Ricardo Lacerda
Enunciada como no
título a afirmativa tem muito de circular, mas cumpre o papel de evidenciar
como a evolução recente do mercado de trabalho no Brasil tem sido titubeante,
sendo ao mesmo tempo sintoma e causa de debilidade da retomada de crescimento
nessa transição para 2018.
A recuperação do
mercado de trabalho no segundo semestre de 2017 se revelou bem menos robusta do
que o governo federal anunciava. De triste memória pela emissão da portaria que
restringia a fiscalização de trabalho escravo, o agora ex-ministro do trabalho
se despediu do cargo com a blague de que serão criados 1,8 milhão de empregos
em 2018. A piada de mau gosto foi dita
no mesmo dia em que o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do
Ministério do Trabalho e Previdência Social, informou o corte de 12.292
empregos formais.
A queda do emprego
formal registrada pelo CAGED foi corroborada pelas últimas edições mensais da
Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar contínua – (PNADc). O contingente de
trabalhadores do setor privado com carteira de trabalho assinada encolheu em
194 mil na comparação entre o trimestre móvel setembro-novembro de 2017 e junho-agosto
de 2017, depois de já ter caído nos dois trimestres móveis anteriores (ver
Gráfico).
Mesmo com a propalada
recuperação na ocupação, o ano de 2017 vai se encerrando com quase um milhão a
menos de empregados com carteira de trabalho no setor privado, na comparação
entre o trimestre setembro-novembro de 2017 e o mesmo período do ano anterior.
Contabiliza-se, nessa comparação, queda de simplesmente 857 mil empregos
formais no setor privado, com o agravante de que a curva de redução desse tipo
de vínculo não dá demonstração de esfriar já por quatro edições mensais da
PNADc .
Massa
de rendimentos
Apesar disso, a
economia se move. As pessoas têm buscado alternativa de sobrevivência, se
inserindo no mercado de trabalho como é possível, em geral, como empregado sem
carteira de trabalho, como trabalhador doméstico, como empregador, ou como
trabalhador por conta própria (ver Gráfico).
No trimestre
setembro-novembro de 2017 havia 888 mil pessoas ocupadas a mais, sob qualquer
tipo de vínculo, do que no trimestre junho-agosto, e é isso que tem movido a
economia, mesmo que muito lentamente. Com
mais pessoas ocupadas, mesmo com vínculos precários, a soma dos rendimentos do
trabalho tem crescido e ajudado o nível de atividade da economia se erguer
muito lentamente.
Desde o segundo
trimestre do ano que a massa de rendimento real de todos os trabalhos vem
apresentando crescimento, na comparação com os trimestres móveis anteriores, e
chegamos ao trimestre setembro-novembro de 2017 com a massa de rendimentos
reais de todos trabalhos registrando incremento de 4,5% em relação ao mesmo
período de 2016.
É esse incremento da
renda da população que tem impulsionado a economia, por meio do aumento do
consumo das famílias. A expectativa de retomada do crescimento econômico está
assentada nessa evolução do poder de compra das famílias, decorrente do
incremento da ocupação e da redução da inflação.
Para 2018, o mais
recente relatório trimestral de inflação, do Banco Central do Brasil, projeta
incremento de 3% do consumo das famílias, enquanto o consumo do governo deverá evoluir
bem abaixo do crescimento do PIB. O consumo das famílias, praticamente sozinho,
deverá sustentar a expansão do PIB, com alguma contribuição do incremento dos
investimentos.
Trôpega
Nem mesmo é possível
atribuir a precarização da ocupação no mercado de trabalho à recente reforma
trabalhista, cujos efeitos em termos de geração de emprego ainda são uma grande
incógnita. A precarização das relações trabalhistas é fruto da prostração
profunda em que a economia se encontra desde 2015.
É possível que, em um
segundo momento, o emprego formal no setor privado comece a reagir, mas a
recuperação trôpega do mercado de trabalho nesse final de 2017 revela os
limites do ajuste executado pela atual equipe econômica.
Fonte: IBGE.PNADc.
Publicado no Jornal da Cidade, em 31/12/2017
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