Ricardo
Lacerda
No
artigo de hoje damos sequência ao delineamento das especificidades da economia
de Sergipe no quadro geral do Nordeste e do Brasil. Temos insistido na sequência
dos artigos que, se é verdade que a gravidade com que a crise econômica
nacional vem impactando a economia sergipana está principalmente associada às
características da estrutura produtiva interna, isso não significa
necessariamente que a economia do estado terá maior dificuldade para retomar o
crescimento e para crescer no longo prazo.
Poderá
ser exatamente o contrário. Na medida em que os fatores que derrubaram o nível
de produção de algumas dessas atividades deixarem de atuar, ou forem atenuados,
a recuperação da economia poderá ser mais robusta do que na média dos demais
estados. É um tanto óbvio que, se não houver nenhum obstáculo especial, os
setores que mais caem durante a crise também serão aqueles que deverão se
recuperar mais rapidamente depois que ela cessar, a não ser que existam motivos
para que isso não aconteça, como mudanças de natureza estrutural, que não são
tão disseminadas assim.
Dinâmicas próprias
Cada
setor de atividade deverá ter um dinâmica própria de recuperação nos próximos
anos, alguns crescendo mais rapidamente; outros podem ser arrastar por algum
tempo antes de retomar; e outros podem ter maior grau de dificuldade. Alguns
exemplos podem ser lembrados.
De
imediato a produção de grãos de Sergipe deverá recuperar com grande intensidade
ainda em 2017, por conta da melhoria do regime de chuvas. Caso a estimativa de
julho do IBGE se confirme, a produção de cereais de Sergipe, liderada pelo
milho, deverá multiplicar por quatro em relação a 2016. A safra da
cana-de-açúcar, outra de nossas principais atividade agrícolas, deverá crescer,
segundo o IBGE, 31,7% , com tudo o que o setor sucroalcooleiro significa em
termos de fabricação de açúcar e de biocombustíveis.
A
geração de energia de Xingó despencou nos últimos anos, com impacto muito
negativo no PIB sergipano e não deverá recuperar de imediato, diante dos baixos
níveis dos reservatórios do Sâo Francisco. Todavia, quando o regime de chuvas
nas cabeceiras do rio lá em Minas Gerais se normalizar o crescimento da geração
de Xingó trará um impacto positivo de 3 ou 4 pontos percentuais no PIB
sergipano.
Setor
por setor, é possível traçar um cenário daqueles devem ser recuperar mais
rapidamente e de outros que deverão retardar a retomada, como a construção
civil, atividade que poderá ensaiar os primeiros passos de uma lenta
recuperação em 2018. Mas deixemos o exame das perspectivas de recuperação do
crescimento para um artigo futuro; observemos hoje a estrutura da atividade
industrial.
Estrutura Industrial
A
Indústria Geral congrega as atividades das indústrias extrativas e as atividades
das indústrias de transformação. A tabela apresentada resume a estrutura do
agregado Indústria Geral de Sergipe em 2012 e 2015. Nas últimas colunas, a
tabela registra o grau de especialização relativa de Sergipe, frente à média
dos estados nordestinos, também naqueles dois anos. Em 2015, as indústrias
extrativas participavam com 37,4% do Valor da Transformação Industrial (VTI) do
total da indústria geral de Sergipe, dos quais 32,8% eram oriundos da
exploração de petróleo e gás natural, enquanto as indústrias de transformação
representavam os demais 62,6%.
O
grau de especialização de Sergipe na produção das indústrias extrativas em
Sergipe era muito elevado em 2015, com a participação dessas atividades apresentando-se
quase cinco vezes maior do que na média do Nordeste. Entre 2012 e 2015 essa especialização até se
acentuou,em parte porque a atividade ganhou peso na estrutura industrial sergipana,
em parte porque ela perdeu participação na média do Nordeste, cedendo espaço
principalmente para a produção de alimentos, celulose, químicos e derivados de
petróleo.
Indústria de Transformação
Na
indústria de transformação, as atividades de maior peso em Sergipe em 2015 eram
a fabricação de alimentos, com destaque para açúcar e suco de laranja,a
fabricação de cimentos (minerais não-metálicos), químicos (fertilizantes),
têxteis, calçados, bebidas e biocombustíveis (etanol).
