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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Câmbio e esforço exportador

Ricardo Lacerda

Mesmo com a intensa depreciação da moeda nacional desde o final de 2014, as exportações brasileiras nos primeiros cinco meses de 2016 foram inferiores às do mesmo período de 2015. Até maio as exportações de 2016 medidas em valor se situaram 1,6% abaixo do resultado de 2015. Nos doze meses acumulados até maio de 2016, as exportações brasileiras se situaram 9,4% abaixo das do mesmo período anterior.
É provável que nos primeiros meses da segunda metade do ano, as exportações de 2016 comecem a superar os resultados acumulados de 2015 e até o final do ano seja interrompida a queda iniciada ainda em setembro de 2014 na série acumulada em doze meses.
Divergência entre valor e quantidade
Em volume físico, todavia, as exportações apresentaram um outro comportamento, tendo reagido favoravelmente desde o início da aceleração da mudança no patamar do câmbio. Nos primeiros cinco meses de 2016, a quantidade exportada aumentou 15,4% em relação ao mesmo período de 2015.
No Gráfico 1, podemos observar que o valor das exportações acumuladas em doze meses de maio de 2016 encontrava-se bem abaixo da situação de julho de 2014, quando se iniciou a sua queda acelerada, exatamente 21% abaixo. De outra parte, desde o final de 2014 a curva do volume físico de exportações, também no acumulado de doze meses, aponta incisivamente para cima, de tal forma que o volume exportado em maio de 2016, nessa série, é 18,4% superior ao de novembro de 2014.
Evidentemente a divergência entre a evolução das exportações em termos de valor e de volume físico decorre do comportamento desfavorável nas cotações internacionais dos principais produtos de nossa pauta exportadora, muito particularmente do minério de ferro, mas não exclusivamente.
O que é menos evidente é que a depreciação de nossa moeda, apesar de intensa, não tem sido suficiente, na média de nossa pauta de exportações, para compensar em moeda nacional a perda decorrente da queda da cotação dos nossos produtos medida em uma cesta de moeda no mercado mundial.

 Fonte: MDIC

Câmbio e valor médio das exportações
Na média de doze meses, o valor da tonelada exportada pelo Brasil em dólares correntes aumentou continuamente desde meados meados de 2003 até o início de 2012, desconsiderando-se a forte queda entre o final de 2008 e meados de 2009. As exportações do Brasil desde 2003 foram fortemente favorecidas pelo que ficou conhecido como o longo ciclo de valorização das commodities no mercado mundial, em grande parte causado pela intensa demanda da China por essas mercadorias.
A partir de 2012, todavia, o valor médio das exportações brasileiras, nessa média móvel de doze meses, passou a declinar continuamente. Nesse sentido, a piora do cenário externo a partir de 2011 e depois em novos mergulhos em 2013 e em 2015 tiveram sim papel determinante na evolução desfavorável de nossas vendas externas, contaminando o quadro econômico interno. Portanto, os efeitos da nova e profunda crise no cenário mundial não são invenção para retirar responsabilidade em relação as desmandos na condução da política econômica do país.
O Gráfico 2 apresenta os índices de evolução da média móvel de doze meses do câmbio real e efetivo do comércio exterior brasileiro, do valor médio das exportações por tonelada, também na média de doze meses, e um terceiro índice, elaborado por nós, desse valor médio das exportações por tonelada, corrigido pela variação cambial, com base no câmbio real e efetivo.
A ideia desse último índice é de informar se a variação do câmbio (já descontadas as inflações interna e externa) foi suficiente ou insuficiente para compensar as quedas na cotação média de nossas exportações. Trata-se, evidentemente, de um índice aproximado, sujeito a intercorrências diversas, mas que pode ser útil para observar o comportamento do nosso comércio exterior. Todos índices têm como base a média de doze meses de dezembro de 2010.
Perceba-se que o câmbio real e efetivo das exportações brasileiras começa a subir tão logo as cotações médias dos nossos produtos de exportação iniciam o declínio. No Gráfico 2, a curva do câmbio real e efetivo, na média de doze meses, inicia a trajetória de elevação a partir o início de 2012, como resposta à queda acentuada da cotação externa dos nossos principais produtos (linha dupla), que afetou o desempenho de nossas exportações em termos de valor (no Gráfico 1).
A cotação média de nossas exportações, nessa série de doze meses, manteve-se em declínio durante todo o período entre o início de 2012 e maio de 2016. Não são poucos os efeitos desfavoráveis de um período tão longo de queda. A partir de meados de 2014 a curva da cotação média aponta fortemente para baixo, em decorrência do agravamento das dificuldades na economia chinesa. Com alguma defasagem temporal, ao final de 2014 inicia-se o movimento recente de forte elevação do câmbio.
Finalmente, quando se corrige a cotação média de nossas exportações pela variação cambial percebe-se que é atenuada a perda dos exportadores mas não o suficiente para recompor o nível anterior ao início da queda no início de 2014.

Fonte: MDIC

Publicado no Jornal da Cidade, em 03 de julho de 2016

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