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Praça São Francisco, São Cristovão-SE. Patrimônio da Humanidade

domingo, 13 de agosto de 2017

Sergipe no Nordeste e no Brasil: estrutura industrial


Ricardo Lacerda
No artigo de hoje damos sequência ao delineamento das especificidades da economia de Sergipe no quadro geral do Nordeste e do Brasil. Temos insistido na sequência dos artigos que, se é verdade que a gravidade com que a crise econômica nacional vem impactando a economia sergipana está principalmente associada às características da estrutura produtiva interna, isso não significa necessariamente que a economia do estado terá maior dificuldade para retomar o crescimento e para crescer no longo prazo.
Poderá ser exatamente o contrário. Na medida em que os fatores que derrubaram o nível de produção de algumas dessas atividades deixarem de atuar, ou forem atenuados, a recuperação da economia poderá ser mais robusta do que na média dos demais estados. É um tanto óbvio que, se não houver nenhum obstáculo especial, os setores que mais caem durante a crise também serão aqueles que deverão se recuperar mais rapidamente depois que ela cessar, a não ser que existam motivos para que isso não aconteça, como mudanças de natureza estrutural, que não são tão disseminadas assim.
Dinâmicas próprias
Cada setor de atividade deverá ter um dinâmica própria de recuperação nos próximos anos, alguns crescendo mais rapidamente; outros podem ser arrastar por algum tempo antes de retomar; e outros podem ter maior grau de dificuldade. Alguns exemplos podem ser lembrados.
De imediato a produção de grãos de Sergipe deverá recuperar com grande intensidade ainda em 2017, por conta da melhoria do regime de chuvas. Caso a estimativa de julho do IBGE se confirme, a produção de cereais de Sergipe, liderada pelo milho, deverá multiplicar por quatro em relação a 2016. A safra da cana-de-açúcar, outra de nossas principais atividade agrícolas, deverá crescer, segundo o IBGE, 31,7% , com tudo o que o setor sucroalcooleiro significa em termos de fabricação de açúcar e de biocombustíveis.  
A geração de energia de Xingó despencou nos últimos anos, com impacto muito negativo no PIB sergipano e não deverá recuperar de imediato, diante dos baixos níveis dos reservatórios do Sâo Francisco. Todavia, quando o regime de chuvas nas cabeceiras do rio lá em Minas Gerais se normalizar o crescimento da geração de Xingó trará um impacto positivo de 3 ou 4 pontos percentuais no PIB sergipano.
Setor por setor, é possível traçar um cenário daqueles devem ser recuperar mais rapidamente e de outros que deverão retardar a retomada, como a construção civil, atividade que poderá ensaiar os primeiros passos de uma lenta recuperação em 2018. Mas deixemos o exame das perspectivas de recuperação do crescimento para um artigo futuro; observemos hoje a estrutura da atividade industrial.

