do superávit
comercial se deveu integralmente à redução do valor das importações (em 27,7%),
porquanto as exportações também declinaram, em 4,3% no período.
Queda tão pronunciada das compras
internacionais se deveu em parte à recessão, principalmente a retração nas
atividades industriais e no consumo das famílias, mas certamente decorreu em
parcela bem maior dos efeitos combinados da substituição de importação de
produtos importados pelos produzidos internamente e pela queda nas cotações
internacionais dos produtos importados pelo país.
Esse último aspecto põe em destaque o fato nem
sempre percebido de que não apenas as cotações de nossos produtos de exportação
declinaram no mercado internacional, como também que as cotações dos produtos
importados apresentaram expressiva redução. Ainda que a resultante desses dois
movimentos deva ser amplamente desfavorável aos termos de troca do país, a
retração nas cotações internacionais da pauta de importações não pode ser
negligenciada na avaliação da evolução do comércio exterior do período.
Valor
e quantidade
Assim, enquanto a queda no valor das
importações no 1º semestre de 2016 alcançou os já citados 27,7%, a retração do
volume físico importado, apesar de bem pronunciada, foi bem menor, de 10,8%. O
Gráfico 1 apresenta a evolução dos
índices de valor e de quantidade de importações no acumulado em doze meses
entre o final de 2010 e junho de 2016.
Em termos de valor, as importações
brasileiras no acumulado de doze meses vêm declinando desde o início de 2014, enquanto
a quantidade importada somente começou sua trajetória de queda cerca de um ano
depois, no início de 2015, quando a recessão se instalou internamente.
O efeito combinado entre recessão interna,
depreciação da moeda nacional (e a consequente substituição de importações) fez
com que ao final do 1º trimestre de 2016, o volume físico das importações
brasileiras no acumulado de doze meses retornasse ao patamar do final de 2010.
O valor das importações se igualou ao de dezembro de 2010 entre outubro e
novembro de 2015 e despencou nos meses seguintes, até atingir 20% a menos em
junho de 2016, sempre na série acumulada em doze meses. Certamente, a retração
acima da média nas importações de bens de capital responde por parte da
explicação.
Fonte: MDIC
Importações
segundo uso dos bens
Ainda que a retração no valor das importações
tenha atingido todos os grupos segundo o uso dos bens, há algumas
especificidades que merecem ser mencionadas.
As importações de bens de capital,
relacionadas à aquisição de máquina e equipamentos que comporão o investimento
interno no país, recuaram 18,6% no semestre, em relação a igual período do ano
anterior, abaixo da média do conjunto das importações, em razão de já se
encontrarem muito deprimidas.
As importações de bens de consumo (duráveis e
não duráveis) que serão vendidos às famílias no mercado interno recuaram 26,5%
e os bens intermediários, utilizados na produção interna, principalmente nas
atividades industriais, recuaram 25,6%.
As importações de combustíveis e
lubrificantes, em parte por conta da queda no quantitativo, em parte por conta da
forte redução nas cotações médias, caíram 48%.
O Gráfico 2 apresenta os índices do valor importado
segundo as categorias de uso entre o final de 2010 e junho de 2016, na série
acumulada em doze meses. Alguns fatos chamam a atenção.
Nessa série de doze meses, as principais categorias de importados
segundo o uso dos bens iniciam a trajetória de declínio, em termos de valor, no
início de 2014, com a notória exceção de combustíveis e lubrificantes.
Todavia, as importações de bens de capital, associadas
aos investimentos das empresas, apresentam no ano de 2014 queda bem mais
acentuada do que as das categorias associadas ao consumo das famílias (Bens de
consumo) e ao uso intermediário para atender as necessidades de produção das
empresas (bens intermediários).
Os valores das importações dessas duas categorias de
bens, todavia, aprofundarão seus declínios a partir de 2015, quando a crise no
mercado interna se agrava. Já as importações de combustíveis e lubrificantes despencam
desde o final de 2014, diante, inicialmente, da queda nas cotações do produto e
depois, também pela redução no consumo interno.
Fonte: MDIC
Publicado no Jornal da Cidade, em 10/07/2016
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