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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

A supersafra de grãos do Nordeste em 2017

Ricardo Lacerda
Frente ao regime de chuvas mais favorável em 2017, a safra de cereais, leguminosas e oleaginosas da região Nordeste deve saltar, segundo o Levantamento Sistemática da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, de 9,6 milhões de toneladas, em 2016, para 18,0 milhões de toneladas, um incremento de 87,1%.
É importante registrar que, se a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas registrou recuperação exuberante na corrente safra, a produção da cana-de-açúcar, cultura de grande peso na geração de emprego e na formação da renda agrícola na região, continua deprimida; recuou 4,8% em 2017 e deve se situar 29,1% abaixo do volume recorde recente, em 2011.
Diferentemente das culturas do primeiro grupo, as dificuldades recentes da cana-de-açúcar não se referem principalmente à questão climática e sim a problemas de endividamento financeiro dos principais grupos empresariais do setor.
Ainda assim, mesmo com as dificuldades do setor sucroalcooleiro, a supersafra agrícola da região Nordeste deverá ter um impacto muito importante no PIB e na ocupação da região. O Boletim Regional do Banco Central de julho estimou que o incremento da produção agrícola do Nordeste deverá ter um impacto de 2,8 pontos percentuais sobre o PIB nordestino de 2017.
Estados e culturas
 A recuperação da safra de cereais, leguminosas e oleaginosas na comparação com o ano anterior abrangeu todos os estados da região e todas as principais culturas, mas variou significativamente de um estado para o outro, como também se mostrou muito diferenciada entre as culturas. Para alguns estados, a safra de 2017 significou a plena retomada da produção agrícola; para outros, todavia, a recuperação foi muito parcial, se situando muito abaixo do pico anterior à estiagem.
Entre os principais estados produtores de cereais, leguminosas e oleaginosas da região, a retomada na produção foi mais acentuada em Sergipe (385,6%), Ceará (201,6%), Piauí (179,8%) e Maranhão (104,6%) e foi bem menos acentuada na Bahia (43,3%),  conforme é possível examinar na tabela.   


Tabela. Brasil e Nordeste. Produção de Cereais, Leguminosas e Oleaginosas  em 2016 e 2017 (em toneladas)
Brasil, Grande Região e Unidade da Federação
Safra 2016
Safra 2017
Taxa 2017/2016
(%)
Brasil
185.781.354
242.000.265
30,3
Nordeste
9.627.976
18.015.801
87,1
Maranhão
2.171.809
4.444.236
104,6
Piauí
1.315.806
3.681.330
179,8
Ceará
187.001
564.053
201,6
Rio G. do Norte
10.596
24.781
133,9
Paraíba
22.383
68.951
208,1
Pernambuco
40.144
145.438
262,3
Alagoas
37.485
105.305
180,9
Sergipe
177.655
862.621
385,6
Bahia
5.665.096
8.119.087
43,3
Fonte: IBGE. LSPA de setembro de 2017
Estados
Apesar da forte recuperação da safra em 2017, a longa faixa do território nordestino, entre os estados entre Ceará e Pernambuco, ainda mantém as produções de cereais, leguminosas e oleaginosas muito rebaixadas em relação ao pico anterior. 
É importante registrar que para a Bahia, Piauí e Maranhão, os principais cereais, leguminosas e oleaginosas em termos de área cultivada e valor da produção são soja e milho. Do Ceará a Alagoas, milho e feijão disputam a hegemonia do cultivo no semiárido, enquanto em Sergipe o cultivo do milho lidera com ampla vantagem.
Essa informação é relevante porque a safra de milho prevista para 2017 para o Nordeste é a segunda maior da série histórica (inferior apenas a de 2014), e a soja será a maior já conhecida, enquanto a produção prevista de feijão será ainda 30,9% inferior à maior safra, verificada em 2006, antes do início da estiagem que assola a região por quase uma década.
Os estados entre Ceará e Pernambuco também não recuperaram a produção de milho em relação ao ano pico (ver Gráfico).  No caso do Ceará, a safra de milho de 2017, apesar do forte incremento em relação a 2016, é ainda 57,3% inferior a do melhor ano, percentual que atinge 83,6% de queda no caso do Rio Grande do Norte, 76,2% na Paraíba, e 68,8% em Pernambuco.
Em síntese, é possível concluir que a supersafra de cereais, leguminosas e oleaginosas da região Nordeste concentrou-se na produção de soja e de milho. Mesmo com o cultivo de feijão tendo um incremento de produção de 138% em relação ao ano anterior, há ainda uma defasagem ampla em relação ao ano de 2006.  A outra conclusão, também de grande significado, é que o cultivo de cereais, luguminosas e oleaginosas ainda encontra-se muito rebaixado nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Onde uma recuperação foi de fato robusta foi no Maranhão, Piauí e Sergipe.
No caso da Bahia, a safra de 2017 registrou recuperação muito robusta, mas de forma desequilibrada, muito intensa na soja e no Oeste Baiano, e muito parcial no cultivo do milho e no Nordeste Baiano. No caso de Alagoas, a produção de grãos, apesar de importante para o semiárido, tem peso menor no PIB agrícola do estado.



Fonte: IBGE. PAM e LSPA (para 2017)

Publicado no Jornal da Cidade, em 15/10/2017

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