Ricardo Lacerda
O governo federal anunciou recentemente a revisão da meta de
superávit fiscal para 2015. A nova meta foi estipulada em 0,15% do PIB frente
ao 1,2% projetado no início do ano. Mais do que a demora para aprovar as medidas
do pacote de ajuste fiscal encaminhadas ao congresso nacional, como as mudanças
nas regras do seguro-desemprego e o fim da desoneração da folha de pagamentos -
esta última ainda em tramitação, a redução do superávit deveu-se à queda da
arrecadação acima do esperado anteriormente, por conta da forte retração do
nível da atividade econômica no primeiro semestre, notadamente no setor
industrial.
Durante a semana a Presidente da República reuniu os
governadores dos estados para, entre outras motivações, buscar apoio político
para acelerar a aprovação no congresso nacional das medidas de ajustes.
A
combinação de pagamentos extraordinários, demora na entrada em vigor das
medidas de ajuste e a forte frustração de receitas fez com que o superávit
primário nos cinco primeiros meses do ano tenha ficado muito abaixo do
esperado. Entre janeiro e maio de 2015, o superavit primário
acumulado foi de R$ 25,5 bilhões, ante superavit de R$ 31,5
bilhões no mesmo período de 2014, uma queda de 34%.
O
que se questiona nesse momento é se as dificuldades políticas para cortar
gastos não ameaçariam o objetivo de alcançar uma trajetória consistente de
redução da dívida pública bruta enquanto proporção do PIB, o que se tornou mais
difícil com a atividade econômica apresentando queda mais acentuada do que a
projetada e com a conta cada vez mais pesada do pagamento de juros. Entre
janeiro e maio, as despesas de juros nominais quase dobraram em relação ao
mesmo período de 2014, passando de R$ 101,6 bilhões para R$ 198,9 bilhões.
O
resultado nominal (resultado primário + juros nominais), que no fim das
contas é o que mostra a sustentabilidade ou não das contas públicas, foi deficitário
em R$ 173,4 bilhões nos cinco primeiros meses do ano, comparativamente ao deficit de
R$ 70,1 bilhões no mesmo período de 2014.
Dívida bruta
A relação Dívida Pública Bruta/PIB
mantém em 2015 trajetória fortemente ascendente, apesar dos ajustes em curso e
somente deverá entrar em declínio em 2017, quando a projeção do tesouro
nacional em janeiro era de que ela entraria em fase descendente no início de
2016.
Nota técnica da Secretaria do Tesouro Nacional, de 29 de julho, apresentou
a projeção da relação Dívida Bruta do Governo Geral / PIB para o período
2015-2017. Diante da revisão nas projeções do resultado primário, da taxa selic,
do câmbio e do PIB, a dívida bruta do governo geral (abrangendo governo
federal, estatais e governos municipais e estaduais) deverá alcançar 64,7% do
PIB ao final de 2015, apresentará crescimento menos acentuado em 2016, encerrando o
ano em 66,4% e deverá declinar suavemente em 2017 e 2018.
É um quadro bem mais desfavorável do que o projetado no início
de 2015. Na projeção de janeiro passado esperava-se recuo expressivo na relação
divida pública bruta/PIB em 2016 e 2017, o que revela que o ajuste provavelmente
deverá se estender por um período mais longo do que se esperava anteriormente (ver Gráfico 1).
Gráfico 1. Projeção da relação Dívida Bruta do Governo Geral /
PIB na LDO (jan 2015) e na reprogramação do 3º bimestre de 2015. (%)
Fonte: STN. Extraído (e
modificado) da Nota Técnica do Tesouro Estimativa da Trajetória da Dívida Bruta
do Governo Geral do Brasil, de 29/07/2015.
Arrecadação Federal
No primeiro semestre de 2015, a receita tributária federal
recuou 0,9% em termos reais, na comparação com o mesmo período de 2014. O
segundo trimestre de 2015 foi bem pior do que o primeiro. A receita tributária
federal caiu 1,83%, em relação ao mesmo trimestre de 2014. A piora da
arrecadação atingiu tanto o Imposto de Renda (IR) quanto o Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI), que no segundo trimestre de 2015 se retraíram,
respectivamente, 1,41% e 9,76%, em termos reais (ver Gráfico 2).
Os resultados piores do que se esperava do comportamento da
inflação e a queda acentuada do PIB e da arrecadação vão revelando ao longo do
ano que o ajuste deverá ser mais prolongado e penoso do que se projetava
anteriormente.
Fonte: Receita Federal
Publicado no Jornal da Cidade, em 02 de agosto de 2015
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