Ricardo Lacerda
A crise tem sido muito dura no mercado de
trabalho. Em dois anos e meio de recessão, cerca de dois milhões e meio de
pessoas perderam ocupação no Brasil, sob qualquer tipo de vínculo ocupacional.
As ocupações formais caíram em ritmo mais acentuado do que os vínculos
informais. Os empregos com carteira assinada sofreram um grande revés, enquanto
os empregos sem carteira de trabalho aumentaram, mas não em quantidade
suficiente para ocupar aqueles que perderam o emprego com carteira assinada.
Nos primeiros estágios da crise, os
trabalhadores recém-desempregados correram para buscar a subsistência em
ocupações por conta própria, mas a perseverança e intensidade da retração da
demanda que acompanhou a redução do poder de compra da população mostrou que
essa não seria uma alternativa viável e o número de ocupações por conta própria
passou a despencar.
Construção Civil
Especialmente grave tem sido a evolução da
ocupação nos diversos segmentos que compõem a construção civil. A atividade da construção civil não dá sinais
de estabilizar o nível de ocupação. Pelo contrário, a atividade vem acelerando
a eliminação de postos de trabalho a partir de meados de 2016.
O mais alarmante é que, desde o último
trimestre do ano passado, a taxa de retração na ocupação na construção civil vem
alcançando taxas especialmente elevadas, entre 9% e 10% em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior. No último
resultado disponível, referente ao trimestre março-maio de 2017, a queda da
ocupação na atividade voltou a acelerar, registrando queda de 10,6%, nesse tipo
de comparação (ver Gráfico).
Em uma atividade em que pouco mais de 1/3 dos
trabalhadores conta com vínculo formal de trabalho, a queda na ocupação vem
batendo com força, tanto nas atividades formais, vinculadas à construção
residencial e a investimentos em infraestrutura produtiva e social, quanto na
ocupação informal, em geral vinculada à edificação e reformas em residências.
No trimestre março-maio de 2017, havia 6.674
mil trabalhadores ocupados nos diversos segmentos de atividade da construção
civil. Três anos antes, no trimestre março-maio de 2014, o contingente de
trabalhadores na atividade era de 7.939 mil pessoas. Nessa comparação, foram
eliminados mais de um milhão de ocupações. E na comparação com março-maio de
2016, foram eliminadas 793 mil ocupações nos segmentos que compõem a atividade.
No setor formal, a ocupação no setor não dá
sinais de ter encontrado o fundo do poço. Entre janeiro e maio de 2017 foram
eliminados 25.060 postos de trabalho formais, segundo o Cadastro Geral de
Empregados e Desempregado (CAGED). No mês de maio, a atividade apresentou um
saldo negativo de 4.021 empregos com carteira de trabalho e nos últimos doze meses foram menos 302.802 empregos formais.
Perspectivas
As perspectivas para a construção civil são
muito adversas no curto e no médio prazos. Os investimentos públicos deverão
permanecer rebaixados, tanto aqueles direcionados para a construção civil
residencial quanto para as obras de infraestrutura. E os programas de concessão
de infraestrutura para o setor privado, que já não vinham deslanchando, deverão
ficar congelados diante da crise política em que o governo federal submergiu. O
encolhimento da disponibilidade de recursos do FGTS e a retração do crédito somente
agravam o cenário do setor.
Fonte: IBGE.PNADc
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