Ricardo Lacerda
A crise no mercado de
trabalho nos últimos três anos vem sendo muito mais dura nas regiões Nordeste e
Norte e menos acentuada nas regiões Sul e Centro-Oeste. A região Sudeste se
situa em uma posição intermediária, com a ocupação total caindo menos do que na
média brasileira, mas com o desempenho dos empregos formais acompanhando a
média do país. De fato, a evolução no mercado do trabalho no Nordeste tem sido
muito pior do que na região Norte, com a ocupação total encolhendo em
velocidade mais do que duas vezes superior.
Não tenho conhecimento
de que tenha sido elaborada uma explicação robusta das causas pelas quais os
mercados de trabalho das regiões mais pobres têm sofrido muito mais do que os
das regiões mais estruturadas economicamente. Em linhas bem gerais, o que se
percebe é que o comportamento do mercado de trabalho do Nordeste na crise atual
pode ser sintetizado da seguinte maneira: as ocupações formais do Nordeste se
retraíram em ritmo bem superior aos das demais regiões, com exceção da região Norte,
e as ocupações informais também despencaram, diferentemente da maioria das
demais regiões em que ampla parcela das pessoas buscou refúgio em ocupações como
empregos sem carteira assinada e por conta própria.
A tabela apresentada
resume o comportamento das ocupações total, do emprego com e sem carteira
assinada e das ocupações por conta própria no agregado do Brasil e nas regiões
Nordeste e Sudeste, a partir de comparações entre alguns períodos.
Quatro
em cada cinco
Na comparação entre a
média dos quatro trimestres de 2014 e a média entre o último trimestre de 2016
e 3º trimestre de 2017, o Brasil apresentou retração de 1,93 milhão de pessoas
ocupadas. Desse contingente, mais de quatro em cada cinco pessoas (82%),
residiam no Nordeste.
O pessoal ocupado na
região Nordeste encolheu em 1,58 milhão de pessoas, frente a redução em 214 mil
pessoas na região Sudeste, lembrando que a última região participava com 44% do
pessoal ocupado no país em 2014, frente a 25% de participação da região
Nordeste. Na comparação entre esses períodos, a ocupação total na região
Nordeste recuou 7%, frente à média de 2,1% no Brasil e de 0,5% na região
Sudeste (ver 1ª coluna da Tabela).
O número de pessoas
ocupadas em empregos formais no setor privado no Nordeste registrou retração
muito acentuada (743 mil pessoas), inferior em termos absolutos à queda na
região mais industrializada (1,57 milhão), mas bem mais intensa em termos
relativos, 12,5% e 8,2%, respectivamente. A média de recuo no país foi de 8,5%.
Além da retração mais
acentuada no emprego formal, a região Nordeste não conseguiu, nesses três anos
de crise no mercado de trabalho, gerar ocupações alternativas, com vínculos
informais, à diferença de todas as demais regiões.
Assim, os empregos no
setor privado sem carteira assinada no Nordeste recuaram em 3,7% na comparação
entre a média dos quatro trimestres de 2014 e a média dos quatro trimestres
encerrados no 3º trimestre de 2017. Nessa comparação, os empregos sem carteira
no setor privado aumentaram 1,7% no país e 5,1% na região Sudeste. Apenas a
região Centro-Oeste acompanhou o Nordeste na redução dos empregos sem carteira
de trabalho, ainda assim registrando taxa bem menos acentuada (-0,9%).
O comportamento
divergente da região Nordeste na geração de ocupações informais foi ainda mais
acentuado nas ocupações por conta própria, que recuaram 5,9% no Nordeste, e cresceram
13,2% na região Sudeste. Em todas as demais regiões as ocupações por conta
própria apresentaram incrementos importantes, ainda que bem inferiores ao
apresentado na região Sudeste.
Retardo
Nos dois últimos
trimestres com dados disponíveis, 2º e 3º trimestres de 2017, a ocupação total
aumentou no Nordeste, em parte por conta de fatores sazonais relacionados ao
início da safra da cana-de-açúcar ou às ocupações no comércio, na indústria e
nos serviços relacionadas às vendas de final de ano.
Na comparação com os
mesmos trimestres do ano anterior, o Nordeste foi a única região em que o
pessoa ocupado continuou recuando no 3º trimestre de 2017, mas é provável que
as taxas tenham invertido para positivas a partir do último trimestre de 2017 (ver
última coluna da tabela).
Nessa comparação que
reflete o comportamento no período mais recente, a taxa de retração do emprego
com carteira assinada permanece mais acentuada no Nordeste do que na média das
demais regiões e os vínculos informais ainda não começaram a reagir. Tanto em
relação ao mesmo trimestre do ano anterior quanto em relação ao trimestre
imediatamente anterior, a ocupação por conta própria no Nordeste continuou
recuando no 3º trimestre de 2017, enquanto o emprego sem carteira assinada
apresentou certo incremento na margem, mas continua recuando na comparação com
o mesmo trimestre anterior.
A deterioração mais
acentuada e o retardo na recuperação no mercado de trabalho no Nordeste
explicam uma perda de quase 1% na sua participação na massa da renda nacional
de trabalho.
Tabela:
Brasil, Nordeste e Sudeste. Variação do Pessoal ocupado segundo posição da
ocupação no trabalho principal.
|
|||||||
Ocupação
|
Brasil/ Regiões
|
Média
quatro trimestres
|
3º Tri
de 2017/3º Tri d 2016
|
||||
4º
Tri de 2016 a 3º Tri de 2017/
2014
|
4º
Tri de 2016 a 3º Tri de 2017/ 4º Tri de 2015 a 3º Tri de 2016
2014
|
||||||
Em mil pessoas
|
Taxa (%)
|
Em mil pessoas
|
Taxa (%)
|
Em mil pessoas
|
Taxa (%)
|
||
Ocupação Total
|
Brasil
|
-1.927
|
-2,1
|
-694
|
-0,8
|
1.462
|
1,6
|
Nordeste
|
-1.589
|
-7,0
|
-798
|
-3,6
|
-33
|
-0,2
|
|
Sudeste
|
-214
|
-0,5
|
123
|
0,3
|
817
|
2,0
|
|
Empregado setor privado, com carteira
|
Brasil
|
-3.099
|
-8,5
|
-1.132
|
-3,3
|
-810
|
-2,4
|
Nordeste
|
-743
|
-12,1
|
-286
|
-5,0
|
-186
|
-3,4
|
|
Sudeste
|
-1.572
|
-8,2
|
-617
|
-3,4
|
-518
|
-2,9
|
|
Empregado setor privado, sem carteira
|
Brasil
|
180
|
1,7
|
531
|
5,3
|
641
|
6,2
|
Nordeste
|
-133
|
-3,7
|
10
|
0,3
|
70
|
2,0
|
|
Sudeste
|
198
|
5,1
|
374
|
10,1
|
490
|
13,0
|
|
Empregador
|
Brasil
|
391
|
10,3
|
310
|
8,0
|
163
|
4,0
|
Nordeste
|
107
|
16,3
|
110
|
16,9
|
118
|
17,2
|
|
Sudeste
|
161
|
9,0
|
73
|
3,9
|
-23
|
-1,2
|
|
Conta própria
|
Brasil
|
1.111
|
5,2
|
-304
|
-1,3
|
1.057
|
4,8
|
Nordeste
|
-392
|
-5,9
|
-499
|
-7,3
|
-184
|
-2,9
|
|
Sudeste
|
1.031
|
13,2
|
249
|
2,9
|
751
|
8,9
|
Fonte: IBGE. PNADc Trimestral
Publicado no Jornal da Cidade, 21/01/2018
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