Ricardo
Lacerda
No artigo de
hoje e nos das próximas semanas vamos buscar destacar o que é especifico da
economia de Sergipe no quadro geral do Nordeste e do Brasil. Focalizaremos
nossa atenção na evolução da economia estadual nessas quase duas décadas do século
XXI, frente ao comportamento dos demais estados da região e da média do Brasil
e, em um segundo momento, procuraremos delinear como a atual crise econômica incide
em Sergipe, sempre buscando identificar as especificidades que as distintas dimensões
dela assumem em nosso estado.
Nos primeiros artigos apresentaremos as características mais gerais da economia do estado, antes de começar a tratar propriamente dos efeitos da crise.
Humildade
Entendo que,
ao se debruçar sobre uma realidade concreta, o mais importante para o
pesquisador ou analista social é buscar o que é especifico daquela realidade em
relação ao quadro geral em que ela se insere.
Entendo ser recomendável que o estudioso exercite a humildade perante situações que são complexas, antes de proferir vaticínios cabais. É fundamental procurar compreender as nuances de um quadro socioeconômico, abrir os dados a níveis mais desagregados, por vezes desconfiar dos dados, e procurar entender o significado deles e suas implicações. Há sempre o risco de tratar a realidade como tábua rasa, com conclusões apressadas que avalizam a ascensão ao céu ou a condenação às profundezas do inferno. Começando com os grandes números.
Maior PIB per capita
De acordo com
os últimos dados disponíveis do IBGE, referentes ao ano de 2014, antes, portanto,
da recessão se instalar inteiramente no país, Sergipe mantinha o PIB per capita
mais elevado do Nordeste.
Naquele ano o PIB per capita anual de Sergipe alcançou R$ 16.882,71, frente à média regional de R$ 14.329,13 e a média nacional de R$ 28.500,24 (ver Tabela 1). Depois de Sergipe, os estados de Pernambuco e do Rio Grande do Norte contavam com os maiores PIB per capita do Nordeste, enquanto Maranhão, Piauí e Alagoas apresentavam os piores resultados. Cabe destacar que o PIB per capita do Nordeste é o mais baixo entre as regiões brasileiras, até mesmo inferior ao da região Norte, atingindo apenas cerca da metade (50,3%) do PIB per capita nacional (R$ 28.500,24).
Nenhum estado da região Nordeste alcançava 60% da média nacional do PIB per capita. Esses dados por si mesmo sugerem que relacionar indicadores de estados nordestinos em relação à média nacional resulta na quase totalidade das situações em amplas desvantagens para todos eles. Em um extremo o PIB per capita de Sergipe se situava 17,8% acima da média da região Nordeste, ainda que bem abaixo da média nacional, 59,2%. No outro extremo, o estado do Maranhão registrava um PIB per capita 21,7% abaixo da média do Nordeste e um pouco menos de 40% da média do país.
Tabela
1. PIB per Capita do Brasil, Nordeste e estados da região em 2014
|
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Item
|
PIB
per capita (R$)
|
Em
relação à média do Nordeste (%)
|
Em
relação à média do Brasil (%)
|
Sergipe
|
16.882,71
|
117,82
|
59,24
|
Pernambuco
|
16.722,05
|
116,70
|
58,67
|
R G do Norte
|
15.849,33
|
110,61
|
55,61
|
Bahia
|
14.803,95
|
103,31
|
51,94
|
Nordeste
|
14.329,13
|
100,00
|
50,28
|
Ceará
|
14.255,05
|
99,48
|
50,02
|
Paraíba
|
13.422,42
|
93,67
|
47,10
|
Alagoas
|
12.335,44
|
86,09
|
43,28
|
Piauí
|
11.808,08
|
82,41
|
41,43
|
Maranhão
|
11.216,37
|
78,28
|
39,36
|
Brasil
|
28.500,24
|
198,90
|
100,00
|
Fonte: IBGE.
Contas regionais
Rendimento médio
Outro indicador da dimensão renda do desenvolvimento é o rendimento médio do pessoal ocupado. Há pelos menos duas possibilidades principais de fazer essa comparação, uma considerando os dados da Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD), com resultados anuais, cujos resultados mais recentes são referentes ao ano de 2015, e outra com base na PNAD contínua, com a última edição referindo-se ao 1º trimestre de 2017.
