Ricardo Lacerda
Vimos no artigo da
semana passada que os impactos a crise econômica sobre o mercado de trabalho foram
muito mais intensos na região Nordeste do que nas demais regiões, ainda que
eles tenham sido muito fortes em todo o território nacional.
Em linhas gerais, o
emprego formal despencou em todas as regiões, mas a queda no Nordeste foi mais
intensa do que na maioria das demais regiões, enquanto a ocupação informal (emprego
sem carteira assinada e ocupação por conta própria) compensou parcialmente a
retração nas ocupações formais na média das demais regiões, mas despencou na
região Nordeste.
Não tenho conhecimento
de explicação satisfatória das razões pelas quais as ocupações informais no
Nordeste apresentaram trajetória diversa da maioria das demais regiões, ou
mesmo por que o emprego formal sofreu queda tão mais acentuada na região.
Procurando avançar na
compreensão do que é específico na crise do mercado de trabalho no Nordeste examinaremos
a evolução da ocupação nos últimos três anos segundo os grupos de atividades.
Em artigos subsequentes procuraremos outros recortes que possam auxiliar na
resposta às questões postas no parágrafo anterior.
Queda
generalizada
Na comparação entre a
evolução da ocupação do ponto de vista setorial saltam aos olhos importantes
diferenças entre a média do Brasil e o Nordeste. Entre a média de quatro trimestres encerrados
em setembro de 2017 e a média de quatro trimestres de 2014, o Nordeste
participou com cerca de quatro em cada cinco ocupações perdidas. Diferentemente
da média do país, em que o número de pessoas ocupadas caiu em quatro dos dez
grupos de atividades considerados, na região Nordeste o pessoal ocupado se
retraiu em sete grupos de atividades, grau de disseminação que não se repetiu
em nenhuma outra região do país (Ver Tabela 1).
Um outro aspecto de
caráter geral é que nessa comparação a taxa de evolução do número de pessoas
ocupadas na região Nordeste foi pior do que a do país em todos os grupos de
atividade, com uma única exceção, na indústria geral, agrupamento que reúne a
indústria de transformação e a extração mineral (ver última coluna da Tabela 1).
Tabela 1.
Variação absoluta e relativa do número de pessoas ocupadas no Brasil e
Nordeste na comparação entre a média trimestral de 2014 e a média de quatro
trimestres completados no 3º trimestre de 2017
|
|||||
Grupos de Atividades
|
Brasil
|
Nordeste
|
Nordeste - Brasil
|
||
Mil
pessoas
|
%
|
Mil
pessoas
|
%
|
Pontos
percentuais
|
|
Total
|
-1.927
|
-2,1
|
-1.589
|
-7,0
|
-4,9
|
1.Agricultura
|
-884
|
-9,2
|
-863
|
-22,4
|
-13,2
|
2. Indústria geral
|
-1.649
|
-12,5
|
-264
|
-12,0
|
0,5
|
3. Construção
|
-931
|
-11,9
|
-384
|
-18,7
|
-6,8
|
4. Comércio
|
28
|
0,2
|
-140
|
-3,1
|
-3,2
|
5. Transporte, armazenagem e correio
|
386
|
9,2
|
71
|
8,0
|
-1,2
|
6. Alojamento e alimentação
|
802
|
18,9
|
174
|
16,1
|
-2,9
|
5. Informação, comunicação, financeiras,
imobiliárias, profissionais/ adm
|
-432
|
-4,2
|
-145
|
-8,3
|
-4,1
|
8. Adm. pública, educ, saúde e serv. sociais
|
383
|
2,5
|
-26
|
-0,7
|
-3,2
|
9. Outro serviço
|
199
|
4,8
|
9
|
0,9
|
-3,8
|
10. Serviço doméstico
|
176
|
2,9
|
-21
|
-1,4
|
-4,4
|
Fonte: IBGE. PNADC
trimestral.
Grupos de atividade
Os maiores diferenciais de crescimento
desfavoráveis ao Nordeste, entre as atividades que mais desocuparam, ocorreram
na agricultura, construção civil e no amplo segmento de serviços que
apresentado no grupamento 5 da tabela.
A partir desses dados, é razoável concentrar
a explicação do desempenho pior do mercado de trabalho no Nordeste nesses
agrupamentos, ainda que a retração tenha sido generalizada, sintoma que a crise
no mercado de trabalho da região foi contaminando setor a setor.
A seca e a crise canavieira foram devastadoras
para a ocupação regional: a retração na ocupação em atividades agrícolas na
região Nordeste atingiu o contingente de 863 mil pessoas. Mas o desempenho na
construção civil, nos segmentos de comércio e serviços, e, mesmo que acompanhando
a média do Brasil, na indústria geral também concorreram fortemente para quadro
que se estabeleceu no mercado de trabalho da região.
Chama atenção como a crise nas finanças
públicas (e a consequente corrida para a aposentadoria) tem impacto muito
superior na ocupação do Nordeste do que na maioria das demais regiões.
Em 2017
Ao se comparar o 3º trimestre de 2017 com o
mesmo período de 2016 constata-se que, em um número expressivo de atividades,
todas integrantes do setor terciário, o contingente de pessoas ocupadas também crescimento
na região Nordeste. Todavia, mesmo nessa comparação, a evolução na região
permaneceu inferior à média do país em quase todos os grupos de atividades
econômicas (última coluna da Tabela 2).
Seca, queda mais acentuada na construção
civil e comércio, e serviços públicos e privados em retração traçam um cenário muito
crítico no mercado de trabalho do Nordeste nos últimos três anos, situação que
também se revelou de reversão bem mais lenta do que na média do país nesse
início problemático de retomada do crescimento.
Tabela 2.
Variação absoluta e relativa do número de pessoas ocupadas no Brasil e
Nordeste na comparação entre e 3º trimestre de 2016 e o mesmo trimestre de
2017.
|
|||||
Grupos de Atividades
|
Brasil
|
Nordeste
|
Nordeste
- Brasil
|
||
Mil
pessoas
|
%
|
Mil
pessoas
|
%
|
Pontos
percentuais
|
|
Total
|
1462
|
1,6
|
-33
|
-0,2
|
-1,8
|
1.Agricultu
|
-400
|
-4,4
|
-320
|
-10,0
|
-5,5
|
2. Indústria geral
|
245
|
2,1
|
-18
|
-0,9
|
-3,0
|
3. Construção
|
-268
|
-3,8
|
-140
|
-7,8
|
-4,0
|
4. Comércio
|
410
|
2,4
|
88
|
2,0
|
-0,4
|
5. Transporte, armazenagem e correio
|
116
|
2,6
|
86
|
9,5
|
6,9
|
6. Alojamento e alimentação
|
562
|
12,0
|
119
|
10,1
|
-1,9
|
5. Informação, comunicação, financeiras,
imobiliárias, profissionais/ adm
|
487
|
5,1
|
6
|
0,4
|
-4,7
|
8. Adm. pública, educ, saúde e serv. sociais
|
51
|
0,3
|
117
|
3,1
|
2,7
|
9. Outro serviço
|
214
|
5,0
|
33
|
3,4
|
-1,5
|
10. Serviço doméstico
|
28
|
0,5
|
-10
|
-0,7
|
-1,1
|
Fonte: IBGE. PNADC
trimestral
Publicado no Jornalda Cidade, em 28/01/2018
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