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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O mercado de trabalho do Nordeste demora mais a reagir

Ricardo Lacerda

A crise no mercado de trabalho nos últimos três anos vem sendo muito mais dura nas regiões Nordeste e Norte e menos acentuada nas regiões Sul e Centro-Oeste. A região Sudeste se situa em uma posição intermediária, com a ocupação total caindo menos do que na média brasileira, mas com o desempenho dos empregos formais acompanhando a média do país. De fato, a evolução no mercado do trabalho no Nordeste tem sido muito pior do que na região Norte, com a ocupação total encolhendo em velocidade mais do que duas vezes superior.
Não tenho conhecimento de que tenha sido elaborada uma explicação robusta das causas pelas quais os mercados de trabalho das regiões mais pobres têm sofrido muito mais do que os das regiões mais estruturadas economicamente. Em linhas bem gerais, o que se percebe é que o comportamento do mercado de trabalho do Nordeste na crise atual pode ser sintetizado da seguinte maneira: as ocupações formais do Nordeste se retraíram em ritmo bem superior aos das demais regiões, com exceção da região Norte, e as ocupações informais também despencaram, diferentemente da maioria das demais regiões em que ampla parcela das pessoas buscou refúgio em ocupações como empregos sem carteira assinada e por conta própria.
A tabela apresentada resume o comportamento das ocupações total, do emprego com e sem carteira assinada e das ocupações por conta própria no agregado do Brasil e nas regiões Nordeste e Sudeste, a partir de comparações entre alguns períodos.
Quatro em cada cinco
Na comparação entre a média dos quatro trimestres de 2014 e a média entre o último trimestre de 2016 e 3º trimestre de 2017, o Brasil apresentou retração de 1,93 milhão de pessoas ocupadas. Desse contingente, mais de quatro em cada cinco pessoas (82%), residiam no Nordeste.
O pessoal ocupado na região Nordeste encolheu em 1,58 milhão de pessoas, frente a redução em 214 mil pessoas na região Sudeste, lembrando que a última região participava com 44% do pessoal ocupado no país em 2014, frente a 25% de participação da região Nordeste. Na comparação entre esses períodos, a ocupação total na região Nordeste recuou 7%, frente à média de 2,1% no Brasil e de 0,5% na região Sudeste (ver 1ª coluna da Tabela).  
O número de pessoas ocupadas em empregos formais no setor privado no Nordeste registrou retração muito acentuada (743 mil pessoas), inferior em termos absolutos à queda na região mais industrializada (1,57 milhão), mas bem mais intensa em termos relativos, 12,5% e 8,2%, respectivamente. A média de recuo no país foi de 8,5%.
Além da retração mais acentuada no emprego formal, a região Nordeste não conseguiu, nesses três anos de crise no mercado de trabalho, gerar ocupações alternativas, com vínculos informais, à diferença de todas as demais regiões.
Assim, os empregos no setor privado sem carteira assinada no Nordeste recuaram em 3,7% na comparação entre a média dos quatro trimestres de 2014 e a média dos quatro trimestres encerrados no 3º trimestre de 2017. Nessa comparação, os empregos sem carteira no setor privado aumentaram 1,7% no país e 5,1% na região Sudeste. Apenas a região Centro-Oeste acompanhou o Nordeste na redução dos empregos sem carteira de trabalho, ainda assim registrando taxa bem menos acentuada (-0,9%).
O comportamento divergente da região Nordeste na geração de ocupações informais foi ainda mais acentuado nas ocupações por conta própria, que recuaram 5,9% no Nordeste, e cresceram 13,2% na região Sudeste. Em todas as demais regiões as ocupações por conta própria apresentaram incrementos importantes, ainda que bem inferiores ao apresentado na região Sudeste.
Retardo
Nos dois últimos trimestres com dados disponíveis, 2º e 3º trimestres de 2017, a ocupação total aumentou no Nordeste, em parte por conta de fatores sazonais relacionados ao início da safra da cana-de-açúcar ou às ocupações no comércio, na indústria e nos serviços relacionadas às vendas de final de ano.
Na comparação com os mesmos trimestres do ano anterior, o Nordeste foi a única região em que o pessoa ocupado continuou recuando no 3º trimestre de 2017, mas é provável que as taxas tenham invertido para positivas a partir do último trimestre de 2017 (ver última coluna da tabela).
Nessa comparação que reflete o comportamento no período mais recente, a taxa de retração do emprego com carteira assinada permanece mais acentuada no Nordeste do que na média das demais regiões e os vínculos informais ainda não começaram a reagir. Tanto em relação ao mesmo trimestre do ano anterior quanto em relação ao trimestre imediatamente anterior, a ocupação por conta própria no Nordeste continuou recuando no 3º trimestre de 2017, enquanto o emprego sem carteira assinada apresentou certo incremento na margem, mas continua recuando na comparação com o mesmo trimestre anterior.  
A deterioração mais acentuada e o retardo na recuperação no mercado de trabalho no Nordeste explicam uma perda de quase 1% na sua participação na massa da renda nacional de trabalho.





                                                                                                                                                            
Tabela: Brasil, Nordeste e Sudeste. Variação do Pessoal ocupado segundo posição da ocupação no trabalho principal.
Ocupação
Brasil/ Regiões
Média quatro trimestres
3º Tri de 2017/3º Tri d 2016
4º Tri de 2016 a 3º Tri de 2017/
2014
4º Tri de 2016 a 3º Tri de 2017/ 4º Tri de 2015 a 3º Tri de 2016
2014
Em mil pessoas
Taxa (%)
Em mil pessoas
Taxa (%)
Em mil pessoas
Taxa (%)
Ocupação Total
Brasil
-1.927
-2,1
-694
-0,8
1.462
1,6
Nordeste
-1.589
-7,0
-798
-3,6
-33
-0,2
Sudeste
-214
-0,5
123
0,3
817
2,0
Empregado setor privado, com carteira
Brasil
-3.099
-8,5
-1.132
-3,3
-810
-2,4
Nordeste
-743
-12,1
-286
-5,0
-186
-3,4
Sudeste
-1.572
-8,2
-617
-3,4
-518
-2,9
Empregado setor privado, sem carteira
Brasil
180
1,7
531
5,3
641
6,2
Nordeste
-133
-3,7
10
0,3
70
2,0
Sudeste
198
5,1
374
10,1
490
13,0
Empregador
Brasil
391
10,3
310
8,0
163
4,0
Nordeste
107
16,3
110
16,9
118
17,2
Sudeste
161
9,0
73
3,9
-23
-1,2
Conta própria
Brasil
1.111
5,2
-304
-1,3
1.057
4,8
Nordeste
-392
-5,9
-499
-7,3
-184
-2,9
Sudeste
1.031
13,2
249
2,9
751
8,9

Fonte: IBGE. PNADc Trimestral

Publicado no Jornal da Cidade, 21/01/2018

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