Ricardo
Lacerda
Frente
ao regime de chuvas mais favorável em 2017, a safra de cereais, leguminosas e
oleaginosas da região Nordeste deve saltar, segundo o Levantamento Sistemática
da Produção Agrícola (LSPA) do IBGE, de 9,6 milhões de toneladas, em 2016, para
18,0 milhões de toneladas, um incremento de 87,1%.
É
importante registrar que, se a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas
registrou recuperação exuberante na corrente safra, a produção da
cana-de-açúcar, cultura de grande peso na geração de emprego e na formação da
renda agrícola na região, continua deprimida; recuou 4,8% em 2017 e deve se
situar 29,1% abaixo do volume recorde recente, em 2011.
Diferentemente
das culturas do primeiro grupo, as dificuldades recentes da cana-de-açúcar não
se referem principalmente à questão climática e sim a problemas de
endividamento financeiro dos principais grupos empresariais do setor.
Ainda
assim, mesmo com as dificuldades do setor sucroalcooleiro, a supersafra agrícola da região Nordeste deverá ter um impacto muito importante no PIB e na
ocupação da região. O Boletim Regional do Banco Central de julho estimou que o incremento da produção agrícola do Nordeste deverá ter um impacto de 2,8 pontos percentuais
sobre o PIB nordestino de 2017.
Estados e culturas
A recuperação da safra de cereais, leguminosas e oleaginosas na comparação com o ano
anterior abrangeu todos os estados da região e todas as principais culturas,
mas variou significativamente de um estado para o outro, como também se mostrou
muito diferenciada entre as culturas. Para alguns estados, a safra de 2017
significou a plena retomada da produção agrícola; para outros, todavia, a
recuperação foi muito parcial, se situando muito abaixo do pico anterior à
estiagem.
Entre
os principais estados produtores de cereais, leguminosas e oleaginosas da
região, a retomada na produção foi mais acentuada em Sergipe (385,6%), Ceará
(201,6%), Piauí (179,8%) e Maranhão (104,6%) e foi bem menos acentuada na Bahia
(43,3%), conforme é possível examinar na
tabela.
Tabela. Brasil e Nordeste. Produção
de Cereais, Leguminosas e Oleaginosas
em 2016 e 2017 (em toneladas)
|
|||
Brasil,
Grande Região e Unidade da Federação
|
Safra 2016
|
Safra 2017
|
Taxa
2017/2016
(%)
|
Brasil
|
185.781.354
|
242.000.265
|
30,3
|
Nordeste
|
9.627.976
|
18.015.801
|
87,1
|
Maranhão
|
2.171.809
|
4.444.236
|
104,6
|
Piauí
|
1.315.806
|
3.681.330
|
179,8
|
Ceará
|
187.001
|
564.053
|
201,6
|
Rio G.
do Norte
|
10.596
|
24.781
|
133,9
|
Paraíba
|
22.383
|
68.951
|
208,1
|
Pernambuco
|
40.144
|
145.438
|
262,3
|
Alagoas
|
37.485
|
105.305
|
180,9
|
Sergipe
|
177.655
|
862.621
|
385,6
|
Bahia
|
5.665.096
|
8.119.087
|
43,3
|
Fonte:
IBGE. LSPA de setembro de 2017
Estados
Apesar
da forte recuperação da safra em 2017, a longa faixa do território nordestino,
entre os estados entre Ceará e Pernambuco, ainda mantém as produções de
cereais, leguminosas e oleaginosas muito rebaixadas em relação ao pico
anterior.
É
importante registrar que para a Bahia, Piauí e Maranhão, os principais cereais,
leguminosas e oleaginosas em termos de área cultivada e valor da produção são
soja e milho. Do Ceará a Alagoas, milho e feijão disputam a hegemonia do
cultivo no semiárido, enquanto em Sergipe o cultivo do milho lidera com ampla
vantagem.
Essa
informação é relevante porque a safra de milho prevista para 2017 para o
Nordeste é a segunda maior da série histórica (inferior apenas a de 2014), e a
soja será a maior já conhecida, enquanto a produção prevista de feijão será
ainda 30,9% inferior à maior safra, verificada em 2006, antes do início da
estiagem que assola a região por quase uma década.
Os
estados entre Ceará e Pernambuco também não recuperaram a produção de milho em
relação ao ano pico (ver Gráfico). No
caso do Ceará, a safra de milho de 2017, apesar do forte incremento em relação
a 2016, é ainda 57,3% inferior a do melhor ano, percentual que atinge 83,6% de
queda no caso do Rio Grande do Norte, 76,2% na Paraíba, e 68,8% em Pernambuco.
Em
síntese, é possível concluir que a supersafra de cereais, leguminosas e
oleaginosas da região Nordeste concentrou-se na produção de soja e de milho. Mesmo
com o cultivo de feijão tendo um incremento de produção de 138% em relação ao
ano anterior, há ainda uma defasagem ampla em relação ao ano de 2006. A outra conclusão, também de grande
significado, é que o cultivo de cereais, luguminosas e oleaginosas ainda encontra-se
muito rebaixado nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e
Pernambuco. Onde uma recuperação foi de fato robusta foi no Maranhão, Piauí e Sergipe.
No
caso da Bahia, a safra de 2017 registrou recuperação muito robusta, mas de
forma desequilibrada, muito intensa na soja e no Oeste Baiano, e muito parcial no
cultivo do milho e no Nordeste Baiano. No caso de Alagoas, a produção de grãos,
apesar de importante para o semiárido, tem peso menor no PIB agrícola do estado.
Fonte: IBGE.
PAM e LSPA (para 2017)
Publicado no Jornal da Cidade, em 15/10/2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário