Ricardo
Lacerda*
A retomada da economia brasileira em 2017 tem
sido muito lenta e vacilante. A expectativa mais recente do mercado é que a
economia brasileira deverá registrar crescimento de 0,7% em 2017, acelerando
para 2,5% em 2018.
O emprego formal vem registrando incremento
desde o mês de abril e um número maior de atividades vem apresentando saldo
positivo de contratação. Ainda assim, o ritmo de retorno da contratação de
emprego formal é muito lento, cerca de 40 mil por mês, frente a um acúmulo de 3,5
milhões de vínculos perdidos entre outubro de 2014 e março de 2017, redução
mensal superior a cem mil vínculos durante trinta longos meses. Portanto,
fujamos da ilusão de que o mercado de trabalho vá aquecer rapidamente.
Além de débil, a retomada do crescimento vem
sendo vacilante, oscilando a cada mês entre setores e regiões, ainda que a
tendência de crescimento se mantenha, mas não necessariamente sinaliza que a aceleração
será crescente e sustentada. Passada a maior parcela do impacto da supersafra
agrícola, concentrado no 1º trimestre no ano, o crescimento da economia tem
sido puxado pelo incremento do consumo e pelo aumento das exportações em
algumas atividades da indústria de transformação, com destaque para a indústria
automobilística.
Indústria,
comércio e serviços
No mês de agosto, a produção industrial e os
volumes de vendas do comércio varejista e da prestação de serviços recuaram,
mas o registro mensal não foi suficientemente intenso para impedir resultados
positivos no acumulado do trimestre.
O volume de produção da indústria geral
recuou 0,8% no mês, na série livre de efeitos sazonais. A queda na produção
industrial foi determinada pela evolução negativa da indústria extrativa
mineral, mas a indústria de transformação também registrou uma evolução
desfavorável, com incremento zero em agosto, depois de quatro resultados
mensais positivos. Ainda que a maioria dos subsetores de atividade da indústria
de transformação tenha apresentado crescimento em agosto, eles foram inferiores
aos resultados dos meses anteriores, na maior parte das atividades.
O volume de vendas do comércio varejista
recuou 1,4% em agosto, interrompendo três meses seguidos de incremento. O nível
de atividade do comércio varejista permaneceu muito rebaixado e a retomada do
crescimento do setor varejista demorou mais a se iniciar e tem sido mais lenta
do que na indústria e nos serviços. Nesse último setor, o volume de vendas
recuou em julho e em agosto.
Os
dados trimestrais, apresentados no gráfico, são mais elucidativos para examinar
a evolução recente e as perspectivas de retomada do crescimento. Depois de
desacelerar a taxa de crescimento nas médias trimestrais completadas entre maio
e julho, o Índice de Atividade do Banco Central (IBC-BR) voltou a apresentar
certa intensificação no ritmo de crescimento no trimestre encerrado em agosto.
O volume de produção da Indústria Geral,
mesmo com o resultado adverso de agosto, cresceu 1,6% na comparação entre o
trimestre junho-agosto em relação ao trimestre anterior (fevereiro-maio). O
volume de vendas do setor de serviços também manteve sua tendência de retomada,
ainda que o desempenho varie muito entre os subsetores que compõem a atividade.
Bem mais tímida, atrasada e com elevada dispersão entre os seus subsetores, se
encontra a retomada do crescimento do comércio varejista.
Fonte: IBGE,
para Indústria Geral, Varejo e Serviços, e Banco Central, para o IBC-BR
Restrições
Mesmo que a retomada do crescimento da
economia brasileira venha a ganhar velocidade nos próximos trimestres, em linha
com as expectativas de mercado e com as projeções de governo e instituições
multilaterais, a continuidade da aceleração da expansão se defronta com
importantes restrições tanto no curto prazo quanto em uma perspectiva de
horizonte mais largo.
De forma mais imediata, a expansão da
economia está limitada pelos constrangimentos ao incremento do poder de compra
da população e encontra no contingenciamento do gasto público um vento
contrário.
Em um cenário de taxas de desemprego muito
elevadas, acompanhadas por grau também acentuado de endividamento das famílias,
o principal fator autônomo de expansão da demanda no curto prazo, os gastos das
famílias, não deverá ter um comportamento exuberante, mesmo considerando os
efeitos benéficos da redução das taxas de inflação e da queda dos juros
nominais.
Os demais impulsos autônomos do gasto, o
incremento das exportações e a expansão da safra agrícola têm impactos não
recorrentes, não devendo repercutir nos futuros resultados.
Em contraste, contarão negativamente para
evolução do nível de atividade os impactos da elevação nas tarifas de energia
sobre a renda disponível das famílias e sobre os custos de produção, em
decorrência dos baixos níveis em que se encontram os reservatórios das
hidrelétricas, e a restrição absoluta ao incremento do dispêndio público pela
chamada Lei do Teto dos Gastos. Penso que já não sobrevivem as ilusões em
relação a uma retomada do crescimento impulsionado pela expansão dos
investimentos privados.
Passada uma etapa inicial, relativamente
extensa no tempo, diante da dimensão da queda do nível de atividade, em que o
crescimento irá paulatinamente ocupando a ociosidade da força de trabalho e da
capacidade instalada, a continuidade da expansão vai depender de investimentos
na ampliação de infraestrutura produtiva e no reposicionamento de nossa
economia diante das transformações da economia mundial, para atenuar o risco,
bastante elevado, de que a retomada de curto prazo não vá além de um voo de
galinha. A desestruturação do aparelho estatal certamente não irá favorecer
nossas possibilidades de desenvolvimento.
Publicado no Jornal da Cidade, em 29/102017
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