Na tabela 2 apresentamos o rendimento médio nominal do trabalho principal das pessoas ocupadas nos estados da região Nordeste com base nos dados da PNAD contínua. Para minimizar os efeitos sazonais, apresentamos, além dos dados referentes ao 1º trimestre de 2017, uma média simples nominal dos últimos quatro trimestres, reconhecendo que o mais adequado seria calcular a média ponderada e com preços constantes.
Nos dois casos, Sergipe apresentou o maior rendimento médio nominal do trabalho principal entre os estados da região Nordeste. No 1º trimestre de 2017, o rendimento no trabalho principal das pessoas ocupadas de Sergipe foi de 1.628 reais, contra a média de 1.398 reais da região Nordeste e 2.052 reais da média do país (Ver Tabela 2). Assim, o rendimento médio habitual do trabalhador no Nordeste era equivalente a 68,1% da média do país.
O rendimento médio das pessoas ocupadas em Sergipe se situou 16,5% acima da média da região e equivalia a 79,3% da média nacional. O estado do Maranhão apresentou o pior resultado, com rendimento médio 17,5% abaixo da média do Nordeste e equivalia a 55,5% da média nacional.
Rendimento
médio nominal do trabalho principal, habitualmente recebido por mês, pelas
pessoas de 14 anos ou mais de idade, ocupadas na semana
|
||||
Itens
|
1º trimestre de 2017
|
Média simples nominal entre o 2º trimestre de
2016 e o 1º trimestre de 2017
|
||
Reais
|
Em relação
à média do Nordeste (%)
|
Reais
|
Em relação
à média do Nordeste (%)
|
|
Sergipe
|
1.628
|
116,5
|
1.572
|
117,9
|
Pernambuco
|
1.577
|
112,8
|
1.517
|
113,8
|
Rio Grande do Norte
|
1.566
|
112,0
|
1.495
|
112,2
|
Paraíba
|
1.424
|
101,9
|
1.351
|
101,4
|
Bahia
|
1.388
|
99,3
|
1.299
|
97,4
|
Piauí
|
1.339
|
95,8
|
1.266
|
94,9
|
Alagoas
|
1.332
|
95,3
|
1.301
|
97,6
|
Ceará
|
1.318
|
94,3
|
1.278
|
95,8
|
Maranhão
|
1.140
|
81,5
|
1.089
|
81,7
|
Nordeste
|
1.398
|
100,0
|
1.333
|
100,0
|
Brasil
|
2.052
|
146,8
|
1.985
|
148,9
|
Fonte: IBGE.
Pnad Contínua
O outro caminho para fazer esse cálculo é utilizando os dados da PNAD anual de 2015. Nesse caso, Sergipe não se encontra na liderança, mas há fatos curiosos que merecem ser destacados. Na série iniciada em 2001, Sergipe e Rio Grande do Norte, ambos estados produtores de Petróleo, disputam a liderança regional, com o Rio Grande do Norte aparecendo em 1º lugar na maioria dos anos.
Sergipe alcançou o maior diferencial em relação à média do Nordeste em 2011, nessa pesquisa, quando ficou em 21,7% acima do resultado regional. Em todo o período 2001 a 2013, o rendimento médio de Sergipe ficou acima da média do Nordeste. Em 2013, o rendimento médio de Sergipe era 16,9% acima da média regional, mas em 2014 e 2015, os resultados de Sergipe ficaram um pouco abaixo dessa média. Em 2015, o rendimento médio do trabalho principal em Sergipe na PNAD anual era de 98,6% da média regional. Oscilação tão ampla em pouco tempo, em geral, leva o pesquisador a, no mínimo, questionar a qualidade dos dados.
Para comparar, consultamos a PNAD continua para esse período. Considerando os dados da média dos quatro trimestres de 2015 da PNAD continua, o rendimento médio do trabalho principal de Sergipe era 11% acima da média regional, e 9,5% acima da média regional, considerando o último trimestre daquele ano. Em tais situações é necessária no mínimo alguma cautela antes de concluir sobre a trajetória do estado em relação à media regional, no que diz respeito a esse indicador específico e à dimensão renda do desenvolvimento econômico. Na próxima semana, trataremos de novos indicadores do desenvolvimento de Sergipe, antes de penetrar propriamente no impacto da crise nacional sobre a economia local.
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