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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Tudo depende do mercado de trabalho


Ricardo Lacerda
Enunciada como no título a afirmativa tem muito de circular, mas cumpre o papel de evidenciar como a evolução recente do mercado de trabalho no Brasil tem sido titubeante, sendo ao mesmo tempo sintoma e causa de debilidade da retomada de crescimento nessa transição para 2018.
A recuperação do mercado de trabalho no segundo semestre de 2017 se revelou bem menos robusta do que o governo federal anunciava. De triste memória pela emissão da portaria que restringia a fiscalização de trabalho escravo, o agora ex-ministro do trabalho se despediu do cargo com a blague de que serão criados 1,8 milhão de empregos em 2018.  A piada de mau gosto foi dita no mesmo dia em que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Previdência Social, informou o corte de 12.292 empregos formais.
A queda do emprego formal registrada pelo CAGED foi corroborada pelas últimas edições mensais da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar contínua – (PNADc). O contingente de trabalhadores do setor privado com carteira de trabalho assinada encolheu em 194 mil na comparação entre o trimestre móvel setembro-novembro de 2017 e junho-agosto de 2017, depois de já ter caído nos dois trimestres móveis anteriores (ver Gráfico). 
Mesmo com a propalada recuperação na ocupação, o ano de 2017 vai se encerrando com quase um milhão a menos de empregados com carteira de trabalho no setor privado, na comparação entre o trimestre setembro-novembro de 2017 e o mesmo período do ano anterior. Contabiliza-se, nessa comparação, queda de simplesmente 857 mil empregos formais no setor privado, com o agravante de que a curva de redução desse tipo de vínculo não dá demonstração de esfriar já por quatro edições mensais da PNADc .
Massa de rendimentos
Apesar disso, a economia se move. As pessoas têm buscado alternativa de sobrevivência, se inserindo no mercado de trabalho como é possível, em geral, como empregado sem carteira de trabalho, como trabalhador doméstico, como empregador, ou como trabalhador por conta própria (ver Gráfico). 
No trimestre setembro-novembro de 2017 havia 888 mil pessoas ocupadas a mais, sob qualquer tipo de vínculo, do que no trimestre junho-agosto, e é isso que tem movido a economia, mesmo que muito lentamente.  Com mais pessoas ocupadas, mesmo com vínculos precários, a soma dos rendimentos do trabalho tem crescido e ajudado o nível de atividade da economia se erguer muito lentamente.
Desde o segundo trimestre do ano que a massa de rendimento real de todos os trabalhos vem apresentando crescimento, na comparação com os trimestres móveis anteriores, e chegamos ao trimestre setembro-novembro de 2017 com a massa de rendimentos reais de todos trabalhos registrando incremento de 4,5% em relação ao mesmo período de 2016.
É esse incremento da renda da população que tem impulsionado a economia, por meio do aumento do consumo das famílias. A expectativa de retomada do crescimento econômico está assentada nessa evolução do poder de compra das famílias, decorrente do incremento da ocupação e da redução da inflação.
Para 2018, o mais recente relatório trimestral de inflação, do Banco Central do Brasil, projeta incremento de 3% do consumo das famílias, enquanto o consumo do governo deverá evoluir bem abaixo do crescimento do PIB. O consumo das famílias, praticamente sozinho, deverá sustentar a expansão do PIB, com alguma contribuição do incremento dos investimentos.
Trôpega
Nem mesmo é possível atribuir a precarização da ocupação no mercado de trabalho à recente reforma trabalhista, cujos efeitos em termos de geração de emprego ainda são uma grande incógnita. A precarização das relações trabalhistas é fruto da prostração profunda em que a economia se encontra desde 2015.

É possível que, em um segundo momento, o emprego formal no setor privado comece a reagir, mas a recuperação trôpega do mercado de trabalho nesse final de 2017 revela os limites do ajuste executado pela atual equipe econômica. 


Fonte: IBGE.PNADc.

Publicado no Jornal da Cidade, em 31/12/2017


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