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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O mercado de trabalho do Nordeste demora mais a reagir – Parte 2

Ricardo Lacerda

Vimos no artigo da semana passada que os impactos a crise econômica sobre o mercado de trabalho foram muito mais intensos na região Nordeste do que nas demais regiões, ainda que eles tenham sido muito fortes em todo o território nacional.
Em linhas gerais, o emprego formal despencou em todas as regiões, mas a queda no Nordeste foi mais intensa do que na maioria das demais regiões, enquanto a ocupação informal (emprego sem carteira assinada e ocupação por conta própria) compensou parcialmente a retração nas ocupações formais na média das demais regiões, mas despencou na região Nordeste.
Não tenho conhecimento de explicação satisfatória das razões pelas quais as ocupações informais no Nordeste apresentaram trajetória diversa da maioria das demais regiões, ou mesmo por que o emprego formal sofreu queda tão mais acentuada na região.
Procurando avançar na compreensão do que é específico na crise do mercado de trabalho no Nordeste examinaremos a evolução da ocupação nos últimos três anos segundo os grupos de atividades. Em artigos subsequentes procuraremos outros recortes que possam auxiliar na resposta às questões postas no parágrafo anterior.
Queda generalizada
Na comparação entre a evolução da ocupação do ponto de vista setorial saltam aos olhos importantes diferenças entre a média do Brasil e o Nordeste.  Entre a média de quatro trimestres encerrados em setembro de 2017 e a média de quatro trimestres de 2014, o Nordeste participou com cerca de quatro em cada cinco ocupações perdidas. Diferentemente da média do país, em que o número de pessoas ocupadas caiu em quatro dos dez grupos de atividades considerados, na região Nordeste o pessoal ocupado se retraiu em sete grupos de atividades, grau de disseminação que não se repetiu em nenhuma outra região do país (Ver Tabela 1).
Um outro aspecto de caráter geral é que nessa comparação a taxa de evolução do número de pessoas ocupadas na região Nordeste foi pior do que a do país em todos os grupos de atividade, com uma única exceção, na indústria geral, agrupamento que reúne a indústria de transformação e a extração mineral (ver última coluna da Tabela 1).

Tabela 1. Variação absoluta e relativa do número de pessoas ocupadas no Brasil e Nordeste na comparação entre a média trimestral de 2014 e a média de quatro trimestres completados no 3º trimestre de 2017
Grupos de Atividades
Brasil
Nordeste
Nordeste - Brasil
Mil pessoas
%
Mil pessoas
%
Pontos percentuais
Total
-1.927
-2,1
-1.589
-7,0
-4,9
1.Agricultura
-884
-9,2
-863
-22,4
-13,2
2. Indústria geral
-1.649
-12,5
-264
-12,0
0,5
3. Construção
-931
-11,9
-384
-18,7
-6,8
4.  Comércio
28
0,2
-140
-3,1
-3,2
5. Transporte, armazenagem e correio
386
9,2
71
8,0
-1,2
6. Alojamento e alimentação
802
18,9
174
16,1
-2,9
5. Informação, comunicação, financeiras, imobiliárias, profissionais/ adm
-432
-4,2
-145
-8,3
-4,1
8. Adm. pública, educ, saúde e serv. sociais
383
2,5
-26
-0,7
-3,2
9. Outro serviço
199
4,8
9
0,9
-3,8
10. Serviço doméstico
176
2,9
-21
-1,4
-4,4
Fonte: IBGE. PNADC trimestral.
Grupos de atividade
Os maiores diferenciais de crescimento desfavoráveis ao Nordeste, entre as atividades que mais desocuparam, ocorreram na agricultura, construção civil e no amplo segmento de serviços que apresentado no grupamento 5 da tabela. 
A partir desses dados, é razoável concentrar a explicação do desempenho pior do mercado de trabalho no Nordeste nesses agrupamentos, ainda que a retração tenha sido generalizada, sintoma que a crise no mercado de trabalho da região foi contaminando setor a setor.
A seca e a crise canavieira foram devastadoras para a ocupação regional: a retração na ocupação em atividades agrícolas na região Nordeste atingiu o contingente de 863 mil pessoas. Mas o desempenho na construção civil, nos segmentos de comércio e serviços, e, mesmo que acompanhando a média do Brasil, na indústria geral também concorreram fortemente para quadro que se estabeleceu no mercado de trabalho da região.
Chama atenção como a crise nas finanças públicas (e a consequente corrida para a aposentadoria) tem impacto muito superior na ocupação do Nordeste do que na maioria das demais regiões. 
Em 2017
Ao se comparar o 3º trimestre de 2017 com o mesmo período de 2016 constata-se que, em um número expressivo de atividades, todas integrantes do setor terciário, o contingente de pessoas ocupadas também crescimento na região Nordeste. Todavia, mesmo nessa comparação, a evolução na região permaneceu inferior à média do país em quase todos os grupos de atividades econômicas (última coluna da Tabela 2). 
Seca, queda mais acentuada na construção civil e comércio, e serviços públicos e privados em retração traçam um cenário muito crítico no mercado de trabalho do Nordeste nos últimos três anos, situação que também se revelou de reversão bem mais lenta do que na média do país nesse início problemático de retomada do crescimento.

Tabela 2. Variação absoluta e relativa do número de pessoas ocupadas no Brasil e Nordeste na comparação entre e 3º trimestre de 2016 e o mesmo trimestre de 2017.
Grupos de Atividades
Brasil
Nordeste
Nordeste - Brasil
Mil pessoas
%
Mil pessoas
%
Pontos percentuais
Total
1462
1,6
-33
-0,2
-1,8
1.Agricultu
-400
-4,4
-320
-10,0
-5,5
2. Indústria geral
245
2,1
-18
-0,9
-3,0
3. Construção
-268
-3,8
-140
-7,8
-4,0
4.  Comércio
410
2,4
88
2,0
-0,4
5. Transporte, armazenagem e correio
116
2,6
86
9,5
6,9
6. Alojamento e alimentação
562
12,0
119
10,1
-1,9
5. Informação, comunicação, financeiras, imobiliárias, profissionais/ adm
487
5,1
6
0,4
-4,7
8. Adm. pública, educ, saúde e serv. sociais
51
0,3
117
3,1
2,7
9. Outro serviço
214
5,0
33
3,4
-1,5
10. Serviço doméstico
28
0,5
-10
-0,7
-1,1

Fonte: IBGE. PNADC trimestral

Publicado no Jornalda Cidade, em 28/01/2018

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