Ricardo
Lacerda
No
artigo de hoje damos sequência ao da semana anterior em que iniciamos o
delineamento das especificidades da economia de Sergipe no quadro geral do
Nordeste e do Brasil, focalizando nossa atenção na evolução da economia
estadual nessas quase duas décadas do século XXI. Buscaremos identificar as
especificidades da estrutura produtiva regional, comparando os pesos das
atividades com as médias do Brasil e do Nordeste.
Ao se
destacar as atividades de maior peso na estrutura econômica do estado,
acreditamos, poderemos avançar no sentido de alcançar um melhor entendimento
dos impactos da crise nacional sobre a nossa economia.
Como
teremos oportunidade de ver na sequencia dos artigos, a economia sergipana
apresentou um crescimento vigoroso até o espoucar da crise nacional, acompanhando o ciclo expansivo nacional entre
2004 e 2013. A questão se situa no fato de que, em grande parte, por conta de
sua estrutura produtiva muito marcada pela extração de petróleo, fabricação de
cimento e fertilizantes e ainda pela fabricação de produtos têxteis, a economia
sergipana foi atingida muito duramente pela crise recessiva nacional.
Também
muito significativos foram os efeitos da estiagem sobre a produção de algumas
das nossas principais culturas agrícolas e ainda mais fortes os impactos da
queda na geração da energia elétrica, decorrente da redução dos níveis dos
reservatórios da bacia do São Francisco. Vamos aos dados.
Estrutura produtiva
A
tabela apresentada resume na segunda e terceira colunas as participações dos
setores de atividade na geração de riqueza em Sergipe, em 2012 e em 2014,
último ano com os dados publicados. A razão de apresentar também os números de
2012 é a de buscar destacar modificações significativas que ocorreram nesse
intervalo de anos nas participações de alguns dos principais setores de
atividade, seja por conta da estiagem, seja por conta do agravamento da situação
do mercado em atividades específicas, antes mesmo da recessão nacional iniciar
a sua pior fase.
Em
2014, as atividades agropecuárias sergipanas respondiam por 5,3% do total do Valor
Adicionado Bruto (VAB), uma proxy do PIB. As atividades industriais
representavam 24,6% e as atividades de serviços 70,1%, dos quais 26,9% eram referentes ao setor público incluindo
seguridade.
O
setor industrial no sentido amplo, que abrange além da indústria de
transformação, a indústria extrativa, os serviços industriais de utilidade
pública (SIUP) e a construção civil, perdeu 5,0 pontos percentuais de
participação na comparação entre 2012 e 2014. A queda de participação do setor
industrial se deve a três fatores principais: retração da construção civil,
depois do estouro da bolha imobiliária; redução da exploração local de
petróleo, associada à queda da cotação do produto no mercado internacional, e, sobretudo;
os efeitos da estiagem sobre o potencial de geração da Usina Hidroelétrica de
Xingó.
A
participação dos Serviços Industriais de Utilidade Pública, em que se enquadra
a geração de energia, caiu de 7,7% do
VAB de 2012 para menos da metade, 3,3% do VAB de 2014, e esse fato tem um
impacto importante no crescimento do PIB sergipano.
A crise
da atividade da construção civil, notadamente da construção de prédios
residenciais, após o estouro da bolha imobiliária fez com que o setor
apresentasse uma evolução inferior à média e também perdesse participação na
riqueza gerada, passando de 8,8% do VAB de 2012 para 7,4%, em2014.
Até
2014 o conjunto da indústria de transformação sergipana não se ressentia tanto
da desaceleração da economia brasileira, ainda que algumas atividades já
estivessem sendo atingidas. Na comparação entre 2012 e 2014, a indústria de
transformação até aumentou seu peso no VAB, de 5,9% para 6,8%, mesmo porque com
a forte retração do peso do SIUP, a perda participação daquela atividade é
redistribuída pela demais.
Especialização produtiva
As
quatro últimas colunas da Tabela mostram em quais as atividades a economia
sergipana é relativamente especializada, quando se compara com a média do
Brasil e do Nordeste. Valores superiores a 100 indicam que o peso de uma
determinada atividade em Sergipe é superior ao peso que ela tem ou na economia
do Brasil ou na economia do Nordeste, conforme o caso. Assim, o valor de 178
alcançado pelos serviços industriais de utilidade pública de Sergipe em 2012
indica que essas atividades pesavam 78% a mais na estrutura produtiva da
economia sergipana do que na média do Brasil. Quando comparada à média do
Nordeste, o índice dos SIUP de Sergipe alcançava
notáveis 304,3%, em 2012. Ou seja, a participação dos SIUP em Sergipe naquele
ano era 204,3% maior do que na média do Nordeste.
Na
tabela estão marcadas as células em que o peso de uma determinada atividade na
economia sergipana supera em 20% sua participação nas médias regional e
nacional.
Petróleo, Xingó e Construção civil
A
chave para entender porque a crise recessiva atingiu de forma contundente o
nível de atividade da economia sergipana, com implicações na geração de emprego
e na evolução das receitas públicas, é observar a estrutura produtiva estadual,
em que a exploração de petróleo, a geração de energia elétrica e a construção
civil apresentam participações muito expressivas.
Em
2014, a indústria extrativa, cuja principal atividade é a exploração de
petróleo e gás natural, pesava 3,4 vezes mais em Sergipe do que na média do
Nordeste e 91,6% a mais do que na média do país. Quando a cotação do barril de
petróleo despencou no mercado internacional, passando da média anual de US$
97,99, em 2013, para US$ 43,34, em 2016 (preço médio do mercado spot do barril
de petróleo do tipo WTI), naturalmente os estados mais dependentes do setor são
especialmente atingidos .
Em
termos proporcionais, Sergipe é o estado da região Nordeste em que a energia
elétrica tem o maior peso no VAB. Em termos nacionais, Sergipe é o quarto estado
em que a geração de energia tem maior participação. Entre 2012 e 2014, por
conta da redução dos níveis dos reservatórios do rio São Francisco, a geração
de energia por parte da UH de Xingó reduziu-se à cerca da metade.
Finalmente,
o caso da construção civil, que apresenta em Sergipe peso próximo ao da média
nordestina, mas que se situava pelo menos 20% acima da média da participação
brasileira. A crise na construção civil rebateu com força na fabricação de
cimentos, uma das principais atividades da indústria de transformação de
Sergipe, cujo peso no setor industrial é cerca do dobro da média do Nordeste.
No
próximo artigo, examinaremos a estrutura interna da indústria de transformação em
nosso estado, com o mesmo intuito de avaliar como a crise econômica nacional
impacta as suas principais atividades econômicas.
Fonte:
IBGE. Contas regionais
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