Ricardo Lacerda
A edição de janeiro de
2018 do relatório Perspectivas Econômicas Globais, do Banco Mundial, apresenta panorama
relativamente otimista do cenário global para 2018 e 2019. Depois de constatar
que, em 2017, o crescimento do nível de atividade se acelerou e apresentou
maior sincronia entre as principais economias avançadas e mercados emergentes, o
relatório projeta a continuidade da expansão em ritmo moderado no ano corrente
e no próximo ano.
A recuperação da
economia em andamento da economia global teria sido ajudada pelo incremento dos
investimentos internacionais e pela expansão do comércio mundial suportados
pelas condições financeiras benignas, em grande parte asseguradas pelas
políticas monetárias acomodatícias dos principais bancos centrais. A
recuperação parcial nos preços das commodities, após o colapso anterior nas
cotações, também favoreceu o crescimento das economias emergentes.
O relatório assinala,
todavia, que o incremento da produtividade da economia mundial encontra-se em
desaceleração, o que limitaria o potencial de crescimento de boa parte dos
países em desenvolvimento em um horizonte mais largo de tempo, depois que a
capacidade produtiva tornada ociosa no período recessivo venha a ser ocupada. E
reconhece que a economia mundial, em conjunto, e, particularmente, as economias
emergentes, não retomaram o potencial de crescimento do período anterior à
crise financeira de 2008.
Potencial
de crescimento
Quase dez anos depois
que o estouro da bolha imobiliária na economia norte-americana provocou reações
em cadeia, demarcando o início da grande recessão na economia mundial, o crescimento na maioria dos países e grupos
de países não retornou ao ritmo anterior.
Frente ao crescimento
da média anual 2005-2007 de 5,3% na economia mundial, a média de 2015-2017 deve
ter se situado, na estimativa do Fundo Monetário Internacional, em 3,4% (ver
Gráfico).
As economias avançadas
cresceram 2,8%, no primeiro período, e devem ter crescido 2,0%, no segundo
período. A América Latina, que havia crescido 5,3% ao ano entre 2005 e 2007,
encerrou 2017 com média móvel trienal de 0,1%. É fato que o Brasil concorreu
para empurrar para baixo a média trienal do subcontinente, mas todas as
principais economias das regiões apresentaram médias anuais no triênio 2015-2017
muito inferiores às de 2005-2007.
Perspectivas
regionais
A estimativa do Banco
Mundial no relatório Perspectivas Econômicas Globais, de janeiro de 2018, é de
que a América Latina deve ter apresentado crescimento de 1,0% em 2017, devendo
acelerar para 2,0% em 2018, taxas quase idênticas às previstas para a economia
brasileira para o período, 0,9% e 2,0%, respectivamente. Em 2019 e 2020, em
projeções que não dão para se fiar muito, a economia brasileira deverá acelerar
o crescimento, segundo o relatório, para 2,3% e 2,5%.
Diferentemente das
autoridades brasileiras, o organismo internacional não demonstra euforia sobre
as perspectivas de crescimento do país em 2018 e anos seguintes. O fato
alvissareiro é que a edição de janeiro do relatório do Banco Mundial reviu para
cima, em relação à publicação anterior, os números do crescimento para o Brasil
de 2017 e 2018.
No capítulo dedicado às
perspectivas regionais, o relatório constata a recuperação do nível de
atividade na América latina e Caribe em 2017, depois de dois anos consecutivos
de retração. E estima que o crescimento poderá ser acelerado até 2022, à medida
em que os países exportadores de commodities, marca do subcontinente, continuem
a melhorar.
Fontes
do crescimento e ameaças
A expansão da economia da
América Latina em 2017 foi impulsionada pelo incremento do consumo privado,
enquanto a recuperação do investimento vem ocorrendo em ritmo muito lento. As fortes
restrições fiscais decorrentes do fim do ciclo anterior de valorização de
commodities limitarão a contribuição dos investimentos públicos para acelerar o
crescimento econômico regional.
O risco mais acentuado
de que esse cenário de melhoria moderada não se confirme decorreria de
contaminação no subcontinente de uma piora nas condições no mercado financeiro
internacional e dos efeitos da ascensão do protecionismo comercial
norte-americano.
O relatório prevê que
algumas forças que promoveram o crescimento da América Latina perderão
impulso nos próximos anos, como os ganhos nos preços das principais commodities
e as perspectivas de desaceleração do crescimento da China e dos Estados Unidos para 2019 e 2020. Daí que a continuidade da aceleração do
crescimento na América Latina deverá ser suportada pelo fortalecimento do
consumo interno e dos investimentos em infraestrutura, em parceria com o setor
privado.
Fonte: FMI. WEO,
outubro de 2017.
Agenda
das reformas
A contrapartida de tal
diagnóstico é a usual recomendação dos organismos multilaterais de que os
países promovam reformas que possam atuar sobre os fatores de oferta aos quais
são atribuídos o potencial de crescimento econômico, como a ampliação do capital
físico e humano, a elevação da taxa de atividade da força de trabalho e
melhoria no funcionamento das instituições. Esse tipo de recomendação é uma
forma de reconhecer que os estímulos pelo lado da demanda não deverão ser de
grande monta.
Para os países em
desenvolvimento com problemas fiscais, as propostas de reformas se estendem
para a recomendação de contenção dos gastos públicos, revisão das despesas com
funcionalismo, privatização de empresas e mudanças em regimes previdenciários.
Como dito, nada além da cartilha convencional. Para lustrar o relatório, o
Banco Mundial não deixa de mencionar a importância de reduzir as elevadas desigualdades
de rendas vigentes e compartilhar de forma justa socialmente os custos dos
ajustes.
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