Estrutura Industrial
A Indústria Geral congrega as atividades das indústrias extrativas e as atividades das indústrias de transformação. A tabela apresentada resume a estrutura do agregado Indústria Geral de Sergipe em 2012 e 2015. Nas últimas colunas, a tabela registra o grau de especialização relativa de Sergipe, frente à média dos estados nordestinos, também naqueles dois anos. Em 2015, as indústrias extrativas participavam com 37,4% do Valor da Transformação Industrial (VTI) do total da indústria geral de Sergipe, dos quais 32,8% eram oriundos da exploração de petróleo e gás natural, enquanto as indústrias de transformação representavam os demais 62,6%.  
O grau de especialização de Sergipe na produção das indústrias extrativas em Sergipe era muito elevado em 2015, com a participação dessas atividades apresentando-se quase cinco vezes maior do que na média do Nordeste.  Entre 2012 e 2015 essa especialização até se acentuou,em parte porque a atividade ganhou peso na estrutura industrial sergipana, em parte porque ela perdeu participação na média do Nordeste, cedendo espaço principalmente para a produção de alimentos, celulose, químicos e derivados de petróleo.
Indústria de Transformação
Na indústria de transformação, as atividades de maior peso em Sergipe em 2015 eram a fabricação de alimentos, com destaque para açúcar e suco de laranja,a fabricação de cimentos (minerais não-metálicos), químicos (fertilizantes), têxteis, calçados, bebidas e biocombustíveis (etanol).   
Entre as atividades de peso mais elevado, a produção de têxteis e de cimento são aquelas em que Sergipe apresentava maior grau de especialização em relação à média do Nordeste, participando no VTI estadual com mais do dobro do que representavam na estrutura regional (ver Tabela).
A crise da Petrobras impactou fortemente a exploração de petróleo nas áreas tradicionais, diante da preferência dada pela empresa para a produção do pré-sal, enquanto o início da produção dos novos campos de águas ultraprofundas na bacia de Sergipe e Alagoas foi postergado.
As fabricações de produtos têxteis e de cimento também foram muito impactadas pela crise e deverão demorar a apresentar uma recuperação mais robusta. O setor têxtil por uma dupla condição, de retração do mercado interno e pela dificuldade de competir com os produtos importados. No caso da fabricação de cimento, principalmente em razão do estouro da bolha do mercado imobiliário, setor que deverá retomar o crescimento muito lentamente.  
No curto ou médio prazos, as recuperações das safras agrícolas, da geração de Xingó e na produção de cimento e na construção civil são as de maior significado para o crescimento do PIB estadual, além da recuperação do emprego à medida em que o crescimento da economia nacional rebater nas esferas estaduais.
As mudanças de longo prazo que deverão ter impacto mais acentuado sobre o futuro da indústria sergipana dependerão principalmente do que acontecerá com o papel da Petrobras na cadeia de petróleo no Brasil, do início da produção dos campos em águas ultraprofundas e dos desdobramentos que poderão advir da maior presença de investimentos estrangeiros no setor de energia e fertilizantes em Sergipe, com os investimentos da Usina Termoelétrica Porto de Sergipe e com a aquisição pela norte-americana Mosaic das unidades de exploração potássio.

Tabela: Estrutura da Indústria Geral de Sergipe em 2012 e 2015 (%)
Atividades
Participação no VTI
(%)
Quociente de Localização-QL em relação ao Nordeste
 (%)
2012
2015
QL 2012
QL 2015
Total
100,0
100,0
100,0
100,0
Indústrias extrativas
35,9
37,4
277,6
486,0
Extração de petróleo e gás natural
29,1
32,8
916,9
644,0
Atividades de apoio à extração de minerais
6,5
4,3
549,8
550,8
Extração de minerais não-metálicos
0,3
0,3
14,2
25,6
Indústrias de transformação
64,1
62,6
73,6
67,8
Produtos alimentícios
13,4
14,5
85,8
86,7
Produtos de minerais não-metálicos
11,4
11,3
209,4
231,0
Produtos químicos
3,1
8,4
30,1
69,7
Produtos têxteis
5,9
6,4
228,4
282,6
Calçados e couros
4,3
3,7
71,4
69,6
Bebidas
8,3
3,3
146,3
58,3
Biocombustíveis,  Coque e, derivados do petróleo
2,2
-
14,7
Fabricação de produtos de metal, exc. Máq. e equip
2,1
1,7
106,8
69,8
Confecção de artigos do vestuário e acessórios
3,4
1,6
98,6
54,2
Veículos automotores, reboques e carrocerias
0,3
1,6
9,8
64,7
Produtos de borracha e de plástico
1,2
1,5
35,7
40,5
Fabricação de móveis
2,0
1,2
194,4
128,5
Máquinas, aparelhos e materiais elétricos
2,0
0,9
119,7
39,0
Produtos de madeira
0,2
0,8
114,0
325,9
Outros
4,0
3,0

Fonte: IBGE. PIA

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