Entre
as atividades de peso mais elevado, a produção de têxteis e de cimento são
aquelas em que Sergipe apresentava maior grau de especialização em relação à
média do Nordeste, participando no VTI estadual com mais do dobro do que representavam
na estrutura regional (ver Tabela).
A
crise da Petrobras impactou fortemente a exploração de petróleo nas áreas
tradicionais, diante da preferência dada pela empresa para a produção do
pré-sal, enquanto o início da produção dos novos campos de águas ultraprofundas
na bacia de Sergipe e Alagoas foi postergado.
As fabricações
de produtos têxteis e de cimento também foram muito impactadas pela crise e deverão
demorar a apresentar uma recuperação mais robusta. O setor têxtil por uma dupla
condição, de retração do mercado interno e pela dificuldade de competir com os
produtos importados. No caso da fabricação de cimento, principalmente em razão
do estouro da bolha do mercado imobiliário, setor que deverá retomar o
crescimento muito lentamente.
No
curto ou médio prazos, as recuperações das safras agrícolas, da geração de
Xingó e na produção de cimento e na construção civil são as de maior
significado para o crescimento do PIB estadual, além da recuperação do emprego
à medida em que o crescimento da economia nacional rebater nas esferas
estaduais.
As
mudanças de longo prazo que deverão ter impacto mais acentuado sobre o futuro
da indústria sergipana dependerão principalmente do que acontecerá com o papel
da Petrobras na cadeia de petróleo no Brasil, do início da produção dos campos
em águas ultraprofundas e dos desdobramentos que poderão advir da maior
presença de investimentos estrangeiros no setor de energia e fertilizantes em
Sergipe, com os investimentos da Usina Termoelétrica Porto de Sergipe e com a aquisição
pela norte-americana Mosaic das unidades de exploração potássio.
Tabela: Estrutura da Indústria Geral de
Sergipe em 2012 e 2015 (%)
Atividades
|
Participação no VTI
(%)
|
Quociente de Localização-QL em
relação ao Nordeste
(%)
|
||
2012
|
2015
|
QL 2012
|
QL 2015
|
|
Total
|
100,0
|
100,0
|
100,0
|
100,0
|
Indústrias
extrativas
|
35,9
|
37,4
|
277,6
|
486,0
|
Extração de petróleo e gás natural
|
29,1
|
32,8
|
916,9
|
644,0
|
Atividades de apoio à extração de minerais
|
6,5
|
4,3
|
549,8
|
550,8
|
Extração de minerais não-metálicos
|
0,3
|
0,3
|
14,2
|
25,6
|
Indústrias
de transformação
|
64,1
|
62,6
|
73,6
|
67,8
|
Produtos alimentícios
|
13,4
|
14,5
|
85,8
|
86,7
|
Produtos de minerais não-metálicos
|
11,4
|
11,3
|
209,4
|
231,0
|
Produtos químicos
|
3,1
|
8,4
|
30,1
|
69,7
|
Produtos têxteis
|
5,9
|
6,4
|
228,4
|
282,6
|
Calçados e couros
|
4,3
|
3,7
|
71,4
|
69,6
|
Bebidas
|
8,3
|
3,3
|
146,3
|
58,3
|
Biocombustíveis, Coque e,
derivados do petróleo
|
2,2
|
-
|
14,7
|
|
Fabricação de produtos de metal, exc. Máq. e equip
|
2,1
|
1,7
|
106,8
|
69,8
|
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
|
3,4
|
1,6
|
98,6
|
54,2
|
Veículos automotores, reboques e carrocerias
|
0,3
|
1,6
|
9,8
|
64,7
|
Produtos de borracha e de plástico
|
1,2
|
1,5
|
35,7
|
40,5
|
Fabricação de móveis
|
2,0
|
1,2
|
194,4
|
128,5
|
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
|
2,0
|
0,9
|
119,7
|
39,0
|
Produtos de madeira
|
0,2
|
0,8
|
114,0
|
325,9
|
Outros
|
4,0
|
3,0
|
Fonte: IBGE. PIA
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