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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Sergipe no Nordeste e no Brasil: estrutura produtiva

Ricardo Lacerda

No artigo de hoje damos sequência ao da semana anterior em que iniciamos o delineamento das especificidades da economia de Sergipe no quadro geral do Nordeste e do Brasil, focalizando nossa atenção na evolução da economia estadual nessas quase duas décadas do século XXI. Buscaremos identificar as especificidades da estrutura produtiva regional, comparando os pesos das atividades com as médias do Brasil e do Nordeste.  
Ao se destacar as atividades de maior peso na estrutura econômica do estado, acreditamos, poderemos avançar no sentido de alcançar um melhor entendimento dos impactos da crise nacional sobre a nossa economia.
Como teremos oportunidade de ver na sequencia dos artigos, a economia sergipana apresentou um crescimento vigoroso até o espoucar da crise nacional,  acompanhando o ciclo expansivo nacional entre 2004 e 2013. A questão se situa no fato de que, em grande parte, por conta de sua estrutura produtiva muito marcada pela extração de petróleo, fabricação de cimento e fertilizantes e ainda pela fabricação de produtos têxteis, a economia sergipana foi atingida muito duramente pela crise recessiva nacional.
Também muito significativos foram os efeitos da estiagem sobre a produção de algumas das nossas principais culturas agrícolas e ainda mais fortes os impactos da queda na geração da energia elétrica, decorrente da redução dos níveis dos reservatórios da bacia do São Francisco. Vamos aos dados.
Estrutura produtiva
A tabela apresentada resume na segunda e terceira colunas as participações dos setores de atividade na geração de riqueza em Sergipe, em 2012 e em 2014, último ano com os dados publicados. A razão de apresentar também os números de 2012 é a de buscar destacar modificações significativas que ocorreram nesse intervalo de anos nas participações de alguns dos principais setores de atividade, seja por conta da estiagem, seja por conta do agravamento da situação do mercado em atividades específicas, antes mesmo da recessão nacional iniciar a sua pior fase.
Em 2014, as atividades agropecuárias sergipanas respondiam por 5,3% do total do Valor Adicionado Bruto (VAB), uma proxy do PIB. As atividades industriais representavam 24,6% e as atividades de serviços 70,1%, dos quais 26,9%  eram referentes ao setor público incluindo seguridade.
O setor industrial no sentido amplo, que abrange além da indústria de transformação, a indústria extrativa, os serviços industriais de utilidade pública (SIUP) e a construção civil, perdeu 5,0 pontos percentuais de participação na comparação entre 2012 e 2014. A queda de participação do setor industrial se deve a três fatores principais: retração da construção civil, depois do estouro da bolha imobiliária; redução da exploração local de petróleo, associada à queda da cotação do produto no mercado internacional, e, sobretudo; os efeitos da estiagem sobre o potencial de geração da Usina Hidroelétrica de Xingó.
A participação dos Serviços Industriais de Utilidade Pública, em que se enquadra a geração de energia,  caiu de 7,7% do VAB de 2012 para menos da metade, 3,3% do VAB de 2014, e esse fato tem um impacto importante no crescimento do PIB sergipano.
A crise da atividade da construção civil, notadamente da construção de prédios residenciais, após o estouro da bolha imobiliária fez com que o setor apresentasse uma evolução inferior à média e também perdesse participação na riqueza gerada, passando de 8,8% do VAB de 2012 para 7,4%, em2014.
Até 2014 o conjunto da indústria de transformação sergipana não se ressentia tanto da desaceleração da economia brasileira, ainda que algumas atividades já estivessem sendo atingidas. Na comparação entre 2012 e 2014, a indústria de transformação até aumentou seu peso no VAB, de 5,9% para 6,8%, mesmo porque com a forte retração do peso do SIUP, a perda participação daquela atividade é redistribuída pela demais.
Especialização produtiva
As quatro últimas colunas da Tabela mostram em quais as atividades a economia sergipana é relativamente especializada, quando se compara com a média do Brasil e do Nordeste. Valores superiores a 100 indicam que o peso de uma determinada atividade em Sergipe é superior ao peso que ela tem ou na economia do Brasil ou na economia do Nordeste, conforme o caso. Assim, o valor de 178 alcançado pelos serviços industriais de utilidade pública de Sergipe em 2012 indica que essas atividades pesavam 78% a mais na estrutura produtiva da economia sergipana do que na média do Brasil. Quando comparada à média do Nordeste, o  índice dos SIUP de Sergipe alcançava notáveis 304,3%, em 2012. Ou seja, a participação dos SIUP em Sergipe naquele ano era 204,3% maior do que na média do Nordeste.
Na tabela estão marcadas as células em que o peso de uma determinada atividade na economia sergipana supera em 20% sua participação nas médias regional e nacional.
Petróleo, Xingó e Construção civil
A chave para entender porque a crise recessiva atingiu de forma contundente o nível de atividade da economia sergipana, com implicações na geração de emprego e na evolução das receitas públicas, é observar a estrutura produtiva estadual, em que a exploração de petróleo, a geração de energia elétrica e a construção civil apresentam participações muito expressivas.
Em 2014, a indústria extrativa, cuja principal atividade é a exploração de petróleo e gás natural, pesava 3,4 vezes mais em Sergipe do que na média do Nordeste e 91,6% a mais do que na média do país. Quando a cotação do barril de petróleo despencou no mercado internacional, passando da média anual de US$ 97,99, em 2013, para US$ 43,34, em 2016 (preço médio do mercado spot do barril de petróleo do tipo WTI), naturalmente os estados mais dependentes do setor são especialmente atingidos .
Em termos proporcionais, Sergipe é o estado da região Nordeste em que a energia elétrica tem o maior peso no VAB. Em termos nacionais, Sergipe é o quarto estado em que a geração de energia tem maior participação. Entre 2012 e 2014, por conta da redução dos níveis dos reservatórios do rio São Francisco, a geração de energia por parte da UH de Xingó reduziu-se à cerca da metade.
Finalmente, o caso da construção civil, que apresenta em Sergipe peso próximo ao da média nordestina, mas que se situava pelo menos 20% acima da média da participação brasileira. A crise na construção civil rebateu com força na fabricação de cimentos, uma das principais atividades da indústria de transformação de Sergipe, cujo peso no setor industrial é cerca do dobro da média do Nordeste.
No próximo artigo, examinaremos a estrutura interna da indústria de transformação em nosso estado, com o mesmo intuito de avaliar como a crise econômica nacional impacta as suas principais atividades econômicas.



Fonte: IBGE. Contas regionais


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