Ricardo Lacerda
Mesmo com a intensa depreciação da moeda
nacional desde o final de 2014, as exportações brasileiras nos primeiros cinco
meses de 2016 foram inferiores às do mesmo período de 2015. Até maio as
exportações de 2016 medidas em valor se situaram 1,6% abaixo do resultado de
2015. Nos doze meses acumulados até maio de 2016, as exportações brasileiras se
situaram 9,4% abaixo das do mesmo período anterior.
É provável que nos primeiros meses da segunda
metade do ano, as exportações de 2016 comecem a superar os resultados acumulados
de 2015 e até o final do ano seja interrompida a queda iniciada ainda em
setembro de 2014 na série acumulada em doze meses.
Divergência
entre valor e quantidade
Em volume físico, todavia, as exportações apresentaram
um outro comportamento, tendo reagido favoravelmente desde o início da
aceleração da mudança no patamar do câmbio. Nos primeiros cinco meses de 2016,
a quantidade exportada aumentou 15,4% em relação ao mesmo período de 2015.
No Gráfico 1, podemos observar que o valor
das exportações acumuladas em doze meses de maio de 2016 encontrava-se bem
abaixo da situação de julho de 2014, quando se iniciou a sua queda acelerada,
exatamente 21% abaixo. De outra parte, desde o final de 2014 a curva do volume
físico de exportações, também no acumulado de doze meses, aponta incisivamente para
cima, de tal forma que o volume exportado em maio de 2016, nessa série, é 18,4%
superior ao de novembro de 2014.
Evidentemente a divergência entre a evolução
das exportações em termos de valor e de volume físico decorre do comportamento
desfavorável nas cotações internacionais dos principais produtos de nossa pauta
exportadora, muito particularmente do minério de ferro, mas não exclusivamente.
O que é menos evidente é que a depreciação de
nossa moeda, apesar de intensa, não tem sido suficiente, na média de nossa
pauta de exportações, para compensar em moeda nacional a perda decorrente da
queda da cotação dos nossos produtos medida em uma cesta de moeda no mercado
mundial.
Câmbio
e valor médio das exportações
Na média de doze meses, o valor da tonelada
exportada pelo Brasil em dólares correntes aumentou continuamente desde meados meados
de 2003 até o início de 2012, desconsiderando-se a forte queda entre o final de
2008 e meados de 2009. As exportações do Brasil desde 2003 foram fortemente
favorecidas pelo que ficou conhecido como o longo ciclo de valorização das
commodities no mercado mundial, em grande parte causado pela intensa demanda da
China por essas mercadorias.
A partir de 2012, todavia, o valor médio das
exportações brasileiras, nessa média móvel de doze meses, passou a declinar
continuamente. Nesse sentido, a piora do cenário externo a partir de 2011 e
depois em novos mergulhos em 2013 e em 2015 tiveram sim papel determinante na
evolução desfavorável de nossas vendas externas, contaminando o quadro
econômico interno. Portanto, os efeitos da nova e profunda crise no cenário
mundial não são invenção para retirar responsabilidade em relação as desmandos
na condução da política econômica do país.
O Gráfico 2 apresenta os índices de evolução
da média móvel de doze meses do câmbio real e efetivo do comércio exterior
brasileiro, do valor médio das exportações por tonelada, também na média de
doze meses, e um terceiro índice, elaborado por nós, desse valor médio das
exportações por tonelada, corrigido pela variação cambial, com base no câmbio
real e efetivo.
A ideia desse último índice é de informar se
a variação do câmbio (já descontadas as inflações interna e externa) foi
suficiente ou insuficiente para compensar as quedas na cotação média de nossas
exportações. Trata-se, evidentemente, de um índice aproximado, sujeito a
intercorrências diversas, mas que pode ser útil para observar o comportamento
do nosso comércio exterior. Todos índices têm como base a média de doze meses
de dezembro de 2010.
Perceba-se que o câmbio real e efetivo das
exportações brasileiras começa a subir tão logo as cotações médias dos
nossos produtos de exportação iniciam o declínio. No Gráfico 2, a curva do
câmbio real e efetivo, na média de doze meses, inicia a trajetória de elevação a
partir o início de 2012, como resposta à queda acentuada da cotação externa dos
nossos principais produtos (linha dupla), que afetou o desempenho de nossas
exportações em termos de valor (no Gráfico 1).
A cotação média de nossas exportações, nessa
série de doze meses, manteve-se em declínio durante todo o período entre o
início de 2012 e maio de 2016. Não são poucos os efeitos desfavoráveis de um
período tão longo de queda. A partir de meados de 2014 a curva da cotação média
aponta fortemente para baixo, em decorrência do agravamento das dificuldades na
economia chinesa. Com alguma defasagem temporal, ao final de 2014 inicia-se o
movimento recente de forte elevação do câmbio.
Finalmente, quando se corrige a cotação média
de nossas exportações pela variação cambial percebe-se que é atenuada a perda
dos exportadores mas não o suficiente para recompor o nível anterior ao início
da queda no início de 2014.
Fonte: MDIC
Publicado no Jornal da Cidade, em 03 de julho de 2016
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